sábado, agosto 09, 2008

Indicador apontou o passado


Lá se foi minha unha preta, ensangüentada, sangue duro feito pedra, sangue de quem vive na cidade, de concreto, sangue de piche. Lá se foi, mas eu a guardei, enroladinha em uma gase. Tudo o que é meu ou que um dia foi, símbolo de alguma coisa importante, eu tenho mania de tacar no fogo. Mas um fogo cerimonial. Sabe? Por exemplo, fotos de pessoas, pedaços meus, essas coisas. Coloco tudo no fogo. O fogo é uma excelente arma contra o fogo, sabe? É verdade.

O que mais que é verdade? Muita gente estava achando o meu dedo no-jen-to. Não sei também como; me pergunto. Esse dedo, apesar de ter sido resultado de uma intensa dor acidental e, no entanto, freudiana, estava me trazendo um orgulho absurdo. A única pessoa malhada como um gato. E, de uns tempos pra cá, tinha aparecido um buraquinho nela. Dá pra ver, na foto, como se fosse o olho branco do feijão, dá pra ver? Aquilo é a minha outra unha crescendo por baixo.

Pois é, os ciclos naturais... Estava esperando que ela caísse, mas chegou um dia que metade dela estava livre, e a outra metade presa, e eu fui chamada a tomar uma decisão: "escuta, você prefere ser lançada ao acaso e à sua falta de cuidado consigo mesma e sangrar desavisadamente, ao procurar algo dentro da bolsa, ou você prefere ir consciente a um médico e dar um jeito nisso"? Eu resolvi dar um jeito nisso. Continuo achando que eu deveria ter colocado apenas um band-aid. Resolveria o problema temporário e deixaria o fluxo natural agir. Mas eu nunca fui boa em deixar as coisas simplesmente acontecerem.

Ainda essa semana, estava perguntando a uma amiga por que nós gastamos um tempo enorme e tanta energia planejando coisas para sempre fazer diferente do que planejamos? É como se precisássemos da segurança do plano para poder ser a força contestadora, e ir contra si mesmo. É muito louco isso. Uma força rebelde que perde tempo tentando se organizar, se planejar... Incrível perda de tempo. Mas incrível mesmo, de arrancar sorrisos dos nossos rostos, de tremenda loucura. Eu não sei mais do que estou escrevendo. Baixei o cd da Linda Perry, e me deu vontade de escrever. O ponto alto do meu dia hoje foi: ir ao ambulatório cuidar do meu dedo, que eu achei que estivesse inflamando. A falta de inflamação no coração com relação à minha própria vida, aparece no dedo que indica e aponta os caminhos, não é mesmo? Como seria diferente. Aí, antibiótico. Aí, curativo. A ferida se fecha para a vida, para o novo.

Mas não foi para vir o novo que eu tomei a decisão de arrancar o velho?

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