quinta-feira, dezembro 31, 2009

a BIG mouth

I have a big mouth that swallows everything: all the buildings, all the people, all the words in the air left inbetween them. The big bad wolf lives inside of me and everyday he wants devoure red riding hood and gets chopped off by the "hero" in the forest, who was just passing by...

quinta-feira, novembro 26, 2009

Mostra-me a tua face

Então a lua mostrou-me a sua face. Os seus olhos eram malignos, com um redor avermelhado, como o olho de um homem raivoso que ilumina o céu da noite e que me vê. E nos vemos mutuamente, de forma que não posso esconder-me. Hipnotizou-me como olhos de outrora. Passaram-se quase oito horas desde que liguei "Os Maias" e não consegui parar de me embevecer de um drama muito pior do que o meu... E que fez com que, de repente, percebesse que não há uma realidade muito pior para uma mulher do que ser uma mulher em Eça de Queiroz. Tão embevecida, tão hipnotizada estava que mal havia reparado que já se passaram vinte e cinco minutos da meia noite e que, por isso, podia ser explicada a quietude da noite, a paz de luzes apagadas e de televisões desligadas. Eu e um cigarro de palha, um que havia sobrado de uma lua há muitas noites anteriores. Um cigarro sem gosto de fábrica, um cigarro sem consequências a não ser a quietude da noite dentro de mim. Passei o dia com uma dor presa no coração que não sei o que é. Hoje conversei com o cacique de um tribo indígena brasileira e perguntei-lhe se mulheres podiam usar cocares; ele me disse que sim, que as mulheres deveriam ser coroadas como sagradas que são. Pedi-lhe então para ser coroada dentro da sua tribo, para que eu pudesse usar o cocar em todas as minhas apresentações, como guardiã de um segredo muito profundo e conhecido apenas para os povos da floresta. Apenas as pessoas que entendem a pureza da natureza entederão o meu coração. Assim sou eu: virgem, indomada, livre, cheia de vida, amedrontadora e submissa à lua como quem sabe a que dono pertence. Esses olhos malignos que me põem a adormecer, esses olhos que ainda agora me olhavam com tanta fúria e que agora se escondem atrás do prédio, que fogem de mim, que se refugiam atrás de novas aventuras. A vida nunca foi justa conosco, mulheres, e agora descobri o motivo da nossa devoção à lua: é um homem, maligno e negro, a brincar.

sexta-feira, novembro 13, 2009

O gato comeu

Tudo o que eu sabia, conhecia, achava e acreditava. Tudo o que eu pensava e era, tudo o que eu queria. Estava aqui, mas o gato comeu.

Show da Donna Summer (segunda, dia 9 de novembro)

Tudo bem que a Disco Queen já é avó de três e que o público dela também não é assim tão jovem... Mas quem foi a pessoa de fundo europeu que conceituou o show como um espetáculo para se assistir sentado?! Não tinha nenhum lugar destinado aos que queriam dançar. No corredor de passagem não podia ficar, porque os seguranças logo vinham encher o saco ("Dança no seu lugar"), e as pessoas pareciam bem contentadas de ver sentadas, mesmo as mais jovens que chegaram até a ficar putas comigo e com meu pai, que queríamos dançar. Tomamos vários esporros à toa. Mas como eu poderia ouvir "I Feel Love" e todos os outros hits sentada, batendo os pezinhos, batendo palmas? Eu, brasileira?! O segurança disse que não era para ver o show em pé, que era para levantar só em determinados momentos. (?!?!?!?!!??!?!!?!? "Agora senta. Agora levanta. Agora dança macaco! Agora senta de novo.") Produção de parabéns: os seguranças foram UM SACO. As cadeiras ficaram lá, todas nos seus lugares e as pessoas pareciam cadeiras. O show foi legal, fora esses contratempos desagradáveis. Que saudades da pista que eu senti! E gente, meu pai tem 61 anos e dançou o show todo. Assim eu vi a sociedade versus os Nietzschianos. Nós, em prol da vida, eles em prol das regras, mesmo das que são burras. O coletivo é uma massa devagar, que não assa nunca. Nós, indivíduos, sofremos com a espera.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Os moralistas

"De vez em quando eu fico com outras pessoas", disse ele, nos primeiros quinze dias de namoro. Ela parou, pensou. Estava apaixonada, não havia muito o que fazer. Estava disposta a tentar. Se ele de vez em quando ficava com outras pessoas era porque o interesse era natural da espécie humana e isso também podia acontecer com ela, então resolveu apostar no acaso. Se era um "talvez", então tinha chances de nunca acontecer. Ouvia falar das amigas, algumas vezes, que faziam parte de um grupinho fechado da serra. Uma vez ele contou que eles costumavam andar no mato pelados. Um dia, ela foi com ele até a casa de uma delas. Quando a amiga abriu a porta, eles se cumprimentaram com um selinho. "Vou me controlar", pensou ela, que não queria chegar fechando a cara e conseguiu, para a sua surpresa, não dar xiliques nem na hora, nem depois. Convenceu a si mesma de que não ligava, que se ele cumprimentava as amigas com um selinho, então ela também poderia cumprimentar os seus amigos da mesma forma. Ela gostava dele e sempre tentava deixar passar o maior número de detalhes que incomodavam, para não criar atritos desncessários; ela gostava de cuidar da relação. Eles passavam muitos dias separados; ele morava longe e nunca ligava, ela sentia saudades. Ele não acreditava em "saudades" nem em "eu te amo". Ela queria ficar perto, ele queria ficar sozinho e não mandava nem emails. Começaram a discutir. Depois de um certo final de semana se encontraram, e ele contou que entre sete a nove amigas tinha subido a serra para visitá-lo. Passaram a noite fazendo trilhas, bebendo, fumando. Depois, ele disse que tinha passado a noite toda conversando com a mesma amiga do selinho, conversando sobre "a individualidade". Ela fez uma escolha consciente de não perguntar se ele tinha ficado com ela ou com outra, pois se estavam namorando essa pergunta talvez não coubesse e, além disso, achava que se tivesse rolado algo ele fosse contar. Depois, não tinha certeza se estava pronta para ouvir a resposta que não queria ouvir. Calou-se, mas morreu de ciúmes e de raiva. A raiva minou a confiança. Já não conseguia mais pensar que se eles estavam longe era porque estavam ocupados; começou a desconfiar que sempre que estavam longe ele podia estar com outra pessoa. Ele não ligava, não procurava, não mandava emails. E não fazia questão de nada; se ela estava namorando com ele era porque queria, e ponto final. As contas de telefone dela vinham altíssimas, porque ela ligava sempre. Depois que terminaram, ficou sabendo que aquela amiga do selinho, uma menina bonita, rica e destrambelhada havia viajado com ele e que, nessa viagem, eles estavam se pegando. Aí teve certeza: é claro que eles tinham ficado, e acontecera naquela noite das mil e umas mulheres, na visita das tais "amigas". Só não sabia que eles tinham formado um trio: ele, a amiga do selinho e a irmã de uma outra com quem ele também já tinha ficado. Isso era comum dentro daquele grupo. Na visão de vida deles, só existia essa forma de amar; inclusive eles acreditavam que isso sim era liberdade! E moralistas são os outros. Enfim; de tudo o que incomodava a ela era a falta de ética das garotas, que sabiam que ele tinha namorada e não se importaram em passar por cima dela, mesmo sabendo que talvez ela não concordasse. Já que ele se colocava na posição de "não tenho dona", e elas eram amigas dele, acataram. Mas perderam o elo com a irmandade feminina. Ela sabia que isso era comum na casa dos vinte anos (e já tinha até mesmo cometido uns deslizes parecidos) e que, mais tarde, talvez, caso eles tivessem sorte, se dariam conta da merda que estavam fazendo com as próprias vidas e com a dos outros. Palavras-chave: moralismo, ética, liberdade, amor. Se arrependia de um único erro: ter continuado com ele após ter ouvido a primeira frase desse texto.

terça-feira, novembro 03, 2009

Esquecimento


Se você tivesse me pedido, eu teria subido até o alto das montanhas com você; teria me mudado para qualquer interior, para o lugar mais frio ou para o mais quente, para a menor das casas, para criarmos galinhas, abelhas. Esqueceria as roupas, as complicações, os supérfluos, a prosperidade para acompanhar com você os movimentos naturais da Terra. Teria passado a cantar para neném dormir, e ajudaria a colher as cenouras. Esqueceria dos itinerantes, das faltas, esqueceria tudo mais, dos ideais, deixaria tudo de lado para ser feliz com você. Era só você pedir.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Redenção









Não compartilhamos amor, mas estávamos guiados pela beleza. Eu acho esse um engano digno. Os meus meninos se tornaram belos homens. Levei vários anos, mas convenci os meus tentáculos por fim a libertar cada um deles do meu abraço apertado. Eles, por sua vez, estão cada um nos braços de mulheres lindas e perfeitas. Se olho para trás, hoje é com leveza e sorrisos. Os meus meninos, um para cada tentáculo, também me ajudaram a deixar a velha casa: do mar aos céus. A beleza é um assunto sério, por isso olho diretamente para o Sol quando quero vê-la. Aprendido e incorporado. Não ser polvo, nem me libertar de um tentáculo e me prender em outro. Não procurar a beleza nos olhos de um homem, não esperar que me retornem o direito à beleza, mas emaná-la através dos meus próprios olhos; ver beleza em tudo. É claro que escrevo de dentro, de um local de subjetividade, e que a minha subjetividade é apenas verdadeira para mim; por fora, eles nunca foram meus. A ilusão é bela; se o véu de Maya não nos parecesse belo, como nos seduziria? Se a ilusão não fosse atraente, se não fosse prazeirosa, não nos seguraria tanto tempo debaixo das suas ondas. Mas é do caos que nascem estrelas e, por isso, há sempre esperança. Acho digno se perder por conta da beleza, mas foi mais legal ter a experiência inteira dando a volta por trás e vendo o que há. O sagrado une as partes separadas. A beleza não é minha, eu a pego emprestada do universo, mas a devolvo logo em seguida, a cada respiração.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Música


Música. Parece o badalo de um sino, ecoando na minha consciência. Milhões de amigos músicos e milhões de pessoas ocupadas; milhões de portas fechadas na minha cara. Ainda mais no Retorno de Saturno; tudo anda mais devagar. O único motivo pelo qual continuo insistindo em fazer música é que eu mesma preciso me curar da doença da humanidade e essas "canções populares" (wolkslieben) que recebo me ajudam nisso. Eu não queria ser egoísta, não queria ser a única a me beneficiar, não queria me curar sozinha e ter que ficar observando a humanidade de cima do meu penhasco de solidão. O meu interesse é o interesse de levar ao coletivo a saúde: levar cura. As músicas curam. Mas não formatei um projeto consistente o bastante, convincente o suficiente para convencer as pessoas a embarcarem comigo; além disso, sou uma líder que não sabe lidar com grupos. O meu ego está envolvido no processo apenas para aprender a se curvar diante do seu verdadeiro senhor. As músicas me usam para vir à tona; o meu ego tem pouca importância. Ser o centro das atenções, perder a privacidade, tudo isso é inferno. Não pretendo vender os meus valores. Não prentendo esquecer o solo que me criou, não pretendo passar por cima das pessoas; preciso me provar vitoriosa. Quero firmeza de propósito, clareza mental, limpeza na alma, nas mãos, manter a pureza do meu coração, organização, força, vida, luz, sentimento, liberdade. E se eu puder mostrar um pouquinho disso àqueles que quiserem escutar, vou achar ótimo. Está mais do que na hora de eu achar a minha turma. #Comcerteza, esse episódio daqui já deu. Tédio máximo dessa vida de Rio de Janeiro.
A consciência não é uma pimenta vermelha que se usa como brinco de cobra coral, que ela se enrola no pescoço. Com o fio condutor da mente também se tece a corda da forca. A força que usamos com o intelecto deveria estar nos músculos, a força com que usamos o intelecto destrói a moral que vem dos sentimentos. É que durante anos a fio venho pregando "consciência, consciência", e agora percebo que é justo o oposto; a consciência é só uma ferramenta de um todo, é só a linha de frente de tudo mais que há por trás e o que há por trás é tão mais interessante... É justo o oposto, é o inconsciente. Mas não do jeito leigo, não do jeito senso comum, não do jeito meio-da-rua. É do jeito Nietzsche; do jeito Freud. Do jeito Clarice, do jeito Dionisíaco-Apolíneo, do jeito estético, do jeito LUA e SOL. Não é de qualquer jeito. A consciência está deixando a desejar; não me serve. Deveria servir, mas quer mandar, dominar. Quer ser um lado sem o outro. A consciência tem sido um peso, uma coisa chata, um limite, uma falsidade. A consciência me formou deformada; sou imagens moldadas pelo social. E, para eles, eu sou feia. Mas existe toda uma beleza por trás, uma beleza tão intrigante, um sorriso tão perfeito, uma doçura tão desconhecida, por trás da máscara do desconhecido que me olha, o meu próprio desconhecido me sorri, tão feliz.

domingo, outubro 25, 2009

Mantra: "eu adoço as balas do Salgueiro e amanso as feras do dia-a-dia"


Quando escuto o Salgueiro comendo solto em balas, eu sinto paz. Eu sinto e emano paz, para que a minha paz se derrame sobre o morro, tenso. E hoje, assim que emanei paz e amor, parou o tiroteio. Pode ser apenas uma coincidência, mas eu acredito que esse seja um movimento que deve ser espalhado. Na presença de desavenças, conflitos, tensões, violência até, emanar paz, amor e ter paciência. É deixar de repetir certos mantras ("O mundo anda mal", "O mundo anda de mal a pior", "O mundo não tem mais jeito") e passar a emanar mais energia saudável, quanto mais tempo conseguirmos. É SE TORNAR saudável (física, mental, EMOCIONAL e espiritualmente) para agir de forma mais saudável no mundo e é nessa política que eu acredito. A ética pessoal da saúde, de se procurar ser uma pessoa tão mais saudável quanto possível para poder emanar saúde. Assim o mundo muda, assim conseguiremos não ter problemas de devastação da natureza (porque a nossa natureza individual estará sendo respeitada por nós mesmos, através dos nossos atos diários, através dos nossos próprios hábitos). E sendo fortes, MUITO FORTES, para suportar um dia atrás do outro sem nos deixar abater pela maioria doente.
A guerra que enfrentamos hoje é do ser humano consigo mesmo; a reforma é individual.
Não adianta "virar fã do pensamento positivo" no facebook e roubar o ingresso da mão do cambista quando tem chance, chegar no cargo público atrasado todos os dias, ou sair destruindo as pessoas mentalmente, com raiva de si mesmo. Isso é veneno.
A saúde é possível e depois, passa a ser o único caminho possível. Esqueça o voto, as manifestações em forma de passeata, o poder nas mãos dos errados. VOCÊ está AÍ, com todo o poder nas mãos e costuma decidir deixá-lo nas mãos de outros. USE o seu poder pessoal para tornar-se uma pessoa saudável, e o poder ficará todo concentrado nas suas mãos, e ninguém mais será seu dono além de você mesmo.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Um pai nosso, uma ave maria e um ato de contrição.

Eu me lembro de estar deitada na cama, aos treze anos, rezando -- e era sempre um pai nosso, uma ave maria e um ato de contrição (eram as únicas que eu sabia de cor; o ato de contrição é uma das coisas mais absurdas que já li na vida), pedindo poder. Eu acho isso engraçado. Pode ter sido o início da minha longa conversa com Plutão, aos treze anos, na cama, quebrando paradigmas, o primeiro cheiro de Plutão. Eu certamente não sabia o que estava fazendo, mas não era um pedido racional, e sim instintivo. Era um pedido de encontrar a minha própria natureza. E encontrei.
E sim, nos meus momentos de ira eu já invoquei todos os demônios mais poderosos do universo porque eram justamente os meus, e pedi que varressem a vida de todos aqueles que me cercavam, todos aqueles que me faziam sofrer; esqueci de me excluir da lista. Sabe, temos que ser bem específicos nos pedidos que fazemos, mas isso não faz com que os reconheçamos quando eles chegam, essa é a ironia. Eu já caí em vários buracos que eu mesma cavei, sem me lembrar deles.
Existem histórias trágicas; as minhas são apenas exageradas. Uma tentativa, talvez, de me tornar mais importante do que eu realmente sou. Gostaria que se um dia houvesse legiões de pessoas chamando o meu nome fosse pelos motivos certos, e que não fosse tanta gente assim. Sei que preciso trabalhar com grupos e, no entanto, gostaria de ter sabido cativar melhor todos ao meu redor e que eles ficassem mais contentes comigo, na minha presença, do que na saudade de mim. Mas essa distância é algo que me aproximou de algo importante e que é só meu... E que não sei nomear.
Ainda esse mês percebi que, de fato, não quero encontrar nada do que eu procuro, porque a minha onda é esperar, querer e sonhar, e que é isso o que me deixa viva, pulsante, e não as coisas em si. As coisas em si são meros objetos. Eu percebi que, muitas vezes que encontro com um pedacinho de sonho eu o mastigo, sinto o gosto e, ao invés de engolir, eu cuspo ele fora. Levantei uma das mãos para louvar a Deus e os homens racionais aproveitaram para martelar um prego. Levantei a outra para pedir ajuda, e fiquei com as duas mãos presas em uma cruz. E será que eu sou a vítima? Posso ter eu mesma me pendurado ao contrário. Eu crio e mato o meu universo. Somos vítimas de nós mesmos. E é assim que acontecem todos os acidentes: num piscar de olhos. Milésimos de segundos. Acidentes que não são necessariamente físicos, mas frutos das nossas escolhas. Mas estamos a salvo pelo amor-fati. : )

I Crucify Myself

Como é horrível tentar pegar o pequeno peixe com as mãos e esmagá-lo. Como é horrível pedir todos os dias pela mesma coisa e, quando ela chega, a esmagamos como fizemos com o peixe que tentamos pegar. Como é horrível dar um passo e perceber que demos um passo a mais para aquilo que não tem mais volta. Como é horrível construir uma narrativa mental de coisas maravilhosas que nunca ocorrem, e como é horrível justamente o oposto de jamais sonhar, desejar, sentir falta. Como o viver é horroroso e como eu o amo! Como me rasgo inteira nessa tensão! Como é horrível se decepcionar consigo mesmo, frustrando as próprias expectativas! Como é terrível gerar nove meses de expectativa, vinte e nove anos de expectativa, e abortá-las em pouco tempo, e ser carregada pela cachoeira dos sonhos que subiam da mente para o nada que esperava transformar-se em algo, assim como se dá com todos os espíritos que esperam encarnar, descendo, bruscamente, despencando do caos de todas as possibilidades para o nada absoluto. Como é terrível essa ladainha. A beleza é a saída para a dor do viver, mas o que em um dia nos parece belo, parecendo uma saída para a finitude, em outro fica apenas horroroso pois nos damos conta da própria finitude. Finitude até dos sonhos, dos pensamentos, das vontades e até mesmo da dor.

segunda-feira, outubro 12, 2009

STAR
Ele disse que star em sua companhia era mais do que suficiente, poder admirá-la e respirá-la, que de poder tocá-la por star tão próximo era o seu único desejo. Porém, por baixo da pele, ele vestia outra intenção: enjaular o seu coração através da própria força, pelo laço da persistência. Ele tentou, desde o primeiro dia, poções encantadas, palavras mágicas e até a nobreza de um coração, embora, sem sucesso, a cada investida, retornava cabisbaixo para casa, não fosse a pele dela tão escorregadia. Desde o primeiro dia, ela não o enganara... O seu coração não estava em jogo, e não estava à venda. O seu coração não seria conquistado em uma aposta. O seu coração não seria conquistado de forma alguma; caso ela o quisesse, aquele seria entregue. Mas ele a conjurou; ao sair de sua casa às 01:18 da manhã, depois de se imaginar passando a noite com ela, teve que ligar para os amigos que dormiam, amigos com um filho pequeno, da casa em que estava ficando. Ao deixá-lo aproveitar a sua companhia, como ele havia dito ser de sua vontade, teria sido o mesmo que tê-lo iludido? Mil voltas dá o coração de uma mulher e, por culpa, perdemos o nosso lugar no paraíso. Pois veja bem: o lugar no paraíso é garantido à mulher que conhece o próprio lugar e não se deixa enveredar por manipulações pequenas. Culpa é o veneno verdadeiro que a serpente lança ao nosso sangue, é a culpa que faz com que nos entreguemos às mãos erradas, às bocas erradas, às vidas erradas. Por culpa podemos nos rebaixar ao mísero infortúnio de viver sob as solas dos sapatos e sob as rodas das carruagens, infelizes. Rats. No entanto, mesmo correndo o risco de tê-lo visto pela última vez (e sabia que esse risco era grande, já que viajava a cada instante de forma mais veloz, e não via alma capaz de se transformar em luz para segui-la), mesmo correndo o risco de quebrar um coração tão querido para si, ela manteve-se firme em sua decisão (correta, em seu coração - apesar de igualmente dolorosa). Ela não o havia usado como objeto de prazer, como também era da vontade dele. Ela também não o havia beijado, como era da vontade dele. Ela havia permanecido firme, honesta e pura diante do seu propósito de não mais servir vontades, pois era mestre de si e tinha uma única Vontade, dada pelo seu poder gnóstico: a de tornar-se Deus.

sábado, outubro 03, 2009

A hora da virada

Acordei entre os travesseiros, cantando I Love the Nightlife. O que me fez cantar foi um aperto nas vísceras, em algum lugar dentro, entre estômago e fígado. É isso: esse desconforto. Foi o que senti. Nem pensei nas palavras ou na melodia, simplesmente a música pulou da minha boca como um ser independente. Não posso dizer que não tenha ficado surpresa; tanto pelo repertório quanto pela sensação. O aperto não era fome nem dor de barriga, era a consequência de um sonho. Odeio admitir que sinto ciúmes, que é um sentimento que me enlouquece e sobre o qual não tenho nenhum controle. Do ciúmes à raiva é um pulo, e da raiva à loucura é outro. Sou facilmente controlável e perco as rédeas de mim mesma quando sinto ciúmes. Sempre foi o meu ponto fraco. Até pouco tempo atrás eu tinha amor por um outro. De repente, como se fosse um passe de mágica, sumiu o que eu sentia. Esgotou-se? Congelei? Foram cicatrizadas todas as feridas? Eu sei que eu tenho esse poder de corte; só que ele também não está sob o meu controle, ele acontece, depois de um determinado tempo de sofrimento. E posso dizer que esse corte foi pontual, pois tirou de dentro de mim o vínculo com todas as pessoas que nunca me corresponderam, tanto em sentimentos quanto em expectativas. Todas as pessoas contra o movimento de auto-conhecimento foram-se; todas as pessoas que chegaram muito perto e decidiram não embarcar, ficaram no cais. Todos aqueles que viram a luz e temeram ficar cegos, passarão a eternidade na escuridão, mas serão felizes, pois não saberão a diferença entre um estágio e outro. Como uma mão de gelo, as feridas foram cauterizadas pois não mais continham pus; a mão de gelo fechou o aberto para que o calor permanecesse dentro. A diferença entre agora e antes é que eu sentia uma carência ao contrário... A minha carência nunca foi "Por favor, me ame!" e sim um "Por favor, me deixe amá-lo, pois se eu não amar vou explodir". Agora, não tenho essa necessidade. Eu amo porque sou um ser vivo; o amor existe em mim e para mim, e não tenho necessidade de dá-lo a ninguém. Aliás, prefiro mantê-lo comigo como coisa sagrada que é, para que não aconteça como das outras vezes em que eu me sinta comida e descartada como qualquer coisa que entra e tem que sair. Agora é fluxo, é constante, e não mais algo preso entre dois extremos. Agora é serpente e não mais idealizado, pois é presente.

Aos 18 seguidores do blog

Gente,

Agradeço imensamente, de coração aberto, a presença de vocês por aqui.
Agradeço pelo tempo que investem nas leituras, nas visitas constantes, na preocupação em se juntar ao blog (aos comentários...)! Nossa, isso é grandioso... Podemos fazer um movimento juntos! Somos "um" quando nos encontramos aqui. Agradeço mesmo. Vocês me fazem mais feliz. A cada dia que venho aqui escrever e vejo que há mais uma pessoa na lista, fico mais feliz. Somos 18 agora, mas já fomos apenas eu, e cada um no seu canto. Olha só, que conquista! Um dia, seremos muito mais de 100.
Muitos beijos!

Alexandra.

quinta-feira, outubro 01, 2009

23:34, bêbada no metrô.

"Gostaria de escrever agora e não sei se deveria. Os rabiscos que fiz todos quando cheguei não entendi: letra miúda demais, rabiscada demais. Adoro homens que fazem o melhor com o que têm. Chamou a minha atenção um desses. Ele entrou no vagão na Estácio, indo para a zona norte. Usava sapatos pretos de solado grosso que pareciam confortáveis e quentes, uma calça cinza da Predial e uma camisa de algodão do Flamengo. Mesmo que a moda tenha mandado lembranças, esse homem, de boné, tinha um estilo próprio. Não sei como, mas ele transformou todos esses itens em algo menor, menos importante, do que a força de caráter que emanava dele. Ele, no conjunto, era perfeito em si. Adorei a sua altura, a sua cor de pele, as veias que saltavam naqueles braços, e os braços... Costas largas, braços fortes, quase sem pêlos, mãos fortes, dedos fortes, veias, braços. Deliciosamente preocupado no metrô. Ele carregava uma escada de alumínio. Ficou no carro quando eu saltei. Ele viu que eu estava olhando e olhou de volta. Uma delícia perdida. Imaginei ele me segurando com aquelas mãos, aqueles braços. Imaginei se eu teria reconhecido um homem de verdade: seguro de si, dono de si, confiante, silencioso e aguardando poder dar o amor que tinha, porque seria a única coisa que poderia dar e, por isso, ele seria abundante. Sonhos, pensamentos... Enquanto isso, eu parecia uma maloqueira de capuz rosa choque, ouvindo música alta no meu mp3 player. Será que alguém me viu? Imaginando delícias com um desconhecido. Eternizado momentos pela escrita."

sábado, setembro 26, 2009

THELEMA

Deus é como o fogo da existência e nós somos centelhas divinas. A nossa VONTADE (Wilt-Will, Wille) é, através da matéria, nos elevar até lá, fazer o caminho de volta, cada um do seu próprio jeito. "Todo homem e toda mulher é uma estrela" e, por isso, possui uma própria órbita de atuação, um próprio campo energético. Não há quem se coloque no caminho, mas existem vários obstáculos, a começar por nós mesmos, pois esse retorno ao uno-primordial não é automático. Não é apenas "nascer, existir e pronto, estamos cumprindo o nosso papel". É preciso fazer essa escolha. "Amor é a Lei, amor sob Vontade". Tudo está subordinado a essa vontade. Nada é mais importante do que a realização do que viemos concretizar. Nada é mais importante do que nos voltar a Deus. A alquimia interna é alcançada quando vencemos os nossos próprios obstáculos e abrimos os nossos próprios caminhos. E não há obstáculo maior do que a nossa força. No entanto, há preguiça maior do que o nosso ímpeto de ação, pois o ego e a consciência conseguem justificar as nossas falhas de todas as formas. Os orientais chamam de "bruxa da ilusão" (Baba Yaga); é ela quem nos pega no colo, nos alimenta com mais um chocolatinho e diz, "tudo bem, as coisas não estão dando certo para você, não é? Pobre coitadinho, deite aqui, fique mais um pouco no colinho da vovó". Ilusão - quebrar as próprias crenças sobre nós mesmos, ver atrás do véu de Maia. Derramar todas as gotas de sangue na taça de Babalon que é COMPROMETIMENTO consigo próprio em prol desse único objetivo: a unificação do seu próprio ser (dentro de si, em primeiro lugar obtendo, como consequência, a unificação com os mistérios da vida). "Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei".

sexta-feira, setembro 18, 2009

As sementes que morrem antes de nascer

Acho que posso dizer que um momento acabou de morrer. As sementes que não florescem me frustram. É contra a minha natureza SOLAR -- dar amor e ver as coisas morrerem! Antes de acontecer! Ao meu redor não tem nada crescendo! Isso significa que eu esteja mudando? Nada depende de mim; as pessoas não precisam de mim. O que eu aprendi não serve para elas... Frustração! O que é de um sol que não cria vida?! Mas o calor do sol não é MEU, ele apenas me atravessa... Eu sou uma lua! E um sol também. Não nascem as sementes porque o processo com Lilith ainda não está completado? É isso? Assusto com a minha espontaneidade, sendo Vênus, independente, saudável! Quanto medo as pessoas sentem! Frustração. Medo, como se eu fosse uma daquelas mulheres das histórias do Eric Stanton... Mas antes elas morram logo ao nascer... Melhor para elas! Que ANTES de se tornarem plantas adolescentes já voltaram logo para o seio do vazio. Melhor do que ser uma planta adolescente solitária! Como sementes que não vingam elas têm TANTAS companhias! São tantas, tantas! Mas isso tudo vai contra a minha natureza solar... Vai contra a lei da confiança, contra a lei da transparência, da clareza, dos motivos explícitos, do crescimento, vai contra a vida em si! O medo que mata, que faz com que as pessoas se fechem, que faz com que elas morram antes de sair do casulo. Bem fazem elas... Dói muito mais ter saído do casulo e olhar as sementinhas que recém brotaram e não chegaram a ver a vida por inteiro.

"KILL-KILLKILLKILL that weird thing"

Ai, não consegui copiar o link pra cá, mas a história era que um ser bem esquisito apareceu no Paraná (entre ET, uma pessoa mutante e um bicho preguiça sem pêlo) e um grupo de adolescentes, com medo de ser atacado, matou o ser.

E eu fiquei meio chocada, mas entendo o medo deles... Ainda mais depois do advento Hollywood.

Só fiquei chocada com a reação. "Mata, mata! Antes que ele ataque! Não sabemos o que é, mas é uma coisa estranha". Acho que me senti, em parte, assassinada também.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Água fria - a nova sensação


a) O meu chuveiro pifou. Há três dias, bem quando virou o tempo e esfriou, estou tomando banhos frios, lavando o cabelo e tudo. Mesmo às 7:30 da manhã;
b) Fiquei achando que o universo teve algum propósito maior que eu não entendi para me fazer tomar esses banhos frios, então cada banho agora está sendo um teste de força e de força de (boa!) vontade;
c) Sabe que meu cabelo e a minha pele estão adorando? O dedão do pé fica roxinho, por causa do frio... E se pensam que eu passei a tomar banhos rápidos, estão enganados, eu me demoro, esfolio a pele, passo por todos os estágios, com a maior calma que eu consigo (por conta do frio - é uma calma nervosa).
d) Acho que acostumar com banho quente deixa as pessoas moles; pode ser que todos sejam filhinhos da mamãe e molengões porque só tomam banhos quentes. Não tomam? Banho frio traz saúde, banho frio poupa luz, banho frio educa. Adoro quebrar mesmices. Por isso nem vou resolver essa questão que, a meu ver, já esta resolvida.

terça-feira, setembro 15, 2009

Flor-do-meio-dia que não se lembra onde é o próprio jardim

Não há saída para o meu espírito perturbado; viverei como nasci, como foi pré-determinado. Sou uma mulher reclusa, para sempre respirando à sombra do palácio, com meus vestidos e meus sapatos. Eu me sinto como aquela pomba que cisca na janela, como aquela nuvem que silencia, passageira. Sou qualquer impressão efêmera da vida, um piscar de olhos não percebido, o tilintar dos sinos de uma igreja de uma cidade fantasma: sou o som que se propaga em nada, que preciso ser sem a compreensão dos ouvidos. Sou uma mulher reclusa, presa em mim, sem nenhuma companhia, passo os dias a chorar o tempo dos dias que se passam e eu aqui, desperdiçada, sem dinheiro, sem amor, sem sorte; embaixo de um cobertor quente, mas sem frio e sem norte! Morte parecia bom quando apago a luz até finjo mergulhar em um nada escuro e sem conflitos. Parecia bom... Parecia bom não acordar jamais; me entregar ao fracasso, sentir os ovos não fecundados serem desperdiçados, sangrados. Ver como os dias vêm e vão e nada muda... Eu não mudei. Você mudou? Acho que não, e pouco importa a solidão pois amanhã o dia vai amanhecer de qualquer jeito e eu vou ser obrigada a acordar -- de novo... Chora as pernas musculosas que não tem, a casa perfeita no meio do mato com piscina e amigos que não tem, CHORa os buquês de flores que nunca ganhou, o verdadeiro elogio que nunca foi pronunciado através das pequenas ações dos namorados, chora os 'eu te amo' engolidos, chora a dor da não reciprocidade, flor-do- meio-dia... Flor, meu bem, você murchou sob o sol, também pudera... Arrancaram você do chão, e sem as raízes, quem é? Uma aparência vazia
de quem não se lembra de onde é o pró-prio-jar-dim. (respira) É o cantar de um pássaro que ao invés de despertar para a vida vira uma televisão ligada com um vizinho de voz alta ao telefone que incomoda... Vira um metrô lotado, vira as mil possibilidades de amantes desinteressantes e desinteressados... Vira uma vida de 29 anos mal aproveitada, vira o pessimismo do meu pai e as consequências da ingenuidade da minha mãe; vira o estômago do avesso... De quem é essa vida que eu vivo nos meus sonhos? Onde ela está, essa pessoa desalmada, pois a alma dela está aqui, corpo sem alma ou o contrário. que nunca se unem pois está um cá e outro lÀ, tão longe
cansaço sem nem começar

Furacão-serpente

Luneta penetrada do céu em movimento reto, ângulo de cento e oitenta graus do alto para mim, o olho do furacão: não sinto nada. Mas o peso pungente dessa reta que eu tento equilibrar em uma das mãos às vezes corta como se fosse o dente de uma serpente. E a loucura que sinto é como se o veneno estivesse se espalhando pelo corpo. Tiro tudo da vida dos sonhos e eu realmente preferia continuar dormindo... Por mais pesado e intenso que fosse o sonho, acordar com hora marcada é um processo muito mais cruel. Estava sonhando com beijos e abraços, e serpentes venenosas. A serpente rastejava atrás de mim; ela era um verde intenso e tinha olhos amarelos. Em um determinado momento eu parei de correr, e pensei: "Está bem. Vou deixar você me morder só um pouquinho". E então ela rasgou a minha canela com as suas presas, mas eu a peguei pela cabeça, e disse: "Está bem. Agora já chega". E saí cambaleando, e a visão foi ficando turva. E eu fui cuidada por um xamã, que era alguém que já conheci e que também usava veneno de serpente para viver e ter visões. Mas os beijos e abraços eram em outro; alguém proibido, alguém secreto. A serpente percorreu o sonho inteiro e eu não fui a única com mordida de cobra, mas não lembro dos outros. Nos sonhos somos nós o centro sempre; na vida, às vezes deixamos as pessoas que nos cercam tomarem de nós o papel principal. Então hoje acordei com a cabeça rodando. Não estou mais no olho do furacão e, no entanto, continuo sem sentir nada. Vejo as coisas girando a minha volta ou seria eu que estou girando? Vou deixar que os ventos me levam e me depositem em algum lugar. . . Pois hoje não consigo pensar; respirar já é suficiente.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Transfiguração

Queira que a minha boca lhe deseje sorte, pois sorte virá. Eu desejo de coração, e não por decoro.
Se eu acreditar que o meu tamanho ínfimo signifique "pouca importância", estarei reduzindo o meu sagrado à poeira. E, apesar de a poeira também fazer parte da vida e do sagrado, há muito além dela. Que você não veja o meu sagrado é justo; são apenas os seus olhos. Isso não significa que ele não esteja lá.
A Bíblia funcionou para mim como um livro de "o que não fazer". Os ensinamentos de Jesus não foram escritos por Jesus e, para ter acesso aos ensinamentos de Jesus não é preciso ler a Bíblia; os passos estão dispostos no infinito, é só segui-los até a divindade. Claro que essa ideia é ofensiva à igreja e às pessoas de coração fechado; apesar de a instituição não admitir a adoração de ídolos, o que se tornou Jesus? A ideia de que ele é mais do que nós, mesmo sendo HOMEM me enoja porque esconde dos homens a verdade: somos todos deuses, filhos de deus (e também os isenta do trabalho de aperfeiçoamento de si próprios, já que não poderão jamais se comparar a Deus). E em todos os nossos aspectos, positivos e negativos, esse sagrado se manifesta. Eles também existiam em Jesus. Jesus não é meu pai, é meu irmão. É nosso irmão, o que nos torna todos irmãos entre nós. Claro...
Todas as pessoas são cabreiras ao se relacionar, isso não é nenhuma novidade. Amar de coração aberto é que é o grande sinistro monstro das trevas e as boas novas. Mas... Como amar sem confiança? Só não possui confiança no outro aquele que não confia em si, pois aquele que tem consciência do seu sagrado acredita que faça sempre o melhor que pode, sabe de onde parte e para onde vai (independente se chega ou não). Auto-confiança é: se alguém duvida do sagrado em você é apenas porque não o vê em si mesmo. Isso não quer dizer que você não o tenha ou que não o seja. Não duvide de si por causa dos olhos alheios! Assim igualmente se dá com todas as outras características. Você precisa acreditar em si mesmo. Parece tão básico, não é? O básico é o mais menosprezado, é o que ninguém ensina. Se você não acreditar em si mesmo, nada acontece, nenhum amor de mãe vai suprir as suas faltas, nem o amor de nenhum homem e/ou de nenhuma mulher; nenhuma droga vai preencher o seu vazio, nem nenhum dever, função ou cargo.
Mas o convite é feito a todos. "Abra-se! AME! Conheça a si mesmo"! Faz quem quer, e esse querer dói. Não sei se há outra saída além de se aceitar a dor de ser e de estar. A liberdade passa pela dor do parto. O amor não é eufórico, mas também não é dor sob vontade. É amor sob vontade. Aceita-se que a dor faça parte disso, pois é a verdade. Fato é que poucos estão prontos. Não é o papel de todos e nem é uma obrigação. Existem outras formas de vida. Ainda não é uma ideia completa, algum dia venho com mais.
Creio no que creio e eu sei de mim, independente da experiência que os outros têm comigo.
Isso vem de muitos anos recorrendo no mesmo erro de tentar me enxergar através dos olhos das outras pessoas. Isso mudou há poucos meses, mas vem sendo um trabalho de anos a fio (e espero que tenha mudado mesmo!). Verei dentro de mais alguns anos. ho ho ho "No soup for you!"
Especial para os escorpianos:
"God of all my GOD'am" (Alice in Chains)
Já postei aqui o gostinho delícia de uma vingança bem aplicada e daquela reação perfeita no momento perfeito, e do gostinho de destruição quando você percebe que realmente abalou a estrutura interna de alguém. Chifrinhos à parte, esse não é o trabalho de escorpião. O trabalho nosso é TRANSFORMAR. O escorpiano só transforma após muito refletir. Refletir é diferente de pensar. O ego não tem parte nisso. O trabalho é aprender, não reagir. No refletir, separa-se o joio do trigo, descarta-se o que não é sentido pelo corpo como verdade (e é assim que percebemos a nossa verdade, é com o corpo todo, ressoa, estremece! Por favor, partindo de um lugar de saúde, ok? Lógico. Não vá justificar a sua expressão de raiva por tê-la sentido como a verdade ressonante no seu corpo todo. Vá para a academia correr, que você faz melhor. A raiva esconde os sentimentos reais. Acho que não existe reflexão com raiva; existe apenas raiva!) A reflexão posterior aos fatos tira a possibilidade do ego de se vangloriar com uma bela resposta ou reação. Sem conseguir reagir na hora, somos obrigados a refletir e, refletindo, aprendemos. Aprendendo, transformamos.
Post chato? É só clicar no X.
Jamais aceitarei a vida do homem medíocre; seria uma ofensa ao meu sagrado e aos meus ideais.

domingo, setembro 06, 2009

"A"

É engraçado pensar que Amor comece com a mesma letra do meu nome; pensar que o desconheço tanto quanto a mim mesma. "A"gradeço às suas mãos, uma espelhada e outra trazendo um Ás de copas, virem me mostrar os olhos de medusa, de medo, de descrença que eu tenho. E se antes transformei em bonitas esculturas as pessoas, objetos para ficarem lá parados nos confins do meu consciente, beirando o inconsciente, agora quem virou pedra fui eu, através dos meus próprios olhos espelhados; apenas trabalhamos com materiais afins. Embora acreditando que um grão ínfimo de areia possa virar infinito continuo trabalhando, pois que nasça do caos uma estrela. E você, meu amor, meu amor mais profundo, você é como se fosse eu, e nos devo as mais entristecidas desculpas. É a primeira vez que me comprometo comigo mesma, por isso todos esses enganos e a falta de respostas. Até ontem eu me comportava exatamente como você, descompromissadamente. E como é injusto exigir das pessoas um comportamento que nós mesmos nunca tivemos... Como é injusto esperar que as pessoas não nos reflitam, não nos levem a enxergar a nós mesmos. Como é injusto com o nosso ser mais íntimo criticar o outro, pois, na crítica do outro, existem milhões de críticas a nós mesmos. Como é fácil o desamor! E como é rápido também. Tenho uma galeria de imagens, das pessoas esculturas; todas foram desprovidas de vida. Sonhei que você se matava; mas por favor, não morra dentro de mim. Preciso que você fique vivo, me ensinando. Por favor, não se mate dentro de si mesmo, deixe o coração bater! E, por favor, me perdoe por todos os enganos. É a primeira vez que me comprometo comigo mesma. Eu nunca soube o que é amor, não tenho a pretensão de ensinar.

sábado, setembro 05, 2009

A sua Valentina negra

Vou tatuar corações negros sobre a pele, como se fossem sinais de nascença, um para cada amor encontrado e perdido. O meu vício, detenha-se um pouco nisso, não é amar: é sofrer. Então que o meu júbilo encontra o limite máximo quando a dor perfura a pele, trazendo o sangue à tona, deixando marcas. "Amar é morrer", as pessoas se chocam com essa verdade quando procuram ler o que há escrito no meu pé. "Ai! Não, amar é viver"... Elas dizem. Mas parece que dói nelas também. Como adoramos dar voltas no circuito do amor! Viver, morrer, morrer, viver! Como dói, como odiamos essa dor, como ela nos alimenta, como procuramos fugir dela quando a temos e como a procuramos mais que tudo quando está longe. Verdade. Esse é o destino que os nossos deuses deram para nós. A nossa unidade complexa que distingue-se circulando pelo corpo e alma, pelo claro e escuro, pelo sim e pelo não, pela vida e pela morte. Temos um pé de cada lado, não é?! Quem entende as minhas palavras está vivo. Muito vivo, mesmo que dolorido, mesmo que próximo da morte. Aliás, quem está próximo da morte está muito vivo. Muito vivo. E eu estou quase! (...) Posso ser a sua Valentina negra, aquela que se encontra perto de você, embaixo da sua cama, mas que logo surge, face junto a face, quando você se deita, quando está quase adormecendo? Aquela que lhe vê quando você está saindo do corpo para ir visitar o reino dos sonhos? Posso ser a sua Valentina negra? Aquela que vive na profundidade do seu coração que bate, surdo, no seu peito, e que não lhe deixa pregar os olhos? Eu o acalmarei, mesmo sabendo que, ao mesmo tempo, eu sou a causa de toda insônia, alisarei os seus cabelos, farei carinhos até que se acalme, até que se entregue, até que me ame, gastarei as palmas da mão lhe alisando, lhe darei amor até que sangre. Deixa? E foi quando, de repente, quando a mamãe doutora passarinho estava me dando de comer Nietzsche mastigado, que descia como se fosse o alimento mais puro do universo, com todo aquele amor e cuidados, que recebi um cartãozinho com a resposta mais singela. "... e morrer é necessário"! De uma amiga; "para o seu pé, para a tatuagem do seu pé"! E então, ela me calou em sorrisos e eu morri de amor e de alegria. Por todos os segundos infinitos contidos naquele breve momento, amém. Pois, se amar é morrer e morrer é necessário, amar também o é.

domingo, agosto 30, 2009

Vamos colocar assim:

Grau de independência legítimo de um indivíduo, eleito como supremo; conjunto de direitos reconhecidos de uma pessoa, considerados individualmente ou em grupo; poder que cada um tem de exercer a própria vontade dentro dos limites facultados pela "lei"; condição daquele que não é cativo nem propriedade de outro; possibilidade de mover-se e expressar-se de acordo com a própria vontade; condição de todo aquele que não se acha submetido a nenhuma força constrangedora física ou moral; autonomia


É DIFERENTE DE

licenciosidade de costume daquele que se entrega imoderadamente a prazeres sexuais; insubmissão e indisciplina; complacência; irreverência com relação a dogmas, crenças e práticas oficialmente aceitas



E não é uma questão de "sim ou não", mas de "mais ou menos". Não é uma questão de "ser", é uma questão de "valor".

Na incapacidade de amarmos uns aos outros, a gente se fode.

Mas eu não vivo mais assim. E pode vir quem vier tentando me reduzir a uma simples mulher ciumenta, pois eu sei que essa é a saída mais fácil para quem não quer se ver nem se enfrentar.

sábado, agosto 29, 2009

Eu começo onde você termina. No desencontro, dançamos.

A lua estava cortada pela metade, e o contato deles também. Ela chegou em casa da rua, suada e queria liberdade, então tirou o sutiã. Mas antes limpou a casa in-tei-ra pensando nele. Ouvindo Roxette. Pensou que, se estava fazendo um serviço de Maria, podia muito bem se dar ao luxo de ser brega. Cantou, varreu, varreu, olhou-se no espelho e fez da vassoura um microfone. Gostou que o cabo ficasse mais baixo que a sua boca e que ela precisasse afastar as pernas para dar altura; se achou bonita. Pensou em como era bom poder cantar "I can't live without your love..." porque, de fato, podia. E vivia muito bem até. Mas todos os dias pensava nele e sentia a sua falta, e como era triste essa realidade, e como na morte tinha ganhado a vida. Sentia que os dois ainda estavam ligados, que ela o continuava nutrindo em algum plano transparente e invisível, sentia que ele podia sentir e pensava... Que se tinha tanto amor assim por ele, estaria ele procurando por ela em várias outras mulheres? Estaria enviando de volta a energia dela, através de outras bocas, outras peles? Depois sorriu, tola, com uma quase certeza de que ele poderia procurar à vontade, pois ELA só tinha essa que estava aqui. Sorriu, como quem sentia que seria impossível essa tarefa, como se o destino dele fosse para sempre se lembrar e nunca alcançar. Sorriu porque o pensou muito tolo, e se perguntou se poderia perdoá-lo por ter preferido viver a falta e o vazio ao invés do amor. Que, no amor, ficariam muito confortáveis e felizes, mas, na falta e no vazio, ele ficaria mais completo do que tudo. E sozinho. E ela entendeu, mas não sabia se ia conseguir perdoar; no entanto, não conseguia odiá-lo. Sabia que ele amava a si mais do que tudo e que não havia espaço para uma outra pessoa em sua vida. "Narciso", pensou. O odiou por um segundo. Ele era, em muitos segundos, maldito. Mas depois logo esquecia as maldições todas; o amaria para sempre. Cantou mais. "Fading like a flower... Fading like a rose..." Sabia que ele estava em trânsito; como o som estava alto, não pôde escutar o telefone tocar. Sabia que ele poderia aparecer em sua porta a qualquer momento ou, ao menos, sonhava com isso. Imaginou se ele iria embora ou se daria meia volta ao chegar na porta e a encontrasse escutando Roxette. Achou-se novamente tola. Foda-se o fantasma dele, a possibilidade ínfima de que ele viesse encontrá-la e, se viesse e desse as costas, que fosse para os diabos. Que o diabo o carregasse. Que o levasse para as profundezas do inferno -- mas lá não, pois ela conhecia o inferno muito bem e se veriam sempre. Não queria vê-lo, mas em pensamento e em desejo o visitava sempre. Estavam sempre juntos. Inferno. Ela o conhecia muito bem. Mas, o telefone tocou e ela não escutou. Viu que havia uma chamada não atendida depois que tirou o sutiã e se deu sorvete de presente, por ter limpado a casa in-tei-ra. Tentou ligar de volta. Não sabia de onde era o número. "Talvez fosse ele", pensou. E pensou que, se ninguém atendia, era porque não era para se falarem. O engraçado é que, de fato, poderia ser ele do outro lado e que, se ele tivesse ligado e ninguém tivesse atendido, ele teria o mesmo pensamento. E assim tentavam sempre se encontrar, e estavam sempre ligados pelo desencontro, pela lembrança, pela falta, pelo desejo e pela filosofia.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Em nome de quem?

Sinto a pressão das perguntas: "Em nome de quem você fala? Que título você tem para afirmar tais coisas? Quais são as teorias e estudos que fundamentam a sua experiência"? Preciso ter, atrás de mim, vozes de pessoas que já morreram. Preciso ter, atrás de mim, vozes consagradas. Preciso decorar as passagens dos seus livros, ler sobre os seus pensamentos, ter consciência que, antes de mim, existiram Schopenhauer e Nietzsche. Preciso comparar e associar os meus próprios pensamentos com os deles antes de poder afirmar com convicção as minhas próprias crenças (como se a vida fosse uma tese de mestrado), antes de ser levada a sério. Que autoridade tenho eu para fazer as afirmações que faço nos meus textos senão a voz da minha própria experiência? Quem sou eu para falar? Qual a validade dos meus pensamentos? Como posso resumir os aprendizados que tive fundamentando as minhas próprias crenças apenas em filosofia, esquecendo da astrologia e da música? Acho impossível e uma perda de tempo valorizar esses títulos... Valorizo tanto a voz que vem diretamente do céu; eu bebi dessa fonte e essa é a minha autoridade. Porém, dê valor quem conseguir dar valor a si.

domingo, agosto 23, 2009

O cheiro do outro

A parte animal
Com todas as pessoas, em todos os relacionamentos, em todos os encontros nós, humanos, buscamos um par. Não é uma patologia nem algo que devemos reprimir, esses pensamentos de uma possível união com cada um que encontramos é simplesmente a nossa parte animal falando. Devemos deixar o pensamento ir da mesma forma como veio, naturalmente. É apenas natural.
O que une então, dois seres humanos, quando duas pessoas se encontram e acham que "se acharam"? Muitas outras coisas. Talvez um somatório de identidades: pensamentos afins, combinação química, atração visual, intelectual, etc. Mas todos por quem nos sentimos atraídos são pares sexuais? Não mesmo. É que as pessoas empurram a excitação e o tesão para a virilha. Gostam de conversar com alguém, e empurram esse gostar para a virilha. Acham alguém bonito, empurram a sensação para a virilha. Nós somos viciados em sentir com a virilha, embora todos os sentimentos, na virilha, fiquem bem desconfortáveis. A respiração ajuda o prazer a circular, porque o prazer preso na virilha enlouquece; aliás, o prazer preso enlouquece. O prazer precisa circular pelo corpo TODO. Prazer nos olhos, no nariz, na boca, na pele, no cabelo, nos pés, na barriga, na espinha dorsal... Em todos os lugares. O prazer é seu e é para você senti-lo; não precisa entendê-lo como um tesão que precisa ser expresso sexualmente. O tesão pode ser expresso por um abraço, por uma troca intelectual, duas pessoas conversando sobre um mesmo livro, ou sobre uma pintura que gostam, ou sobre animais, ou sobre alimentação, ou sobre o diabo a quatro. Existem tantas pessoas quanto existem interesses e vamos nos identificar com muitas pessoas ao longo do caminho. Imagina o que acontece se acharmos que TODOS são possíveis parceiros sexuais.
Acontece que ficaríamos completamente perdidos, achando que não conseguimos escolher; acontece que todas as relações virariam paranóia pura, acontece que talvez não conseguíssemos nos relacionar, achando que estaríamos traindo aquele outro, por sentirmos um tesão enjaulado e secreto por ele. Mas não precisamos nos maltratar assim; isso é natural. É que não aprendemos como amar na escola e nem aprendemos que é normal sentir prazer no outro e que esse prazer chama-se tesão. Aprendemos que amor e tesão andam separados e que o tesão é sempre piru-xoxota, quando isso não é verdade. Amor e tesão são a própria vida e não podemos reprimir a vida, ela precisa brotar. E é preciso que entendamos isso para poder então, com maestria, saber quem é realmente um parceiro sexual de quem não é. (Por que e para quê? É essa a pergunta? Por que não sair transando com todas as pessoas com quem nos identificamos? -- Apenas porque não somos animais puramente. E a sociedade anda doente, sexualmente doente, doente em comportamento. Apenas porque devemos frear os comportamentos automáticos e instintivos e nos perguntar: o que eu estou fazendo? por que estou fazendo isso? Porque foi para isso que ganhamos consciência.)

quinta-feira, agosto 20, 2009

20 desgosto de 2009 (2009?)

Gosto oito de agosto, desgosto, agouro, vinte e amanhã um, de dois mil e nove. Quantos? Já? Mais de vinte, mais de mil, mais de dois mil. Mais de dois mil e três; mais de dois mil e seis, dois mil e sete...? Não. Oito? Volte para a casa um. Não existe dado; a gente joga com as escolhas, as bolhas, as folhas e as falhas são o melhor aprendizado TALVEZ odazidnerpa

Amo, gamo, mamo, chamo, vamo, clamo, pano, dano, ano, tamo... Tamo mermo? 'Cho que não.
Mão na mão, olho no olho, meu dente no seu pente, seu pentelho no meu... cano!

Sim, pelo cano, pelo cano... Levou água. Tomou bomba esse submarino sub-luz-marinho-amarelo claro e ralo. Eu falo, EU, claro. Não é mais o SEU phalo. Cortei, Uranos! Saturninamente. Adivinha quem nasceu?! Sim, sim, sim, por mim, para mim. Sim SIM e sempre sim. Perguntaram... Você quer nascer? E respondi: "Aceito a vida"
Então respiraram dentro da minha boca e tomei forma
Ontem mesmo me disseram que viram você mergulhar em uma coroa de alface (não era nem de louro! risos) e traçar o seu caminho até os peitos de silicone que aplaudiam a sua loucura na areia da praia; você como uma lagarta, abrindo caminho comendo areia. E quem esteve presente para observar achou a cena ri-dí-cu-la, que você estava fora de si. Os peitos de silicone, tão bronzeados... Os cabelos eram tão cacheados, tão lúcidos. Os olhos, tão azuis. Mas os peitos, mano, eram de silicone. Você não ia conseguir chupar leite daquela teta. Mas você tentou, que me disseram. Tentou nascer da alface e da areia da praia.

20 desgosto não é o dia do meu aniversário; não mesmo.
Mas eu já tenho mais de 2000 e 9 anos, mais de 2009 irmãos, mais de 2--9 amantes, mais de 00 olhos mais de 2 braços, mais de 9 línguas mais de siam misa asim misa

`Perguntaram se eu queria nascer e eu respondi: "Aceito a vida", então respiraram dentro da minha boca e tomei forma. Mas ainda aprendo a forma dessa fala ainda tão sem sentido acá para explicá o motivo pelo qual vim

Maconha e a goma astral (efeitos colaterais daquele "bom" beque)

Sou a favor da legalização por questões de ordem prática, embora eu não fume mais. A ilegalidade dá margem para muita sujeira, sem necessidade. Uma amiga da faculdade que morava na Rocinha uma vez me disse que acompanhava de perto a dor que o tráfico de drogas causava às famílias, o sofrimento e tudo mais envolvido, e isso me fez pensar. Então, se cada usuário tivesse a sua própria planta e pudesse fumar em casa, já seria um grande feito; sem preconceitos. O tráfico também transforma os policiais e os usuários em bandidos, o que é horrível. Eu tenho muita pena dos policiais. Acho que, de todas as profissões existentes, essa é uma das mais desgraçadas. Eles precisam de muita luz. E os usuários não são bandidos, mas por fazerem uso de uma coisa ilegal, se colocam à mercê de todos os tipos de situação. (E tome "dura"!)
Depois dessa pequena introdução política, queria falar um pouco do que eu aprendi, em experiências passadas, sobre a erva, em termos energéticos. A maconha é uma droga netuniana  (como todas sem geral são, embora umas mais que outras) que, depois de utilizada vira uma onda "líquida"; mas é um líquido denso e espesso, como se fosse uma gosma, depois de assimilada pelo organismo. Ainda não tive a oportunidade de perguntar por quê, mas os pajés xamãs do México e muitas tribos do norte do Brasil que trabalham com plantas medicinais nenhum deles usa a maconha. Eles têm uma visão preconceituosa sobre a erva que não sei se é política ou espiritual. O que eu sei é que ela nubla a visão de alguém sobre si mesmo e sobre o mundo incitando a Pathos e a ilusão.
Muitos amigos se sentem criativos e presos ao uso da maconha para criar, para se envolver com a arte, para sentir, mas arte é vida e vida é arte e, se precisam dessa bengalinha para mergulhar nas próprias emoções estão doentes, vivendo uma ilusão. Claro que a erva ativa a criatividade; é uma ponte imediata para o local  das ideias criativas! Mas só que o uso prolongado prende mais do que libera; escraviza mais do que liberta.  E os sonhos não são sempre bonitos; há sonhos de perseguição, paranóia, medos (os medos, especialmente, vêm muito à tona com a maconha, a ponto de travar os músculos e paralizar - e o coração também é um músculo; e a sensibilidade é uma prática). A goma/gosma astral  resulta em menosprezo quanto às próprias capacidades, vem em forma de insegurança pessoal, preguiça, esquecimentos e passamos a desacreditar na vida; ou achamos que somos mais ou menos do que o que realmente somos. A gosma astral (para quem pode ouvir) é uma voz que fica resmungando no fundo da cabeça, que se recusa a acordar, a sair, se recusa a conquistar, a vencer, a fazer, a se abrir, a mudar. A gosma astral leva à estagnação do ser, leva à inércia.
Eu estimulo uma experiência para os usuários constantes. A experiência é a seguinte: durante duas semanas, vocês vão escrever uma lista com os pensamentos positivos que sentem com a maconha e outra lista com os negativos. Depois, experimentem ficar três meses seguidos sem usar, fazendo as anotações apenas no terceiro mês (porque nos dois primeiros rola uma limpeza do organismo). Não pode substituir maconha por nenhuma outra droga. E depois comparem os resultados, e cheguem às suas próprias conclusões.

domingo, agosto 16, 2009

Apontamentos de domingo - véspera de tudo

O grafite apontado da lapiseira é como uma agulha que perfura o papel imprimindo nele tatuagens, como os pensamentos mancham a alma e a incitam de sentimentos, o grafite vai manchando as folhas de papel, derramando em palavras as coisas mais líquidas, borrando a tinta com a mão canhota. Essa é a prática da escrita, um borrão em forma.
E a vida? A vida pode ser lida pelas páginas escritas? Ou justamente a vida é o que existe entre uma linha e outra, entre uma palavra e outra, entre uma respiração e outra daquele que escreve?
É possível proteger-se com palavras e, no mostrar, esconder-se? No pé carrego uma tatuagem que o protege de tropeços e topadas. O outro pé, que não acredita em nada, o que ficou livre, vive tropeçando por aí; é dele o dedinho que sempre sobra contra as parades, pés de móveis, etc. Mas não mais quero acreditar no que está escrito lá naquele; no entanto, não posso apagar. Apagar essa memória seria como tentar contornar as cicatrizes da alma, não se faz. É como jogar esmeraldas no lixo. Se Milan Kundera narra que está no sexo as pérolas preciosas de cada um, os segredos que não podemos mostrar em público, se ele acredita que é no sexo que está a porcentagem milionésima que distingue as mulheres uma das outras, a porcentagem do inesperado e da diferença, eu acredito que essas pérolas estejam na alma, nas cicatrizes que cada pessoa carrega. A sexualidade é apenas uma das portas, mas existem muitas outras. Não entendo por que as pessoas guardam suas riquezas apenas para si. Talvez sejam pouco generosas, talvez tenham medo de que outra pessoa possa lhes roubar. Nada que seja por demasiado real; é como temer que alguém, ao apreciar uma tatuagem, possa lhe recortar da pele aquele pedaço de desenho. Nossas jóias estão encrostadas na alma e se não podemos de fato entregá-las a ninguém, podemos, ao menos, mostrá-las. Quando o sol bate nessas pedras, reflete as luzes mais incríveis.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Orgulho com orgulho

Aproveitando o raio de Zeus que me partiu ao meio, não tentarei esconder o que sinto, já que o coração pulsa em aberto. Quero mesmo que todos vejam, para que se alimente todo aquele que se identificar comigo. Mas acabei percebendo que é muita pretensão da minha parte achar que devo me expor, e que meu ego é realmente um ser extremamente forte, que vive nas trevas do meu inconsciente e que, por isso, não posso ver as atitudes ridículas que ele me leva a tomar (sim, o ego age contra a minha vontade e o orgulho me leva a crer que tenho consciência dos meus atos). Paradoxalmente, é essa a origem da minha força, então sigo sem medo, embora tema o ridículo mais que tudo. Em silêncio brilho, longe dos olhos, enquanto pensam que estou caída (pois esse é o invólucro), me regozijo. Enquanto falo das dores, crises e mazelas estou, em verdade, gozando. Orgulho e vaidade são forças motrizes como a raiva. Se soubermos aproveitá-las, vamos longe. Mas essa longa distância é o que questiono, e também o motivo pelo qual desejo percorrê-la. Ainda é uma questão atrelada a um ego infantil que precisa se provar capaz ao mundo: vaidade (papai e mamãe queriam que eu fosse a melhor, preciso mostrar que sou mesmo). O sucesso é movido pela falta de amor na infância, mas, quando alcançado, apenas reforça o vazio. O sucesso é a questão número um, o amor é a questão número dois. Eu não sinto que possa confiar nos meus olhos para o romance; meus olhos me traem e me atrem para o perigo. Mesmo que, em aparência, seja alguém inofensivo, eu tenho plena noção de que me atraio pelos complexos e difíceis, que só refletem a minha própria complexidade. Vaidade. Orgulho e vaidade são duas palavras muito importantes aqui porque constroem as minhas armadilhas. E é essa a risada que o aiwasca tira com a nossa cara; pega o nosso orgulho, a nossa vaidade, o nosso ego e atira na fogueira. E nós, tolos, ainda achamos que a planta tem algum poder sobre nós, nos sentimos mais leves depois de apanhar, nos sentimos preenchidos por um amor inexplicável, viciados em levar porrada! Eu sempre acreditei no mito eu mesma. Confio que possa me tornar um mito, mas... Neste momento me sinto um pouco ridícula por perceber que o mito é uma construção irreal e que as minhas seduções são ilusórias. Objetivamente: Beyoncé é linda, ágil, rica, mas aposto que chora toda vez que sai do palco, e se tranca em algum camarim porque se lembra que não é amada, despida de si mesma. Quem a ama, a ama pelo conjunto de coisas que ela mostra ser e pelo quê faz bem. E eu não quero isso para mim. Então, o que eu quero? O sucesso como forma de me distanciar das pessoas do passado, como forma de mostrar "Olha, eu consegui, estão vendo? E vocês estão excluídos dessa nova vida!", ou como fórmula de transformação? É possível ser transformada em um produto através das suas qualidades sem que você mesma passe a acreditar nesse produto? Pretendo me despir desse ego em breve a aprender a ficar em silêncio, aprender a meditar. Não quero pular nenhum degrau e toda a atenção e concentração são necessárias agora. O mínimo passo em falso pode me levar ao fracasso de mim mesma, embora eu saiba que sempre vou sair vitoriosa.

Ode ao ridículo daquilo que não podemos ver!

Orgulho e ego são escorpiões acoplados às solas dos nossos pés. Toda vez que pisamos em alguém, sentimos o veneno queimando pelo corpo, subindo de baixo, penetrando no coração e trazendo um calor febril até a cabeça, enquanto os nossos membros inferiores ficam cada vez mais sonâmbulos e moribundos. Inflamação e febre são de escorpião. Não podemos ver que não são as pessoas em quem pisamos que nos ferem, mas os nossos próprios escorpiões pessoais! Embaixo das solas dos nossos pés! Não podemos ver.
Escorpião se orgulha do próprio orgulho: é por isso que é o demônio. Mata e morre, cria a discórdia e confusão e se orgulha do próprio poder destrutivo. É uma criança sem dono, que aprendeu a se virar pelas ruas. É uma criação do instinto de sobrevivência; é força sem limites. Os olhos do escorpião não são confiáveis, mas não para aqueles que olham, e sim para o próprio! Os seus olhos são como ímãs que atraem o perigo e a desordem emocional. Os olhos escolhem as vítimas! Mas o que o escorpião não percebe é que é para sempre vítima de si mesmo, pois escolhe! Sim, a inteligência é um ferrão escuro e eriçado que deposita o veneno pelo rabo. Enquanto ele acha que seduz as suas vítimas para a sua gruta, é ele quem se seduz por elas. Ao matá-las, ele também morre mas continua com sede por novas vítimas, como um vampiro tem sede de sangue. Gargalhadas dão as pessoas que assistem ao escorpião se debatendo em uma piscina rasa. É que a profundidade é para dentro e os olhos externos não podem ver a escuridão completa em que se encontra; sua alma vive em uma escuridão abissal, e as ações ocorrem em silêncio.
Todos à sua volta vêem o que é tão simples; o escorpião estuda o que vai em cada célula que forma cada tecido, que compõe cada órgão que faz funcionar cada organismo. A complexidade o encanta. Sedutor? Sim. Provocante? Sim. Mas é de propósito? Não, é apenas natural. E o que essa sedução tem de divino? (Se é uma dádiva dada por Deus, precisa ser divina... Mas como?)
Orgulho e vaidade são forças motrizes, como a raiva. E são o remédio e a droga para o escorpião. Nada vem sem a sua contraparte, e o escorpião percebe bem o lado negro de todas as coisas, menos o de si mesmo, pois o grande demônio que carrega em si o faz sentir-se orgulhoso das próprias mazelas. E porque a morada de sua alma é a casa de um ser cego, surdo e mudo, a melhor estratégia seria calar-se e não interferir nos destinos! Viver em silêncio, sem interferir e sem interferências, em reclusão. Mas ame, e que isso baste. Perdoe-se, e que isso baste (se bem que o perdão é uma das lições mais difíceis para o vingativo e orgulhoso escorpião, que sente prazer em morrer através dos próprios vícios).
O que temos além das nossas opiniões...? O SILÊNCIO!

quarta-feira, agosto 12, 2009

"O nosso amor a gente inventa"?

Não tem saída: para esquecer um amor é preciso esquecer DO amor e de todas as possibilidades de amor. É preciso erradicar a lembrança de amor do corpo, ignorando todos os sentidos e os desejos. Porque quanto mais se tenta esquecer, mais se reforça a lembrança. Quanto mais pessoas eu conhecer e insistir em amá-las ou em descobri-las ou em explorá-las (e a mim mesma), mais pensarei naquele que amo. E não é que ele fosse bom demais; é que o amor transforma. As pessoas ficam lindas, ótimas, inteligentes, criativas, habilidosas, etc. Os defeitos passam a ser peculiaridades que definem aquele que se ama, tornando-a uma pessoa única e incomparável.
Não é que o sexo fosse bom demais; era que eu estava entregue. Não é que o beijo fosse bom demais, era que eu amava! Então o problema é o amor, não é a pessoa. Eu devo ter inventado a situação, devo ter inventado o prazer nas coisas que compartilhamos, o prazer na companhia um do outro, devo ter inventado os encorajamentos que me levaram a acreditar que ele gostava de mim, quando não gostava. Eu inventei uma relação! (?) Da minha parte, porque acreditei no que meus sentidos me diziam e, da outra, porque fui encorajada em pequenas doses, pequenas demais para eu poder cobrar qualquer compromisso (como "mas você DISSE QUE me amava" -- ele não disse, nunca disse. Assim como não dizia que eu era bonita, nem o quanto ele gostava de estar comigo. Não tendo dito, não achava tudo isso? E se não gostava, por que estava? Por que escolheu ficar isento de afirmar que não gostava, que medo é esse? Por que quis ficar isento do compromisso de dizer que não gostava quando gostava, ou de dizer que gostava quando não gostava? Isento de tomar alguma posição?), mas que o mantinha naquela posição privilegiada de receber tudo o que eu estava disposta a dar.
Tudo o que não entendo vira uma obsessão. A obsessão é um substantivo feminino, que nem "droga". O gênero é muito preconceituoso, como a religião. Aprendemos a nos expressar por essa gramática do português, que coloca o masculino como o padrão geral e o feminino em segundo plano. As nossas reações e o nosso universo feminino ficam fora do padrão geral. E olha o que eu acho sobre isso: [uma banana]. Eva pode até ter dito que estava com fome, mas aposto que foi Adão que pegou a maçã para ela! E aposto que ele ainda deu a primeira mordida. E aposto que ela levou a culpa. Os homens esquecem que não são filhos só das mulheres; só as mulheres são culpadas pelos frutos que geram. Esqueça o pai e esqueça o pau; eles estão isentos de culpa.
Então, se gosto, a responsabilidade é só minha. Se lembro ou se esqueço, tanto faz para o outro. O que sinto ou deixo de sentir é um fruto só meu. (É?) O meu amor é o filho de uma mãe sem pai. Mas desacredito. E essa descrença me faz pensar que ele gostava sim, mas tinha medo. E essa crença de que ele gostava me faz continuar gostando. E é assim que eu invento. Eu me recuso a acreditar que eu tenha inventado tudo! E ele permanece na posição número um, e não porque era bom demais. E ele consegue justamente o que queria: tem a mim, sem nenhum compromisso (mas também sem presença) -- já que a fidelidade para ele era apenas isso: que ele fosse o melhor entre todos. Só que ele não entende que não é ele que está lá com a medalha, é o próprio amor. E eu não entendo como viemos parar aqui, como, apesar do que sentíamos, fomos para o beleléu. Eu sentia sozinha? Será que estar comigo era apenas uma questão de vaidade? E volto à questão um.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Venha hoje, no dia mais fértil

Venha hoje, e faça eu esquecer os meus pesares com o peso do seu corpo. Nenhuma palavra é necessária; venha hoje respirar na minha boca, roubar a minha alma, beber o meu sangue, me levar pela mão, trocando comigo o segredo da vida. Venha hoje me tatuar com o seu tato, ser o meu sol, me esquentar e me preencher, como a água penetra nos lugares por onde passa. Traga as suas marés com as suas tempestades e eu serei o seu rochedo de acalento. Traga o desespero dos seus ventos e eu serei os grãos de areia que viajam em seu corpo. Seja o meu pão, o alimento sacro, o centro da minha cruz dourada, venha e devore o meu corpo com a sua fome, fecunde o meu corpo antes que nove meses se passem desde a nossa separação e eu dê à luz a um fantasma. As minhas colinas esperam, com as gramas aparadas, os matos escondidos e todos os gostos da floresta, com os monstros que vivem nas grutas e os peixes abissais do meu mar, e os pássaros que esperam em seus ninhos... e também aqueles que levantam vôo, contemplando. E as feras e os animais domésticos que tenho em mim. Vamos ser o chão da savana, a própria vida selvagem, sem diferenciar caça de caçador. Venha hoje, eu aguardo, de onde estiver.

quinta-feira, agosto 06, 2009

código binário: erro e acerto

É um erro pensar que todas as possibilidades razoáveis que nos estão abertas mentalmente possam ser colocadas em prática. É um erro. É como se o pensamento fosse o "zero" e a ação fosse o "um". Um acerto é errar, em média, uma vez por dia. De quantos erros são formados um acerto bem acertado? O erro de achar que se consegue só por se ter imaginado fazendo ou, da mesma forma, achar que não se consegue por não conseguir imaginar ou por imaginar e sentir medo é um erro. Um acerto é ir lá e fazer. Mas um erro é ir lá, tentar e não conseguir. Voltei para casa ontem seguida por vários errinhos colados na barra da minha saia, um erro de mãos dadas com o outro, deixei para trás uma trilha de pequenos erros que resultaram em uma peculiar noite oblíqua. Pensamos que para sair do zero e chegar ao um é preciso apenas um segundo, um passo, um estalar de dedos, um piscar de olhos, menos que um suspiro e apenas um pensamento, permitindo. Como assim... Para chegar ao "um"? Vindos do zero, existe uma gama de infinidades incluídas ali no meio. Existe toda uma galáxia! Não se chega ao "um" tão rápido assim, a não ser que seja por erro e acerto, a não ser que seja por liga e DESLIGA. Entre uma praia e outra praia existe o mar.

Erosão

De pé, sobre uma rocha litorânea, com uma xícara de vinho tinto nas mãos fiquei observando a erosão marinha. Cortes e recortes e subterfúgios internos às rochas. Observei a maré crescer e a violência com que as águas chegavam até a praia; lembrei-me de você e das suas águas, e a lua estava cheia. As rochas não se importam com a violência das águas, mas eu sim. A noite estava muito clara e os meus pensamentos também. Apenas à noite ouso pensar com tanta clareza. O barulho das ondas tornou-se ensurdecedor. Ao olhar o mar entrando por caminhos que talvez não lhe fossem devidos, imaginei que o sangue invadiria aqueles espaços com igual velocidade, mas quanto de sangue seria necessário para banhar uma pequena praia reclusa? Imaginei-me escorrendo, vermelha, líquida, pelas rochas. Percebi que o mar não estava invadindo apenas as pedras, mas as minhas feridas abertas também. A violência das águas de outrora causara uma erosão em mim.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Quarta-feira

Hoje está fazendo sol e o dia está muito bonito; há uma brisa fresca e eu sei de tudo o que tenho para fazer, porém atraso porque tenho preguiça. Há uma época irreconhecível em mim: não sei nomear. Com licença, porque preciso rir. (...) Para algumas pessoas existe o tempo das vacas gordas e o tempo das vacas magras. As minhas vacas estão normais, eu é que não estou. Hoje coloquei uma colcha indiana nova na cama pois troquei os lençóis ontem, mas não ficou tão bonito quanto eu esperava. A expectativa é uma droga (e vicia). Espero alguém me ligar. Às dez da manhã, aconteceu de uma atendente de uma pesquisa sobre a portabilidade numérica me ligar. Respondi a todas as perguntas por achar uma das poucas coisas úteis que nos ligam para saber. O que temos que ser e o que temos que fazer é exatamente isso. ISSO - AGORA - HOJE, essa vida. Lutando ou não, para dentro ou para fora, é assim mesmo e é isso aí. Mas, se pudermos ser um tanto quanto melhores, mais perfeito. O aperfeiçoamento não é a perfeição. O aperfeiçoamento é um trabalho constante, busca-se o melhoramento de si, busca-se o divino indivisível, mas não o impossível. A perfeição é o impossível, está além dos véus. Virgem busca o aperfeiçoamento, trabalho exaustivo, porém plausível. Eu tenho a Lua em Virgem, tanto na astrologia tradicional quanto na védica (agora só consigo pensar em termos de Védica), e esse é o trabalho: pesquisar, testar, separar as emoções e sensações, abrindo mão do que não presta. Mal acordei e já sinto preguiça. (!) Mal acordei e já sinto preguiça, pois mal dormi. Eu trabalho até nas horas de descanso. Deve ser por isso que sinto tanta preguiça! Talvez mais tarde eu escreva sobre as amizades eróticas, talvez não. Talvez eu vá ao centro agora, pela manhã. Talvez eu páre agora. (But I could go on and on)

segunda-feira, agosto 03, 2009

historinha

Havia uma garota que sofria a influência de muitos e muitos astros. A Vênus dela era bem promíscua, porque se relacionava com a Lua, com Marte, com Júpiter, com Saturno, com Urano, Netuno, Plutão e mais alguns pontos. E na vida também ela tentava equilibrar todas essas forças atuantes, porque em cada momento uma falava mais alto, sendo que várias delas falavam alto sempre, por trás, como um cenário básico que é sempre o mesmo que, por serem mais pesados, quase não caminhavam de acordo com a nossa perspectiva humana. Ela sempre sonhava acordada com um homem que a abraçasse por trás e a beijasse com paixão no pescoço, e eles estavam sempre em casa. A paixão era só o sentimento, não a forma como era beijada. O beijo, em si, era bem delicado e gentil, porém o conjunto do abraço e do beijo era intenso e apaixonado. O homem também mudava, dependendo em quem estivesse projetando aquela energia no momento. Ela também sempre sonhava com um homem que gostasse de a observar em cada movimento seu, e que queria abraçá-la toda hora que tivesse chance, e que fosse fiel por saber que, no mundo, nenhuma mulher seria como ela. Sonhava, sonhava, sonhava. O sonho era um desses cenários, sempre presentes. Os abraços e os beijos apaixonados, e outras cenas mais picantes (no banheiro, na cozinha, no chão, na cadeira, no chuveiro e na cama), também faziam parte desse sonho constante. Mas, quando se apaixonava, apesar de ser muito séria, era sempre de cara, e caía de cara e ia de uma vez só. Por isso, quase nunca se apaixonava. Todas as suas vezes anteriores a haviam deixado com marcas de achatamento facial. Mas o aspecto da aventura e da conquista, do novo e diferente, da excitação da primeira vez constante fazia com que os homens não se sentissem tão importantes assim porque quem conquistava era ela, e então, não a levavam tão a sério. Mesmo aqueles com o discurso mais libertário e que, no fundo não admitido, eram machistas e antiquados. Estava aprendendo que ela mesma era antiquada e até machista em alguns pontos; ela mesma brigava consigo quando era forte demais, quando era qualquer coisa demais. E ela percebia como era difícil produzir essa peça com tantas coisas diferentes que precisavam ser incorporadas em um mesmo cenário e quantas linhas faziam o texto, mesmo as que não eram ditas. Estava aprendendo que o desejo ardente era um vício e uma forma de levá-la ao sofrimento. Era apenas um vício criado pelo corpo que queria permanecer sentindo a sensação do sonhar. Ficava muitas horas sentada de frente para o próprio teatro imaginando o enredo da próxima peça. Cada vez mais próximo do que queria, cada vez mais sensação e mais sofrimento, cada vez mais longe da verdade nua, cada vez mais só e mais única e mais dona de si e mais assustadora. Sabia que o que via como o demônio dentro de si era autenticidade e força, mas tinha medo de deixá-lo sair por ser forte demais. Era devastador. E ela era tão magnética quando mostrava as suas garras, que ficava quase impossível de resistir a ela, quando realmente mostrava a que chifres veio. Mas também se assustava com isso, e procurava a medida exata de si pois... O irresistível nela reforçava o desejo ardente e massacrava todas as outras forças. Então tudo o que sentimos ao lidar uns com os outros ou é mero desejo ou aversão? Sentia-se injustiçada de ser tão simplificada pelos orientais, mas estava disposta a tentar. Afinal, o novo e o diferente eram sempre tão atraentes quando estava consigo apenas.
Como pude dormir tantas noites sem ler antes?
Ontem acabei o "The Tale of the Body Thief", da Anne Rice, e confesso que estou meio apaixonada por ela. Confesso também que morrerei de saudades do Lestat. Fiquei triste durante umas duas semanas, tempo em que percebi que o livro de 435 páginas estava acabando, porque já sabia disso.
Estava na dúvida se continuava com ela, em inglÊs, com o "Interview with the Vampire" (que está na minha estante desde 1995 - vi o filme umas quinze vezes e o livro parece ser bem parecido, já que a escritora acompanhou de perto a produção), ou se alternava com um livro em português, que também está na minha estante há algum tempo, "A Insustentável leveza do Ser", do Milan Kundera.
Daí, o seguinte parágrafo da última opção me ganhou: "Seria melhor ficar com Tereza ou continuar sozinho? Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso o que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo "esboço" não é a palavra certa, porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro".
Mas já estou com saudades do Lestat e da Anne Rice... Eu me apego demais aos personagens. E quando acabar a tradução do livro? O que será de Alice Lindgren e Charlie Blackwell?? Será que é por isso que tenho ido devagar aqui no trabalho? Ou porque eu fico horas pensando na vida dos personagens, comparando com a minha, daydreaming? Vou escrever uma historinha. Ai-ai.

sexta-feira, julho 31, 2009

Quanto mais maldita, mais sagrada

Pode ter certeza que a lembrança de mim é mais forte do que a minha presença. O ponto ínfimo "eu" no SEU cérebro vai ficar piscando... Não é porque eu queira, porque não é... É porque acontece assim e eu já vi e já fiquei sabendo também. É muito importante isso. Não sei por que, só sei que é. E acontece quando eu me esquecer que você existe, qualquer que seja esse "você". Quando eu esquecer, o ponto "eu" acende em você. Pode esperar para ver, quando eu acender, você já sabe. Acho que estou avisando um pouco tarde, mas... "Antes tarde do que nunca" não é uma frase que caiba aqui, pois tenho certeza que você, se pudesse escolher, escolheria nunca se lembrar de mim, porque vai doer. Se voCê gostar de dor, talvez seja mais fácil. E "quem avisa amigo é" também não cabe, porque sabemos que não sou sua amiga; essa palavra tem um conteúdo muito profundo para ser compreendido por alguém que me deixou escapar. Enfim: é muito simples. Enquanto eu estiver vivendo a minha vida, tudo à sua volta que tiver ligação comigo vai ser percebido por você, detectado e associado a mim e, de imediato, todo o seu ser estremecerá de saudade ou remorso, por eu não estar mais disponível a você. Estive pensando se seria uma questão egóica minha escrever isso, querer ser lembrada pelas pessoas que se foram, que foram muitas, mas mesmo quando eu não quis outras pessoas me escreveram cartas testemunhando os fatos que estou falando, então... Pode ser que sim e que não também. Ainda me lembro, por isso escrevo. Mas isso só funciona quando eu esquecer. Capisci? Não é para ter medo. É só uma coisa; se você não soube lidar comigo na sua vida, e isso é verdade tanto para mim quanto para você, nossos deuses se ressentiram disso e eu paguei a dívida na dor da perda, mas... E você? Que nem parou para perceber? A negação de mim é a negação de Deus, e o universo vai cobrar, cedo ou tarde. Entendeu? Existe a possibilidade do total esquecimento, mas aí... É com você. Jamais me esquecerei das coisas que são importantes para mim, como DEUS, por exemplo. O meu DEUS, sagrado e profundo. O meu DEUS, ínfimo e pertencente a tudo. O meu DEUS em todos os detalhes. Quanto mais maldita, mais sagrada. Você me dá dor e eu faço música. E você, faz o quê? Esquece? -Risos- Não, você não vai esquecer.
>:)

Carta de amor




terça-feira, julho 28, 2009

O "perdão"

Hoje recebi uma mensagem via celular de uma pessoa que, há mais ou menos um mês, para defender um ponto de vista específico, beijou o meu ex-namorado na minha frente. Essa pessoa queria me mostrar que eu não tinha o amor, o respeito nem a fidelidade desse "ex" (estávamos ainda no processo de término -- eu estava). Bom... A mensagem foi em um tom tão casual que eu quase me deixei levar. A dor que senti no dia do tal beijo foi devido à afronta, à traição do meu momento lúdico, me roubando o prazer da noite e o substituindo por desamor, desrespeito e deslealdade. Mas, devido ao tom desapegado e frouxo da mensagem, quase coloquei de lado tudo aquilo (o beijo em si foi ridículo, um duelo de espadas -- por uma donzela!), e quase as deixei entrar de novo em minha vida. O tom foi tão casual, como se nada tivesse acontecido, que quase me convenceu. Quase-me-convenceu. A não ser pela suspeita imediata que me gerou.
Então, a razão diz: todos são dignos de erros e erros são humanos. Até eu estou sujeita a erros. Mas eu me permito? Eu me permito errar assim? Eu me permito magoar as pessoas que eu chamo de amigas dessa forma? Eu me permito me atrair e ficar com os namorados e maridos das minhas amigas? Eu me permito sujar o espaço que as pessoas me concederam em honra e confiança, das suas casas e corações?
Quando chamo uma pessoa de amiga, quando essa pessoa tem acesso aos recônditos do meu ser, sabe onde me escondo, onde me retiro, o que sinto, o que penso, o que faço... Eu espero que ela reconheça o valor desse espaço, a honra que é para ela estar presente nisso, fazendo parte da minha vida e espero que cuide desse bem. Em troca, ela tem a minha lealdade e o meu amor. (...) E, por milhares de vezes, as pessoas entraram com sapatos imundos de lama no chão que eu acabara de limpar, cuspiram, comeram, beberam e se entornaram no chão sem a menor oferta de ajuda para colocar as coisas de volta no lugar. Saíram sem o menor pudor para a próxima festa e para o próximo banquete, sem nem ao menos ligar para agradecer o tempo em que ficaram nesse espaço. Foram pessoas que eu deixei entrar.
Essa "punição" de deletar as pessoas que me cortaram (e quem cortou quem primeiro -- eu sou cortada apenas uma vez, é sempre um corte no ventre, é sempre esse golpe baixo e sujo que expõe as minhas tripas em público. só que é UMA VEZ para nunca mais) é de fato uma punição de quem? Acho que é uma punição de mim mesma por ter errado, por não ter previsto o imprevisto, por estar na hora certa e no lugar certo para o momento errado acontecer, por ter tido essas experiências e não outras, que fossem boas de fato.
Acho que talvez existam pesos e medidas diferentes: se alguém me corta o braço, ele cicatriza em duas semanas. O perdão vem mais rápido. Se alguém me expõe à visão das minhas próprias tripas, além de dermes e músculos, em um mês não estarei pronta para sarar. E o perdão não vem tão simples assim.
E isso é ficar apegada às sensações ruins? E isso é não perdoar? Ou ainda não passou o tempo necessário para eu me concentrar em outras coisas (coisas mais importantes, novas alegrias)?
As novas alegrias ainda não apareceram por aqui, porque a cicatriz está só a meio caminho andado e eu levo muito tempo para me recuperar dos baques então, que forças tenho eu para ir ao mundo? Que forças tenho eu? -- De ter as tripas expostas por uns MERDAS! Se sou tão facilmente abalável por esses malditos que amei, que forças tenho?
É esse o perdão que não me dou. Não é aos outros que preciso perdoar, é a mim.
Eu convidei o vampiro para entrar. Deixei que ele traçasse os passos; ele se deitou comigo na minha cama, beijou a minha boca naquela mesma noite por iniciativa minha e me deixou com a porra de uma qualquer-Verônica, um livro de poesias-manual-de-instrução-extraviado (que só chegou depois do namoro) e RUIM e a memória desse beijo escroto. E onde é que isso fica, atravessado em mim?
Se esse é o tipo de gente que me cerca, que tipo de gente eu sou?
Mas se eu não me importasse comigo, se não me gostasse, se me permitisse voltar a falar com essas pessoas não estaria embarcando nas mesmas ondas superficiais e descuidadas em que elas flutuam? E agora que sei diferenciar joio de trigo, não é adequado que afaste os dois lados? Inclusive, não é esperado que eu faça isso?
Ficar sozinha e em silêncio é uma prova de amor a mim, respeitando o meu tempo de cicatrização? Ou é uma punição por eu ter caído na mesma história de sempre e ter me envolvido com pessoas sem a menor cautela, pessoas que eu não sabia bem quem eram. Pessoas que achei que tivessem honra e que não tinham (...)?
Um tempo para pensar. Quanto tempo levar.
Mas essas pessoas que foram não voltam mais, porque eu não vou deixar.
E a mim não terão jamais. Acho que esse é o pior castigo que posso dar.
E quanto sofro com isso...

A cup of tea to settle it down

I had you inside my stomach. It was upsetting. How come you didn't love me? I know you know how it hurts to fall flat on your knees. You have your scars, I got mine. I tried to kiss your pains away, you brought yours to me and I gave in. And you got out. But this isn't about pride, it's about a broken heart, the loss of love -- which is known and here and always -- while you're not. It's about the about the mountains and it's about my shoes. How come: So many shoes, so many colors of a lost rainbow to your eyes; you never saw it. So many shoes, so many outfits and none of them have made you stay? There was the writer, there was the singer, the plain woman and the lonely girl with her fancies. There was the mother and the sister, and there was the fairy and also the demon. So many outfits, so many looks, so many hairs and moods: just like a doll. And you didn't even fell for the naked. Your next stop will be falling flat on your face. Because you just never learn, and I don't either. My next stop will be another broken heart (because I tend to think I got nine lives when I don't -- and how many are already gone?)

domingo, julho 26, 2009

Para onde vão todas as nuvens?


Primeiro o céu estava azul. Depois, havia uma única nuvem muito comprida, sozinha e apressada seguindo na frente, apontando em uma direção. Atrás dela, várias outras juntas, brancas e rechonchudas pareciam apostar corrida, mas elas também passaram, levadas pelo vento. Então vieram outras com mais calma, e o céu foi ficando mais cinza do que azul. Essas nuvens caminhavam muito devagar e deviam ser mais velhas, pois também eram mais escuras e traziam o peso da maturidade nelas. Acho que todas essas nuvens estavam indo em direção ao encontro de nuvens, lá perto da montanha mais alta. Já ouviu falar? As nuvens mais jovens foram na frente para aproveitar melhor e, as mais velhas, caminhavam na velocidade que podiam, atrás de suas nuvens filhas e sobrinhas. Todas as nuvens de um céu são aparentadas. É que as nuvens são seres muito sociáveis e adoram fazer encontros em lugares bem altos e úmidos. Elas gostam de se encontrar e dançar, de conversar muito alto -- daí que vêm os trovões -- e os raios nada mais são do que as luzes da discoteca das nuvens. Então, quando a montanha chega e impede que elas sigam adiante, elas começam a discutir e, às vezes, a ficar bravas pela aglomeração, e aí fazem muito barulho. Quanto mais nuvens se aproximam, maior fica o burburinho. Até que, de toda a confusão, dá-se a chuva, que faz com que as nuvens se dissipem. A chuva é o jeito da vida de diminuir a população das nuvens. Elas resolvem deixar os céus e vir se aventurar aqui na terra. Quando uma nuvem se desfaz em milhares de gotículas, elas fazem as maiores aventuras aqui embaixo, mergulham em poças, formam rios e laguinhos. E o céu volta a ficar azul, até a próxima reunião das nuvens.

domingo, julho 19, 2009

Almofada rosa com rímel preto

Eu conheço esse choro. Os olhos pretos ficam na almofada, rosa. Borrados, manchados, molhados. Choro de ontem, de anteontem, de todos os dias até hoje, choro que vem da infância, choro do passado e de algum dia no futuro também. Choro-faxina. Choro-vagina. Chora, menina! Chora tudo... Chora e vem comigo, explorar. Chora sem vergonha. Chora, sem-vergonha. Se envergonha, e chora. Chora. Xota. Xota. Bota para fora, enxota. Tudo molhado ao redor da almofada. Rosa cansado. Olhos inchados. Tá, tá usada sim. É, foi, se deixou ser usada assim. Não sabia o que era o amor! Não sabia que o amor era unicamente de si para si mesma; Achou que poderia vir dos pais, depois achou que podia vir do peito, depois achou que viria das irmãs que achou por aí (só para saber que jamais seriam amigas), depois dos namorados, ficou procurando o amor em todos os homens que passaram por sua vida e acabou aqui, ínfima, borrada, transbordante, íntima de si, estranha a tudo mais. Então chora. Chora. E vamos embora que amanhã tem vida.

quarta-feira, julho 15, 2009

O poder das convenções sociais

O que você gosta de fazer, quando encontra alguém? Dar dois beijinhos no rosto, um aperto de mão, um abraço? O cara gostava de dar selinhos, de apertar o peitinho das amigas ou de apertar o saco dos amigos. Ele era doido? Muito sexual? Puras convenções sociais. Acreditava que seria muito mais honesto cumprimentar as pessoas pelos seus órgãos genitais, sacudir o pau, ao invés da mão, pegar nos dois peitos e apertar a bunda. Ele dizia que os macacos faziam assim e que, por isso, ele estava isento de culpa. Os cachorros cheiravam os rabos uns dos outros. No reino animal, era assim que os bichos se conheciam, pelos seus "cheiros". Para ele, estava tudo certo. Mas ele não conseguia ser feliz, porque as pessoas não o compreendiam. Suas crenças eram muito peculiares, impossível de ser colocadas em prática no dia-a-dia. Tentava consertar a pia da cozinha, mas, quando o encanador chegava e tinha o seu pau apertado, dava-lhe um soco na cara, no menos esbravejava e lhe dava um empurrão. Nada ficava decente em casa, pois as amigas, com medo do assédio, deixaram de aparecer, e também as empregadas. Ele vivia sozinho, muito apegado às próprias crenças. Ficava satisfeito de ser tão íntegro. Incapaz de se enturmar com as moças e os rapazes que talvez gostassem de ser tratados dessa forma (porque não sabia bem que isso existia. Um grupo de pessoas que pensassem como ele, que o aceitassem como ele era, de fato.) E foi assim com o homem da padaria, o do jornal, etc. Todas as portas se fechavam quando ele passava. Ninguém queria cumprimentá-lo. Mas ele achava que o mundo não era capaz de reconhecer a sua genialidade, que o mundo não estava ao seus pés, muito apegado que era às próprias crenças.

quinta-feira, julho 09, 2009

O dilema de I I

-- Eu quero. Você também quer?
-- Eu quero.
-- Então vamos.
-- Vamos.
E deram um com a testa no outro porque, para cada um deles, o "ir" era em uma direção. Infelizmente, eram sentidos opostos.
-- Ei, por que você está indo para lá?
-- Como assim, é para onde devo ir.
-- Ué, mas não íamos juntos?
-- Sim! E por que você não vem comigo?
-- Porque é naquela direção que devemos ir.
-- Devemos? Eu não devo nada. Vou na direção que eu quiser.
-- Mas não queria vir comigo? Então o que importa a direção? Estar comigo não é o suficiente?
-- Se eu for com você, esquecendo de para onde estava indo, não estarei esquecendo de mim também, para ir com você? Não quero me tornar você.
-- Nem eu quero que você se torne eu, nem pretendo me tornar você, mas... Vamos juntos?
-- Vamos.
-- Para onde?
-- Não sei, você decide agora.
-- Ah, como assim? Vamos conversar. Me explique por que você antes queria ir para lá, que eu digo por que acho que devemos fazer exatamente o contrário.
-- Bom, mas se você já sabe da sua verdade, antes de eu dizer a minha, do que adianta conversarmos? Não vamos sair de lugar nenhum!
-- É, mas já estamos parados aqui, pelo menos, nos conhecemos um pouco melhor. Achei que já estava acertado a direção que deveríamos seguir. Acho que o que vale mais é o amor.
-- Você, por amor, abandonaria a sua direção para ir na minha?
-- Talvez.
-- Talvez o quê?
-- Se você me apresentasse argumentos válidos. Hum... Mas se os argumentos fossem mais fracos que as suas atitudes... Acho que entraria em conflito e não conseguiria mais confiar em você.
-- Bom, eu já conheço uma pessoa que foi naquela direção em que eu estava indo.
-- Conhece alguém? Que alguém? Quem é essa pessoa?
-- Ué, uma pessoa! Qualquer pessoa! Mas eu conheço.
-- O que quer dizer com isso? É alguém do seu passado?
-- Ué, CLARO! Se não está aqui agora e eu conheço, só pode ser do passado...
-- Não se faça de desentendido! Sabe muito bem o que quero dizer. Você não foi na minha direção comigo, mas ia na mesma direção da pessoa que você conheceu no passado. Que ótimo! Parabéns. E de estresse agora, já não consigo nem mais andar. Acho que você só pensa que me ama.
-- Eu não acredito em amor. Só acredito em andar.
E assim, permaneceram discutindo, se amando profundamente, ambos batendo testa com testa; um queria seguir pela mente, o outro pelo coração. Ficaram assim até que todas as noites e todos os dias haviam se passado, o sol havia secado a água dos corpos, os urubus comido o que sobrara de suas carcaças e, agora, só restava pó. Ficaram juntos para sempre, parados no mesmo ponto. Até que passou uma brisa ligeira e separou as poeirinhas cósmicas. Uma poeirinha um passarinho comeu, a outra, um lagarto. E, mais a frente, foram defecados no solo, de onde nasceram florezinhas...