domingo, agosto 30, 2009

Vamos colocar assim:

Grau de independência legítimo de um indivíduo, eleito como supremo; conjunto de direitos reconhecidos de uma pessoa, considerados individualmente ou em grupo; poder que cada um tem de exercer a própria vontade dentro dos limites facultados pela "lei"; condição daquele que não é cativo nem propriedade de outro; possibilidade de mover-se e expressar-se de acordo com a própria vontade; condição de todo aquele que não se acha submetido a nenhuma força constrangedora física ou moral; autonomia


É DIFERENTE DE

licenciosidade de costume daquele que se entrega imoderadamente a prazeres sexuais; insubmissão e indisciplina; complacência; irreverência com relação a dogmas, crenças e práticas oficialmente aceitas



E não é uma questão de "sim ou não", mas de "mais ou menos". Não é uma questão de "ser", é uma questão de "valor".

Na incapacidade de amarmos uns aos outros, a gente se fode.

Mas eu não vivo mais assim. E pode vir quem vier tentando me reduzir a uma simples mulher ciumenta, pois eu sei que essa é a saída mais fácil para quem não quer se ver nem se enfrentar.

sábado, agosto 29, 2009

Eu começo onde você termina. No desencontro, dançamos.

A lua estava cortada pela metade, e o contato deles também. Ela chegou em casa da rua, suada e queria liberdade, então tirou o sutiã. Mas antes limpou a casa in-tei-ra pensando nele. Ouvindo Roxette. Pensou que, se estava fazendo um serviço de Maria, podia muito bem se dar ao luxo de ser brega. Cantou, varreu, varreu, olhou-se no espelho e fez da vassoura um microfone. Gostou que o cabo ficasse mais baixo que a sua boca e que ela precisasse afastar as pernas para dar altura; se achou bonita. Pensou em como era bom poder cantar "I can't live without your love..." porque, de fato, podia. E vivia muito bem até. Mas todos os dias pensava nele e sentia a sua falta, e como era triste essa realidade, e como na morte tinha ganhado a vida. Sentia que os dois ainda estavam ligados, que ela o continuava nutrindo em algum plano transparente e invisível, sentia que ele podia sentir e pensava... Que se tinha tanto amor assim por ele, estaria ele procurando por ela em várias outras mulheres? Estaria enviando de volta a energia dela, através de outras bocas, outras peles? Depois sorriu, tola, com uma quase certeza de que ele poderia procurar à vontade, pois ELA só tinha essa que estava aqui. Sorriu, como quem sentia que seria impossível essa tarefa, como se o destino dele fosse para sempre se lembrar e nunca alcançar. Sorriu porque o pensou muito tolo, e se perguntou se poderia perdoá-lo por ter preferido viver a falta e o vazio ao invés do amor. Que, no amor, ficariam muito confortáveis e felizes, mas, na falta e no vazio, ele ficaria mais completo do que tudo. E sozinho. E ela entendeu, mas não sabia se ia conseguir perdoar; no entanto, não conseguia odiá-lo. Sabia que ele amava a si mais do que tudo e que não havia espaço para uma outra pessoa em sua vida. "Narciso", pensou. O odiou por um segundo. Ele era, em muitos segundos, maldito. Mas depois logo esquecia as maldições todas; o amaria para sempre. Cantou mais. "Fading like a flower... Fading like a rose..." Sabia que ele estava em trânsito; como o som estava alto, não pôde escutar o telefone tocar. Sabia que ele poderia aparecer em sua porta a qualquer momento ou, ao menos, sonhava com isso. Imaginou se ele iria embora ou se daria meia volta ao chegar na porta e a encontrasse escutando Roxette. Achou-se novamente tola. Foda-se o fantasma dele, a possibilidade ínfima de que ele viesse encontrá-la e, se viesse e desse as costas, que fosse para os diabos. Que o diabo o carregasse. Que o levasse para as profundezas do inferno -- mas lá não, pois ela conhecia o inferno muito bem e se veriam sempre. Não queria vê-lo, mas em pensamento e em desejo o visitava sempre. Estavam sempre juntos. Inferno. Ela o conhecia muito bem. Mas, o telefone tocou e ela não escutou. Viu que havia uma chamada não atendida depois que tirou o sutiã e se deu sorvete de presente, por ter limpado a casa in-tei-ra. Tentou ligar de volta. Não sabia de onde era o número. "Talvez fosse ele", pensou. E pensou que, se ninguém atendia, era porque não era para se falarem. O engraçado é que, de fato, poderia ser ele do outro lado e que, se ele tivesse ligado e ninguém tivesse atendido, ele teria o mesmo pensamento. E assim tentavam sempre se encontrar, e estavam sempre ligados pelo desencontro, pela lembrança, pela falta, pelo desejo e pela filosofia.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Em nome de quem?

Sinto a pressão das perguntas: "Em nome de quem você fala? Que título você tem para afirmar tais coisas? Quais são as teorias e estudos que fundamentam a sua experiência"? Preciso ter, atrás de mim, vozes de pessoas que já morreram. Preciso ter, atrás de mim, vozes consagradas. Preciso decorar as passagens dos seus livros, ler sobre os seus pensamentos, ter consciência que, antes de mim, existiram Schopenhauer e Nietzsche. Preciso comparar e associar os meus próprios pensamentos com os deles antes de poder afirmar com convicção as minhas próprias crenças (como se a vida fosse uma tese de mestrado), antes de ser levada a sério. Que autoridade tenho eu para fazer as afirmações que faço nos meus textos senão a voz da minha própria experiência? Quem sou eu para falar? Qual a validade dos meus pensamentos? Como posso resumir os aprendizados que tive fundamentando as minhas próprias crenças apenas em filosofia, esquecendo da astrologia e da música? Acho impossível e uma perda de tempo valorizar esses títulos... Valorizo tanto a voz que vem diretamente do céu; eu bebi dessa fonte e essa é a minha autoridade. Porém, dê valor quem conseguir dar valor a si.

domingo, agosto 23, 2009

O cheiro do outro

A parte animal
Com todas as pessoas, em todos os relacionamentos, em todos os encontros nós, humanos, buscamos um par. Não é uma patologia nem algo que devemos reprimir, esses pensamentos de uma possível união com cada um que encontramos é simplesmente a nossa parte animal falando. Devemos deixar o pensamento ir da mesma forma como veio, naturalmente. É apenas natural.
O que une então, dois seres humanos, quando duas pessoas se encontram e acham que "se acharam"? Muitas outras coisas. Talvez um somatório de identidades: pensamentos afins, combinação química, atração visual, intelectual, etc. Mas todos por quem nos sentimos atraídos são pares sexuais? Não mesmo. É que as pessoas empurram a excitação e o tesão para a virilha. Gostam de conversar com alguém, e empurram esse gostar para a virilha. Acham alguém bonito, empurram a sensação para a virilha. Nós somos viciados em sentir com a virilha, embora todos os sentimentos, na virilha, fiquem bem desconfortáveis. A respiração ajuda o prazer a circular, porque o prazer preso na virilha enlouquece; aliás, o prazer preso enlouquece. O prazer precisa circular pelo corpo TODO. Prazer nos olhos, no nariz, na boca, na pele, no cabelo, nos pés, na barriga, na espinha dorsal... Em todos os lugares. O prazer é seu e é para você senti-lo; não precisa entendê-lo como um tesão que precisa ser expresso sexualmente. O tesão pode ser expresso por um abraço, por uma troca intelectual, duas pessoas conversando sobre um mesmo livro, ou sobre uma pintura que gostam, ou sobre animais, ou sobre alimentação, ou sobre o diabo a quatro. Existem tantas pessoas quanto existem interesses e vamos nos identificar com muitas pessoas ao longo do caminho. Imagina o que acontece se acharmos que TODOS são possíveis parceiros sexuais.
Acontece que ficaríamos completamente perdidos, achando que não conseguimos escolher; acontece que todas as relações virariam paranóia pura, acontece que talvez não conseguíssemos nos relacionar, achando que estaríamos traindo aquele outro, por sentirmos um tesão enjaulado e secreto por ele. Mas não precisamos nos maltratar assim; isso é natural. É que não aprendemos como amar na escola e nem aprendemos que é normal sentir prazer no outro e que esse prazer chama-se tesão. Aprendemos que amor e tesão andam separados e que o tesão é sempre piru-xoxota, quando isso não é verdade. Amor e tesão são a própria vida e não podemos reprimir a vida, ela precisa brotar. E é preciso que entendamos isso para poder então, com maestria, saber quem é realmente um parceiro sexual de quem não é. (Por que e para quê? É essa a pergunta? Por que não sair transando com todas as pessoas com quem nos identificamos? -- Apenas porque não somos animais puramente. E a sociedade anda doente, sexualmente doente, doente em comportamento. Apenas porque devemos frear os comportamentos automáticos e instintivos e nos perguntar: o que eu estou fazendo? por que estou fazendo isso? Porque foi para isso que ganhamos consciência.)

quinta-feira, agosto 20, 2009

20 desgosto de 2009 (2009?)

Gosto oito de agosto, desgosto, agouro, vinte e amanhã um, de dois mil e nove. Quantos? Já? Mais de vinte, mais de mil, mais de dois mil. Mais de dois mil e três; mais de dois mil e seis, dois mil e sete...? Não. Oito? Volte para a casa um. Não existe dado; a gente joga com as escolhas, as bolhas, as folhas e as falhas são o melhor aprendizado TALVEZ odazidnerpa

Amo, gamo, mamo, chamo, vamo, clamo, pano, dano, ano, tamo... Tamo mermo? 'Cho que não.
Mão na mão, olho no olho, meu dente no seu pente, seu pentelho no meu... cano!

Sim, pelo cano, pelo cano... Levou água. Tomou bomba esse submarino sub-luz-marinho-amarelo claro e ralo. Eu falo, EU, claro. Não é mais o SEU phalo. Cortei, Uranos! Saturninamente. Adivinha quem nasceu?! Sim, sim, sim, por mim, para mim. Sim SIM e sempre sim. Perguntaram... Você quer nascer? E respondi: "Aceito a vida"
Então respiraram dentro da minha boca e tomei forma
Ontem mesmo me disseram que viram você mergulhar em uma coroa de alface (não era nem de louro! risos) e traçar o seu caminho até os peitos de silicone que aplaudiam a sua loucura na areia da praia; você como uma lagarta, abrindo caminho comendo areia. E quem esteve presente para observar achou a cena ri-dí-cu-la, que você estava fora de si. Os peitos de silicone, tão bronzeados... Os cabelos eram tão cacheados, tão lúcidos. Os olhos, tão azuis. Mas os peitos, mano, eram de silicone. Você não ia conseguir chupar leite daquela teta. Mas você tentou, que me disseram. Tentou nascer da alface e da areia da praia.

20 desgosto não é o dia do meu aniversário; não mesmo.
Mas eu já tenho mais de 2000 e 9 anos, mais de 2009 irmãos, mais de 2--9 amantes, mais de 00 olhos mais de 2 braços, mais de 9 línguas mais de siam misa asim misa

`Perguntaram se eu queria nascer e eu respondi: "Aceito a vida", então respiraram dentro da minha boca e tomei forma. Mas ainda aprendo a forma dessa fala ainda tão sem sentido acá para explicá o motivo pelo qual vim

Maconha e a goma astral (efeitos colaterais daquele "bom" beque)

Sou a favor da legalização por questões de ordem prática, embora eu não fume mais. A ilegalidade dá margem para muita sujeira, sem necessidade. Uma amiga da faculdade que morava na Rocinha uma vez me disse que acompanhava de perto a dor que o tráfico de drogas causava às famílias, o sofrimento e tudo mais envolvido, e isso me fez pensar. Então, se cada usuário tivesse a sua própria planta e pudesse fumar em casa, já seria um grande feito; sem preconceitos. O tráfico também transforma os policiais e os usuários em bandidos, o que é horrível. Eu tenho muita pena dos policiais. Acho que, de todas as profissões existentes, essa é uma das mais desgraçadas. Eles precisam de muita luz. E os usuários não são bandidos, mas por fazerem uso de uma coisa ilegal, se colocam à mercê de todos os tipos de situação. (E tome "dura"!)
Depois dessa pequena introdução política, queria falar um pouco do que eu aprendi, em experiências passadas, sobre a erva, em termos energéticos. A maconha é uma droga netuniana  (como todas sem geral são, embora umas mais que outras) que, depois de utilizada vira uma onda "líquida"; mas é um líquido denso e espesso, como se fosse uma gosma, depois de assimilada pelo organismo. Ainda não tive a oportunidade de perguntar por quê, mas os pajés xamãs do México e muitas tribos do norte do Brasil que trabalham com plantas medicinais nenhum deles usa a maconha. Eles têm uma visão preconceituosa sobre a erva que não sei se é política ou espiritual. O que eu sei é que ela nubla a visão de alguém sobre si mesmo e sobre o mundo incitando a Pathos e a ilusão.
Muitos amigos se sentem criativos e presos ao uso da maconha para criar, para se envolver com a arte, para sentir, mas arte é vida e vida é arte e, se precisam dessa bengalinha para mergulhar nas próprias emoções estão doentes, vivendo uma ilusão. Claro que a erva ativa a criatividade; é uma ponte imediata para o local  das ideias criativas! Mas só que o uso prolongado prende mais do que libera; escraviza mais do que liberta.  E os sonhos não são sempre bonitos; há sonhos de perseguição, paranóia, medos (os medos, especialmente, vêm muito à tona com a maconha, a ponto de travar os músculos e paralizar - e o coração também é um músculo; e a sensibilidade é uma prática). A goma/gosma astral  resulta em menosprezo quanto às próprias capacidades, vem em forma de insegurança pessoal, preguiça, esquecimentos e passamos a desacreditar na vida; ou achamos que somos mais ou menos do que o que realmente somos. A gosma astral (para quem pode ouvir) é uma voz que fica resmungando no fundo da cabeça, que se recusa a acordar, a sair, se recusa a conquistar, a vencer, a fazer, a se abrir, a mudar. A gosma astral leva à estagnação do ser, leva à inércia.
Eu estimulo uma experiência para os usuários constantes. A experiência é a seguinte: durante duas semanas, vocês vão escrever uma lista com os pensamentos positivos que sentem com a maconha e outra lista com os negativos. Depois, experimentem ficar três meses seguidos sem usar, fazendo as anotações apenas no terceiro mês (porque nos dois primeiros rola uma limpeza do organismo). Não pode substituir maconha por nenhuma outra droga. E depois comparem os resultados, e cheguem às suas próprias conclusões.

domingo, agosto 16, 2009

Apontamentos de domingo - véspera de tudo

O grafite apontado da lapiseira é como uma agulha que perfura o papel imprimindo nele tatuagens, como os pensamentos mancham a alma e a incitam de sentimentos, o grafite vai manchando as folhas de papel, derramando em palavras as coisas mais líquidas, borrando a tinta com a mão canhota. Essa é a prática da escrita, um borrão em forma.
E a vida? A vida pode ser lida pelas páginas escritas? Ou justamente a vida é o que existe entre uma linha e outra, entre uma palavra e outra, entre uma respiração e outra daquele que escreve?
É possível proteger-se com palavras e, no mostrar, esconder-se? No pé carrego uma tatuagem que o protege de tropeços e topadas. O outro pé, que não acredita em nada, o que ficou livre, vive tropeçando por aí; é dele o dedinho que sempre sobra contra as parades, pés de móveis, etc. Mas não mais quero acreditar no que está escrito lá naquele; no entanto, não posso apagar. Apagar essa memória seria como tentar contornar as cicatrizes da alma, não se faz. É como jogar esmeraldas no lixo. Se Milan Kundera narra que está no sexo as pérolas preciosas de cada um, os segredos que não podemos mostrar em público, se ele acredita que é no sexo que está a porcentagem milionésima que distingue as mulheres uma das outras, a porcentagem do inesperado e da diferença, eu acredito que essas pérolas estejam na alma, nas cicatrizes que cada pessoa carrega. A sexualidade é apenas uma das portas, mas existem muitas outras. Não entendo por que as pessoas guardam suas riquezas apenas para si. Talvez sejam pouco generosas, talvez tenham medo de que outra pessoa possa lhes roubar. Nada que seja por demasiado real; é como temer que alguém, ao apreciar uma tatuagem, possa lhe recortar da pele aquele pedaço de desenho. Nossas jóias estão encrostadas na alma e se não podemos de fato entregá-las a ninguém, podemos, ao menos, mostrá-las. Quando o sol bate nessas pedras, reflete as luzes mais incríveis.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Orgulho com orgulho

Aproveitando o raio de Zeus que me partiu ao meio, não tentarei esconder o que sinto, já que o coração pulsa em aberto. Quero mesmo que todos vejam, para que se alimente todo aquele que se identificar comigo. Mas acabei percebendo que é muita pretensão da minha parte achar que devo me expor, e que meu ego é realmente um ser extremamente forte, que vive nas trevas do meu inconsciente e que, por isso, não posso ver as atitudes ridículas que ele me leva a tomar (sim, o ego age contra a minha vontade e o orgulho me leva a crer que tenho consciência dos meus atos). Paradoxalmente, é essa a origem da minha força, então sigo sem medo, embora tema o ridículo mais que tudo. Em silêncio brilho, longe dos olhos, enquanto pensam que estou caída (pois esse é o invólucro), me regozijo. Enquanto falo das dores, crises e mazelas estou, em verdade, gozando. Orgulho e vaidade são forças motrizes como a raiva. Se soubermos aproveitá-las, vamos longe. Mas essa longa distância é o que questiono, e também o motivo pelo qual desejo percorrê-la. Ainda é uma questão atrelada a um ego infantil que precisa se provar capaz ao mundo: vaidade (papai e mamãe queriam que eu fosse a melhor, preciso mostrar que sou mesmo). O sucesso é movido pela falta de amor na infância, mas, quando alcançado, apenas reforça o vazio. O sucesso é a questão número um, o amor é a questão número dois. Eu não sinto que possa confiar nos meus olhos para o romance; meus olhos me traem e me atrem para o perigo. Mesmo que, em aparência, seja alguém inofensivo, eu tenho plena noção de que me atraio pelos complexos e difíceis, que só refletem a minha própria complexidade. Vaidade. Orgulho e vaidade são duas palavras muito importantes aqui porque constroem as minhas armadilhas. E é essa a risada que o aiwasca tira com a nossa cara; pega o nosso orgulho, a nossa vaidade, o nosso ego e atira na fogueira. E nós, tolos, ainda achamos que a planta tem algum poder sobre nós, nos sentimos mais leves depois de apanhar, nos sentimos preenchidos por um amor inexplicável, viciados em levar porrada! Eu sempre acreditei no mito eu mesma. Confio que possa me tornar um mito, mas... Neste momento me sinto um pouco ridícula por perceber que o mito é uma construção irreal e que as minhas seduções são ilusórias. Objetivamente: Beyoncé é linda, ágil, rica, mas aposto que chora toda vez que sai do palco, e se tranca em algum camarim porque se lembra que não é amada, despida de si mesma. Quem a ama, a ama pelo conjunto de coisas que ela mostra ser e pelo quê faz bem. E eu não quero isso para mim. Então, o que eu quero? O sucesso como forma de me distanciar das pessoas do passado, como forma de mostrar "Olha, eu consegui, estão vendo? E vocês estão excluídos dessa nova vida!", ou como fórmula de transformação? É possível ser transformada em um produto através das suas qualidades sem que você mesma passe a acreditar nesse produto? Pretendo me despir desse ego em breve a aprender a ficar em silêncio, aprender a meditar. Não quero pular nenhum degrau e toda a atenção e concentração são necessárias agora. O mínimo passo em falso pode me levar ao fracasso de mim mesma, embora eu saiba que sempre vou sair vitoriosa.

Ode ao ridículo daquilo que não podemos ver!

Orgulho e ego são escorpiões acoplados às solas dos nossos pés. Toda vez que pisamos em alguém, sentimos o veneno queimando pelo corpo, subindo de baixo, penetrando no coração e trazendo um calor febril até a cabeça, enquanto os nossos membros inferiores ficam cada vez mais sonâmbulos e moribundos. Inflamação e febre são de escorpião. Não podemos ver que não são as pessoas em quem pisamos que nos ferem, mas os nossos próprios escorpiões pessoais! Embaixo das solas dos nossos pés! Não podemos ver.
Escorpião se orgulha do próprio orgulho: é por isso que é o demônio. Mata e morre, cria a discórdia e confusão e se orgulha do próprio poder destrutivo. É uma criança sem dono, que aprendeu a se virar pelas ruas. É uma criação do instinto de sobrevivência; é força sem limites. Os olhos do escorpião não são confiáveis, mas não para aqueles que olham, e sim para o próprio! Os seus olhos são como ímãs que atraem o perigo e a desordem emocional. Os olhos escolhem as vítimas! Mas o que o escorpião não percebe é que é para sempre vítima de si mesmo, pois escolhe! Sim, a inteligência é um ferrão escuro e eriçado que deposita o veneno pelo rabo. Enquanto ele acha que seduz as suas vítimas para a sua gruta, é ele quem se seduz por elas. Ao matá-las, ele também morre mas continua com sede por novas vítimas, como um vampiro tem sede de sangue. Gargalhadas dão as pessoas que assistem ao escorpião se debatendo em uma piscina rasa. É que a profundidade é para dentro e os olhos externos não podem ver a escuridão completa em que se encontra; sua alma vive em uma escuridão abissal, e as ações ocorrem em silêncio.
Todos à sua volta vêem o que é tão simples; o escorpião estuda o que vai em cada célula que forma cada tecido, que compõe cada órgão que faz funcionar cada organismo. A complexidade o encanta. Sedutor? Sim. Provocante? Sim. Mas é de propósito? Não, é apenas natural. E o que essa sedução tem de divino? (Se é uma dádiva dada por Deus, precisa ser divina... Mas como?)
Orgulho e vaidade são forças motrizes, como a raiva. E são o remédio e a droga para o escorpião. Nada vem sem a sua contraparte, e o escorpião percebe bem o lado negro de todas as coisas, menos o de si mesmo, pois o grande demônio que carrega em si o faz sentir-se orgulhoso das próprias mazelas. E porque a morada de sua alma é a casa de um ser cego, surdo e mudo, a melhor estratégia seria calar-se e não interferir nos destinos! Viver em silêncio, sem interferir e sem interferências, em reclusão. Mas ame, e que isso baste. Perdoe-se, e que isso baste (se bem que o perdão é uma das lições mais difíceis para o vingativo e orgulhoso escorpião, que sente prazer em morrer através dos próprios vícios).
O que temos além das nossas opiniões...? O SILÊNCIO!

quarta-feira, agosto 12, 2009

"O nosso amor a gente inventa"?

Não tem saída: para esquecer um amor é preciso esquecer DO amor e de todas as possibilidades de amor. É preciso erradicar a lembrança de amor do corpo, ignorando todos os sentidos e os desejos. Porque quanto mais se tenta esquecer, mais se reforça a lembrança. Quanto mais pessoas eu conhecer e insistir em amá-las ou em descobri-las ou em explorá-las (e a mim mesma), mais pensarei naquele que amo. E não é que ele fosse bom demais; é que o amor transforma. As pessoas ficam lindas, ótimas, inteligentes, criativas, habilidosas, etc. Os defeitos passam a ser peculiaridades que definem aquele que se ama, tornando-a uma pessoa única e incomparável.
Não é que o sexo fosse bom demais; era que eu estava entregue. Não é que o beijo fosse bom demais, era que eu amava! Então o problema é o amor, não é a pessoa. Eu devo ter inventado a situação, devo ter inventado o prazer nas coisas que compartilhamos, o prazer na companhia um do outro, devo ter inventado os encorajamentos que me levaram a acreditar que ele gostava de mim, quando não gostava. Eu inventei uma relação! (?) Da minha parte, porque acreditei no que meus sentidos me diziam e, da outra, porque fui encorajada em pequenas doses, pequenas demais para eu poder cobrar qualquer compromisso (como "mas você DISSE QUE me amava" -- ele não disse, nunca disse. Assim como não dizia que eu era bonita, nem o quanto ele gostava de estar comigo. Não tendo dito, não achava tudo isso? E se não gostava, por que estava? Por que escolheu ficar isento de afirmar que não gostava, que medo é esse? Por que quis ficar isento do compromisso de dizer que não gostava quando gostava, ou de dizer que gostava quando não gostava? Isento de tomar alguma posição?), mas que o mantinha naquela posição privilegiada de receber tudo o que eu estava disposta a dar.
Tudo o que não entendo vira uma obsessão. A obsessão é um substantivo feminino, que nem "droga". O gênero é muito preconceituoso, como a religião. Aprendemos a nos expressar por essa gramática do português, que coloca o masculino como o padrão geral e o feminino em segundo plano. As nossas reações e o nosso universo feminino ficam fora do padrão geral. E olha o que eu acho sobre isso: [uma banana]. Eva pode até ter dito que estava com fome, mas aposto que foi Adão que pegou a maçã para ela! E aposto que ele ainda deu a primeira mordida. E aposto que ela levou a culpa. Os homens esquecem que não são filhos só das mulheres; só as mulheres são culpadas pelos frutos que geram. Esqueça o pai e esqueça o pau; eles estão isentos de culpa.
Então, se gosto, a responsabilidade é só minha. Se lembro ou se esqueço, tanto faz para o outro. O que sinto ou deixo de sentir é um fruto só meu. (É?) O meu amor é o filho de uma mãe sem pai. Mas desacredito. E essa descrença me faz pensar que ele gostava sim, mas tinha medo. E essa crença de que ele gostava me faz continuar gostando. E é assim que eu invento. Eu me recuso a acreditar que eu tenha inventado tudo! E ele permanece na posição número um, e não porque era bom demais. E ele consegue justamente o que queria: tem a mim, sem nenhum compromisso (mas também sem presença) -- já que a fidelidade para ele era apenas isso: que ele fosse o melhor entre todos. Só que ele não entende que não é ele que está lá com a medalha, é o próprio amor. E eu não entendo como viemos parar aqui, como, apesar do que sentíamos, fomos para o beleléu. Eu sentia sozinha? Será que estar comigo era apenas uma questão de vaidade? E volto à questão um.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Venha hoje, no dia mais fértil

Venha hoje, e faça eu esquecer os meus pesares com o peso do seu corpo. Nenhuma palavra é necessária; venha hoje respirar na minha boca, roubar a minha alma, beber o meu sangue, me levar pela mão, trocando comigo o segredo da vida. Venha hoje me tatuar com o seu tato, ser o meu sol, me esquentar e me preencher, como a água penetra nos lugares por onde passa. Traga as suas marés com as suas tempestades e eu serei o seu rochedo de acalento. Traga o desespero dos seus ventos e eu serei os grãos de areia que viajam em seu corpo. Seja o meu pão, o alimento sacro, o centro da minha cruz dourada, venha e devore o meu corpo com a sua fome, fecunde o meu corpo antes que nove meses se passem desde a nossa separação e eu dê à luz a um fantasma. As minhas colinas esperam, com as gramas aparadas, os matos escondidos e todos os gostos da floresta, com os monstros que vivem nas grutas e os peixes abissais do meu mar, e os pássaros que esperam em seus ninhos... e também aqueles que levantam vôo, contemplando. E as feras e os animais domésticos que tenho em mim. Vamos ser o chão da savana, a própria vida selvagem, sem diferenciar caça de caçador. Venha hoje, eu aguardo, de onde estiver.

quinta-feira, agosto 06, 2009

código binário: erro e acerto

É um erro pensar que todas as possibilidades razoáveis que nos estão abertas mentalmente possam ser colocadas em prática. É um erro. É como se o pensamento fosse o "zero" e a ação fosse o "um". Um acerto é errar, em média, uma vez por dia. De quantos erros são formados um acerto bem acertado? O erro de achar que se consegue só por se ter imaginado fazendo ou, da mesma forma, achar que não se consegue por não conseguir imaginar ou por imaginar e sentir medo é um erro. Um acerto é ir lá e fazer. Mas um erro é ir lá, tentar e não conseguir. Voltei para casa ontem seguida por vários errinhos colados na barra da minha saia, um erro de mãos dadas com o outro, deixei para trás uma trilha de pequenos erros que resultaram em uma peculiar noite oblíqua. Pensamos que para sair do zero e chegar ao um é preciso apenas um segundo, um passo, um estalar de dedos, um piscar de olhos, menos que um suspiro e apenas um pensamento, permitindo. Como assim... Para chegar ao "um"? Vindos do zero, existe uma gama de infinidades incluídas ali no meio. Existe toda uma galáxia! Não se chega ao "um" tão rápido assim, a não ser que seja por erro e acerto, a não ser que seja por liga e DESLIGA. Entre uma praia e outra praia existe o mar.

Erosão

De pé, sobre uma rocha litorânea, com uma xícara de vinho tinto nas mãos fiquei observando a erosão marinha. Cortes e recortes e subterfúgios internos às rochas. Observei a maré crescer e a violência com que as águas chegavam até a praia; lembrei-me de você e das suas águas, e a lua estava cheia. As rochas não se importam com a violência das águas, mas eu sim. A noite estava muito clara e os meus pensamentos também. Apenas à noite ouso pensar com tanta clareza. O barulho das ondas tornou-se ensurdecedor. Ao olhar o mar entrando por caminhos que talvez não lhe fossem devidos, imaginei que o sangue invadiria aqueles espaços com igual velocidade, mas quanto de sangue seria necessário para banhar uma pequena praia reclusa? Imaginei-me escorrendo, vermelha, líquida, pelas rochas. Percebi que o mar não estava invadindo apenas as pedras, mas as minhas feridas abertas também. A violência das águas de outrora causara uma erosão em mim.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Quarta-feira

Hoje está fazendo sol e o dia está muito bonito; há uma brisa fresca e eu sei de tudo o que tenho para fazer, porém atraso porque tenho preguiça. Há uma época irreconhecível em mim: não sei nomear. Com licença, porque preciso rir. (...) Para algumas pessoas existe o tempo das vacas gordas e o tempo das vacas magras. As minhas vacas estão normais, eu é que não estou. Hoje coloquei uma colcha indiana nova na cama pois troquei os lençóis ontem, mas não ficou tão bonito quanto eu esperava. A expectativa é uma droga (e vicia). Espero alguém me ligar. Às dez da manhã, aconteceu de uma atendente de uma pesquisa sobre a portabilidade numérica me ligar. Respondi a todas as perguntas por achar uma das poucas coisas úteis que nos ligam para saber. O que temos que ser e o que temos que fazer é exatamente isso. ISSO - AGORA - HOJE, essa vida. Lutando ou não, para dentro ou para fora, é assim mesmo e é isso aí. Mas, se pudermos ser um tanto quanto melhores, mais perfeito. O aperfeiçoamento não é a perfeição. O aperfeiçoamento é um trabalho constante, busca-se o melhoramento de si, busca-se o divino indivisível, mas não o impossível. A perfeição é o impossível, está além dos véus. Virgem busca o aperfeiçoamento, trabalho exaustivo, porém plausível. Eu tenho a Lua em Virgem, tanto na astrologia tradicional quanto na védica (agora só consigo pensar em termos de Védica), e esse é o trabalho: pesquisar, testar, separar as emoções e sensações, abrindo mão do que não presta. Mal acordei e já sinto preguiça. (!) Mal acordei e já sinto preguiça, pois mal dormi. Eu trabalho até nas horas de descanso. Deve ser por isso que sinto tanta preguiça! Talvez mais tarde eu escreva sobre as amizades eróticas, talvez não. Talvez eu vá ao centro agora, pela manhã. Talvez eu páre agora. (But I could go on and on)

segunda-feira, agosto 03, 2009

historinha

Havia uma garota que sofria a influência de muitos e muitos astros. A Vênus dela era bem promíscua, porque se relacionava com a Lua, com Marte, com Júpiter, com Saturno, com Urano, Netuno, Plutão e mais alguns pontos. E na vida também ela tentava equilibrar todas essas forças atuantes, porque em cada momento uma falava mais alto, sendo que várias delas falavam alto sempre, por trás, como um cenário básico que é sempre o mesmo que, por serem mais pesados, quase não caminhavam de acordo com a nossa perspectiva humana. Ela sempre sonhava acordada com um homem que a abraçasse por trás e a beijasse com paixão no pescoço, e eles estavam sempre em casa. A paixão era só o sentimento, não a forma como era beijada. O beijo, em si, era bem delicado e gentil, porém o conjunto do abraço e do beijo era intenso e apaixonado. O homem também mudava, dependendo em quem estivesse projetando aquela energia no momento. Ela também sempre sonhava com um homem que gostasse de a observar em cada movimento seu, e que queria abraçá-la toda hora que tivesse chance, e que fosse fiel por saber que, no mundo, nenhuma mulher seria como ela. Sonhava, sonhava, sonhava. O sonho era um desses cenários, sempre presentes. Os abraços e os beijos apaixonados, e outras cenas mais picantes (no banheiro, na cozinha, no chão, na cadeira, no chuveiro e na cama), também faziam parte desse sonho constante. Mas, quando se apaixonava, apesar de ser muito séria, era sempre de cara, e caía de cara e ia de uma vez só. Por isso, quase nunca se apaixonava. Todas as suas vezes anteriores a haviam deixado com marcas de achatamento facial. Mas o aspecto da aventura e da conquista, do novo e diferente, da excitação da primeira vez constante fazia com que os homens não se sentissem tão importantes assim porque quem conquistava era ela, e então, não a levavam tão a sério. Mesmo aqueles com o discurso mais libertário e que, no fundo não admitido, eram machistas e antiquados. Estava aprendendo que ela mesma era antiquada e até machista em alguns pontos; ela mesma brigava consigo quando era forte demais, quando era qualquer coisa demais. E ela percebia como era difícil produzir essa peça com tantas coisas diferentes que precisavam ser incorporadas em um mesmo cenário e quantas linhas faziam o texto, mesmo as que não eram ditas. Estava aprendendo que o desejo ardente era um vício e uma forma de levá-la ao sofrimento. Era apenas um vício criado pelo corpo que queria permanecer sentindo a sensação do sonhar. Ficava muitas horas sentada de frente para o próprio teatro imaginando o enredo da próxima peça. Cada vez mais próximo do que queria, cada vez mais sensação e mais sofrimento, cada vez mais longe da verdade nua, cada vez mais só e mais única e mais dona de si e mais assustadora. Sabia que o que via como o demônio dentro de si era autenticidade e força, mas tinha medo de deixá-lo sair por ser forte demais. Era devastador. E ela era tão magnética quando mostrava as suas garras, que ficava quase impossível de resistir a ela, quando realmente mostrava a que chifres veio. Mas também se assustava com isso, e procurava a medida exata de si pois... O irresistível nela reforçava o desejo ardente e massacrava todas as outras forças. Então tudo o que sentimos ao lidar uns com os outros ou é mero desejo ou aversão? Sentia-se injustiçada de ser tão simplificada pelos orientais, mas estava disposta a tentar. Afinal, o novo e o diferente eram sempre tão atraentes quando estava consigo apenas.
Como pude dormir tantas noites sem ler antes?
Ontem acabei o "The Tale of the Body Thief", da Anne Rice, e confesso que estou meio apaixonada por ela. Confesso também que morrerei de saudades do Lestat. Fiquei triste durante umas duas semanas, tempo em que percebi que o livro de 435 páginas estava acabando, porque já sabia disso.
Estava na dúvida se continuava com ela, em inglÊs, com o "Interview with the Vampire" (que está na minha estante desde 1995 - vi o filme umas quinze vezes e o livro parece ser bem parecido, já que a escritora acompanhou de perto a produção), ou se alternava com um livro em português, que também está na minha estante há algum tempo, "A Insustentável leveza do Ser", do Milan Kundera.
Daí, o seguinte parágrafo da última opção me ganhou: "Seria melhor ficar com Tereza ou continuar sozinho? Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso o que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo "esboço" não é a palavra certa, porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro".
Mas já estou com saudades do Lestat e da Anne Rice... Eu me apego demais aos personagens. E quando acabar a tradução do livro? O que será de Alice Lindgren e Charlie Blackwell?? Será que é por isso que tenho ido devagar aqui no trabalho? Ou porque eu fico horas pensando na vida dos personagens, comparando com a minha, daydreaming? Vou escrever uma historinha. Ai-ai.