terça-feira, setembro 23, 2008

Caroço de uva

Lá vai a menininha, dirigindo o seu carrinho... Querendo ser gente grande, achando que possui o seu mundinho. A janela está aberta. Vou oferecer o produto que ela vai comprar; de todas as frutas que vendo, oferecerei a uvinha sem caroço, vou ver o que ela fala. Coitadinha da menininha. Quantos anos será que ela tem? Não prendem seus pais por deixá-la dirigir sem ter idade para isso? Não comerá a fruta-do-conde, nem as minhas pêras. O que ela pode querer é a uvinha sem caroço. Mas que menininha mais amarguinha! Nem as minhas uvinhas ela quis comprar.

sábado, setembro 13, 2008

partindo da raiva

Lá vêm os seus tentáculos, se infiltrando em todos os espaços, tentáculos com espinhos, da bruxa do mar, se infiltrando e invadindo, todo o espaço que há, precisa ser dela. A bagunça, o caos, a estagnação... Tudo dela, mas quer que seja meu também. Insustentável. Completamente insustentável. Não há paz aqui. Ambiente intoxicante. Imundo, destroçado. Essa não é a minha casa.

lições do amor e da falta dele

Lições do amor: aprender é garantido.
Com o amor, ou com a falta dele.

Enquanto eu fico sentada aqui na minha cadeirinha filosofal, tomando esse sorvete, em algum lugar do mundo um tufão pode estar destruindo tudo. Esse nosso deus polêmico, amoral...
Que permite que eu me delicie, e enquanto gozo, enquanto sorrio, outras tantas pessoas sofrem e choram. E isso é equilíbrio(?).

Mas sinto-me desconectada das palavras escritas. Só tenho conseguido me comunicar cantando, tocando música.
*não consigo deixar de pensar que estamos, o tempo todo, passando uns por cima dos outros.

Existem mais lições do amor, garanto, mas todas elas são doídas e, para cada pessoa, uma experiência. No entanto, o sentimento de falta é de todos.

Estou sentindo uma inclinação para escrever sobre o mal, qualquer dia desses...

segunda-feira, setembro 01, 2008

segredo

Minha vida

é uma besteira

uma poeira cósmica

eu gozo quando acordo........... eu morro quando acordo............................... todos os dias quando acordo, eu prefiro expirar do que inspirar.

eu prefiro sempre me esvaziar do que me encher. estou sempre esperando, mesmo que em movimento....................................... eu odeio quando o trânsito pára.

O sopro de Hécate

Portal da sala, corredor de vento, vento frio sopra, soprando, levando meus cabelos, beijando minha face, arrepiando meus pêlos. Lembro desse frio, lembro desse gozo na dor, no passado, nas feridas antigas e abertas, nas águas paradas. Percebo todos os filhos que nunca nasceram, não só meus, mas de todas as mulheres, e que ficaram todos dentro da minha barriga e esse vento é quando eles retornam, e pairam ao meu redor. A presença das almas, de tudo o que já passou mas que eu me recuso a deixar ir, a presença de todos os amados que nunca puderam ser carregados próximos ao coração. O leite que nunca jorrou não jorrará também durante o inverno. Nada vai florescer pelos próximos dias. Ela engoliu uma única semente. Foi só o que foi preciso. A semente que não explodiu, a fez viver no inferno. A semente que não germinou, a deixou presa e fez com que a terra toda secasse. Todos os sentimentos não passam da garganta. Tudo mais ficou intragável. Todas as sementes geradas pela imaginação fecunda não pesariam tanto. É um espinho de amor, preso ao coração, que a faz sangrar eternamente enquanto os dias passam e o sol ainda existe. E ela só vive à noite, pois é quando o frio aumenta que o peso diminui, e que ela consegue respirar.