terça-feira, setembro 15, 2009

Flor-do-meio-dia que não se lembra onde é o próprio jardim

Não há saída para o meu espírito perturbado; viverei como nasci, como foi pré-determinado. Sou uma mulher reclusa, para sempre respirando à sombra do palácio, com meus vestidos e meus sapatos. Eu me sinto como aquela pomba que cisca na janela, como aquela nuvem que silencia, passageira. Sou qualquer impressão efêmera da vida, um piscar de olhos não percebido, o tilintar dos sinos de uma igreja de uma cidade fantasma: sou o som que se propaga em nada, que preciso ser sem a compreensão dos ouvidos. Sou uma mulher reclusa, presa em mim, sem nenhuma companhia, passo os dias a chorar o tempo dos dias que se passam e eu aqui, desperdiçada, sem dinheiro, sem amor, sem sorte; embaixo de um cobertor quente, mas sem frio e sem norte! Morte parecia bom quando apago a luz até finjo mergulhar em um nada escuro e sem conflitos. Parecia bom... Parecia bom não acordar jamais; me entregar ao fracasso, sentir os ovos não fecundados serem desperdiçados, sangrados. Ver como os dias vêm e vão e nada muda... Eu não mudei. Você mudou? Acho que não, e pouco importa a solidão pois amanhã o dia vai amanhecer de qualquer jeito e eu vou ser obrigada a acordar -- de novo... Chora as pernas musculosas que não tem, a casa perfeita no meio do mato com piscina e amigos que não tem, CHORa os buquês de flores que nunca ganhou, o verdadeiro elogio que nunca foi pronunciado através das pequenas ações dos namorados, chora os 'eu te amo' engolidos, chora a dor da não reciprocidade, flor-do- meio-dia... Flor, meu bem, você murchou sob o sol, também pudera... Arrancaram você do chão, e sem as raízes, quem é? Uma aparência vazia
de quem não se lembra de onde é o pró-prio-jar-dim. (respira) É o cantar de um pássaro que ao invés de despertar para a vida vira uma televisão ligada com um vizinho de voz alta ao telefone que incomoda... Vira um metrô lotado, vira as mil possibilidades de amantes desinteressantes e desinteressados... Vira uma vida de 29 anos mal aproveitada, vira o pessimismo do meu pai e as consequências da ingenuidade da minha mãe; vira o estômago do avesso... De quem é essa vida que eu vivo nos meus sonhos? Onde ela está, essa pessoa desalmada, pois a alma dela está aqui, corpo sem alma ou o contrário. que nunca se unem pois está um cá e outro lÀ, tão longe
cansaço sem nem começar

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