segunda-feira, abril 26, 2010
De onde vem a força?
Pegou a maçã da árvore, mas poderia ser da prateleira do mercado, e sentou-se embaixo da copa, à sombra, mas que também poderia ser a copa da cozinha. Observou o horizonte a sua frente; um lindo horizonte flamejante, ao longe, o sol queimando a grama verde. O quadro pousado na parede do corredor, fora da cozinha, o horizonte poderia ser o que está compreendido entre a moldura da janela. Mas ela estava ao ar livre, sentada embaixo da copa da árvore, à sombra, observando o sol queimar a grama verde no seu horizonte flamejante. Uma manada de cavalos selvagens passou galopando, fazendo tremer o solo. A vizinha de cima passa aspirador na casa; os carros passam e buzinam violentamente; os vizinhos batem os pés ao subir as escadas de madeira. Sonhava com outro mundo que desconhecia essa mulher, essa mulher livre. Mordeu a maçã e sentiu-se saudável; sentiu o suco descer pela garganta, uma gota escorrer pelo canto da boca, rolando pelo pescoço. Sentiu-se selvagem, desejável, doce... Foi sendo levada pelo sabor da maçã e mesclando-se com ele. Sentiu-se selvagem e foi correr com os cavalos. Os cavalos estavam dentro dela, eram vida da cintura para baixo, junto com a maçã, junto com tudo mais acumulado pela vida e ela agora rolava na grama verde, e confundia a grama com os próprios pêlos púbicos; acariciava a grama e sentia-se maçã, sentia-se nuvem, sentia-se toda Terra molhada e chuva. Sonhava com o dia de ser engolida por ela.
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