sexta-feira, dezembro 19, 2008

ANT ARES

Quem mandou eu encarnar... Se eu soubesse que seria tão trabalhoso, teria feito metade nas vidas passadas. Escute bem o meu "ai...", lá no fundo. Está lá. Os anjos não são mansos e nunca foram, e essas vozes GRITAM - bem nos meus ouvidos. E eu venho falhando nos testes, e a música é como um alívio, uma água que mata a sede dos meus gritos. Gasta-se muita saliva neste corpo, nessa vida. Antes fosse beijando (saudade de beijar o amor com amor). Mas não tem trégua. Anjinhos bonzinhos? Com trompetas, anunciando as boas novas? Anunciadores que são/somos? Contestam(os). Quebram(os) as estruturas anteriores, deixando as ruínas pros outros. Suuuuper legais. Esses são os meus irmãos que ficaram do lado de lá. Trazemos a espada da justiça, e o meu trabalho tem a ver com isso, só que eu ainda não sei o que é. Esse ofício que vem com o meu dharma. Ele vem da esfera dos anjos, e eu achei que fosse a música. (...) -Uma pausa.- E, Alexandra, não mais desculpas. E não mais pedir ou agradecer amor, que é derrota. -Outra pausa.- Ver o anjo no outro é ver o anjo de todos. Você precisa trabalhar a dois, mas veio com a Estrela Alfa que antagoniza o deus da guerra (!). E ainda colocam em você um nome de guerreiro. Queria eu ser uma doce garotinha, leve e regozijante, brincando de subir em árvores pra comer os frutos, correndo atrás das borboletas até completar treze anos, e depois poder namorar de mãos dadas, ser cortejada, namorada. Não dessa vez. Mas subestime o meu 1,63m. Subestime o meu sexo, a minha inteligência, subestime qualquer aspecto do meu ser. Então você reconhece a Estrela Alfa. Mas não pretendo assustar, meu objetivo não é ficar contra você. Na verdade, eu preciso de muita paciência pois preciso virar você, vestir a sua pele, ver com os seus olhos. Ver o anjo em você é ver o anjo de todos. E eu preciso ver o meu próprio.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

continuous


I know it's my fault it's my fault i know i have developed into something not likeable. i know it's my eyes that change, its my eyes that change when i sing from the hurt you made, i'm different. i'm not the same as yesterday, but it's even better than tomorrow cause my chords had just made me built up in confidence and now i can sing from pain, real pain, real noise in my head your words caused me to be so low in confidence, all this missing, all this not knowing, all your taking too long to decide and all my waiting. it seems like my fault, how can it not be when i know everything will always come undone for me because i probably do that, when i know i can only love the death of myself, when i know this, when i know this and i smell my own death, then i jump in any situations, like with you. love with you is death for me, certain. i know i'm a walking target for my own poisonous tail. you are like a silly twisted little wood i borrowed from the shadows of that valley. you are worth nothing, but to me you were it all. the hope for a spark, the start of a fire, the hope to keep warm in this freezing hell of emotions called world.
i hoped for it all, it all came undone before i could start that fire, because my own fire overshadowed your spark. i was a flame and you were air; you are gone and i am coming down on ashes. the floor, stick to the floor... not forgeting to breath, do not forget to breath, breath in and out, listen to your heart beat, listen to your inner cry. the hanged cat i dreamt about it was not a real cat; it was me. chocking on my own tears, the rope was too tight and i was so angry at myself like i am now, but i was trying to set it free. and, eventually i can, so how can i keep going out on swimming with sharks? --like everyday is a different fishing-- all i see is tails and bones (the bate, my mouth, the hook.) oops, this one used to be mine. just ashes now. there is no now. just yesterdays. of course there is no tomorrows, and of course there is not me

domingo, dezembro 14, 2008

Eu sou o cano da arma

Eu sou o cano da arma

Não sou a bala que perfura o alvo, nem a pólvora que se espalha pela roupa. Não sou os dejetos amorfos que caem pelo chão, cheios de sangue, nem o próprio sangue em si, que escorre como cera líquida. Não sou o calor do atrito, não sou o gatilho, não sou o dedo que dispara o projétil, não sou nem a própria raiva do ser, inquietude do dedo. Não sou um fim e nem um motivo. Não sou um objetivo. Não sou feita de algodão, nem de papel, e não derreto com a chuva. Poucas coisas podem me deter. Mas nada fica no meu caminho. Eu sou o canal que liga o princípio ao fim, mas dentro de mim, é apenas oco e escuro. Antes, eu sou fria. Depois, quente. Eu sou o canal que leva a mensagem, seja na esportiva, seja na brincadeira que acaba em desastre, seja na vida ou na morte, no erro ou no acerto. Dentro de mim, é apenas escuro e vazio.

sábado, dezembro 13, 2008

DESACREDITE

Não acredite nas verdades. O que sai da boca é sempre duvidoso. Não acredite nos "eu te amo", nos "eu sou seu amigo". Não acredite quando alguém diz que você não é, que você não pode. Mas também não acredite quando dizem o contrário. Duvide sempre de você mesmo. E se já faz isso, passe a duvidar dos outros também. Duvide de TUDO. Não acredite em nada. Somos grandes mentirosos complexos. Tente definir o que é a verdade. (Grande pausa vazia) Existe algo mais subjetivo do que a verdade? O que é a arte, senão uma tentativa de aproximação de uma verdade interior? O que é a religião, senão uma tentativa de preencher o vazio que suas verdades não preenchem? O papel da verdade não é construir. Elas são postas no mundo para que contestemos. Nós construímos; as verdades não fazem nada. Não existe nada que não possa ser destruído. Portanto, as verdades são uma tentativa de estabelecer seguranças que não existem. A única segurança vem da construção das nossas próprias verdades, que são temporárias. Quem carrega uma verdade eternamente é uma estrutura em decadência. Devemos sempre deixar espaço para o novo, para os medos, para o desconhecido, para o diferente. E viver nesses espaços, viver com medos, com inseguranças, com dúvidas, destruindo e construindo o tempo todo. A sanidade vem do caos, não da estruturação de verdades. Duvide de tudo o que eu disse e seja saudável. Mas jamais acredite na foto. Imagens e palavras não são confiáveis. Seus pés são confiáveis. Seus instintos são confiáveis. Seus medos são confiáveis. Seus sentimentos também. Mas duvide sempre para aprender coisas novas sobre você e o mundo.

domingo, dezembro 07, 2008

Arnica - tempo e espaço

Estou dentro de um caixão que é laranja, e é movido para cima e para baixo com energia elétrica. Confiamos demais naqueles cabos. Aperto o botão do primeiro andar. Me olho no espelho e vejo minha melhor amiga e minha pior inimiga, dentro dos meus olhos. A primeira jura que me ama e amará até a morte; a outra, desacredita. E dessa luta, nasce a criatura ensangüentada. Para viver melhor, acreditamos no amor das pessoas que nos cercam. E então percebo que estou sozinha. Não há ninguém ao meu redor. As pessoas que vivem na minha cabeça: confio demais nelas. Na vida prática, cedo ou tarde o ferrão encontra a pele, e me machucam. Ainda não aprendi a depurar o veneno que percorre o corpo através do sangue, atingindo partes que eu nem sabia que existiam. O veneno me ensina a profundidade do meu ser. Ainda não aprendi a achar bonita essa ramificação. [Ninguém pode nos dar aquilo que não temos. Ninguém confiante aparece para derramar em nós um pouquinho da sua confiança. Mas é muito provável que todas as pessoas que você conhece testarão a sua, porque as pessoas são sempre espelhos.] E assim vai o veneno da destruição, capilar após capilar, contaminando todas as células do corpo. Então acordo para o que há de mais real na vida: a dor, a solidão. Fico íntegra, me sinto indivíduo, não nego. Mas percebo a falta de controle em mim, no mundo. Colocamos tantas coisas importantes nas mãos de outros; nossa vida, por exemplo. Todos os dias, nos atos mais simples, nas coisas mais banais, nas mãos de médicos, de motoristas... E confiamos que tudo vai dar certo, que o amor existe em algum lugar, e que vamos chegar lá. Confiamos nos apertos de mão e nos beijos na bochecha que cumprimentam. Confiamos nos sorrisos. Pelo menos, eu sempre confiei. Até perceber como eu lido com as "quebras de contrato". Quando eu amo, não consigo ter armas de defesa. Mas se eu me defendo o tempo todo, não dá tempo -nem espaço- de amar.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Caganers


O Papa e o Bush são caganers. O Lula também. Eu vi um do Ronaldinho gaúcho. Todos caganers.
Achei tudo isso muito engraçado. A merda é símbolo de fonte de vida e de boa sorte (na Espanha). Talvez, aqui, nos faltem símbolos. Mas (*) não falta.

*MERDA






No thing girl



You are countryside boy and I am not an urban girl.
I am nothing girl.

terça-feira, dezembro 02, 2008

Conversa séria listrada

Hoje que eu parei em casa, me bateu aquele sentimento de vazio desesperado para consumir algo, e desesperador. É como se eu corresse dele, mas está amarrado ao meu pé e, toda vez que eu páro, ele bate em mim. TUM! O sentimento. Parece com um tédio profundo. E, talvez, seja o motivo pelo qual eu tenho vontade de beber todos os dias. "O que está acontecendo comigo?", eu pergunto em vão. Eu não sei o que está acontecendo comigo.

É uma coisa boa virar um ser único? Ser uma personalidade integrada? A Estrela central do nosso sistema é uma das poucas que não possui nenhuma companheira orbitando em volta. Quase todas as outras estrelas têm. Seria esse o carma da nossa existência nesse planeta, refletir uma estrela solitária? Ter que aprender a amar a nós mesmos, independente se as outras estrelas têm uma companheira? É a nossa sina ser um centro, um ponto único no Universo?

Me encontro incapacitada de sair e conquistar, pois não quero me inserir em nenhum tipo de padrão - and the Gods know this is crazy O.o! preestabelecido de sucesso. Ou qualquer outro. Estou quase fracassando para poder criar uma nova arte, feita através da linha da vida, a minha própria vida com as minhas marcas de alma, fora das obrigações de "conseguir". Analisando, carinhosamente, a forte possibilidade de "não ser tudo aquilo que sonharam para mim", nem "tudo aquilo que eu sempre sonhei ser".

A conversa listrada é aquela que não segue as linhas do caderno. Ela atravessa a página, porque está atravessada na garganta, indo contra a imposição das linhas preestabelecidas. O espaço destinado à escrita está lá, e eu querendo ter uma conversa séria comigo mesma, pensei que não podia obedecer aquilo. Até o caderno dita como devo conversar comigo mesma, se quiser escrever, preciso seguir os espacinhos que foram feitos para facilitar a minha vida, espacinhos que não foram pensados por mim, foram mastigados e entregues prontos. Padrões, que foram feitos para quê? Por que me incomodam tanto?

O que seria de mim se eu fosse uma listra como qualquer outra, impressa em qualquer uma das 323 páginas desse caderno? Imagina se meu destino fosse ser uma listra e NEM ASSIM eu conseguisse satisfazer alguém e completar o meu destino, porque bem na página em que eu estivesse impressa, uma pessoa com sono e sem vontades teria resolvido que, logo ali, na minha vez, não escreveria entre as linhas, mas sim, contra elas. Essa é bem a cara do meu destino. Ser uma das linhas dessa página fora de ordem, de alguém que resolveu escrever fora da linha. Fim para mim.

domingo, novembro 16, 2008

Agenda

Segunda-feira
Uma cereja podre com uma pobre alma e um triste fim, ao chão da rua suja de água de peixe do fim da feira.

Terça-feira
Cães passaram, cheiraram, pessoas chutaram... Vermes nasceram. Um passarinho veio e fez cocô em cima, o que alimentou ainda mais os vermes, ajudando a acabar com a cereja.

Quarta-feira
O caroço estava à mostra. A pele aparecia em uma das metades, já meio derretida, já meio irreconhecível, já não mais cereja, já não mais vermelha. Cor de apodrecida com poeira de rua.
Choveu.

Quinta-feira
Os lixeiros varream o caroço, que foi a única coisa que sobrou.

Sexta-feira
Não mais existiu.

Sábado
Não mais existiu.

Domingo
Não mais existiu.
.
.
.

Somente o necessário

Fale com ela somente o necessário. Ela está ali, naquele canto. Aquela sombra encolhida: é ela. Aproxime-se lentamente, mas vá avisando da porta que está indo vê-la. Sem cuidado, ela some. Ela está ali, precisa ir logo; vá rápido, mas sem pressa. Esqueça seu nome, esqueça do seu tamanho, da sua cor, esqueça as suas lembranças e vá apenas falar o necessário. Sabe qual é uma boa idéia? Tentar pegá-la no colo, no seu colo quente. Tente abraçá-la. Ela pode tentar fugir, ou vai ficar com medo da sua atitude. Talvez ela nunca tenha sido abraçada. Mas não espere reações, quem sabe ela já não está morta? Espero que não, que ainda existam chances. Tente reverter a sua situação, mas não tente se explicar nem peça desculpas. Seja sincero. Perceba que sem ela você não seria nada e, no entanto, ela está naquele quarto escuro, trancafiada, enquanto você sai pelo mundo e brilha. Enquanto ela se encolhe e treme, calando o próprio desespero, você usa sua voz para dar risadas e agradecer elogios. Perceba a diferença entre vocês. No entanto, sem ela, você não seria nada. Perceba quem é você agora. Nada. Nada. Nada para sempre quatro vezes ao quadrado, que somados, nem chegam a dar um inteiro. Viu quantos caralhos? Ela com certeza. Todas as gotas de esperma que fizeram chover lágrimas em cima das pessoas. E as lágrimas eram vermelhas, é claro. Perceba. Tente sentir o que ela sente. A vergonha, o medo, o ódio. Ela treme e você também. Agora você é ela. Escurraçado do próprio mundo, tente senti-se naquela pele, naquele chão frio, naquele canto gelado, naquele quarto escuro e com uma única janela, naquele chão empoeirado, naquele quarto sem móveis, naquela vida igual a sempre. Milênios de idade. Tente senti-la. Você agora é ela.

sábado, novembro 15, 2008

Vrischika - o escorpião

Força da consciência. Consciência forte. Tanto faz. No entanto, perceba: não significam a mesma coisa. São dois radicais; um significa força e o outro, consciência. Se a tradução for "força da consciência", indica o tipo de poder e de força que carrega o escorpião; não é força bruta, não é física. É algum tipo de força interna. Mas se for "consciência forte", indica também o tipo de vida interna que esse signo leva. Signo fixo, tende a estagnar nas suas emoções, não se mexe, não muda para poder examinar e exaurir cada questão, cada segundo da sua vida. Disseca a vida até o enxofre, resseca até o carvão. Transforma. A missão cármica para evoluir: abrir mão das memórias emocionais, dessa e de outras vidas. A astróloga védica disse isso, e disse que as marcas trazidas por escorpião são como cicatrizes na alma. As marcas são claras, as memórias também. Traições, mortes e muitas perdas que ainda ecoam nessa vida. Pois é, eu sou Vrischika. Agora, tudo se explica. A minha relação com a vida, a presença sempre forte de escorpião por trás dos panos... Agora tenho em mente: sou eu. Eu trazia isso comigo, agora vesti a armadura com o ferrão. O poder é meu, a insegurança também. Quando tudo fica difícil, abro mão. É assim que escorpião se move, ele abandona. Desiste. É a única ação possível dentro d'água. Você não tenta se segurar a nada, você deixa correr. É isso que preciso aprender. Deixar a água levar o que eu não consigo segurar, e não ficar com essas coisas marcadas dentro de mim para sempre.

Se expor ou não se expor, eis a questão.

Subi a montanha, estava nublado. Porém, fazia calor. Sem proteção e sem aviso, levei na bolsa todas as minhas questões, e fui arrastando meu peso redondo de ferro até lá em cima. Quando cheguei lá, o tempo abriu, e eu olhei o sol de frente. Queimei a cara. Peguei uma pedra e quebrei a corrente. Cuspi as questões no chão. Os gaviões ficaram por perto. Os urubus não ousaram. Esmaguei alguns poucos insetos, aqueles mais intrusos. Conversei com a minha cara metade, com a minha metade sem cara, com o meu choro. Abracei o tronco retorcido de uma árvore pequena, que tinha umas coisas esculpidas nele. Fiz xixi no matinho. Fiz o eco repetir aquilo que eu não queria dizer, mas precisava escutar para que virasse verdade. Pois é, você morreu. Mais um passado na minha vida. Vários "vocês" que viraram história foram deixados lá em cima daquele morro. Eu morro também. Mas eu não estava sozinha. No alto da montanha, podia observar a cidade lá embaixo, tão caótica, tão barulhenta, tão mal construída e tão feia, como eu, naquele momento. Meu cabelo ressecado e desgrenhado, a boca seca, o interior tumultuado, os pássaros cantando... O corpo sujo de terra e a cara queimada. Porque eu não importava, porque a vida daqueles pássaros continuava como que em qualquer dia, e eu ali, o diferente, um invasor tão pequeno que não importava. Tentei imitar o som dos bem-te-vi. Acabei virando um macaco. Eu virei um macaco. Ficam todas as marcas.
Agora, estou trocando de pele.

Meus dias de fracasso

Fracasso. Abraçar o Fracasso. Digo para ele: "agora, sou sua amiga. pode vir comigo". E vamos, de mãos dadas; um tropeço aqui, um empurrãozinho ali. Discutimos. Eu quero vencer. Mas ele me derruba. Eu quero subir, ele impede. Eu quero esbanjar, mas ele tira as oportunidades. Viramos amantes. Eu quero sair com meus amigos, mas meus amigos não me procuram. Todos os telefones estão fora de área. Apenas o Fracasso está disponível, e ele atende. Ele sempre vem quando eu não chamo. Mas sempre sei quando ele está para chegar. Sempre há chances de que ele venha, quando eu tenho expectativas. Eu espero. E, no fim, ele aparece. Sempre perto da Frustração, eles são muito amigos. Fico com ciúmes. Queria o Fracasso só para mim. Eles sugeriram um ménage. Fizemos. Eu, a Frustração e o Fracasso. Combinação muito atraente. Porém, fadada a não dar certo. Ainda bem. Ainda bem que minhas amizades são cíclicas. Assim, posso saber que ali na frente encontrarei o Sucesso de mãos dadas com a Fortuna, e eles também vão querer ser meus amantes. Deixarei... Quem sou eu para recusar sexo com a vida?

terça-feira, novembro 04, 2008

Quadro negro de carne

Risca-se com a gilete, abrindo cortes dos quais se orgulha, escreve frases na própria pele que possam revelar o seu interior. Deixa sair a verdade da vida, que é o sangue, que faz dos desenhos esculpidos ensinamentos para quem quiser ver e aprender. Esculturas líquidas. Tudo o que é escrito no quadro negro de carne é escrito com sangue e, portanto, é escrito com verdade. A crueldade com a própria pele é sentida como um carinho na própria alma; a dor ameniza o tumulto e a raiva, e as mensagens são generosidades sem tamanho aos outros vivos. Basta ter olhos para apreciar não a forma das obras, mas a alma do artista. É preciso ser um bom observador para apreciar a complexidade das pessoas. É preciso ter a coragem de um leão para fazer do próprio corpo uma cartilha.

A extensão da mentira

É mentira que a mentira tem pernas curtas. As mentiras têm pernas extensas, e correm quilômetros. Todos os filmes que começam com uma mentirinha de nada que vai virando uma bola de neve são baseados em fatos reais: a mentira embola. E vira uma verdade extensa. Um tapete de muitos e muitos metros, cheios de detalhes tecidos e de pessoas entremeadas. Quanto mais pessoas participam da mentira, maior ela fica. E a rede da mentira passa a ser infinita. Mas o ruim de mentir é que dá um friozinho na barriga... Medo de que descubram a verdade. E então, mentir vicia. E, assim, mentir vira uma aventura, vivida por quem está fazendo algo que talvez não devesse, e que definitivamente não quer contar. Vira uma travessura, uma saborosa irresponsabilidade para um dia atípico. Essa é a parte um da mentira.
A parte dois é que "mentir deixa a alma preta", como dizia o meu pai, e então é impossível mentir impunemente...
O que eu estou chamando de mentira é o que você deveriam estar se perguntando. Não assumam tão rapidamente que já sabem, por causa do conceito de cada um sobre a mentira. Ou não pensem que eu seja uma pessoa compulsivamente mentirosa, porque isso seria fácil demais. A mentira é um construto, como qualquer outro, podemos chamar também de máscaras sociais.
E usá-las é um tanto quanto cansativo, dada a necessidade.
Estou cansada de mentir para o mundo. Ficar inventando desculpas que justifiquem minhas vontades fora de hora OU ter que responder a alguém que vem lhe cobrar uma posição.
Sou obrigada a inventar desculpas que contornem a situação sem entrar num conflito direto, quando talvez, eu devesse fazer exatamente isso. Olhar o bicho nos olhos e comê-lo vivo.
Atacar, latir. Arranhar o seu focinho.
Professoras universitárias me ligando para perguntar por que eu não fui fazer a prova? O proprietário do apartamento me colocando contra a parede pintada pra perguntar por que eu quero morar sozinha? O mundo cobra uma posição. E eu não defini a minha. Quer dizer, sei exatamente a minha posição, mas para que o mundo não entre em conflito direto comigo, esse mundo prático e institucional, fico desviando por outros caminhos.
Então vocês vêem como a mentira está profundamente arraigada dentro de nós, envolvendo nossos órgãos e vísceras. Puxar a linha da mentira e ir puxando, fazer sair pelas orelhas, pela boca ou até pelo umbigo... E vamos ver no que vai dar. Eu dou notícias. Quando eu parar de ficar pedindo desculpas por quem eu sou, ou inventando justificativas para os meus quereres. Eu dou notícias.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Objeto sujeito

Coisifique-me, me transforme em pedra, madeira, carvão, ouro, diamante ou planta. Me coloque na sua prateleira. Me transforme em lixo, reduza-me a cinzas. Julgue-me, olhe para mim de cima abaixo, meça o tamanho do meu nariz, da minha cabeça, olhos e orelhas. Olhe dentro da minha boca, examine os meus dentes. Me acaricie como se eu fosse seu animalzinho, faça eu rastejar e comer da sua mão. Me faça implorar por atenção, por um pouquinho do seu tempo. Dono da comida, que diz quando eu devo comer, quando eu devo dormir, quando eu devo existir.
Regule o ar que eu respiro, me lance um milhão de agonias, me traga estresse, faça meu coração bater em intervalos cada vez mais curtos. Me feche num quarto escuro. Me faça repetir todas as suas verdades, me faça entrar na sua pele seca e descascada e sentir as suas impressões de mundo. Faça eu calçar os seus sapatos apertados para correr quilômetros. Arranque os meus cílios para que eu não durma. Costure minhas pálpebras para que eu não veja nada. Amarre minha boca para que eu não reclame e prenda os meus braços para que eu não arranque cada pedacinho do seu corpo. Coisifique-me, me analise. Finja que somos todos desprovidos de emoções. Coloque tudo no seu contrato, e depois enfie no seu *.

sexta-feira, outubro 24, 2008

ESCOLA

Eu aprendi que você já nasce devendo, sem crédito nenhum.
E tem que se esfolar para conseguir quase nada,
e quando consegue, são quase sempre críticas de um dedo que prefere apontar que se tocar.
Somos ainda vassalos de senhores feudais,
e devemos agradecer pelo pão amassado pelo diabo. --"Cala a boca e come!", porque poderia ser nenhum.

E a revolução já começou, dentro de mim, já começou. Existem milhões de lutas, para andar pelos dias sem deixar me prender pelas mãos sujas, pelos famintos de alma. Mas essa guerra interna está me deixando doente e sem energia. E quanto mais dias vou ao mundo, menos energia tenho para a luta, quanto mais luto, menos alguém ganha, quanto mais perco, mais um dia a menos. Entende? Talvez seja de propósito. Talvez eu esteja mesmo buscando a morte. Talvez eu tenha plena consciência do alívio que ela trás. Talvez eu queira escolher. Talvez Rodrag estivesse certo. Talvez ele tenha se libertado da roda. "Talvezes" lutam dentro de mim. As células estão vivas; elas querem comer. Elas clamam pela vida.

Percebe: o que eu sei é que o tumulto que vejo aqui fora se iguala ao tumulto aqui dentro. Porque na escola não ensinam como lidar com esses trajetos? Quem vê nuvens, acordou nublado. Quem vê sol e amaldiçoa o astro, é porque está se queimando. O que está dentro é como o que está fora, o que está em cima é como o que está embaixo. Isso eles não ensinam na escola. A escola é uma bosta. A educação se perdeu tanto quanto o meu texto. E a escola é a instituição que perpetua a burrice. Ela copia e ensina a copiar, vide Estamira. E a Igreja também é uma escola, é a escola do demônio, porque ela é a religião dos homens e o inferno somos nós. Controle burro: não obrigada.

O que sai de valor desses lugares são as ovelhas desgarradas. Viva as ovelhas desgarradas.

Sofia

O cabelo é vermelho e preto. Como filha do Diabo. Minha mãe inferniza minhas manhãs e sai. Por todos os dias da minha vida, essa foi nossa rotina. O forró que o porteiro canta me acorda. Ele liga o som às alturas. O canto é desafinado como uma sirene. As panelas e pias de todas as cozinhas do condomínio se ampliam até chegar na minha janela. O cachorro do vizinho chora um choro estridente. Ele não pára. As crianças gritam, chamam pela mãe, brigam, gritam mais alto, quebram tudo. A mãe só vem para gritar, brigar, por causa do comportamento das crianças. A vizinha da casa de trás também grita com os cachorros. Ela é um dos cachorros. Ela late. O marido dela é mudo. Ela late. O marido dela deve ser surdo. Todos os outros vizinhos não são; entreolham-se das janelas, em silêncio. Por que contribuir com mais barulho? Há sempre um martelo, uma serra, em algum lugar por perto, sempre uma bateção, sempre uma briga de família, sempre uma obra durante os dias. Ainda no sol do meio-dia, tudo fica mais difícil. Se ficar em casa é não ter sossego, então acostuma-se com a fluência dos pensamentos e a buzina dos carros, o freio dos ônibus, a falação constante e inconsciente. A televisão ligada junto com a panela de pressão. A Ana Maria Braga, aquele papagaio agudo, tudo vai na panela de pressão e na comida que vai alimentar aquela casa em poucas horas. Tudo isso me causa um desespero e agonia. O Jesus na cruz está preso na porta de casa; é uma casa cristã. Engraçado como as pessoas cristãs gostam de infernizar os outros. Sempre criando infernos pessoais, sempre pedindo a Deus, nas filas do metrô, do banco... Sempre contribuindo para as coisas infernais do mundo, sempre cuspindo suas interjeições e os seus beijos pros santos. Meditação, ioga... Blasfêmia! Razão para se fazer mais barulho. Antes houvesse apenas vazio.

segunda-feira, outubro 20, 2008

LÓGICA E INTUIÇÃO

O pragmatismo é um exercício constante para uma pessoa cujo mercúrio tem traços netunianos. Traduzindo: é necessária uma dose extra de atenção para realizar a comunicação de modo claro, objetivo e direto para uma pessoa que entende a linguagem como um conjunto de símbolos, nem todos eles verbais.
A linguagem verbal pode ser enfadonha e, muitas vezes, prefiro me abster dela. O silêncio me satisfaz por completo.
A comunicação para mim não se dá em trocas de teorias e opiniões, e sim muito mais em uma troca energética, mas encontro um sem número de pessoas incapazes de se comunicar nessa língua. Até eu mesma, que seria o mais natural para mim, muitas vezes me perco nas informações, devido ao tempo imerso na língua estrangeira (essa língua falada pelo mundo).
Encontrei o motivo central da minha luta atual entre o conhecimento teórico, mental, acadêmico e o conhecimento de mundo, sentido, absorvido: é o mercúrio netuniano me pedindo atenção, ao que realmente importa. Esses dois mundos importam. Porque eu preciso obter fluência na linguagem do mundo para que eu, do meu mundo, consiga me comunicar com todos aqueles que não são nativos da minha linguagem pessoal. Engraçado estar me formando em Tradução.
A informação que sai da boca das pessoas e a informação que obtenho a partir da vibração energética dos seus corpos, a posição dos membros, o movimento de mãos, pés e olhos são, muitas vezes, dissonantes. E eu tenho acesso às entrelinhas. Às vezes, nem o emissor da mensagem tem. Às vezes, percebo ansiedades e outros sentimentos ocupando a atenção daquele que está falando. Às vezes, percebo a barreira que certas pessoas colocam para se proteger, e vejo a força que várias armaduras têm. Muitas são eficazes. Eu mesma tenho as minhas. Devido a minha consciência sobre esses fatores, muitas vezes manipulo esses detalhes no meu corpo, levando a pessoa a uma dupla mensagem. Daí que ninguém sabe muito bem o que eu quis dizer com aquilo que eu disse, daí que muita gente desconfia. É o risco que eu corro ao jogar com a linguagem, que realmente pode ser uma faca de dois gumes. Assim como pode ser a proteção; ela pode ser adequada, mas nós as usamos em tempo integral. Agimos no mundo como se nos defendêssemos. Deixamos de trocar.
Abusamos da linguagem verbal e de seus signos, mas estamos trocando referenciais vazios.
-Eu demorei mais de dois meses pensando sobre o assunto para construir essa teoria.-
O que realmente importa na troca: energia. Deixar os sentimentos vazarem na comunicação. Falar exatamente de acordo com o que se sente. (= problema no mundo do "real".) Ter sensibilidade ao falar, claro, mas não conter a energia, deixá-la fluir. Manter a comunicação em aberto, em via dupla. Falar, mas querer escutar o outro, por inteiro, não somente as suas palavras. É um abraço de corpo inteiro, não só de rostos, não só de plexos solares.
Essa é a comunicação que eu procuro.
Por isso tenho preferido me comunicar através da música. É com ela que sinto a eficácia nesse tipo de comunicação. Os referenciais verbais podem ser tão frios e vazios, porque as pessoas retiram deles o conteúdo energético. Já na musicalidade, elas não têm muita escolha. Porque a música penetra, mesmo naqueles que se sentem protegidos, defendidos e ofendidos contra os gêneros musicais. A música causa o desarmamento ou o armamento, mas isso quer dizer que a pessoa escuta.
Voilá! Mensagem construída. Que alívio!
Boa semana.

domingo, outubro 19, 2008

A doença social dos "sem-paixão"

A doença social dos "sem-paixão" é um mal que ataca muita gente. É uma doença coletiva. Há pessoas fazendo de tudo para recuperar a paixão perdida; muitas ficam viciadas em crises, outras arrumam brigas, algumas fazem coisas perigosas, e tudo para reavivar "o morto". Mas a maioria acorda de manhã e vai trabalhar, volta para casa dia-após-dia, afirmando não sentir absolutamente nada, por nada nem por ninguém. Pessoas que estão em relacionamentos mas que não conseguem tempo hábil e energia para investir em surpresas e em iniciativas legais, estão sofrendo desse mal. E a cada dia a doença faz mais vítimas, mas não há previsão de cura. As causas são muitas e o tratamento é pessoal, apesar da doença ser social.

am I becoming so boring

ontem, sábado à noite, namorado em casa, preferiu ir dormir do que ficar acordado brigando comigo; foi um final de semana daqueles... fiquei sozinha acordada, assistindo à lista das 40 músicas mais importantes na história do metal, programa apresentado pelo sebastian bach... fui que fui, da quadragésima à primeira. o momento auge da noite: alice in chains estava na lista, e o jerry cantrell apareceu falando, ao lado de uma senhora inchada e morena, chamada mike inez. álcool, minha gente... e é, o tempo passa. poucas bandas apareceram duas vezes: judas priest, pantera, guns and roses, black sabbath, iron maiden, metallica... quem mais? na lista estavam ainda: def leppard, anthrax, skid row, twisted sisters, kiss, acdc, SEPULTURA, korn ("the best band EVER named after a veggetable" - pérola do sebastian), rage against... Ah, e uma banda que cantava "balls to the wall" (O.o). Enfim: nos embalos de sábado à noite. And my life has become so fucking boring to the viewers' eyes, but I had a good time.

-às vezes o bom humor precisa vir de uma guitarra distorcida.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Mini-conto

Estava cansada da sua vida até ali. Até que recebeu um telefonema, e sua vida mudou.

Re-presentando o passado

Oi vento quente, hum... Vem trazendo o passado. Sinto o cheiro do cloro da piscina do Tijuca. Os passos ensopados na sandália de plástico argentina e a prancha de isopor em baixo do braço dirigem-se para a Vovó Catarina, na Henry Ford. Empadão de queijo de domingo. Olhos vermelhos e irritados de cloro, roupa molhada, desconforto de calor e cansaço. Felicidade boba de um dia ensolarado num bairro conservador do Rio de Janeiro. Os mesmos morros, as mesmas cores ainda reinam. Os mesmos cheiros ainda aparecem, trazidos pelo vento.

terça-feira, setembro 23, 2008

Caroço de uva

Lá vai a menininha, dirigindo o seu carrinho... Querendo ser gente grande, achando que possui o seu mundinho. A janela está aberta. Vou oferecer o produto que ela vai comprar; de todas as frutas que vendo, oferecerei a uvinha sem caroço, vou ver o que ela fala. Coitadinha da menininha. Quantos anos será que ela tem? Não prendem seus pais por deixá-la dirigir sem ter idade para isso? Não comerá a fruta-do-conde, nem as minhas pêras. O que ela pode querer é a uvinha sem caroço. Mas que menininha mais amarguinha! Nem as minhas uvinhas ela quis comprar.

sábado, setembro 13, 2008

partindo da raiva

Lá vêm os seus tentáculos, se infiltrando em todos os espaços, tentáculos com espinhos, da bruxa do mar, se infiltrando e invadindo, todo o espaço que há, precisa ser dela. A bagunça, o caos, a estagnação... Tudo dela, mas quer que seja meu também. Insustentável. Completamente insustentável. Não há paz aqui. Ambiente intoxicante. Imundo, destroçado. Essa não é a minha casa.

lições do amor e da falta dele

Lições do amor: aprender é garantido.
Com o amor, ou com a falta dele.

Enquanto eu fico sentada aqui na minha cadeirinha filosofal, tomando esse sorvete, em algum lugar do mundo um tufão pode estar destruindo tudo. Esse nosso deus polêmico, amoral...
Que permite que eu me delicie, e enquanto gozo, enquanto sorrio, outras tantas pessoas sofrem e choram. E isso é equilíbrio(?).

Mas sinto-me desconectada das palavras escritas. Só tenho conseguido me comunicar cantando, tocando música.
*não consigo deixar de pensar que estamos, o tempo todo, passando uns por cima dos outros.

Existem mais lições do amor, garanto, mas todas elas são doídas e, para cada pessoa, uma experiência. No entanto, o sentimento de falta é de todos.

Estou sentindo uma inclinação para escrever sobre o mal, qualquer dia desses...

segunda-feira, setembro 01, 2008

segredo

Minha vida

é uma besteira

uma poeira cósmica

eu gozo quando acordo........... eu morro quando acordo............................... todos os dias quando acordo, eu prefiro expirar do que inspirar.

eu prefiro sempre me esvaziar do que me encher. estou sempre esperando, mesmo que em movimento....................................... eu odeio quando o trânsito pára.

O sopro de Hécate

Portal da sala, corredor de vento, vento frio sopra, soprando, levando meus cabelos, beijando minha face, arrepiando meus pêlos. Lembro desse frio, lembro desse gozo na dor, no passado, nas feridas antigas e abertas, nas águas paradas. Percebo todos os filhos que nunca nasceram, não só meus, mas de todas as mulheres, e que ficaram todos dentro da minha barriga e esse vento é quando eles retornam, e pairam ao meu redor. A presença das almas, de tudo o que já passou mas que eu me recuso a deixar ir, a presença de todos os amados que nunca puderam ser carregados próximos ao coração. O leite que nunca jorrou não jorrará também durante o inverno. Nada vai florescer pelos próximos dias. Ela engoliu uma única semente. Foi só o que foi preciso. A semente que não explodiu, a fez viver no inferno. A semente que não germinou, a deixou presa e fez com que a terra toda secasse. Todos os sentimentos não passam da garganta. Tudo mais ficou intragável. Todas as sementes geradas pela imaginação fecunda não pesariam tanto. É um espinho de amor, preso ao coração, que a faz sangrar eternamente enquanto os dias passam e o sol ainda existe. E ela só vive à noite, pois é quando o frio aumenta que o peso diminui, e que ela consegue respirar.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Hoje eu vou matar aula

Hoje eu vou matar aula. Tenho que entregar o artigo final da iniciação científica, já que a apresentação é amanhã e só hoje, véspera, é que terminei o bendito. Terminei não; desisti dele.
Parece chato e foi muito chato. Imagina escrever e reescrever essa chatice por um ano! Mas eu consegui fazer isso de manhã, e daria tempo de ir, só que não quis. Adoro usar as minhas desculpas.
Fato é que se eu não for à aula, não vou encontrar a Bárbara, e por uma coincidência incrível como no blog letra "J" (Fim de Tarde), eu adicionei o blog dela à lista de blogs à direita. Nos conhecemos há algum tempo; ela namorou um amigo meu de infância; ela é de sagitário, que é meu ascendente, e foi parar lá na minha faculdade. Igualzinho como no conto do Jhonas. Só que nunca mais paramos para conversar. Ela senta lá na frente e participa das aulas, enquanto eu sento lá atrás e quero morrer.

Mas amanhã, depois da minha provação iniciática (foi mais fácil entrar dentro da caverna escura lá na Floresta da Tijuca), vou sentir uma certa leveza novamente, e um gostinho de LIBERDADE. Iuhu para mim, iuhu para nós.

sábado, agosto 09, 2008

A Busca


Quando pararmos de procurar o que já sabemos não existir, quando estivermos *absolutamente-convencidos-inteiramente* de que aquilo que tanto queremos não é possível, no que a vida se transformará? Quando pararmos de procurar a completude e a plena satisfação, não por cansaço, mas por convencimento, estaremos olhando para o quê?

Quando (simplificando) homens e mulheres pararem de procurar aquele "special someone", o que estarão fazendo? O que estarão buscando? No que estarão empregando o seu tempo?

Olha, ficamos submersos em TRABALHO (e eu coloquei a caixa-alta para ser uma caixa mesmo, cúbica, na qual nos encaixamos), e damos às nossas vidas esses dois significados: produção ou busca. É mais fácil seguir com o trabalho. É cansativo e sem sentido, mas é mais fácil porque, dia após dia, acordamos e fazemos, sem pensar. Mas mesmo sabendo que a completude dada por outra pessoa não existe, insistimos em continuar procurando. A emoção não obedece ao que já sabemos. Ela anseia e talvez até se alimente da dor provocada pela frustração (everytime) da mentira que acreditamos de que alguém nos completaria. Nossas avós juram que no tempo delas dava certo. Estou muito enfática? Não é essa a busca secreta de todo ser humano? Uma fusão satisfatória com qualquer coisa?

Eu dou voltas com a língua e com os pensamentos, porque os sentimentos estão em mim, me movendo. Eu acordo todos os dias movida por essa grande insatisfação e pelo gosto na dor de ser frustrada, e, por isso, me coloco a buscar, todos os dias, por algum segundinho de satisfação, mesmo que na dor.

Que os outros pássaros cantem canções diferentes da minha, ao menos. Que nos outros céus haja arco-íris. Que outros corações estejam cheios de sangue, pulsando em uma só direção. Que nem todos os destinos sejam esse da frustração e insatisfação... Mas será que mesmo isso vai se provar uma mentira?

Indicador apontou o passado


Lá se foi minha unha preta, ensangüentada, sangue duro feito pedra, sangue de quem vive na cidade, de concreto, sangue de piche. Lá se foi, mas eu a guardei, enroladinha em uma gase. Tudo o que é meu ou que um dia foi, símbolo de alguma coisa importante, eu tenho mania de tacar no fogo. Mas um fogo cerimonial. Sabe? Por exemplo, fotos de pessoas, pedaços meus, essas coisas. Coloco tudo no fogo. O fogo é uma excelente arma contra o fogo, sabe? É verdade.

O que mais que é verdade? Muita gente estava achando o meu dedo no-jen-to. Não sei também como; me pergunto. Esse dedo, apesar de ter sido resultado de uma intensa dor acidental e, no entanto, freudiana, estava me trazendo um orgulho absurdo. A única pessoa malhada como um gato. E, de uns tempos pra cá, tinha aparecido um buraquinho nela. Dá pra ver, na foto, como se fosse o olho branco do feijão, dá pra ver? Aquilo é a minha outra unha crescendo por baixo.

Pois é, os ciclos naturais... Estava esperando que ela caísse, mas chegou um dia que metade dela estava livre, e a outra metade presa, e eu fui chamada a tomar uma decisão: "escuta, você prefere ser lançada ao acaso e à sua falta de cuidado consigo mesma e sangrar desavisadamente, ao procurar algo dentro da bolsa, ou você prefere ir consciente a um médico e dar um jeito nisso"? Eu resolvi dar um jeito nisso. Continuo achando que eu deveria ter colocado apenas um band-aid. Resolveria o problema temporário e deixaria o fluxo natural agir. Mas eu nunca fui boa em deixar as coisas simplesmente acontecerem.

Ainda essa semana, estava perguntando a uma amiga por que nós gastamos um tempo enorme e tanta energia planejando coisas para sempre fazer diferente do que planejamos? É como se precisássemos da segurança do plano para poder ser a força contestadora, e ir contra si mesmo. É muito louco isso. Uma força rebelde que perde tempo tentando se organizar, se planejar... Incrível perda de tempo. Mas incrível mesmo, de arrancar sorrisos dos nossos rostos, de tremenda loucura. Eu não sei mais do que estou escrevendo. Baixei o cd da Linda Perry, e me deu vontade de escrever. O ponto alto do meu dia hoje foi: ir ao ambulatório cuidar do meu dedo, que eu achei que estivesse inflamando. A falta de inflamação no coração com relação à minha própria vida, aparece no dedo que indica e aponta os caminhos, não é mesmo? Como seria diferente. Aí, antibiótico. Aí, curativo. A ferida se fecha para a vida, para o novo.

Mas não foi para vir o novo que eu tomei a decisão de arrancar o velho?

terça-feira, julho 29, 2008

Yngwie Malmsteen

Achei uma fita com o "The Seventh Sign" gravado, com o encarte escrito na letra de mão de um ex-namoradinho, guitarrista (duh). Cabeludo (DUH!). Juro que pensei em jogar fora; mas antes eu coloquei no som. Estava bem na música "The Seventh Sign", ".... we are making Lucifer so proud..." Haha, muito bom! Vou contar um segredo: eu tenho esse cd, e gosto dele. Então, não faria diferença ficar ou não com a fita, a não ser pelo fato de que ela me levou de volta a essa época de aproximadamente 12 anos atrás. Quando eu era uma criança das trevas, e andava pelas ruas acreditando que era às 18h que meu corpo acordava, e esperava um vampiro vir bater na minha janela, me trazendo a vida eterna. Eu queria a imortalidade através do laço de sangue, sempre acreditei nisso quando era mais nova. E a fita me fez lembrar das noites em que a breguice dos acordes piegas do Malmsteen eram perfeitamente cabíveis dentro de um quarto escuro, no meio de uma pegação leve com o namoradinho, aos 14 anos. Aquele "rush" de estar apaixonadinha, e começando a descobrir as coisas da vida, aqueles solos de guitarra misturados com beijos molhados e quentes, nas noites de verão do Rio. E depois nas de inverno. Essa sensação não volta. Muitas esperanças estavam à frente. Pareciam estar. E as camisetas pretas, de banda, e o pessoal de banda que andava com a gente. E o cheiro das amendoeiras da Tijuca, e as lojas de cd, e as horas gastas andando de um lado para o outro. E os ensaios. Muito legal. Me deu saudades.

sexta-feira, julho 04, 2008

Os pensamentos e o corpo pesam

Antes que todos pensem que sou infeliz no amor, quero deixar uma coisa bem clara: não sou. Sofri um pouco com a morte do amor romântico, mas isso já tem tempo e foi um rito de passagem que levou à uma percepção bem legal; a única completude que posso procurar (e talvez, até encontrar) é comigo mesma. E essa fusão com esse "outro" que tanto procuramos, é uma fusão para curar a nossa fragmentação interna. Não sei se, de fato, essa junção dos pedaços é mesmo possível. Nossa sociedade reflete o oposto; somos fragmentados e múltiplos, e talvez that is the way it should be. You know? E então, a procura não seria por juntar os pedaços e nos tornarmos unificados, mas aceitar a multiplicidade e aprender a trabalhar com ela. Em todos os níveis.

Minha faxineira estava aqui dizendo que a bíblia prevê o resfriamento do amor, que é um dos sinais do fim dos tempos. Realmente, parece que o amor tem escapado mais vezes do nosso mundo para outros... Mas ele ainda está presente. Mesmo que, cada vez mais, existam casos de mães que matam seus bebês, e outros casos, igualmente horripilantes. O amor ainda está por aqui. Escasso? Não sei. Como escrevi há alguns posts abaixo, talvez seja a nossa percepção de amor que mudou; talvez ele use máscaras agora. Talvez ele seja múltiplo e fragmentado, de forma a podermos encontrar um pedacinho de amor a cada esquina, no cantinho da rua, jogado fora, abandonado, porque as pessoas não o reconheceram como tal.

Pensar enlouquece? Eu acho que pensar pesa. E cansa muito essa exigência de produção acadêmica e profissional. Apesar de internamente eu ser muitas, em corpo sou uma só e esse corpo se cansa de ter que se carregar para atividades múltiplas, que exigem que eu me entregue completamente, louca e apaixonada, a cada uma delas. Como de amor eu vim parar em produção acadêmica eu não sei. Mas é uma questão quente no momento. A da produção acadêmica. Estou em vias de fechar a pesquisa de iniciação científica; de férias das aulas, mas iniciando uma nova etapa a partir de segunda-feira. Que idéia minha pegar estágio nas férias. "Bem-vinda à vida adulta, Alexandra", escuto Saturno dizendo. Saturnão... Eu sei que é você por trás disso tudo.

quinta-feira, julho 03, 2008

Fora de área

Então... Pensei em várias coisas para escrever nesse post. O Fluminense perdeu ontem --quando eu, que nem gosto de futebol, tinha acabado de decidir que era tricolor (já que parece muito mais fácil responder "Fluminense!" ao invés de ficar explicando que não tenho time, porque não curto futebol, nheé-nhé-nhé etc). E "fora de área" até invoca esse assunto, mas eu quero falar mesmo sobre a minha conta de telefone celular. Cada mês vem mais alta. Eu AMO dizer os meus passos aos meus queridíssimos amigos, amo sentir o cheirinho de árvores da minha rua e ligar para minha vovozinha para compartilhar isso com ela; enviar mil beijos de bom dia quando acordo pensando em alguém e ligar pro namorado de 30 em 30 minutos minutos para conversar sobre algo importantíssimo, mesmo que passageiro...

Mas minha gente, não vou poder mais! O que é a CLARO me cobrando R$146, 02 para eu manter a minha vida social e o meu fluxo de comunicação com as pessoas que eu amo?!

Meus amigos valem muito mais, mas a Claro não vale um tostão. E mesmo que valesse, eu não tenho como pagar tanto. E ODEIO pagar por serviços tão mal prestados!

Gente... E tem outra coisa. Quem a revista Playboy acha que é, para ficar oferecendo cachês de um milhão de reais para as mulheres pousarem nuas? (É que sem querer eu vi a Luísa Tomé falando sobre isso hoje no programa daquela top model, Ana "Homem-soluço/chupão", enquanto eu esperava impaciente na sala da ultrassonografia que eu ia fazer do meu dedo machucado.) Eu juro que estava tentando ler "When is a translation NOT a translation", da Susan Bassnett, para a minha reunião de pesquisa, mas a tv estava em CIMA da minha cabeça. Quase que literalmente. E isso foi uma coisa que me indignou também. Por mais que uma mulher tenha princípios e morais muito bem estabelecidos, se ela for FODIDA de grana, como vai negar uma oportunidade assim? "Olha, minha filha... Você não precisa fazer muito, tá? Fica parada enquanto a gente penteia os seus pentelhos, passa um batonzinho e faz uns bicos bem sexy, enquanto a gente conserta seu corpo e deixa vocÊ linda!" - por um milhão de reais (?????????)!

1) É só um corpo nu. 2) Oferaçam esse dinheiro para o meu porteiro pousar nu! Ele precisa dessa grana, como muitas outras pessoas, precisam. E aposto que elas trabalhariam por isso! 3) Caralho, a mulher é mesmo reduzida a NADA em todas as sociedades. E isso me mata.

quarta-feira, junho 25, 2008

Vezes perfeitas

"O corpo envelhece", pensei. "Por que não somos feitos de outro material, como plástico?" Mas depois, me dei conta que em outros materiais, alguns danos são para sempre. Imaginem o rosto de plástico em contato acidental com fogo ou ácido. Mas depois, percebi que nosso rosto também derreteria. Só que nossos machucados cicatrizam. E essa foi a pólvora da semana: a percepção de que nosso corpo se refaz. Não só as lagartixas possuem esse dom maravilhoso, nós também. E (quase) todas as nossas células se reconstituem. E isso não é maravilhoso? Eu achei. Toda a vida se renova, o tempo todo, e a gente nem percebe. Somos imortais, nesse sentido. A vida achou um jeito de fazer a alma viver mil vezes; o corpo morre, mas depois ele renasce. Quantas vezes for preciso. Quantas vezes forem perfeitas. Nossos pais morrem, mas vivem através de nós, das nossas células. A vida parece que começa e acaba, mas ela é um ciclo perpétuo. Achei isso tudo maravilhoso. Não tenho motivos para não ser feliz; o ser infeliz que havia, morreu. Hoje, sou alma em um corpo novo. Eu renasci.

sexta-feira, junho 20, 2008

Mais de um amor


Com relação ao amor, temos um problema de tradução que levou a um problema de idealização do amor e, por consequência, da sua prática. Falamos em amor e logo pensamos no amor "homem-mulher". Só há uma palavra para amor, mas existem vários tipos dele (fraterno, carnal, materno, incondicional, etc). E se existem vários tipos de amor, é muitíssimo provável que também existam várias formas de amar. E como expressar esses vários tipos de amor e as várias formas de amar nas culturas onde só existe uma palavra para amor? A paixão, mais um tipo de amar, fica parecendo uma rival, uma antagonista. Onde há paixão, não há amor. Mas como? É só mais uma forma de amar.


E isso leva a várias outras questões... Por que amor entre homem e mulher, se existe amor entre homem e homem, mulher e mulher, mulher/homem e criança, mulher/homem e grupo, mulher/homem e deus, etc?


Os gregos sabiam mais? Porque tinham várias formas/palavras para definir o amor, também tinham, explicitamente, mais formas de amar, que não restringiam o amor a um só papel social?

Qualquer visita à Wiki mostra que o amor pode ser Eros, Pragma, Philia, Storge, Agapé, etc.


Quanto mais maneiras de dizê-lo, mais existe a sua presença, mais a possibilidade de exercê-lo. E se alguém diz que me ama, a que forma de amor devo atribuir esse amor? Hoje eu pensei que o amor não existe, quando restringido. Que amor institucionalizado é amor morto. Que restringir o amor é um erro, um defeito nosso. Por isso tanta falta de amor na nossa sociedade, por nós mesmos e pelo próximo. Que a igreja teve um papel horrível na divulgação do amor através da bíblia. Mas aí percebi que existe vida dentro do vaso de planta, dentro do aquário, dentro dos apartamentos, dentro da cidade, dentro do planeta.


Ainda assim penso que restringir o amor é pecado. Mas não conseguimos conceber a idéia do amor livre, do amor incondicional, do amor por todos os seres por igual.


Ainda queremos eleger um único ser amado, como símbolo de todos os tipos de amores possíveis, e forçar a manifestação de todos os seus tipos em uma só pessoa, mesmo com todas as infinitas configurações existentes; fiquei triste. Por eu mesma, sabendo disso, não conseguir exercer o amor infinito, o amor livre, por todas as coisas, por todos os seres (mesmo aqueles que machucam intencionalmente), pelo sexo fora do casamento, pelos meus irmãos e irmãs, pelo diferente, pelas bênçãos e pelos cânceres.


O amor não pode ser restringido. O amor deve ser liberado. O amor por si próprio, o amor aos deuses, o amor à natureza, o amor pelas pessoas. Deve ser compartilhado. E como abrir nossas compotas cerebrais para receber todo esse amor que existe à nossa volta, quando estamos tão acostumados a nos fechar para ele?

A parede de gelo

O quanto o fogo de uma vela pode derreter de uma parede de gelo? O fogo que carrego em mim, que antes parecia queimar com uma força que poderia incendiar um prédio inteiro, agora parece ser carregado do lado de fora, como dependente de cera e pavio, sujeito a se extinguir ao menor sinal de vento. E isso tudo parece tão errado. Pareço sempre estar ao contrário. Existe uma rebeldia inexplicável, que faz com que eu me recuse a encarar o medo do frio embaixo de neve e árvores ressecadas. Não me vejo passeando perto de nenhum lago congelado, sob a chuva, perto de um cenário todo branco, sozinha com um piano, mas sozinha no topo de uma montanha, com toda a vida aparecendo lá embaixo, rios e animais correndo, e eu observando. Toda a vida passa, e o mais próximo de mim que existe é a pedra sobre a qual me estendo. E faz sol e o céu é azul.


E existe a percepção de vida, e existe a sensação de pertencimento quando estou no vazio, mas quando me incluo e me relaciono, parece existir uma parede de gelo que me separa de todas as situações e pessoas, e faz com que eu esteja posicionada acima de todas as coisas. Rapidamente me volto para a posição de proteção; o alto da pedra. Para o alto da pedra, para a reaproximação com as importâncias da vida. Se ao menos eu fizesse parte delas... E me vejo assim, inclusa no sistema, ao estar sozinha e tão perto da imensidão. É entre as partes pequenas e segmentadas da vida que sinto perder o controle, que me perco de mim mesma e fico tentando trazer esse sentimento de santidade para perto da vida de todo dia. Aquele fogo que antes só queimava no meu coração, agora está nas minhas mãos e é visível. E não pode derreter paredes de gelo, mas pode ser visto como uma opção ao frio. E faz com que eu me lembre das importâncias da vida. Mesmo que eu esteja sozinha, o sopro de vida sempre estará comigo. E com tudo aquilo que me cerca. Mesmo que eu não saiba lidar com isso e saber que, no fim das contas, estar sozinho é uma coisa boa.


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quinta-feira, junho 19, 2008

El corazón de dios




O coração de deus. Foi o que nos falaram. Velas e flores brancas, altares pessoais, horas sentados em roda. Madrugada fria de vento quente. Muito vento que balançava a copa das árvores ao redor do clarão e fazia barulho de tzunami. Muito barulho, muito vento, muito fogo. Cântico xamânico, mais de 8 horas seguidas. Velhinho pequeno, mas enormemente forte. Ele e sua Ana. Insetos em alguns momentos. Começaram a aparecer no ritual. Na hora da limpeza mais pesada, baratas voadoras. Com suas anteninhas repugnantes, passeavam por alguns altares. Felizmente, respeitaram o meu. Talvez por conta das minhas duas flores, que posicionei como dois bastões no altar, em cima do meu diário mágico. Muitas fotos embaixo. Lua crescente, quase cheia, e lua em escorpião. Seria motivo para um ritual intenso. Intenso sim, porém, não me levou para dentro. Serviram a medicina. Provei. Tinha gosto de chá verde, concentradíssimo. Não consegui tomar muito mais vezes. Repeti, mas foi tudo. Serviram mais de oito. Mas era mesmo uma medicina. Abertura para a limpeza. Por que um ritual de limpeza? Eu gostaria mais de celebrar o grande espírito. Não me considerava suja. E não devia estar muito mesmo, porque as baratas pularam o meu altar, como eu disse. Experiência muito interessante. Índios da tribo Huichol, México. A flor era para colocar no lugar do coração, para fechar as feridas. As minhas eram duas: uma angélica e uma rosa branca, tipo exportação. "El corazón de dios. Ponga em tu altar", foi o que ouvi, algo assim... Eu vi muitas coisas. Além dos insetos e das coisas cuspidas pelo marakame -ah sim, porque ele sugava a energia do altar, da sua aura, e das palmas das suas mãos durante a limpeza, às vezes sugando também dos olhos e da boca- e cuspia coisas depois. Em algumas vezes, com mais nojo do que noutras, e ia para o mato banir. Na maioria das vezes, cuspia pedras de diferentes cores e tamanhos, mas também podia cuspir insetos e pedaços de objetos. Vi se repetindo as minhas questões movidas pelo inconsciente, agora mais claras. Desconfiança, sensação de não-pertencimento a grupos e situações, crítica ferrenha, etc.

Nenhuma solução, só apontamentos. Por sinal, estou sem apontar nada por esses dias. Meu indicador esquerdo está em um retiro espiritual para cura, envolvido em algodão com arnica. Uma roda da medicina verde. Ele foi, e espero que, ao voltar, me ajude a não mais apontar, mas indicar, talvez, caminhos melhores. Não é? Para mim mesma e meus arredores. Prendi entre as portas deslizantes do armário, entre as partes de alumínio, dois dias antes do ritual. Tadinho... Agora que ficou feio, está recebendo mais amor do que NUNCA. De repente, antes de clarear (lá para as 4 da manhã), o cântico parou: "buenos dias!", ele disse. "Estoy mui cansado! Cantem, cantem..." E começaram a bater nos tambores e chocalhos, cantando cânticos xamânicos. E assim amanhecemos. Sol lindo que nasceu. O dia acordou rosinha. E tinha cachoeirinha depois. E num altar vizinho, repousavam sobre uma carta de tarô chamada "união"; uma mariposa rosa e uma esperança grande.

quinta-feira, junho 12, 2008

Valentino



Hoje parece o dia perfeito para eu escrever isso, Valentino. "Ó querido, ó querido, ó querido Valentino". . . Hoje parece mesmo o dia perfeito, porque vou escrever antes de encontrar você. Vamos nos cruzar por aí, naquele local que combinamos, naquela hora marcada... Meu Valentino. Anda por aí, sozinho. Mas é muito pontual. Vai chegar na hora certa. Está no trabalho, claro. Porque não quero amor numa cabana. Viver de "sol e sal" no me gusta. Mas se lembrou de fazer a barba. E levou o desodorante, para ir me encontrar direto depois do trabalho. E tomou banho antes de sair de casa, isso com certeza! Meu Valentino... Comprou o presente com 15 dias de antecedência, porque sabia que não teria tempo depois; ele se preocupou há tempo. E como sabe exatamente o que eu gosto, ou gosta do que se parece comigo (das coisas que são bonitas), foi muito fácil para ele encontrar mil presentes, dos quais escolheu um para a data. Só para que eu lembre do quanto ele me ama. E levou o perfume que eu gosto para o trabalho também. E os meus presentes. Ah, e ele planejou uma surpresa! Mas antes, vamos jantar em um restaurante bem gostoso. Ainda bem que ele detesta, como eu, aquelas declarações feitas com auto-falante e bolas coloridas... Que vêm em automóveis, sabe? E uma outra pessoa fala um textinho pronto em um microfone, sabe?

Não... Meu Valentino não faria isso comigo. Ele sabe que eu gosto de improvisos sinceros. E sabe exatamente o que eu espero, se preocupa em realizar todos os meus sonhos secretos. Só que os meus sonhos secretos são tão simples! São sonhos secretos de atenção e carinho. E ele sabe disso, e acha muito fácil me agradar. E adora.

Para você, Valentino. Com amor.

quarta-feira, junho 11, 2008

letting go of marion

कर्म

i'm going to display your picture in my personal altar. the altar every person in the ritual is going to put together. i need closure in my life relating to her. you know? so we can move on. she already did, and so did i, but something still connects me to her. why would that be? i still don't know. some stupid pattern, that keeps repeating itself. it's not even personal. it is a battle i fight with myself, and everytime i fight her instead of looking at myself. shame on me... maybe you are just a dream. but anyway; there will be other people there too, to keep you company. other people that are important to me, even if i don't mean anything to you, with a candle, and a white flower. so everybody is good aftwards. don't worry, it is not black magick. you know i don't believe in that. or else, i do believe, but i like to gather positive karma, not to destroy it. i'm planning to retire soon from planet earth. when i'm old enough, when i have solved enough matters. don't worry. we'll be good. letting go of marion, a noisy butterfly.
that is all.

love,

Rosamund Stacey.

Até a boca

Até a boca, as garrafas estevam cheias, para matar. Sede até a alma. Acreditei em mim mesma, que encheria três garrafinhas para deixar ao lado do computador, para matar a sede sem me levantar, enquanto estivesse trabalhando. Mas sou uma pessoa que enche três garrafinhas por um motivo, e depois uso de outro jeito. À noite, antes de ir dormir, levei uma para o quarto; depois de manhã, ao sair para a faculdade, levei outra na bolsa, deixando apenas uma sobre a mesa do computador. Agora posso parecer uma pessoa menos interessada em ordem. Até que então... A sede bateu. Neuroses até o pescoço, palavras até a língua, garrafinha ao alcance dos dedos... Mas medo. Não quis bagunçar a beleza daquela garrafinha cheia, filha única, bela. Cheíssima, até a boca. "- Cadê as outras, já bebidas?" Rolou um medo de instaurar o caos naquela garrafa tão em paz. Porque se as outras já estavam pela metade, faria mais sentido terminar o líquido daquelas antes (não é?). Mas eu estava com sede agora, e as outras estavam longe. E o propósito era não me levantar. Esse é o mesmo princípio de ter várias roupas lindas que eu amo, todas guardadas no armário, e que tenho pena de usar porque vão gastar. (Mas gente, não é para gastar mesmo? A água não era para matar a sede? As roupas não são para me deixarem bonita, bem arrumada, como gosto? Para que esse monte de dedos com as coisas? Para eu morrer, e as coisas permanecerem como uma lembrança "do que um dia poderiam ter sido, e que não foram".) Abri a garrafa e bebi. Mas que culpa de perturbar aquela paz. A sede morreu temporariamente, mas as questões transbordavam na minha cabeça.

sábado, junho 07, 2008

Gelatina

Eu renasci afastando gelatina vermelho-translúcido com as mãos. Eu que quis nascer. Ninguém me pariu. Me identifico com a criatura de Frankeinstein. Parece uma mistura ruim; gelatina de sangue, gelatina de carne, gelatina quente. Esqueça o sabor morango, o geladinho refrescante. Será que posso dizer que sou real, sabor natural? Ninguém me pariu, e depois, ninguém me parou. Estar parada no engarrafamento ouvindo o The Fragile. Batendo no volante, balançando a cabeça. Aquele sentimento acelerado, de quem está em primeira e não suporta, de quem quer pisar fundo, mas está presa ao trânsito. Pensando em como fico descompensada pensando em você. Aquele sentimento de ser impossível. Impossível ir pra frente, pra trás... Querendo descobrir a essência de um universo sem essência, querendo chegar próxima ao intangível. Querendo reformular um eu que está cansado de ser si mesmo e ser os outros. Separar a fórmula; água para um lado, pozinho vermelho para o outro, depois de misturado, depois de congelado, depois de pronto. Outro dia descobri um porquê; quanto mais rápido ocorre a transformação dos compostos em uma explosão, mais forte ela é. E eu, caros amigos, explosão atrás de explosão, semana sim-semana não, estou em pedaços porque minha composição muda tão rapidamente! Não há fundo, como o fundo do pote; não há chão para a fumaça que sobe. E o que é feito da fumaça que sobe?

E essa noite, sonhei que estava em um avião, e que dizia para alguém que morria de pavor daqueles momentos enquanto está subindo, e quando vai descendo. Aqueles momentos que confundem o labirinto, nos deixando tontos.

Horses

I look so darn good in blue. Wish I did not look so good in blue. Bl u u u u u u u u u u ue.
I am amazed. with myself. to realize how far and how deep i go. everytime we have. a major fight .like the last one. And how long I take to feel well again. to dance upon the stars. in the night sky. not so blue once you're there... black and empty, and silent. horses take me where your demons cannot go. there. counting your bees on me. i can't go, you said so... i wish i did not break so easily. but i do. break so easily. and i can't believe this. I almost regret entering relationships; and i am almost giving myself up. and i just can't wait to not be the center again. because i heard brian molko saying that he's the product of a broken home, "forever black-eyed", and i sympathized... a couple of days ago... but i do think those are all lies i told myself in which a keep believing. and i am oh so tired. there is no essential truth, no truth within. I can change the pictures of my past and the images of the present, but i just don't know how to do it.

sábado, maio 31, 2008

Consciência ecológica

Gente, eu amo moda e amo tecnologia, , , Mas pra quê tanta loja, tanta roupa sendo feita, tantos recursos sendo transformados em produtos, e transformando o planeta pelo propósito do consumo, hein?
Olha quanto desperdício! Pensem bem... Precisamos de tanta coisa assim?

sexta-feira, maio 30, 2008

Vozes

Quando eu não sei o que dizer, eu uso um pouquinho da sua voz. Da sua voz e da sua, quando for apropriado. Me aproprio das vozes que conheço, dos textos que conheço, esses roteiros me orientam a dar os limites que não posso, com a minha própria voz. Eu uso a voz daqueles que conheço, porque suas vozes estão dentro de mim, tagarelas, todas ao mesmo tempo, todas falando e dando suas opiniões aos mais diversos momentos que em nada tem a ver com elas, mas estão todas aqui dentro. E muitas vezes, eu quero que se calem, eu quero saber o valor do caos de todas as possibilidades, o vazio, sem que nada me seja dito, eu quero sentir o calor do frio e essas vozes me impedem de chegar no ponto central da questão de que não existe ponto algum e eu quero encontrar esse lugar que não existe, porque encontrar a inexistência é justamente sentir o vazio e sentir o vazio é o que preciso, nesse momento tão cheio. . . Mas as vozes mascaram meus sentimentos, porque reprimem o que eu penso, reprimem, mas ao mesmo tempo incentivam por um outro lado, enquanto outras apenas atrapalham a minha concentração no que eu realmente queria pensar em primeiro lugar .. .
E não venha chover no molhado me dizendo que estou confusa. Em primeiro lugar, parar para pensar foi o que ocasionou toda essa confusão, então não me peça para refletir. Refletir não, morrer. Preciso morrer para esse estado de estabilidade para acordar ao meu estado de inconstância, acordar e aceitar que nada sei, fazer essas vozes se calarem, essas projeções internas que eu penso ser o reflexo das vozes que escuto há tanto tempo, essas vozes que, desde o início me ensinaram e ensinam como agir e como pensar. Essas vozes que impedem a ação criativa e de improviso, porque já preparam o berço e já analisaram todos os cenários que existem antes mesmo de eu poder encontrá-los de fato. Eu quero o diferente. Eu quero o que não sei. Eu quero o nada. Eu quero o vazio. Eu quero o silêncio.

Comendo mamão e pensando em você.

Cada sementinha do mamão traz um gosto amargo inesquecível. É tão ruim que marca para sempre. Cada sementinha mastigada é um sonho estourado. A cada garfada, estou mais longe e mais perto de você. Quero cortar esse vínculo com a mesma faca que corta a cor laranja. Mas eu digo que corto, que já cortei, e em sonho, lá está você novamente. Saia daqui! Quem convidou você? É um estrangeiro, forasteiro aqui. E é um invasor de terras, e este momento é um divisor de águas. Não quero misturar as coisas, nem misturar nós dois.
Eu não sei o que falar, eu não queria falar, na verdade. Queria comer a sua cabeça com mel, o mesmo mel que estou colocando em cima do meu mamão.
A vassouradas vou empurrar você de volta para onde veio. Mas eu sei que, quanto mais forte eu empurrar, mais forte vai voltar. Você é tão perturbado quanto eu. E eu não quero mais você aqui. Vai embora, de uma vez por todas, vá embora! E eu nem posso dizer isso, porque você já foi. Já foi e continua aqui! Como é isso? Eu jogo todas as sementinhas fora, de propósito. Eu vou mastigar o meu mamão neste dia nublado, sozinha.

quarta-feira, maio 28, 2008

Silêncio

Silêncio. Não quero pensar. Mas já estou pensando. Silêncio, eu quero silêncio. Não estou falando, são apenas pensamentos. Ruidosos, idosos pensamentos.

Em silêncio, as palavras são todas minhas. Eu sou dona de todas. Todas as formas, todos os conteúdos. Tudo fica mantido em segredo, todas as coisas existem sem ser mencionadas. O universo me pertence porque eu o entendo a partir das coisas que eu vejo e tudo o que eu vejo tem um nome, mesmo que não tenha, ou mesmo que eu não saiba... O silêncio é a soma de todas as palavras. E de tudo o que querem dizer. Sem sair da boca, você tem o controle sobre elas.

Depois que saem, elas pertencem a outro. Nada do que você diz pode ser controlado. O que você diz é apropriado por quem escuta, e essa pessoa faz com isso o que quiser. Se põe para dentro, se põe para fora, não é mais com você. A seta já foi lançada. O arco está vazio. A seta se perde dentro do outro; não sabemos para onde as coisas que dizemos vão. Não temos controle sobre elas uma vez que estão fora de nós. Não podemos prever as consequências.

Palavras ditas sobre coisas, fazem coisas desaparecer? No momento em que eu digo "eu te amo", o amor deixa de existir? Porque uma vez que proferidas as palavras, esvazia-se o conteúdo, esvazia-se o que queriam dizer? A pressão vai embora, o amor deixa de existir?

Palavras que falamos com medo, fazem coisas acontecer? Se dizemos "tenho medo disso", isso acontece? Porque as palavras criam a realidade e, se proferidas, passam a existir?

Não sei... Não sei... Silêncio.

sábado, maio 17, 2008

A galinha

A galinha queria ser roqueira, lançar um álbum de metal, mas não sabia como fazer. Ciscava, aqui e ali, por um meio de conseguir seu objetivo. De fato, das galinhas, era a mais bela, e era uma galinha muito talentosa. Olhava os cavalos na estrebaria e cacarejava esperançosa, de forma a deixar qualquer raposa perplexa. Era assim que tinha ganho seus dias até ali... Cacarejava de forma a convencer as raposas a deixá-la viver só por mais um diazinho.

As pessoas que têm galinha sabem que elas botam ovos, servem para fazer canja e até limpam o terreno dos insetos. Mas quem conhece, conhece mesmo, sabe que galinha que é galinha, sempre deixa uma trilha por onde passa. Titica. E essa não era diferente.

A galinha então arranjou um pintinho pra casar. Um pintinho amarelinho. Queria ser estrela de rock, e não a galinha cantora de nenhum galinheiro. Não sabia ser uma galinha solitária, as galinhas não aprendem a solidão das raposas. Embora essa soubesse, no escurinho do galinheiro, que um dia acabaria dentro da panela.

Ou na boca da raposa.

quinta-feira, maio 15, 2008

Quando um nariz não é uma pessoa

Eu desejo. Como se as pessoas estivessem dispostas em uma caixa de bombons e eu estivesse, com o indicador, escolhendo qual eu gostaria de provar depois. Vejo cabelos, narizes, bocas, mãos, pernas, tudo... E desejo. Vejo um corte de cabelo masculino e desejo. Mas o corte de cabelo não é uma pessoa. Vejo um nariz e uma boca, e desejo. Mas essa configuração também não é uma pessoa. Eu vivo desejando partes de pessoas que, se estivessem juntas, talvez nem formassem uma pessoa que eu desejasse. Mas elas assim, em separado, eu desejo. Desejo ter e absorver aquelas partes, depois lembro que não são as pessoas que eu desejo, são apenas as suas partes.
"- Posso namorar com o seu nariz?" Tenho vontade de perguntar. "Posso alisar o seu cabelo? Beijar sua boca? Não quero você, quero apenas a sua parte que eu desejo..."

E eu tenho certeza que existem várias pessoas por aí que não se relacionam com outras pessoas, mas sim com suas partes. Eu tenho certeza disso.

2 reais mais rica espiritualmente

Ontem parei no sinal da Rodrigo Otávio, na Gávea, e tinha uma menininha, sozinha, fazendo malabares com limões. E eu quis dar dinheiro a ela, mas só tinha trocadas duas notas de dois reais. Disseram para mim, há uns dias atrás, que o budismo ensina a acumular carma positivo e que uma das maneiras seria dando dinheiro aos pedintes. Eu tenho minhas reservas quanto a questão, porque desde que "deixei-não-deixei" de ser cristã, caridade passou a ser um problema. Eu detesto a caridade da igreja católica, mas acho justo darmos parte de nossas coisas, se for sob vontade, às pessoas que estão precisando. Então, é um paradoxo do qual não consigo escapar. Para não sofrer, passei a me isolar dos pedintes e a negar tudo o que pediam; mas por debaixo do manto frio, há alguém que sofre muito com a situação dessas pessoas e que não sabe o que fazer a respeito. (...) Abri o vidro e perguntei: "você já fez alguma coisa hoje"? Ela respondeu que não. Então dei dois reais inteiros para ela. Ela agradeceu. Ficou ainda me olhando de um jeito estranho, mas logo continuou seu caminho para pedir aos carros de trás. Olhei pelo retrovisor, e lá estava ela, fazendo o sinal da cruz, e beijando a mãozinha. Depois guardou rápido o dinheiro. Isso me emocionou tanto... Tive vontade de chorar. Foi tão bonitinho... E ao mesmo tempo, tão triste. Senti que estava dois reais "mais pobre" no plano da matéria. Mas nem doeu. O que são dois reais para mim? Em compensação, e o que é muito melhor, estava dois reais mais rica espiritualmente.
(Nossa sociedade aceita bem que a classe média e outras sintam-se bem dando dinheiro às classes mais necessitadas, não é? Meu ato pode até ser visto como um ato grandioso! Prefiro ver como uma oferta ao deus Fortunae, visando a abundância, a fartura. Bom, isso tem a ver comigo.) Fuck the catholic church. Vou passar a ter uns trocadinhos na carteira exclusivamente para quando forem crianças me pedindo dinheiro.

quarta-feira, maio 14, 2008

Me perdôa

Tentando manter o controle de tudo, fiquei doente. Tentando controlar a informação que sai de mim e chega aos outros, fiquei doente. Tentando controlar os impactos das minhas ações no meio, fiquei doente. Tentando controlar as ações dos outros em mim, fiquei doente.

Nem tudo depende de mim; quase nada depende só de mim. Minha vontade, meus desejos... Ecoam em que esfera do universo?

E eu sinto muito por não ser capaz, por não dar conta, por não ser perfeita nem onipresente. Me perdôa. Chega uma hora em que precisamos admitir certas coisas para nós mesmos... Então, me perdôa Alex, por errar tanto, tantas vezes. Me perdôa por insistir; me perdôa por fracassar. E é isso, sem peso. Sem ferro nem chicote. Só estou pedindo desculpas para mim mesma.

quarta-feira, maio 07, 2008

Tensões

Essa noite, dormi muito mal, acordei toda dura. Agora de manhã, junto com o café, resolvi abrir meu retorno solar para dar uma olhada nos aspectos de Plutão, porque toda vez que abri essa porcaria de mapa, me esqueci de ver justamente o que eu pretendia... Enfim; estou olhando os aspectos de Plutão e percebendo que, na revolução, ele entrou em Capricórnio (estava em Sagitário). O que acontece com isso? No céu, ele voltou para Sagitário, o que dá uma mexida enorrrme nas pessoas. Em todas as pessoas (planeta geracional).
Então estou olhando meu mapa para 2008 e está lá, gritante, uma tensão gigante entre um Saturno de casa 1 e um Sol-Urano de casa 7. Opondo-se, mutuamente. Na vida prática, eu consigo identificar essas forças, quando são trânsitos e coisas que não estou acostumada a ter. Pensei, "nossa, graça a deus que eu não tenho essa tensão no meu mapa de nascença!". Mas HELLO, você tem muitas outras. E eu já me acostumei com essas tensões com as quais eu nasci, e já nem consigo mais identificá-las no meu dia-a-dia... Não seria ótimo olhar para elas com esses olhos de novidade, conseguindo saber exatamente onde agem? Parece que, porque eu nasci com elas, estão grudadas nos meus ossos e eu não saberia separar o que é osso de músculo. Sabe??
Então estou mais tensa que o normal... As tensões, dentro de mim (e ao que parece, dentro das pessoas em geral) estão mais fortes. Quero sentir minhas tensões naturais como se não pertencessem a mim, estivessem ali só de passagem, para que eu pudesse lidar com elas de forma a trabalhá-las melhor.
:/
Hunf.
Um solzão lá fora, e eu vendo uma quarta-feira cinza.
Detesto fazer provas.

terça-feira, maio 06, 2008

"Tempo de acelerar... Acelerar colina abaixo"

Túnel, três pistas. Encontro-me na do meio, a perfeitamente coerentes 60km/h. Estou fluindo com a música, Carbon, do Scarlet's Walk. "Just keep your eyes on her/ Keep, don't look away/ Keep your eyes on her horizon", quase esqueço que sou carro na pista, pois estou seguindo meus horizontes. De pensamento. Estava seguindo o fluxo, tão fluida, tudo tão perfeito e certo, os carros me passando pela direita, pela esquerda, carros a minha frente, carros atrás. Mas uma buzinada forte me distraiu. Alguém que se incomodou com a minha velocidade. Sempre, eu disse sempre vai haver carros mais velozes, mais caros, mais limpos, mais sujos, na sua frente, na sua traseira, pessoas que esperam para te cortar, pessoas que vão bem atrás de você, pessoas que dirigem e olham para os lados, pessoas que fluem com a música do rádio, pessoas que vão sempre de vidro fechado, pessoas nos carros que são, novamente, pessoas motorizadas, pois o carro é só um corpo maior que elas vestem, que nós vestimos, para caminhar mais depressa e com rodas. Algumas pessoas têm onde ir, e vão com pressa. Eu já estou voltando. Quando eu acelero, é colina abaixo. Sou consumida pelos olhos de fora que me vêem cantar dentro do carro, sou combustível porque queimo por dentro, sou cinzas porque existem muitas sobras, mas ainda não virei carvão.

segunda-feira, maio 05, 2008

Ilusão auto-biográfica

Desde pequenininha, meu cabelo cresce rápido. Sou muito feliz no amor e no jogo, ganho bem, trabalho no que gosto, passo minhas horas vagas lendo no meu jardim maravilhoso sob minhas amendoeiras, de frente para a minha piscina na minha casa que fica lá no meio do mato, mato escondido no Rio de Janeiro. Tenho tudo o que preciso, a vida é boa para mim, meus amigos me visitam com frequência e fazemos vários eventos interessantes aqui em casa, temos papéis ativos na sociedade e somos todos muito respeitados, e nossa opinião vale ouro. Tudo em que eu toco dá certo, as pessoas me procuram para ouvir palavras positivas e saem daqui um pouco mais felizes por ficarem um pouco mais conscientes das bênçãos que já têm. Meu marido é o amor da minha vida, adora me paparicar e é o homem mais fiel do mundo já que eu sou sua "sex- symbol" e ele me venera. Ainda consegui acabar de fechar um contrato muito interessante, de livro-cd, que vai ser lançado por uma empresa grande, com as minhas músicas que ainda vão ser usadas, duas delas, para um filme nacional e outro internacional. Consigo viajar todo ano para conhecer um novo lugar fora do Brasil, porque já conheci tudo o que queria aqui no meu país e estou muito satisfeita porque o Rio de Janeiro continua lindo, pararam com essa coisa de pagode-futebol-funk e carnaval aqui, mudaram isso para São Paulo e, por isso, o Rio está mais feliz também, como eu e fui chamada par dar aulas de tradução em uma faculdade, mas minha vida está muito boa como está e eu não quero acrescentar mais nenhuma novidade no meu dia-a-dia porque finalmente, engravidei do meu primeiro bebê. Minhas gatas vão muito bem, obrigada, e quando posso, sempre ajudo instituições que abrigam animais abandonados. Eu não podia querer nada mais da vida, pois já tenho tudo.

Roupa na máquina

Ontem, quando fui colocar roupa na máquina, já tinha até sabão.

sábado, abril 26, 2008

O mundo real, cimento que vai secando nos meus pés aos poucos.

às vezes, eu fico desesperada. quando eu me percebo trancada dentro de um plano de ação que eu mesma bolei para mim, no período de dois anos que ainda falta para eu terminar a faculdade. eu que decidi os propósitos a serem alcançados com esses degraus, como se eu mesma tivesse dado voltas nas correntes que estão me prendendo. e o presente se apresenta de uma forma tão pesada e sem sal que nem vejo mais o futuro brilhante que eu via antes. seguir esses passos por dois anos não me garante que eu seja compensada por esse "sacrifício", muito pelo contrário, quanto mais subo um degrau, menos acredito em qualquer coisa.

as coisas que eu acreditava no passado, que da minha família seria eu que vingaria a veia artística e que se eu não obtivesse sucesso na carreira seria no amor ou vice-versa são duas crenças que me parecem absolutamente infantis e questionáveis agora, e nas quais eu não acredito mais. primeiro porque minha visão sobre o amor mudou drasticamente, segundo porque eu não sei se acredito mais em possibilidade de sucesso no futuro, nesse mundo que se apresenta.

Sinto-me tão presa e incapaz de me soltar das minhas próprias correntes e eu sei exatamente o que me incomoda, mas não vejo onde está a chave que é a solução para o cadeado e não me sinto forte para me soltar. O "real" está matando os meus sonhos e aos poucos vejo uma vida nova, concreta e real se apossando de mim enquanto vai, aos poucos, aniquilando a minha vida de sonhos, de esperanças, de expectativas, de possibilidades de concretização e realização pessoal. e sinto-me tão triste porque eu me identificava tanto com esses sonhos... E porque o real pesa tanto que eu quase nem mais consigo senti-los. a vida cotidiana rouba toda a minha energia e não tenho mais para dar aos sonhos. toda a minha energia está sendo empregada para construir uma vida nesse "mundo real" que eu não gosto e que acho horroroso! E minha energia está sendo direcionada para conseguir "coisas" nesse mundo real que eu desprezo. E me pergunto se esse processo cruel pelo qual estou passando chama-se "amadurecimento" e/ou "retorno de saturno". E, como tenho dificuldades de assumir isso, tudo está me contrariando.

Os meus sonhos estão morrendo para dar lugar a um espaço vazio. Nada acontece que compense a ausência deles. Os estímulos que recebo são, quase todos, negativos. O único impulso que tenho de seguir em frente é porque continuo vivendo. O mundo se apresenta me mostrando uma vida de conflitos e que mesmo a busca pela harmonia e integração são dadas em conflito e que não há outra possibilidade para alguém que não se dê bem com o "mundo real". Eu não sei abstrair da fumaça, trânsito e conduções lotadas para me adaptar ao meio, que para mim suja como esgoto, enquanto eu me vejo sendo um unicórnio perdido. Aquele de cristal. Sabe? É meio assim. Como passear por um mundo que mancha minha crina e desejam meu chifre e no qual minha existência é questionável... (?) O mais importante não é quem eu sou, mas como me sinto diante desse mundo enorme e eu, sem conseguir quebrar a casca e finalmente voar.

sexta-feira, abril 25, 2008

In a second

Things change so quickly. In a minute, you have a family, a house, a job... You always complain about your life, cause you think you could always make it better, that life could present you with better choices, better things to choose from.
You don't own a house, but you wish you did and when you finally do, you can't stop complaining about how dirty it is and how tired you are to clean it up and how short you are to pay for someone else to clean it up for you. How unfair is it that while you have to struggle to work everyday some government jackass is stealing money that you helped to save for paying your taxes so correctly. All of the sudden, you don't have a house anymore, because you lost your mother and you lost your family because someone dies and then you are left with debts up to your neck and what should you do? Complain that life isn't provinding you with better choices? Where's all your effort to make things right, where did it go all your energy in working... Where have your ideas, fresh and new gone? And most importantly, where are you in the middle of all this? Why isn't life providing us with better choices?

quinta-feira, abril 24, 2008

quadro-a-quadro, quadro-a-quadro, ...

Estou olhando os quadros de propaganda de um site de relacionamentos que aparece toda vez fecho a minha caixa de emails. Essa mulher, achei bonita. Diferente das outras, aparentemente mais velha. Todas pousam maquiadas, etc. Ela estava sorrindo, mudava de posição, quadro a quadro. Fiquei olhando, meio pasma, meio que pensando, e me deixei levar. Imaginei-a no bar, no restaurante, ela se vestindo, comprando roupas, indo trabalhar... Porque as pessoas bonitas nos levam? Sem nem ter essa intenção, lá estava eu, com ela, na minha fantasia de imaginá-la como uma boneca, reconstruindo o seu dia-a-dia. (Não é uma cena lésbica, héteros. É uma coisa mais singela. Estamos falando de beleza.)



No entanto eu percebi que estava sendo levada... Pelas mãos, abobalhada, fantasiando em cima de imagens. Quem era aquela mulher de verdade? Ela pigarreia entre uma frase e outra? Tem a voz grave, muito aguda, anasalada? E o cheiro, é bom? Ela é inteligente? É interessante? Ela tem problemas de estômago, de tpm? Ao perceber que não sabia nada sobre ela, a enorme possibilidade de que fosse completamente desinteressante fez com que qualquer possibilidade de ser interessante causada pelo mesmo "não-conhecer" a deixasse, na mesma hora, feia. E estou me questionando, como tive vontade de colocar aqui para o mundo...


Que beleza é essa que assumimos como beleza enquanto outras coisas mais belas passam por nós sem ser vistas? Como o lado de dentro, por exemplo. Por que essas imagens ensinadas são tão cativantes?

quarta-feira, abril 23, 2008

anagramas

Ovo, escrito ao contrário, também é igual. É como você. Você é igual. Igual ao ovo. O que há dentro é diferente do que há fora. Nesse caso, Ivo viu a uva, mas não viu o anagrama. Todos nós viemos do grego, mas você, só tem um pedaço. Justamente o pedaço que diz "repetição", "ausência", "falta de". Anacrônica, analógica, anal. Quando você nasceu, era uma anabelodáctila, mas você cresceu e se envergonhou. E eu sei que o seu problema comigo é anabólico: você não pode explodir de prazer, porque se assim o fizesse, pensaria em mim, em sua natureza anabelodáctila. Em você, sou anabrótica e você faz parte da minha anábase. "O forte, o cobarde seus feitos inveja". Sabe o que é isso? Não digo. A vida, em absoluto, de quem não vive em anaerobiose é um anacoluto. (...) Prefiro os tempos fortes que os anacruzes. Mas não se preocupe. Essa anafilaxia é passageira. Pelo abuso de anáforas.

terça-feira, abril 22, 2008

Dois pilares - altar a Vênus, chifrada de carneiro.

Para derrubar uma pessoa que não é "inteira", mas sim duas, tudo o que precisamos fazer é derrubar um dos seus pilares, que é o outro. Ao contrário do que pensam, ao se derrubar, ela não se tornará inteira, mas meia.

Pessoas pela metade andando por aí, se encaixando em outras metades. Onde houver o encaixe, seja em que lugar houver o encaixe, pessoas pela metade se encaixam sem norte, derrubando sem propósito outros pilares.

Pilares unificados não têm rosto de gesso, nem de vidro, nem de mármore. Somos de material flexível (e macio). Mas apenas me curvo sob vontade.

But I only bend at my wish.