quarta-feira, junho 25, 2008

Vezes perfeitas

"O corpo envelhece", pensei. "Por que não somos feitos de outro material, como plástico?" Mas depois, me dei conta que em outros materiais, alguns danos são para sempre. Imaginem o rosto de plástico em contato acidental com fogo ou ácido. Mas depois, percebi que nosso rosto também derreteria. Só que nossos machucados cicatrizam. E essa foi a pólvora da semana: a percepção de que nosso corpo se refaz. Não só as lagartixas possuem esse dom maravilhoso, nós também. E (quase) todas as nossas células se reconstituem. E isso não é maravilhoso? Eu achei. Toda a vida se renova, o tempo todo, e a gente nem percebe. Somos imortais, nesse sentido. A vida achou um jeito de fazer a alma viver mil vezes; o corpo morre, mas depois ele renasce. Quantas vezes for preciso. Quantas vezes forem perfeitas. Nossos pais morrem, mas vivem através de nós, das nossas células. A vida parece que começa e acaba, mas ela é um ciclo perpétuo. Achei isso tudo maravilhoso. Não tenho motivos para não ser feliz; o ser infeliz que havia, morreu. Hoje, sou alma em um corpo novo. Eu renasci.

sexta-feira, junho 20, 2008

Mais de um amor


Com relação ao amor, temos um problema de tradução que levou a um problema de idealização do amor e, por consequência, da sua prática. Falamos em amor e logo pensamos no amor "homem-mulher". Só há uma palavra para amor, mas existem vários tipos dele (fraterno, carnal, materno, incondicional, etc). E se existem vários tipos de amor, é muitíssimo provável que também existam várias formas de amar. E como expressar esses vários tipos de amor e as várias formas de amar nas culturas onde só existe uma palavra para amor? A paixão, mais um tipo de amar, fica parecendo uma rival, uma antagonista. Onde há paixão, não há amor. Mas como? É só mais uma forma de amar.


E isso leva a várias outras questões... Por que amor entre homem e mulher, se existe amor entre homem e homem, mulher e mulher, mulher/homem e criança, mulher/homem e grupo, mulher/homem e deus, etc?


Os gregos sabiam mais? Porque tinham várias formas/palavras para definir o amor, também tinham, explicitamente, mais formas de amar, que não restringiam o amor a um só papel social?

Qualquer visita à Wiki mostra que o amor pode ser Eros, Pragma, Philia, Storge, Agapé, etc.


Quanto mais maneiras de dizê-lo, mais existe a sua presença, mais a possibilidade de exercê-lo. E se alguém diz que me ama, a que forma de amor devo atribuir esse amor? Hoje eu pensei que o amor não existe, quando restringido. Que amor institucionalizado é amor morto. Que restringir o amor é um erro, um defeito nosso. Por isso tanta falta de amor na nossa sociedade, por nós mesmos e pelo próximo. Que a igreja teve um papel horrível na divulgação do amor através da bíblia. Mas aí percebi que existe vida dentro do vaso de planta, dentro do aquário, dentro dos apartamentos, dentro da cidade, dentro do planeta.


Ainda assim penso que restringir o amor é pecado. Mas não conseguimos conceber a idéia do amor livre, do amor incondicional, do amor por todos os seres por igual.


Ainda queremos eleger um único ser amado, como símbolo de todos os tipos de amores possíveis, e forçar a manifestação de todos os seus tipos em uma só pessoa, mesmo com todas as infinitas configurações existentes; fiquei triste. Por eu mesma, sabendo disso, não conseguir exercer o amor infinito, o amor livre, por todas as coisas, por todos os seres (mesmo aqueles que machucam intencionalmente), pelo sexo fora do casamento, pelos meus irmãos e irmãs, pelo diferente, pelas bênçãos e pelos cânceres.


O amor não pode ser restringido. O amor deve ser liberado. O amor por si próprio, o amor aos deuses, o amor à natureza, o amor pelas pessoas. Deve ser compartilhado. E como abrir nossas compotas cerebrais para receber todo esse amor que existe à nossa volta, quando estamos tão acostumados a nos fechar para ele?

A parede de gelo

O quanto o fogo de uma vela pode derreter de uma parede de gelo? O fogo que carrego em mim, que antes parecia queimar com uma força que poderia incendiar um prédio inteiro, agora parece ser carregado do lado de fora, como dependente de cera e pavio, sujeito a se extinguir ao menor sinal de vento. E isso tudo parece tão errado. Pareço sempre estar ao contrário. Existe uma rebeldia inexplicável, que faz com que eu me recuse a encarar o medo do frio embaixo de neve e árvores ressecadas. Não me vejo passeando perto de nenhum lago congelado, sob a chuva, perto de um cenário todo branco, sozinha com um piano, mas sozinha no topo de uma montanha, com toda a vida aparecendo lá embaixo, rios e animais correndo, e eu observando. Toda a vida passa, e o mais próximo de mim que existe é a pedra sobre a qual me estendo. E faz sol e o céu é azul.


E existe a percepção de vida, e existe a sensação de pertencimento quando estou no vazio, mas quando me incluo e me relaciono, parece existir uma parede de gelo que me separa de todas as situações e pessoas, e faz com que eu esteja posicionada acima de todas as coisas. Rapidamente me volto para a posição de proteção; o alto da pedra. Para o alto da pedra, para a reaproximação com as importâncias da vida. Se ao menos eu fizesse parte delas... E me vejo assim, inclusa no sistema, ao estar sozinha e tão perto da imensidão. É entre as partes pequenas e segmentadas da vida que sinto perder o controle, que me perco de mim mesma e fico tentando trazer esse sentimento de santidade para perto da vida de todo dia. Aquele fogo que antes só queimava no meu coração, agora está nas minhas mãos e é visível. E não pode derreter paredes de gelo, mas pode ser visto como uma opção ao frio. E faz com que eu me lembre das importâncias da vida. Mesmo que eu esteja sozinha, o sopro de vida sempre estará comigo. E com tudo aquilo que me cerca. Mesmo que eu não saiba lidar com isso e saber que, no fim das contas, estar sozinho é uma coisa boa.


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quinta-feira, junho 19, 2008

El corazón de dios




O coração de deus. Foi o que nos falaram. Velas e flores brancas, altares pessoais, horas sentados em roda. Madrugada fria de vento quente. Muito vento que balançava a copa das árvores ao redor do clarão e fazia barulho de tzunami. Muito barulho, muito vento, muito fogo. Cântico xamânico, mais de 8 horas seguidas. Velhinho pequeno, mas enormemente forte. Ele e sua Ana. Insetos em alguns momentos. Começaram a aparecer no ritual. Na hora da limpeza mais pesada, baratas voadoras. Com suas anteninhas repugnantes, passeavam por alguns altares. Felizmente, respeitaram o meu. Talvez por conta das minhas duas flores, que posicionei como dois bastões no altar, em cima do meu diário mágico. Muitas fotos embaixo. Lua crescente, quase cheia, e lua em escorpião. Seria motivo para um ritual intenso. Intenso sim, porém, não me levou para dentro. Serviram a medicina. Provei. Tinha gosto de chá verde, concentradíssimo. Não consegui tomar muito mais vezes. Repeti, mas foi tudo. Serviram mais de oito. Mas era mesmo uma medicina. Abertura para a limpeza. Por que um ritual de limpeza? Eu gostaria mais de celebrar o grande espírito. Não me considerava suja. E não devia estar muito mesmo, porque as baratas pularam o meu altar, como eu disse. Experiência muito interessante. Índios da tribo Huichol, México. A flor era para colocar no lugar do coração, para fechar as feridas. As minhas eram duas: uma angélica e uma rosa branca, tipo exportação. "El corazón de dios. Ponga em tu altar", foi o que ouvi, algo assim... Eu vi muitas coisas. Além dos insetos e das coisas cuspidas pelo marakame -ah sim, porque ele sugava a energia do altar, da sua aura, e das palmas das suas mãos durante a limpeza, às vezes sugando também dos olhos e da boca- e cuspia coisas depois. Em algumas vezes, com mais nojo do que noutras, e ia para o mato banir. Na maioria das vezes, cuspia pedras de diferentes cores e tamanhos, mas também podia cuspir insetos e pedaços de objetos. Vi se repetindo as minhas questões movidas pelo inconsciente, agora mais claras. Desconfiança, sensação de não-pertencimento a grupos e situações, crítica ferrenha, etc.

Nenhuma solução, só apontamentos. Por sinal, estou sem apontar nada por esses dias. Meu indicador esquerdo está em um retiro espiritual para cura, envolvido em algodão com arnica. Uma roda da medicina verde. Ele foi, e espero que, ao voltar, me ajude a não mais apontar, mas indicar, talvez, caminhos melhores. Não é? Para mim mesma e meus arredores. Prendi entre as portas deslizantes do armário, entre as partes de alumínio, dois dias antes do ritual. Tadinho... Agora que ficou feio, está recebendo mais amor do que NUNCA. De repente, antes de clarear (lá para as 4 da manhã), o cântico parou: "buenos dias!", ele disse. "Estoy mui cansado! Cantem, cantem..." E começaram a bater nos tambores e chocalhos, cantando cânticos xamânicos. E assim amanhecemos. Sol lindo que nasceu. O dia acordou rosinha. E tinha cachoeirinha depois. E num altar vizinho, repousavam sobre uma carta de tarô chamada "união"; uma mariposa rosa e uma esperança grande.

quinta-feira, junho 12, 2008

Valentino



Hoje parece o dia perfeito para eu escrever isso, Valentino. "Ó querido, ó querido, ó querido Valentino". . . Hoje parece mesmo o dia perfeito, porque vou escrever antes de encontrar você. Vamos nos cruzar por aí, naquele local que combinamos, naquela hora marcada... Meu Valentino. Anda por aí, sozinho. Mas é muito pontual. Vai chegar na hora certa. Está no trabalho, claro. Porque não quero amor numa cabana. Viver de "sol e sal" no me gusta. Mas se lembrou de fazer a barba. E levou o desodorante, para ir me encontrar direto depois do trabalho. E tomou banho antes de sair de casa, isso com certeza! Meu Valentino... Comprou o presente com 15 dias de antecedência, porque sabia que não teria tempo depois; ele se preocupou há tempo. E como sabe exatamente o que eu gosto, ou gosta do que se parece comigo (das coisas que são bonitas), foi muito fácil para ele encontrar mil presentes, dos quais escolheu um para a data. Só para que eu lembre do quanto ele me ama. E levou o perfume que eu gosto para o trabalho também. E os meus presentes. Ah, e ele planejou uma surpresa! Mas antes, vamos jantar em um restaurante bem gostoso. Ainda bem que ele detesta, como eu, aquelas declarações feitas com auto-falante e bolas coloridas... Que vêm em automóveis, sabe? E uma outra pessoa fala um textinho pronto em um microfone, sabe?

Não... Meu Valentino não faria isso comigo. Ele sabe que eu gosto de improvisos sinceros. E sabe exatamente o que eu espero, se preocupa em realizar todos os meus sonhos secretos. Só que os meus sonhos secretos são tão simples! São sonhos secretos de atenção e carinho. E ele sabe disso, e acha muito fácil me agradar. E adora.

Para você, Valentino. Com amor.

quarta-feira, junho 11, 2008

letting go of marion

कर्म

i'm going to display your picture in my personal altar. the altar every person in the ritual is going to put together. i need closure in my life relating to her. you know? so we can move on. she already did, and so did i, but something still connects me to her. why would that be? i still don't know. some stupid pattern, that keeps repeating itself. it's not even personal. it is a battle i fight with myself, and everytime i fight her instead of looking at myself. shame on me... maybe you are just a dream. but anyway; there will be other people there too, to keep you company. other people that are important to me, even if i don't mean anything to you, with a candle, and a white flower. so everybody is good aftwards. don't worry, it is not black magick. you know i don't believe in that. or else, i do believe, but i like to gather positive karma, not to destroy it. i'm planning to retire soon from planet earth. when i'm old enough, when i have solved enough matters. don't worry. we'll be good. letting go of marion, a noisy butterfly.
that is all.

love,

Rosamund Stacey.

Até a boca

Até a boca, as garrafas estevam cheias, para matar. Sede até a alma. Acreditei em mim mesma, que encheria três garrafinhas para deixar ao lado do computador, para matar a sede sem me levantar, enquanto estivesse trabalhando. Mas sou uma pessoa que enche três garrafinhas por um motivo, e depois uso de outro jeito. À noite, antes de ir dormir, levei uma para o quarto; depois de manhã, ao sair para a faculdade, levei outra na bolsa, deixando apenas uma sobre a mesa do computador. Agora posso parecer uma pessoa menos interessada em ordem. Até que então... A sede bateu. Neuroses até o pescoço, palavras até a língua, garrafinha ao alcance dos dedos... Mas medo. Não quis bagunçar a beleza daquela garrafinha cheia, filha única, bela. Cheíssima, até a boca. "- Cadê as outras, já bebidas?" Rolou um medo de instaurar o caos naquela garrafa tão em paz. Porque se as outras já estavam pela metade, faria mais sentido terminar o líquido daquelas antes (não é?). Mas eu estava com sede agora, e as outras estavam longe. E o propósito era não me levantar. Esse é o mesmo princípio de ter várias roupas lindas que eu amo, todas guardadas no armário, e que tenho pena de usar porque vão gastar. (Mas gente, não é para gastar mesmo? A água não era para matar a sede? As roupas não são para me deixarem bonita, bem arrumada, como gosto? Para que esse monte de dedos com as coisas? Para eu morrer, e as coisas permanecerem como uma lembrança "do que um dia poderiam ter sido, e que não foram".) Abri a garrafa e bebi. Mas que culpa de perturbar aquela paz. A sede morreu temporariamente, mas as questões transbordavam na minha cabeça.

sábado, junho 07, 2008

Gelatina

Eu renasci afastando gelatina vermelho-translúcido com as mãos. Eu que quis nascer. Ninguém me pariu. Me identifico com a criatura de Frankeinstein. Parece uma mistura ruim; gelatina de sangue, gelatina de carne, gelatina quente. Esqueça o sabor morango, o geladinho refrescante. Será que posso dizer que sou real, sabor natural? Ninguém me pariu, e depois, ninguém me parou. Estar parada no engarrafamento ouvindo o The Fragile. Batendo no volante, balançando a cabeça. Aquele sentimento acelerado, de quem está em primeira e não suporta, de quem quer pisar fundo, mas está presa ao trânsito. Pensando em como fico descompensada pensando em você. Aquele sentimento de ser impossível. Impossível ir pra frente, pra trás... Querendo descobrir a essência de um universo sem essência, querendo chegar próxima ao intangível. Querendo reformular um eu que está cansado de ser si mesmo e ser os outros. Separar a fórmula; água para um lado, pozinho vermelho para o outro, depois de misturado, depois de congelado, depois de pronto. Outro dia descobri um porquê; quanto mais rápido ocorre a transformação dos compostos em uma explosão, mais forte ela é. E eu, caros amigos, explosão atrás de explosão, semana sim-semana não, estou em pedaços porque minha composição muda tão rapidamente! Não há fundo, como o fundo do pote; não há chão para a fumaça que sobe. E o que é feito da fumaça que sobe?

E essa noite, sonhei que estava em um avião, e que dizia para alguém que morria de pavor daqueles momentos enquanto está subindo, e quando vai descendo. Aqueles momentos que confundem o labirinto, nos deixando tontos.

Horses

I look so darn good in blue. Wish I did not look so good in blue. Bl u u u u u u u u u u ue.
I am amazed. with myself. to realize how far and how deep i go. everytime we have. a major fight .like the last one. And how long I take to feel well again. to dance upon the stars. in the night sky. not so blue once you're there... black and empty, and silent. horses take me where your demons cannot go. there. counting your bees on me. i can't go, you said so... i wish i did not break so easily. but i do. break so easily. and i can't believe this. I almost regret entering relationships; and i am almost giving myself up. and i just can't wait to not be the center again. because i heard brian molko saying that he's the product of a broken home, "forever black-eyed", and i sympathized... a couple of days ago... but i do think those are all lies i told myself in which a keep believing. and i am oh so tired. there is no essential truth, no truth within. I can change the pictures of my past and the images of the present, but i just don't know how to do it.