quinta-feira, maio 31, 2007

Dentro do túnel

Dentro do túnel, mais de uma luz. São várias à minha volta. Devo confessar que me embaralham a visão e destroem as barreiras da razão. Estou no comando de um carro, eu dirijo. As rédeas do controle são minhas e eu quero ir em frente, mas não que as retenções me incomodem muito, estou, geralmente, concentrada na distração. Meu carro não corre, ele desliza. As luzes desorientam.
Eu uso o túnel que liga os sentidos Zona Norte e Zona Sul, o mesmo que dizer as direções de Terra e Fogo, para me movimentar e, muitas vezes, eu grito dentro do carro. Grito de um jeito que nunca consegui fazer ao microfone. As pessoas gostam de adjetivar, não é? Louca. Pode dizer. Mas eu sou um tanto mais científica a respeito disso, vou destruir o adjetivo com argumentos. O aperto no peito, a angústia da barriga, tenho certeza de que você as conhece; todas são expelidas dentro do túnel, pelo meu grito. Estamos tentando estruturar o caos aqui. Uma loucura bem sedimentada, é do que precisamos.
Eu grito de janelas fechadas. Gosto de ter privacidade. Eu quero gritar e ninguém mais precisa escutar. Não deixarei de gritar para poupar os ouvidos dos outros, apenas fecho as janelas. Acho justo. Grito com o peito, com aquele buraco instaurado e oco. Grito seco. Quando a quantidade de energia está causando retenções na fluência da minha energia. Quero expressar algo, não assustar as pessoas. Há uma didática aqui, preste atenção: estamos aprendendo a nos livrar do estresse sem perturbar os irmãos. Retire o peso extra sendo fiel a si mesmo e também considerando os que estão à volta. Eu tenho uma teoria: quanto mais velhos e mais reprimidos, mais loucos. Então há mais necessidade de gritar as vozes que foram castradas há décadas, na época da ditadura familiar. Tenho vários exemplos, porém não citarei nomes. A loucura nos reprimidos precisa se sentir à vontade para se expressar e, dentro do carro, é uma excelente opção. Através do meu ponto de vista, gritar dentro do túnel não chega nem a ser uma loucura, é só mais uma prática. Garganta, esôfago. Fôlego. Você com você mesmo, dono da sua direção. Respire fundo primeiro. Agora dê o volume máximo das suas cordas vocais, por quanto tempo agüentar! Isso mesmo, dê aquele “AAAAAA”, longo e rasgado. E grite quantas vezes forem necessárias. Não há julgamentos aqui. Este é o seu plano. Você quem o comanda. Esqueça das luzes no fim do túnel, elas não orientam. Apenas grite sua dor ou seja lá o que for para fora de você. Atravesse o túnel da escuridão em agudo máximo para chegar ao outro lado mais livre de si mesmo e, o mais importante, em silêncio absoluto.

quarta-feira, maio 30, 2007

O cuspir da ira

A ira é gerada a cada vez que uma frustração toma forma, ao invés da expectativa. Sempre que temos um sonho negado, ficamos frustrados e a ira se concretiza. Em alguns casos, a ira é exteriorizada, mas no meu caso não. Costumo "explodir para dentro". Engulo os sapos. Percebi esse processo ontem, que é exatamente o que me causa dor, não o fato em si, mas essa atitude de pouco amor para comigo mesma.
Sou lenta para processar um fator gerador de ira e preciso de um tempo para digerir tudo. Sou o que se pode chamar de "ruminante". Com isso é claro que meu aparelho digestivo fica comprometido. Ele foi feito para digerir comida, absorver nutrientes e separar o lixo, e aqui estou eu, tentando digerir sentimentos. Tentando entendê-los com meu estômago, tentando lidar com eles com meus intestinos. São minhas vísceras que lidam com essa carga emocional. Tudo muito racionalmente. A ira que não digere, se acumula.
No entanto prometi a mim mesma que não mais iria acumular ira, almejando não mais ter que engolí-la. E a ira foi provocada em mim ontem. Está tudo atravessado na garganta, já tenho o texto pronto, engoli parte do negócio mas percebi o processo e pude parar no meio do caminho, impedindo o resto de descer. Cuspirei a ira assim que o alvo for detectado. Sem medo de fazer o papel da louca. Falarei em tom de voz razoável, meus argumentos foram ponderados. Não mais farei aquilo comigo mesma. Cuspirei a ira, agora e sempre que for preciso. Estou correndo para um processo subversivo; o de me tornar uma pessoa saudável.

segunda-feira, maio 28, 2007

O Fator Gato

A cada dia que passa me convenço mais de que sou gato. São vários fatores que me levam a esta crença. Tenho uma gata por perto para observar e quanto mais tempo passa, mais ficamos parecidas e sugamos as manias uma da outra. Ela gosta de ficar grudada e de dormir no quentinho, comigo, é claro. E ela, mimada, quer atenção na hora que quer. Ela gosta de sentir meu cheiro, por isso deita em cima das minhas roupas. Ela vem para o meu cólo quando eu canto, ou então fica miando na porta para deixá-la entrar. Igualzinha a mim. Quero cama, comida e roupa quentinha, cheirosa, lavada e passada. E quero ser mimada com muito, mas muito carinho.
O meu rabo de gato astral é outro exemplo, que não pára de mexer durante todo o dia, especialmente enquanto relaxo ou quando sinto tédio. O meu pé, às vezes, dá uma de rabo. Aquele rabo de gato, que se mexe delicadamente, esnobando o ar à sua volta. Além disso eu mordo e arranho, mas aviso antes, que nem ela. Agora, um ponto fortíssimo que me convenceu disso foi que noutro dia percebi o quanto sou curiosa. Sabe aquela história da curiosidade matar o gato? É mentira. Porque gato tem várias vidas para gastar. Mas a curiosidade é latente, e faz gato pular do telhado atrás de passarinho. Ou borboleta. Só que se a gente pegar, mata.

sexta-feira, maio 25, 2007

Um trigo, dois trigos, três trigos.

Um enrolar de línguas. Um não saber se expressar depressa. Um tropeço de raciocínio. Um estalar de dentes, talvez uma mordida de língua. – Cuspe na testa?! Quem consegue, manifesta na fala a rapidez do albatroz, veloz, em sua ação mercuriana. É uma Carmem Miranda. Batuque de boca. Chic-chic-Ah. Um alívio para o espírito. Carmem Me-bomba. Carmem... mem... mem... mem... “AAAAAAA... -... tchim!”

Raio de Minerva

Meu pensamento cortou minha cabeça, sumiu do quarto, atravessou a sala, não conseguindo esperar pelo elevador, tomou as escadas, foi para o olho da rua atrás de você. Em um piscar de olhos, cruzou a cidade e lá estava, o meu pensamento, invadindo as paredes do seu quarto, tomando você em sua cama, sorvendo seu espírito pela boca. Meu pensamento invadiu seu espaço, despi você com os olhos, rasguei sua carne como roupa, chegando ao centro do seu ser, cuspindo com você, um orgasmo. Cheio, porém insatisfeito, saiu à caça novamente, o meu pensamento, em nova aventura. Não conseguindo esperar mais nem um segundo, pulou os dias até o próximo encontro. Os pensamentos são desrespeitosos, não seguem regras, não seguem nem o tempo e espaço! Aceleram nosso coração, têm total poder sobre nossas cabeças, atrapalham nosso sono, tiram nosso sossego! Os pensamentos geram sensações inexistentes, nos fazem gozar dentro do ônibus, nos fazem querem voar como o vento! Fazem eu querer concretizar todos esses momentos imaginados, invasores, coloridos de sabores, cheiros, cores e também com todos os amores, milhões de mulheres e homens, sem querer saber do raio em quilômetros. Raio de Minerva, me desfaça sua serva, me liberte da prisão que me mantém acorrentada aos meus pensamentos e subordinada a eles! Quero parar de fantasiar, porque enquanto não paro, minha vida pára e meu pensamento fica pulsando no meu cérebro, interrompendo a circulação sangüínea, deixando a respiração arrítmica, tomando todo meu tempo e fôlego na possibilidade de existência num mundo abstrato.

Sens-ação

escrevendo sobre o nada
É um clima de lua, talvez uma noite passageira que tenha vindo durante o dia. É uma sensação inoculada de prazer retido e uma falta de ação para com o mundo. Apenas há um sentimento de que algo poderia e deveria acontecer, mas minha atenção, vaga e sem foco, se atém a uma imagem de desejo e de concretização do desejo, porém com desfecho em frustração. Percebi que minhas fantasias são tecidas no plano mental e é lá que ficam escaldando. Estou apaixonada pelas idéias, mas a única atitude que posso ter é tentar tirá-las da cabeça e colocá-las na carne. E entender que, depois disso, não tenho mais controle sobre a situação que vai acontecer. Fico torcendo: “toca, telefone, toca!”, mas percebo que é inútil. Percebo que o tempo que vou levar daqui até lá será uma tortura, até o dia do próximo encontro, que é incerto, pois tudo pode acontecer nesse meio tempo. Fica a sensação do sonho nutrido sem válvula de escape, de desejo contido que não se pode resolver sozinha, porque falta a energia do outro e fica um vazio no meio do dia que poderia ser perfeitamente preenchido por vinho.

quarta-feira, maio 23, 2007

As gotas d'água

Está nublado. Quero lamber a umidade do dia para amenizar a queimadura na língua feita pelo café. Estendo a língua para fora da janela, no entanto, todas as gotas erram a minha boca.

domingo, maio 20, 2007

O papel do futebol na evolução espiritual das pessoas

Algumas respostas vêm como ondas. Você lança o questionamento ao mundo e, depois de um tempo, obtem a resposta. Esse mecanismo de aprendizado é fantástico, funciona mesmo.
Eu nunca entendi o que leva tantas pessoas aos estádios, para assistir qualquer partida de futebol. Sempre achei que fosse um esporte idiota e disparatado. Homens correndo atrás da bola, tendo que chutar para dentro do gol, ganhando milhões de reais... (???)
Mas mais longe ainda do meu entendimento estavam as pessoas que pagam para ir ver isso, com direito a suor, lágrimas e gritos. No entanto, a resposta me veio no refluxo da pergunta por esses dias, e estou começando a entender agora. É uma coisa muito maior que eu estava lendo na superfície.
Uma amiga disse que mesmo não gostando de futebol eu tinha que admitir o poder gerado pela torcida, que é algo realmente emocionante, mesmo para quem detesta futebol. Isso foi o que trigou minha resposta. O que leva as pessoas ao estádio não é o esporte em si, mas o que ele libera no cérebro dos torcedores. É neuro-química. Torcer para o seu time, no meio da torcida, principalmente para quem gosta de futebol e é um torcedor apaixonado, libera uma descarga surreal de prazer no cérebro das pessoas, não só porque estão presenciando um jogo do time, mas porque elas se sentem pertencentes aquele mar de iguais. Sabem que são uníssonas com o grupo e que estão unidas pela mente e pelo coração, em prol de um ideal maior.
Essas pessoas juram de pés juntos que estão lá por causa do futebol, mas elas estão se enganando. Elas estão lá porque a sensação gerada é uma sensação de integração com o cosmos. Essa vibração grupal é a união através do chacra Anahata, do plexo solar, o coração e essas pessoas experimentam um sentimento que é único e que, para elas, corresponde à experiência de ir torcer para o seu time de futebol, mas que na verdade é a celebração do amor divino, de pertencimento a algo maior que elas mesmas. Assim também se dá às pessoas que experimentam concertos e qualquer situação grupal na qual exista integração através de um foco específico (música, esporte, religião, etc).
E para vários ir ao estádio é mesmo sagrado. É um cerimonial. Entender isso vai me ajudar a não criticar mais as pessoas que têm esse prazer. No entanto ainda me incomoda bastante o salário dos jogadores.

Nova campanha anti-tabagismo

Uma nova campanha anti- tabagismo vem sendo anunciada pelo Ministério da saúde. Eles afirmam que a porcentagem de fumantes que deixaram o vício foi ínfimo, mesmo após as inúmeras advertências atualmente estampadas nos maços. Após pesquisas realizadas com homens e mulheres de diversas idades, para reduzir custos e melhorar resultados, as advertências serão reduzidas a apenas duas: "O ministério da saúde adverte: fumar causa impotência sexual nos homens." e "O ministério da saúde adverte: fumar causa celulite nas mulheres". "-Esperamos com isso reduzir o número de fumantes no Brasil e no mundo.", diz o secretário geral do ministério.

sexta-feira, maio 18, 2007

Experimento II: sem a ajuda dos olhos

Em fevereiro deste ano, eu e mais uns amigos em São Paulo fizemos uma brincadeira que acabou por se tornar bastante ampliadora do sentido da visão. Nós vendamos nossos olhos e formamos um círculo no meio da sala, e começamos a tatear tudo à nossa volta, inclusive uns aos outros. Primeiro nos sentimos planetas orbitando numa constelação, ficamos só rodando ao redor uns dos outros e ao redor de nós mesmos, dando muitas gargalhadas. Depois, a brincadeira era tentar adivinhar quem era a outra pessoa sem a ajuda da audição, apenas tateando na altura, rosto, etc. O objetivo era passar por aquele período de tempo sem enxergar, tentando realizar as ações convencionais de uma reunião social (conversar, ir ao banheiro, pegar coisas na cozinha, trocar a música, etc) sem a ajuda dos olhos.
Claro que algumas pessoas não agüentaram a imposição e roubaram, retirando a venda. Mas outras, como eu, resolveram levar a cabo a experiência. Tentamos mudar a música num som que não funcionava direito, tateando os botões do aparelho. Também fui até a cozinha me servir de um prato de macarrão, o qual já estava pronto na panela, mas que eu tive que esquentar e me servir. Também tive que lavar a louça depois, com os olhos vendados e me servir de vinho (procurar talheres, taça, prato limpos). Uma amiga, também com os olhos vendados, ajudou.
Uma das coisas mais evidentes é que é extremamente possível viver sem a ajuda dos olhos, mas é fato que eles fazem uma falta tremenda, especialmente quando se tem pressa. Por isso imagino que as pessoas cegas sejam bastante calmas, pois são obrigadas a fazer tudo devagar. Não existe a mínima condição de se andar com pressa, tatear objetos na cozinha com pressa, fazer qualquer coisa com pressa.
É interessante. Eu recomendo vendarem os olhos e tentarem a mesma experiência. Muito válido nos experimentarmos nesse sentido. Quem tem todos os sentidos funcionando perfeitamente quase nunca entra nesse universo deficiente. Não sabemos que dificuldades apresentam o mundo nesse universo. No entanto quem entra percebe novas verdades. Verdades que enxergam além do que o que os olhos podem ver.

quarta-feira, maio 16, 2007

Experimento I - Apague as luzes

Experimente fingir que estamos sem energia elétrica. Acenda uma vela e vá para o chuveiro. A princípio pode parecer escuro, mas com o passar do tempo você se acomoda à pouca luz. Aliás, a pouca luz é tão mais confortável...

Até que você percebe que enxerga perfeitamente tudo do que precisa com a chama de apenas uma vela. Estamos condicionados a termos tanto estímulo visual que nem notamos o quanto nossos olhos estão cansados.

Apague as luzes. Você vai notar que consegue ver as coisas muito mais claramente do que com todas as luzes acesas e em cima de você. Apague as luzes para ver melhor.
Apague as luzes do mundo para se ver melhor.

sexta-feira, maio 11, 2007

O caminho do sol - II (leia antes a primeira parte)

Procure o significado de si próprio no dicionário da vida. Pessoas são como letras, são as relações que formam frases. Encontramos partes de nós refletidas nos outros. Essas partes muitas vezes concordam e noutras discordam e não gostamos do que vemos. Mas tudo está em todos. E eu estou coletando as partes de mim para fazer um eu inteiro. E, como toda definição precisa de um referencial, estou tirando do mundo o olhar sobre mim e voltando a minha atenção para o que realmente me interessa: eu. Não quero ser construída em cima de bases externas. Não procuro a aprovação, eu procuro satisfação. Então, não é como as pessoas reagem a mim, mas sim como eu me sinto. Não é como elas fazem eu me sentir, mas é no que eu acredito. Não é como os outros me vêem, mas sim como eu me vejo. E aí, vou desconstruindo meu ser, retirando camadas impostas e colocando camadas escolhidas a dedo.
A desconstrução do ser é imprescindível para a expressão total do ser. Como pode alguém acreditar que se conhece sem ter desmontado as suas pecinhas antes? Você precisa entender os seus fragmentos, precisa se desmontar. E o que é interessante sobre o caminho do sol é que antes você precisa entender o caminho da lua. Mas não é bem assim que acontece também; primeiro faz um, depois faz o outro. É tudo meio simultâneo. E às vezes acontecem algumas surpresas. Por exemplo: eu sempre achei que minha forma de me relacionar com as pessoas e com o mundo dependesse dos meus sentimentos, e que minha auto-estima também dependesse inteiramente de não estar magoada ou ferida por dentro. E descobri recentemente que não é assim! Podemos ter uma excelente relação com o mundo e com as pessoas e estarmos nos sentindo fragmentados por dentro, incompletos, sensíveis, emocionalmente abalados, mas continuarmos perfeitamente cientes do nosso valor. E eu sempre achei que para sugar o prazer das situações minhas emoções deveriam estar intactas, quando isso não é real. Eu sempre achei que um trânsito terrível sobre a Lua fosse afetar a Vênus de uma forma determinista e fatal e estou descobrindo que “Lua é Lua e Vênus é Vênus”. Cada qual no seu lugar e uma não impede a outra. Daí que Eva e Lilith caminham juntas, Maria Madalena e Nossa Senhora caminham juntas. Instinto de mãe e instinto sexual caminham juntos, mas são duas coisas diferentes numa só.
Portanto, para passar para o início do conhecimento de si mesmo, é preciso subir aos níveis confusos, indefinidos, imediatistas e misturados das emoções. E enquanto sua criança interna berrar por alimento da alma, ou seja, atenção, carinho e afetos em geral, seu sol não vai conseguir brilhar, pois você estará ocupado pedindo sua nutrição ao mundo. Mas há anos o seu cordão umbilical foi cortado, e você não se deu conta. De que precisa aprender a alimentar a si mesmo, com as coisas do mundo, entendendo o seu universo interno. É mais fácil esse caminho para quem segue o caminho das estrelas. Quero dizer também que muitas pessoas passam a vida se ressentindo de terem sido separadas da grande mãe. Essas pessoas passam mais tempo sofrendo do que trabalhando. Quem quer comer do bolo, ajuda a plantar o trigo. É mais simples pôr a mão na massa que assistir ao preparo do bolo, sentir o cheirinho do bolo quente na cozinha e não poder comer dele.
Digo que está tudo em nossas mãos: a felicidade ou infelicidade do SER depende de quanto volume você dá às suas diferentes vozes e de como você as coloca para conversar. E do quanto você acolhe sua inadequação. A inadequação da alma no corpo precisa de um capítulo só para ela, e este já está bem longo. Fica para depois.

O caminho do sol - I

Para ser, é preciso primeiro “nasSER”. Mas não basta nascer para ser. Depois, é preciso crescer. Então, nossos pais vão colocando várias camadas educacionais sobre nós, outras vamos desenvolvendo por uma necessidade básica de proteção e vamos acumulando cultura: pensamento judaico-cristão, time de futebol, capitalismo, televisão, etc, achando que por começarmos a definir nossos gostos estamos desenvolvendo um senso de personalidade. A personalidade é mais uma camada que exteriorizamos para o mundo ver o nosso mundo. É um problema de título. A fachada define a pessoa pelo corpo físico como um título chamativo atrai as pessoas para um livro ou filme. E quem tem necessidade de ter várias facetas fisicamente, se enfeitando com piercings ou tatuagens em apenas um lado do corpo tem um problema de indecisão: quer ter mais de um título, o que é até mais natural e saudável do que adotar um título só e mantê-lo até o final da vida, mas enfim: eu queria escrever sobre o nosso desleixo, para com nós mesmos. Quem é que pode dizer que nasceu pronto? Quem diz ser, de primeira, sem tentativa, sem acerto nem erro não nasceu sendo, mas nasceu mentiroso. Estava pensando no caminho que fiz até hoje para conseguir ser. Quantas voltas dei, quantas descidas ao meu inferno fiz, quantas idas e vindas por ter esquecido de levar detalhes importantes? Eu não acredito então que possa ser mais fácil para os outros. Acredito que possa haver pessoas desinteressadas. Mas eu quero ser criativa, dona de mim mesma e por isso estou tentando me definir a partir do meu olhar sobre mim, desprovida de camadas. Eu quero SER, na totalidade. Acredito haver pessoas que compram máscaras prontas, existem tantas, que acabam acreditando em algumas, nas que mais usam. Na máscara de mãe, de filho, de profissional, de simpáticos, de “easy-going” ou o oposto, de ranzinzas, etc.
É possível ser sem a persona? Pessoa em português vem do latim persona. Persona em latim não é pessoa, é máscara. Podemos ser pessoa sem usar máscaras? Ou seu uso é mandatório, para a lida social? Quem olhar no meu rosto, sem máscara, verá um vazio? Não escutará um eco? Pior, verá o monstro desconhecido que é a si próprio sem um espelho? Não se sabe pois não nos permitimos andar por aí nus. Nus que eu digo não é estar desprovido de roupa. As pessoas peladas que pousam para as revistas estão sem roupa, mas não estão nuas.Vestiram a couraça. Andar nu é amoral. As pessoas só conhecem moral ou imoral. E o imoral hoje é ousado. A moral é careta, o amoral é inconsciente. Ninguém conhece. Já que ninguém conhece e eu sou ousada, resolvi fazer do amoral a minha moral. E ir me desnudando. Mas a pressão é incrível; é quase impossível me desfazer das camadas postas em cima do meu ser. Eu tento, dia após dia, mas o universo das camadas não é simples. Não ache que, depois de conseguir retirar uma camada será uma a menos. Não é assim que funciona. O universo das camadas não é linear nem cartesiano. Uma camada que tiro num dia, no outro está mais forte. Para cada camada que retiro, surgem 3 novas: é um trabalho do cão. Por isso, quem resolve fazer esse caminho subverte valores e se identifica com as trevas, porque você lida com luz e sombra o tempo todo. Diferente do conceito barroco de almejar a redenção e viver no pecado. Como eu disse, aqui no universo do SER não existe moral, portanto, não existe pecado. Existe sim um almejar a divindade e sentir-se demônio, denso. Mas não existe distância entre anjos e demônios, nem entre pessoas e deuses. Está tudo bem próximo. Podem até ser camadas de outra natureza, camadas extra-fisicas, camadas astrais estas, de nos tornamos deuses, devido à proximidade de naturezas entre espírito e matéria.
Firme e forte, mesmo que a alma sangre, é o desejo do espírito estar nu. E se não fosse pela filosofia cristã, arraigada a algumas camadas do nosso “ser- brasileiro”, teríamos prazer ao nos desnudar ao invés de sofrermos.
Pensem: é uma coisa mesmo imposta. A gente não sabe nem falar quando decidem por nós. Jogam uma água na nossa cabeça, falam umas palavras furadas e pronto: estamos batizados. Talvez agora façamos parte de uma coisa que não seja da nossa natureza.
Não era da minha natureza, então não demorou muito para eu virar a casaca e querer destruir o criador. Enquanto os outros do mundo lhe acusam de anti-cristo, você recebe o segredo da vida do universo e a chave para a primeira porta. Não é bem estranho? Mas é assim que acontece. Por isso a gente sabe quem já passou da primeira porta. Quem já passou reconhece os outros, já que a primeira porta é o seu corpo. Não é que nem virgindade, a densidade do ser fica diferente, você inverte o prisma de visão. E há uma abertura na pessoa, uma necessidade de conhecer e experimentar, uma abertura para o novo, o diferente. Há uma tolerância maior também para o que não é você e um maior interesse em conhecer o além de você que é, na verdade, o outro como ele verdadeiramente é.
O caminho com luz não é necessariamente o caminho do bem nem o caminho iluminado, e você aprende isso. E Lúcifer não é o pai das trevas, já que ele é a própria luz em si. Sempre desconfie da história que contam. No dicionário de latim, é esse o significado da palavra e eu gosto de procurar a origem das coisas. Entender de onde vêm os movimentos.

Alguém quer um autógrafo do papa? Terá que vencer o "papamóvel" antes.

Se vocês correrem, conseguem alcançar o papamóvel. Ele é bem menos veloz do que as minhas palavras. Talvez vocês até consigam um olhar daquela carinha santificada, ou mesmo um sorriso platônico bastante ortodoxo daquela pessoa em conserva, por de trás do vidro verde blindado.
Não acho plausível uma discussão em torno da possibilidade do não uso da camisinha. Sabem?
Estamos em... Vamos contar? 2007

Eu mencionei um cristo esquálido, né? Para os evangélicos não soou muito bem. Não me desculpem então, os evangélicos, porque essa história de papamóvel é tão chata que até o Jesus da folhinha de cozinha da minha mãe está olhando com cara de tédio!
Mami tem Jesuzes pela casa e eles estão todos nas suas cruzes. É que eu tenho preferência pela vida, e gosto de pensar nos meus heróis saudáveis, felizes e vivos! Sabem?

Também não se deixem levar muito pelo que lêem... Contos e crônicas são baseados em sensações e passam sensações, são construídos em cima de faz-de-conta. O que é real é a sensação, e não existe "sentir certo" ou "sentir errado", apenas sente-se. Por favor não saiam por aí agredindo os atores das novelas que interpretam os vilões.

O meu natural é tão estranho que quanto mais natural eu for, mais desconfortável vai ser para quem não é natural. Quem é feito de farinha e leite acha que tudo o que uma pessoa naturalmente faz é feito para chamar a atenção... Não é, gente! É ser natural. Se eu escrevo "eu tenho alma" no braço, numa faculdade católica aonde a maioria das pessoas não têm, eu corro o risco de incomodar. Cantar alto, nem pensar! Então eu mordo o lábio para não cantar e se quero dançar, eu me balanço, tamanha é a pressão para não ser natural. Mas eu estou tentando vencer o conflito. Watch me become natural. Mas o meu natural é desconcertante. -Estou avisando previamente-

Também não acho legal as pessoas acharem que precisam ficar anônimas, eu sempre acho que todo mundo sai perdendo pela falta de diálogo.

- Nossa, estou me sentindo meio Gregório de Mattos agora. Viram pessoas, como eu presto atenção nas aulas de Literatura? ;)

Mas adorei! Voltem sempre.

E para quem perdeu tempo lendo, corram, corram que o papa está passando!

Ele está passando!

Passou.

quinta-feira, maio 10, 2007

The Dreamland
- Capítulo 1

Eu, a morte

Desde que nasci, eu, a Morte, sou obrigada a ter uma vida normal e a enfrentar as dificuldades que qualquer ser-vivo encontra. Fui à escola desde criança, disfarçando o disparate de um espírito antigo num corpo novo e disfuncional, e nunca gostei de ocasiões sociais, principalmente das primárias.
Tive que aprender a aprender todos os aprendizados mortais: andar, falar, escrever e me relacionar. Esta última é a que considero a mais complexa, já que eu, Morte, sempre tive que lidar com as pessoas na proporção de “um para um”. Dessas relações sempre dei conta, mas não sei lidar com grupos. Saber o que responder aos resmungos das pessoas nas filas de banco, acho que viverei sem saber.
Hoje estou na faculdade. Hoje é o décimo nono dia, do quarto mês do sétimo ano do segundo milênio depois de Cristo, e eu estou sentada na segunda coluna, quinta fileira que vai da porta para a janela da sala, da esquerda para a direita para quem entra, no primeiro andar de uma faculdade católica. Nesta faculdade há, em cima de cada quadro-negro, um crucifixo com um Cristo esquálido, no qual ninguém repara a não ser quando a aula nos toma do mais sincero e puro tédio. Por acaso hoje a professora de Literatura resolveu falar da morte. Ela está tentando explicar o quanto é importante para a vida das pessoas a consciência de mim. Mas eu estou aqui, sentadinha, calada, observadora da situação mais estranha que já passei em vida. Aqui, bem na sala dela. Sem que ninguém nem cogite esta possibilidade.
Vi poucos acidentes, tento escapar do desagrado de ver os corpos abertos de pessoas e animais agourando, esperando por mim. Agora que tenho um corpo como o deles, sei o quanto dói perdê-lo. Anos a fio cuidando para entendê-lo, e depois, de repente, tudo se perde. Mas o meu papel se dá depois disso, no campo etéreo, aonde carne não entra. Aliás, não sei como podem as pessoas comerem a mesma substância da qual são constituídas e ainda fazerem disso uma ocasião a ser celebrada socialmente. Animalescos. Primitivos. Muitos ciclos ainda precisam passar. Maldito juízo de valores que cabe a mim. Sempre questionando. Quando eu sorrio não sorrio com eles; sorrio deles. Esqueço-me sempre da situação na qual me encontro: entre eles. Por isso, muitas vezes, passo por eles como um fantasma, mas me assusto quando me notam. Quando me notam, poucos detectam que existe algo peculiar por de trás da máscara de gente. Poucas pessoas olham nos meus olhos e as pessoas que olham, que conversam comigo, não entendem, não conseguem formar conceitos sobre mim, pois sou extremamente contraditória. Opostos supremos!
Continua lá, aquele Cristo esquálido, dependurado na sala. A mim lembra algo desagradável, mas eles parecem não se importar. Tudo é muito banal neste mundo, para esta geração planetária. Ainda me lembro de quando ele veio até mim... Saber de onde ele vem, saber para onde foi e ver no quê ele foi transformado aqui neste lugar é um pouco triste. Além do que, as pessoas não têm noção das suas feições, o que pode ser muito engraçado. Estas em nada se assemelham à imagem que adoram. No entanto, nada é aleatório. Tudo tem um porque, apenas as pessoas não se perguntam qual é. Elas acatam tudo o que dizem. Concílios se reúnem e decidem séculos de existência e elas não percebem nada. Nada de estranho. É como se a humanidade vivesse num sono profundo. Muita claridade cega os olhos deles e, hoje, os meus também.
Na minha forma original não tenho olhos. Eu sou toda presente e toda onisciente, como se houvesse olhos em cada núcleo de célula da minha pele, se eu tivesse pele. E eu reúno todas as coisas em mim. Sou um pouco parecida com o Caos de Todas as Possibilidades, só que dele as coisas saem e, para mim, as coisas voltam. Poucos vêm me conhecer por vontade própria e sem desespero. Eu exerço uma atração incrível e inexplicável, mas também um medo contínuo e absurdo. Sou quase como o segundo Deus para os monoteístas; quando não agem pensando no seu Deus, agem pensando no medo de mim. As coisas são em verdade bem mais simples do que aparentam. Morrer é, na maioria das vezes, como um sonho incontrolável, desses que sonhamos acordados. Tipo da fantasia que temos e vemos as coisas acontecendo sem que de fato aconteçam. Por isso é tão importante sonhar. É com esse músculo que se exercita para a morte. Podemos dizer que sonhar é como um treino para morrer. Completamente necessário à vida.
Ainda não disse como é quando me encontro comigo mesma. Essa explicação fica para outro dia. Estou usando este corpo ao máximo; depois descrevo a incrível sensação da “petite mort” dos franceses, quando volto à desorganização por alguns segundos. Orgasmos. Descanso. A morte é tão natural. -E eu sou mais fácil e mais dócil do que se imagina- mas este não é um convite a mim. Cada um no seu tempo. A entrega pode ser num suspiro ou pode ser arrancada. Só depende da pessoa.
Existem pessoas que lidam muito bem com processos de morte, elas são chamadas Plutonianas, mas nem todo Plutoniano está aberto a me receber. Muitos trancam a chave que receberam para os meus segredos a sete chaves. Também as pessoas que já passaram por Daath sabem como lidar com suas pequenas mortes, conhecem os processos de vida, morte e renascimento. Mas estes são passos diferentes que os dados pela maioria. Existem mais caminhos até mim do que se imagina. A maior parte das pessoas acha que estar vivo é o contrário de se estar morto. Para você estar vivo, é preciso estar morto em algum nível e para estar morto, é preciso estar muito vivo. Então são coisas absolutamente presentes a todo tempo. É como não conseguir enxergar o topo da sua própria cabeça. Você não se dá conta dele, mas está lá.

segunda-feira, maio 07, 2007

Quem sou eu inteira?

A estas alturas, ele já se convenceu de que gosta dela. Mas ela sabe que enquanto ele se mudava, me ligava para dizer que em mim pensara? Ela sabe que ele me ignora e por que ignora? A estas alturas, não precisei me convencer de nada. Tudo foi, naturalmente, se apagando. Foi uma chama que se acendeu meio que por engano. Foi um hipnotismo momentâneo. Aquele momento, com o qual ele sonha, que acontecerá/ia no futuro, nunca existirá. Eu digo. Eu faço. Fiz tudo o que podia. Aqui coloco meu ponto, final, certeiro. Sem vírgulas. A respiração ficou para frente e para trás. Aqui neste momento há apenas vazio, o espaço entre uma e outra respiração. Declaradamente meu ponto é aqui, mas já saltei do trem há muito tempo. Só que tem amores que deveriam ser passíveis de serem expurgados para fora das nossas células. Tem amores que encravam nos ossos, tem amores que marcam a pele. Esse amor não foi nenhum dos três, mas todos juntos e ao mesmo tempo nada. Só uma memória, agora, nem dolorida nem feliz.
União e separação de almas. Tem divórcio no inferno?
Com quem eu falo para processar alguém que levou um pedaço de mim, sem autorização nem aviso prévio? E com quem eu pego de volta, caso esse pedaço seja encontrado? O que eu faço com o buraco que ficou no lugar do pedaço que havia antes? Quem mandou eu colocar seu nome no meu pedaço? Quem mandou eu tatuar nas paredes das veias do meu coração, aquelas que levam e trazem meu sangue, a cada vez que nos beijávamos, a cada vez que eu perdia a cabeça... Quem mandou? Não foi você... Você só sugeriu. Você colocou uma aliança no meu esôfago, e ficou difícil de respirar. Aí, você quis agarrar minha cintura e me partiu em duas metades, a de cima e a de baixo. A de cima é santa, muito razoável, ponderada. Já a de baixo, sem os olhos para ver, foi enganada por mais de mil vezes achando que sempre era você.
E quem é você? Porque eu via uma coisa, mas você era outra... E quem sou eu agora? Agora que já curei o buraco, entupi com chocolate, -derretido ele conserta qualquer coisa... Agora que estou inteira e tenho todo o tempo para mim e que posso fazer todas as minhas vontades... Quem sou esta e o que quero? Minhas partes confusas que gritavam em vozes separadas mas ao mesmo tempo, aonde estão? Um coro em uníssono, é tudo o que ouço... E não é o seu nome que elas gritam, mas sim o meu. Há vida neste corpo? Finalmente.

sábado, maio 05, 2007

Minha casa


Almofadas de cetim pelo chão
Penduricalhos pelo teto
Panos indianos e acessórios africanos
nas paredes, como quadros

palavras na estante,
livros no banheiro
olhos como fechaduras
pessoas como chaves

silêncio como regra
comunicação em massa
garrafas de vinho armazenadas
garrafas de whiskey só pela beleza dourada

cristais e mais de um gato espalhados pela casa
baralho de tarot desarrumado, cama de casal
geladeira saudabilíssima
armário de reservas bem seleto
chocolates escondidos em locais estratégicos.
E um pote de sorvete no congelador.

Pó de café nas estantes
Poeira na gaveta de calcinhas
Lodo no chuveiro e dentro dos armários
Caveiras nas poltronas
Espelhos virados para as entradas e saídas
Ralos no meio da sala
E muito bem, obrigada. Não há louça nem roupa sujas, a dona é auto-limpante.

sexta-feira, maio 04, 2007

Sociedade de corte

Sociedade de corte

Pessoas que amam o verde e a natureza têm, por dever ideológico, parar de se alimentar de carne bovina. As pessoas que comem carne vermelha estão, não só ajudando a destruir a Floresta Amazônica para dar lugar a campos de pastagens, como estão se alimentando de sangue, dor e de agressão a um outro ser vivo de sangue quente, um outro mamífero. A agressão do abate é uma agressão ingerida por quem come a carne do animal morto.

Se você é o que você come, se seu organismo absorve seus hábitos e estes são refletidos nas suas atitudes perante o mundo, podemos entender um dos motivos através dos quais a agressividade e a raiva são difundidas e veneradas em nossa sociedade. Não é normal se alimentar dessa forma e a inconsciência sobre o alimento, já que este vem embalado e refrigerado do supermercado, geram doença, mal estar e distúrbios psicológicos. O paladar foi acostumado, é uma simples questão de reeducação alimentar desacostumá-lo. Não vale a pena dar continuidade ao esquema vicioso em nome de um prazer sensorial. Não faz bem ao corpo, não faz bem à mente e não faz bem à alma.

Assim é construído o pensamento na sociedade de corte, tudo é banalizado e nivelado por baixo. Sempre para menos. Menos importância as coisas têm, mais rapidamente nossa espécie desaparecerá. O corte segmenta, separa, faz sangrar.

Este post não é direcionado a todos os comedores de carne; apenas aqueles que escolhem a vida no lugar da morte. Embora todos tenhamos a opção, não é desejo de todo ser encarnado evoluir. Estou convocando aqueles que possuem este desejo, aqueles que lutam para preservar a vida.