quarta-feira, maio 28, 2008

Silêncio

Silêncio. Não quero pensar. Mas já estou pensando. Silêncio, eu quero silêncio. Não estou falando, são apenas pensamentos. Ruidosos, idosos pensamentos.

Em silêncio, as palavras são todas minhas. Eu sou dona de todas. Todas as formas, todos os conteúdos. Tudo fica mantido em segredo, todas as coisas existem sem ser mencionadas. O universo me pertence porque eu o entendo a partir das coisas que eu vejo e tudo o que eu vejo tem um nome, mesmo que não tenha, ou mesmo que eu não saiba... O silêncio é a soma de todas as palavras. E de tudo o que querem dizer. Sem sair da boca, você tem o controle sobre elas.

Depois que saem, elas pertencem a outro. Nada do que você diz pode ser controlado. O que você diz é apropriado por quem escuta, e essa pessoa faz com isso o que quiser. Se põe para dentro, se põe para fora, não é mais com você. A seta já foi lançada. O arco está vazio. A seta se perde dentro do outro; não sabemos para onde as coisas que dizemos vão. Não temos controle sobre elas uma vez que estão fora de nós. Não podemos prever as consequências.

Palavras ditas sobre coisas, fazem coisas desaparecer? No momento em que eu digo "eu te amo", o amor deixa de existir? Porque uma vez que proferidas as palavras, esvazia-se o conteúdo, esvazia-se o que queriam dizer? A pressão vai embora, o amor deixa de existir?

Palavras que falamos com medo, fazem coisas acontecer? Se dizemos "tenho medo disso", isso acontece? Porque as palavras criam a realidade e, se proferidas, passam a existir?

Não sei... Não sei... Silêncio.

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