quinta-feira, maio 15, 2008

Quando um nariz não é uma pessoa

Eu desejo. Como se as pessoas estivessem dispostas em uma caixa de bombons e eu estivesse, com o indicador, escolhendo qual eu gostaria de provar depois. Vejo cabelos, narizes, bocas, mãos, pernas, tudo... E desejo. Vejo um corte de cabelo masculino e desejo. Mas o corte de cabelo não é uma pessoa. Vejo um nariz e uma boca, e desejo. Mas essa configuração também não é uma pessoa. Eu vivo desejando partes de pessoas que, se estivessem juntas, talvez nem formassem uma pessoa que eu desejasse. Mas elas assim, em separado, eu desejo. Desejo ter e absorver aquelas partes, depois lembro que não são as pessoas que eu desejo, são apenas as suas partes.
"- Posso namorar com o seu nariz?" Tenho vontade de perguntar. "Posso alisar o seu cabelo? Beijar sua boca? Não quero você, quero apenas a sua parte que eu desejo..."

E eu tenho certeza que existem várias pessoas por aí que não se relacionam com outras pessoas, mas sim com suas partes. Eu tenho certeza disso.

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