sexta-feira, outubro 06, 2006


Eu estava dentro do carro hoje, parada no sinal, quando ao meu lado passou um cara aleijado, deslizando num skate. Como eu não sabia lidar com a situação, virei o rosto para o lado contrário, para não ter que encarar isso de frente. Eu detesto dar esmolas, nos sinais, em qualquer lugar. Mas depois eu me arrependi. Porque nosso governo não tem um plano de proteção aos aleijados, para que eles não se tornem inválidos. Mas aquele cara não era um inválido; ele estava passando seus dias ocupado, deslizando num skate, pedindo dinheiro nos sinais. Ele estava bem ocupado desviando das rodas dos carros! Eu achei que eu podia ter dado, ao menos, um olhar pra ele, dizendo que não tinha dinheiro. Eu faço tanta questão de consciência e ali estava eu, decidindo por ignorar algo por não saber o que fazer, por nunca ter pensado sobre o assunto. O cara deslizando no skate e eu deslizando para o automático. Quantas pessoas no Brasil nunca pararam para pensar nas coisas da vida que não são ditadas pelas telas da tv? Muitas. Eu mesma, que quase nem vejo tv, preferi ignorar uma pessoa aleijada, por não saber como olhar pra ele, pra não ter que dizer não para a esmola mais uma vez na vida. São todas as esmolas iguais? Estão todos os pedintes na mesma situação? (...) Eu não gosto de derrotados, mas aquele cara era um vencedor e eu ignorei um igual. Que merda, hã? Fazemos isso todos os dias sem saber, porque queremos definir parâmetros, padrões através dos quais agir, pensar e falar, modos de ser que nos definam e todos os nossos conceitos formados, gerados ou adquiridos. As pessoas precisam se libertar de definições e rótulos. Principalmente eu, que sou A metamorfose ambulante. Não existem verdades e mentiras no campo do subjetivo E só dá pra saber como lidar com algo a cada situação que aparece, o que sempre será uma situação nova e desconhecida, mesmo que com elementos aparentemente parecidos com histórias antigas.

É muito doido, mas é isso aí mesmo. Signos mutáveis, babe. Bjos

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é, Alexandra... tem um texto meu mais ou menos assim:

"Um ser pensando dentro de um ônibus,

uma noite de frio.

Odiava o frio, mas quer virar transcendente...

Então fica se policiando a todo momento.

Para que odiar o frio?

É tão gostoso chegar em casa e ter cama e edredon.

TUM.

Bate aquele desespero:

Desce do ônibus e o que vê?

Um senhor, amigo da rua,

(vulgo mendigo)

passando frio, e conversando com alguém invisível.

Como é covarde esse ser...

Passa como se o problema não fosse dele,

ele, que tão transcendente quer ser

apenas segue seu caminho...

A parte daquele amigo da rua

que tem em si reclama.

Reclama da falta de atenção.

Reclama da desumana indiferença do dia a dia.

Isso vai doer um dia.

Isso vai doer.

Esse ser sou eu.

Esse ser é você.

Sempre."


A diferença entre nossas personagens é que no meu o indivíduo é estagnado, no teu, guerreiro.
Nossas atitudes, porém, forem as mesmas...

Triste, não? Que tal mudar isso em nós?

Beijos