quinta-feira, março 12, 2009

pelo meio das pernas

Bom dia, tristeza. Você acabou de acordar e eu ainda nem fui dormir. Sabemos de nós duas; nos encontramos sempre às zero horas. Sabemos que você mora no meu ventre, e que em noites de lua cheia como esta, e nas noites de copo cheio e de vida vazia, ou se transborda ou se quebra. Copo frio, sangue quente. Hoje eu quebrei, porque vi o reflexo do sol no copo e quis alcançá-lo, amá-lo, mas hoje não era dia de sol e sim de lua, e meus cacos ficaram espalhados pela vida. Essas pontas afiadas são tão atraentes... Brilham como os olhos dele. Me cortar seria como tê-lo por perto. Os cantos, os ralos e a umidade também; é tudo muito atraente. Se eu fosse líquida, derramaria. Talvez hoje isso aconteça e amenize a pressão do coração que não se aguenta, e sangra por baixo. Ao invés de explodir em amor, implodiu pelo meio das pernas, e vai para baixo, nutre a terra, vai para o subsolo. E nada de cuidar de um amor, hoje. Nada de subir aos céus para nós, mulheres. Lilith maldita, ri de mim, com suas mil labaredas dentro do meu útero, me fazendo querer sangrar para parar de sofrer.

Amor escorrido pelo meio das pernas, para o solo, para ser reabsorivo pela terra. Mais um ciclo, mais uma morte. E mais um dia em minha vida sem amor.

Um comentário:

Unknown disse...

uau.
hj percebi que viver é morrer, perdemos algo que morre a todo instante, nós já não somos ou seremos os mesmos, a cada breve instante, mas só uma foto antiga pra fazer cair essa ficha.. lá está toda memória de algo que não volta, jamais serei tão inocente, jamais terei aqueles olhos de criança, mas apenas sua memória.