Quando estou por cima, você está por baixo. Quando estou por baixo, você está por cima. Acho que não temos como ficar lado a lado, olhando para a mesma direção, numa posição confortável. Se você está por cima e pode olhar para mim, olha para mim e não para onde estou olhando, que é você. O problema é quando você não olha nem para mim, nem para você. E você sempre procura olhar para algo que tire você do estado concentrado da sensação, de raiva, de dor. Você não procura sentir a sensação que sente, mas procura fugir dela. Qualquer distração, qualquer maresia ou miragem que tire você da agonia que você carrega dentro de você, e não na sua mochila, tira você de você mesmo. Mas o que vai sobrar para mim, quando estivermos juntos?
E o que vai sobrar aqui, depois que você seguir adiante de todos esses olhares e não olhares?
Eu pergunto e questiono: por que olhar a beleza de tudo o que existe ao seu redor, mas não olhar a beleza de tudo aquilo que existe dentro de você?
Por que você ignora essa senhora sedutora e profunda, cheia de dedos, seios, tatos, cheiros e bocas, e pernas e unhas e todas as coisas de que você gosta, e que vive e clama e grita pela sua atenção, e arranha, e faz você sangrar, e separa o seu coração em dois ou o transforma em cofre fechado no fundo do mar... Mas cede aos desejos mais superficiais da sua telha?
Por que continuar vivendo sem amar e sem se deixar amar?
Eu não sigo adiante, até resolver. As questões para mim não morrem no suspiro.
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