sábado, outubro 27, 2007

Hoje, eu vi a estrela Dalva.

"Lá vem ela. Não, por favor não." - penso, embora saiba que não há jeito. Aproxima-se numa velocidade incrível, destruindo todo e qualquer traço de subjetividade introspectivo e introjeção de silêncio. A assimilação não é possível. Acontece que mesmo estando ocupada, a voz não se importa em invadir, vazar e penetrar contra vontade. Ela quer me forçar a vir para fora, a minha própria voz, encurralada, mesmo quando (des)trancada.
Não suporto ser forçada a -NADA-.


- Quer café?



"Ufa; ao menos uma pergunta não ofensiva... De todos os importúnios, que seja o de me oferecer alguma coisa."



- Sim, obrigada.



Trouxe o café.



- Está adoçado? - disse.

- Sim.

- Com o que?

- (...) Açúcar?! Cristal?!

- Nham... Mas cara, eu só uso o orgânico que tá em cima do microondas. (...)


Piração total. Meia fúria do auto-mar permanece intactata, mas a outra se agita. Vem quebrando em ondas. Só na beiradinha, mas ao redor.
Virada ao contrário, perde-se um pouco do contato com o mundo externo. Mas ao estar virada do avesso, qualquer suspiro de existência traz de volta à consciência e, quem disse que quero isso? Mas aquela voz me obriga.

O café veio até mim, mas preciso ir atrás do açúcar. São tantos detalhes específicos; não posso culpá-la por não tê-los aprendido durante @& anos! Não posso culpá-la pela falta de interesse em observar, memorizar e entender minhas necessidades...vontades, verdades.

Rapidamente tento retomar os eixos de mim mesma. É uma luta constante. Muitos raios me partindo ao mesmo tempo, muitos raios me rasgando inteira, transformando quem eu sou; muitas oposições conjuntas formando quadrados que giram interminavelmente.

Os triângulos ecoam na testa, peito e base da coluna. Mas não causam espirais. Pode ter alguém que discorde... Eu também não tive tempo de examinar se funciona; tudo acontece muito rápido.

Estou testando aos poucos, como ruminando cada pessoa e situação. Alguma coisa precisa ser expelida.

Talvez eu queira que as pessoas se alimentem do que eu crio, que seria o mesmo dizer das coisas que eu exteriorizo, como seria o mesmo dizer: "de todas as minhas merdas".
As pessoas gostam se for iluminado, colorido, caro e interessante. "A melhor merda do mundo! Toca em todas as rádios, sai em todas as revistas!!! A melhor merda que você pode conseguir ser!!"
Seja. Seja. Seja algo, mas seja. Melhor tentar ser você mesmo, mas quem é você; quem você pensa que é? Quem é alguém que pensa ser como quem? Você é um fruto como qualquer outro.
E nossa sociedade (em nome do pai) acha que todos os frutos são podres (e pecaminosos).

Tarde da noite. A lua cheia atinge o cume máximo no céu.
Hoje eu vi a Estrela Dalva.

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