sexta-feira, junho 20, 2008

A parede de gelo

O quanto o fogo de uma vela pode derreter de uma parede de gelo? O fogo que carrego em mim, que antes parecia queimar com uma força que poderia incendiar um prédio inteiro, agora parece ser carregado do lado de fora, como dependente de cera e pavio, sujeito a se extinguir ao menor sinal de vento. E isso tudo parece tão errado. Pareço sempre estar ao contrário. Existe uma rebeldia inexplicável, que faz com que eu me recuse a encarar o medo do frio embaixo de neve e árvores ressecadas. Não me vejo passeando perto de nenhum lago congelado, sob a chuva, perto de um cenário todo branco, sozinha com um piano, mas sozinha no topo de uma montanha, com toda a vida aparecendo lá embaixo, rios e animais correndo, e eu observando. Toda a vida passa, e o mais próximo de mim que existe é a pedra sobre a qual me estendo. E faz sol e o céu é azul.


E existe a percepção de vida, e existe a sensação de pertencimento quando estou no vazio, mas quando me incluo e me relaciono, parece existir uma parede de gelo que me separa de todas as situações e pessoas, e faz com que eu esteja posicionada acima de todas as coisas. Rapidamente me volto para a posição de proteção; o alto da pedra. Para o alto da pedra, para a reaproximação com as importâncias da vida. Se ao menos eu fizesse parte delas... E me vejo assim, inclusa no sistema, ao estar sozinha e tão perto da imensidão. É entre as partes pequenas e segmentadas da vida que sinto perder o controle, que me perco de mim mesma e fico tentando trazer esse sentimento de santidade para perto da vida de todo dia. Aquele fogo que antes só queimava no meu coração, agora está nas minhas mãos e é visível. E não pode derreter paredes de gelo, mas pode ser visto como uma opção ao frio. E faz com que eu me lembre das importâncias da vida. Mesmo que eu esteja sozinha, o sopro de vida sempre estará comigo. E com tudo aquilo que me cerca. Mesmo que eu não saiba lidar com isso e saber que, no fim das contas, estar sozinho é uma coisa boa.


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