Subi a montanha, estava nublado. Porém, fazia calor. Sem proteção e sem aviso, levei na bolsa todas as minhas questões, e fui arrastando meu peso redondo de ferro até lá em cima. Quando cheguei lá, o tempo abriu, e eu olhei o sol de frente. Queimei a cara. Peguei uma pedra e quebrei a corrente. Cuspi as questões no chão. Os gaviões ficaram por perto. Os urubus não ousaram. Esmaguei alguns poucos insetos, aqueles mais intrusos. Conversei com a minha cara metade, com a minha metade sem cara, com o meu choro. Abracei o tronco retorcido de uma árvore pequena, que tinha umas coisas esculpidas nele. Fiz xixi no matinho. Fiz o eco repetir aquilo que eu não queria dizer, mas precisava escutar para que virasse verdade. Pois é, você morreu. Mais um passado na minha vida. Vários "vocês" que viraram história foram deixados lá em cima daquele morro. Eu morro também. Mas eu não estava sozinha. No alto da montanha, podia observar a cidade lá embaixo, tão caótica, tão barulhenta, tão mal construída e tão feia, como eu, naquele momento. Meu cabelo ressecado e desgrenhado, a boca seca, o interior tumultuado, os pássaros cantando... O corpo sujo de terra e a cara queimada. Porque eu não importava, porque a vida daqueles pássaros continuava como que em qualquer dia, e eu ali, o diferente, um invasor tão pequeno que não importava. Tentei imitar o som dos bem-te-vi. Acabei virando um macaco. Eu virei um macaco. Ficam todas as marcas.
Agora, estou trocando de pele.
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