sábado, junho 06, 2009

Trégua?

Finalmente o tempo resolveu me dar uma trégua e esconder aquele sol brilhante antipático, se transformando em algo mais a ver com o meu humor do dia. Não é um dia-a-dia o meu, é uma vida-a-vida (acabei meu primeiro Clarice Lispector ontem). O humor do dia é um humor da semana, que vem se estendendo. O meu humor não é apenas o de uma mulher rejeitada. É o humor de todos os sofrimentos que as mulheres passaram pelos anos de existência no planeta Terra. Primeiro quando as sociedades deixaram de ser matriarcais e passaram a ser patriarcais, e a liberdade sexual das mulheres passou a ser completamente execrada pelos anos de história (pois se antes os conhecimentos eram passados das mães para os filhos, pouco importava quem era o pai). O que somos agora, senão um reflexo maldito disso tudo? Depois veio o cristianismo que partiu a mulher em duas: santa e prostituta, e que as duas não se encontrem. O Holocausto foi fichinha se comparado à Inquisição, séculos antes, e todo aquele caos esquizofrênico e neurótico em que a Europa se transformara, chamando de bruxas as mulheres que mantinham, secretamente, seus cultos às deusas (especialmente à Afrodite, claro) e queimando essas mulheres na fogueira. Entre os crimes praticados a fogueira era o mais leve, porque eles (os patriarcas cristãos) submetiam essas mulheres à humilhações e torturas sexuais antes de queimá-las (e só com fogo mesmo elas poderiam se limpar dessa podridão). Então a minha raiva e a minha angústia não são apenas de uma mulher que reflete o perfil de apenas uma deusa, mas sim de todas as deusas que vieram a ser renegadas por todos esses séculos. Milênios! Então, definitivamente, esses reflexos dourados não combinam com a minha personalidade lunar. Que venham os cabelos prateados, brancos, e que eu escureça as madeixas. Porque nas metades do mês em que desço ao Hades você não me parece um parceiro tão adequado para o meu amor, para toda essa força que tenho, não querendo ser um deus você mesmo e se eternizando como uma criancinha. Nas metades em que colho margaridas com Deméter, tudo está ok, porque é tão agradável o amor às crianças. Mas quando eu empurro as margaridas à vida, lá debaixo da terra, então percebo tudo de um ângulo diferente e, me parece, que você quer o cólo da mãe terra, um cobertor quente, enquanto eu sou a personificação do amor. Mesmo que agora eu seja puro ódio.
Como disse antes, ainda bem que o dia apagou aquele sol antipático e me trouxe nuvens cinzas. Digamos que seja um sacrifício ou uma transformação do amor para mim, a mim e A MIM! Se chover, eu vou pra rua. Uma cerveja à Deméter! Bebo em nome de Afrodite e Perséfone, deusas mais fortes em mim. Não sou uma feminista, só de raiva; sou uma feminina. Toda-toda; dos pés até a ponta do fio de todos os meus cabelos. Hoje eu só bebo em nome às mulheres porque é tudo o que eu sou e tudo o que posso ser.

Um comentário:

Lucio disse...

E ser mulher, alem de muito, é uma grande responsabilidade.. acho que rola uma inveja secular do homem em relação ao poder de visão muito superior da mulher, sendo o homem tão mais pequeno em seus cartesianismos e orgulhos envolvendo o poder. Como se fosse uma conscpiraçào inconsciente pra afastar a mulher da intuição, do poder dela, que infelizmente teve resultado: quantas mulheres livres voce ve por ai?

Enfim, a grande responsabilidade tambem inclui compreender e perdoar, pra ser livre, e nao o contrario - ser feminista e ficar presa a um sexismo pequeno ;)

Texto bonito... e melhor: livre!
bjs