segunda-feira, novembro 02, 2009

Redenção









Não compartilhamos amor, mas estávamos guiados pela beleza. Eu acho esse um engano digno. Os meus meninos se tornaram belos homens. Levei vários anos, mas convenci os meus tentáculos por fim a libertar cada um deles do meu abraço apertado. Eles, por sua vez, estão cada um nos braços de mulheres lindas e perfeitas. Se olho para trás, hoje é com leveza e sorrisos. Os meus meninos, um para cada tentáculo, também me ajudaram a deixar a velha casa: do mar aos céus. A beleza é um assunto sério, por isso olho diretamente para o Sol quando quero vê-la. Aprendido e incorporado. Não ser polvo, nem me libertar de um tentáculo e me prender em outro. Não procurar a beleza nos olhos de um homem, não esperar que me retornem o direito à beleza, mas emaná-la através dos meus próprios olhos; ver beleza em tudo. É claro que escrevo de dentro, de um local de subjetividade, e que a minha subjetividade é apenas verdadeira para mim; por fora, eles nunca foram meus. A ilusão é bela; se o véu de Maya não nos parecesse belo, como nos seduziria? Se a ilusão não fosse atraente, se não fosse prazeirosa, não nos seguraria tanto tempo debaixo das suas ondas. Mas é do caos que nascem estrelas e, por isso, há sempre esperança. Acho digno se perder por conta da beleza, mas foi mais legal ter a experiência inteira dando a volta por trás e vendo o que há. O sagrado une as partes separadas. A beleza não é minha, eu a pego emprestada do universo, mas a devolvo logo em seguida, a cada respiração.

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