sexta-feira, setembro 08, 2006

Recalques

Todo mundo recalca várias coisas durante um dia inteiro... A vontade de gritar sem poder, porque você está no trabalho ou em aula...
A vontade de ser totalmente espontâneo é recalcada desde que somos crianças. Não é bonito falar o que se pensa, nem agir conforme o que se sente.

Recalcamos um pisão no pé aqui, uma discussão com uma pessoa idiota ali, uma relação que terminou mal, algo que gostaríamos de ter dito, mas entalamos na garganta, etc. Assim, nosso saco de recalques interno vai acumulando muita sujeira, numa sociedade onde a auto-expressão é quase proibida. I mean, você precisa se rotular de artista para poder se expressar sem o rótulo de "maluco" nem sofrer as consequências por isso.E aí, as pessoas a favor da auto-expressão não têm outra opção a não ser abraçar esse nome bonito que dão pra nós.

Enfim... O sentimento mais comum que é gerado a partir desses recalques é a raiva, que por sua vez também é recalcada, por ser "um sentimento muito, muito feio". Dizem que a raiva é uma emoção inferior, diminuem as pessoas que sentem raiva (e as pessoas são sempre diminuídas pelas suas porções mais humanas, já repararam?), e isso gera mais raiva.

Raiva de estarmos num mundo cheio de gente e não termos vez, raiva por não termos voz, raiva por não termos meios de *SER*, no total da expressão. Existem fórmulas pré-estabelecidas, e por isso aceitas, para você se tornar uma pessoa desenvolvida e evoluída e a resposta é ser uma cópia. Alguém calmo, inabalável, inatingível, como Dalai Lama. O que quero dizer é que a raiva não tem vez. Se você é uma pessoa evoluída, não devia sentí-la, certo?

Errado. Se você *É*, você é um pacote e a raiva está inserida aí. O problema é o que se faz com esses sentimentos. Pois bem, a sociedade trabalha duro para nos ensinar a negar nossos sentimentos, e mais do que isso, ela nos faz sentir menores ou envergonhados de não estarmos cintilantes, flutuando no mais alto azul do céu.

Então... Eu quero sentir raiva e poder mostrar. Eu quero sentir tristeza e poder mostrar. Eu quero poder chorar em público à vontade, dentro do ônibus, na fila do banco. Eu quero poder demonstrar às pessoas que eu amo o quanto eu as amo e também poder falar sinceramente o que eu sinto quando alguém faz uma coisa que eu detesto.
Eu quero recalcar o menos possível, porque eu quero ser uma coisa que pouquíssimas pessoas neste mundo têm condições de ser: saudável.

Essa frase que eu escrevi um dia me é muito querida: "Tudo que há dentro de nós, deve ter poder de voz." Avante, pessoas de vontade forte! E expressem-se à vontade.
Beijos e bom final de semana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emociona-me.

Falou com algo dentro de mim que me foge à percepção consciente.

Beijos