quarta-feira, fevereiro 14, 2007

As viagens de um filme

Começar uma relação sem saber aonde se vai é como ficar uma hora e meia assistindo a um filme, se envolvendo com os personagens, participando da trama e não ver o final.
Eu fiquei inspecionando na minha cabeça hoje sobre umas coisas bem estúpidas, daquelas curiosidades que não levam a lugar algum. Não sei de onde vieram, nem para aonde vão. Sabe? Tipo, o que deve sentir a mulher “beautiful” do James Blunt, aquela que ele encontrou no metrô e que estava com outro homem, mas que sorriu pra ele, como um anjo... Se é que ela se lembra dele. Se ela se lembra, como deve se sentir? Sabendo que aquele desconhecido que a viu por alguns minutos fez uma música pra ela, para aquele momento de minutos. Minutos que foram eternizados e que agora possuem grammies. Tudo porque ele achou que aquele início valeria a pena; escrever sobre aqueles minutos idiotas no metrô. Agora ele está rico, e ela está com a vida dela. Ela não tem crédito nenhum por ser a musa dele. Só o que tem é a lembrança. Nenhum dos dois viu o final do filme. Vão ficar imaginando a situação para o resto de suas vidas.
E o que deve sentir o homem que estava com ela, se ele se lembra daquele sujeito meio com cara de inofensivo? Se este homem se lembra daquele homem, agora deve morrer de raiva que aquele homem aparentemente inofensivo passou uma cantada mundial na mulher dele... E que ganhou muito, mas muito dinheiro com isso! Imaginando que essa história é real e que essa cena aconteceu mesmo. Sabe? Não temos segurança de nada. Por isso dou muitas voltas antes de falar o que eu realmente quero. Como posso saber aonde eu começo e aonde eu termino? E não sabendo, como posso saber aonde uma relação comigo pode levar? Mesmo que eu queira prever, através dos meus sentimentos até hoje, como posso saber que os anos que eu passei estudando a mim mesma não serviram para alterar o meu futuro? E como eu posso pensar que todas as mudanças que eu causei em mim mesma não serviram para que eu consiga aproveitar uma abertura de porta no seu movimento natural, sem que eu precise tocar na sua maçaneta nem para que ela se abra ou se feche. Sabe?
Mas o que eu quero dizer mesmo é: eu quero amar. E para amar, eu preciso tentar. E para tentar eu preciso não temer. Porque se eu pensar que algo pode dar errado, então tudo pode dar errado. E se eu não temer, posso pular de cabeça numa piscina seca. Então é bom que eu tema um pouco. Não são muitas as opções. As escolhas no amor não são justas, e não são tão previsíveis. E as minhas apostas... Estou apostando no preto ou no vermelho? Either way it sounds bad. If my heart turns red, it’s because it is bleeding, or because I’m in love. If it turns black, well, that story everybody knows so well… Eu digo que eu quero não passar a mão na maçaneta e então, chuto com força as janelas. ABRAM-SE! Eu comando. E nada acontece. Nada acontece. Nada nunca acontece. E eu espero. Eu virei a história ao contrário e ninguém sabe do que estou falando. Mas consegui transformar o conto original em uma história. Eu sou a roteirista do filme. O James Blunt do meu metrô. E eu sorrio para mim mesma, e eu sou a escritora e sou a própria musa. Eu começo e termino em mim mesma. Não vou ficar pensando para o resto da vida. Eu sei aonde eu vou. Eu sei como a história termina. E eu nem preciso ficar acordada vendo o final do filme. Agora posso sonhar com o final que eu quero.

Nenhum comentário: