quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Ruas esburacadas do meu não ser

Paralelepípedos são meus sapatos e eu ando nas ruas esburacadas do meu não ser. “Joga pedra! Joga pedra!”, pareço ecoar para as pessoas que se mostram devagar nos becos por onde passo. Uma “drag queen madaleniana”, de dois mil anos atrás, só que nos dias atuais. A transexual que se casou com Jesus, em busca de uma próxima vida mais amena, mas que só ganhou mais culpa. Culpa por ser transexual, culpa por se casar com um messias, culpa porque ele era tão limpo e o reflexo da luz e por ela ser apenas uma versão imunda da escuridão; culpa porque os seus frutos nunca seriam reconhecidos, culpa de ter se permitido entrar neste papel.
Travestida entre os profetas, para que ninguém a percebesse mulher. Mascarada de violência e vergonha por ser quem era. Sim, ela teve os ensinamentos dele e mais! Mas não ousamos saber ou questionar, aonde foram parar tais textos.
“Meretriz! Meretriz!”, ouço alguém chamar e rio com escárnio. Cruzo a esquina e me debulho em lágrimas, por um orgulho falso de ‘não sei quem sou caso não me faça de forte diante do atacante’. Pedras me faltam, para o número de pecados aos quais eu me restrinjo, e em pedras eu piso. Pois cantar eleva a mente e o coração, mas se voar como o amor por nada. E hoje, eu estava tocando com as algas presas em baixo da minha concha, com os bigodes embebidos de embaraço.
A voz sai, mas ela prende o que eu grito. Por isso, sai diferente. Eu quero falar, mas a crítica vetou meu poder de voz em seu reinado. Ela inspecionará, em breve, também outros reinos.

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