sexta-feira, março 16, 2007

O vôo da rolinha

O vôo da rolinha

Amanheci com alguma dificuldade e um certo mau-humor. O cedo das manhãs não me cai bem, nunca. Mas como de costume, fui até a varanda trocar a água e a ração da Estrela, minha gata, que, ao contrário de mim, amanhece com fome.
Quando chegamos foi impossível não reparar num enorme barulho vindo do quarto do meu irmão... O que seria? Logo percebemos que era um pássaro batendo as asas contra o vidro da porta. Estava preso. E era uma rolinha bem pequenininha.
Meu coração entrou em desespero. Estaria ela com uma das asas quebradas? O que eu deveria fazer? Salvar a rolinha, sem dúvida. Mas, como? Tentei entrar no quarto do meu irmão, mas a porta estava trancada. Rodei a chave através da janela e entrei, mas Estrela estava tão curiosa para ver o passarinho que eu tive que prendê-la no meu quarto. Eu sei que ela não machucaria a rolinha, mas a bichinha já estava suficientemente assustada. Voltei para o quarto do meu irmão. A rolinha havia se escondido entre a cama de baixo e o armário, num buraco aonde meu irmão, quando criança, gostava de se esconder também. Como ela encolheu as duas asas, percebi que não estavam quebradas.
Tentei pegá-la por duas vezes sem sucesso. Então comecei a respirar fundo. A tirar de mim o medo que estava na rolinha. A acalmar em mim o medo de machucá-la sem querer. Comecei a conversar com ela, sobre como eu só queria ajudar, para ela não ter medo de mim. Inspirei e expirei, emanando energia de amor. Continuei conversando com ela até que eu estivesse confiante. Na quarta vez, eu consegui pegá-la. Fiz uma concha com as mãos, prendendo suas asas com meus polegares, com firmeza mas sem força. Lembrei do meu pai, que trazia para casa as rolinhas que tinham sido expulsas dos seus ninhos, cuidava das asas, dava comida na boca até que elas ficassem boas.
Levei a rolinha até a varanda, junto ao meu peito, mas como eu tenho uma tela de proteção para a Estrela não cair, tive que ter cuidado ao colocar o passarinho para fora. Cuidadosamente coloquei a cabecinha dela no buraco da tela e abri as mãos. Ela voou com muita vontade e imediatamente eu senti um alívio que parecia lavar a minha alma com força de vulcão, de cima para baixo. “Consegui”, respirei aliviada. Lágrimas me brotaram aos olhos e deixei que elas viessem. Emoções borbulhantes, merecem se acalmar. Havia ganho o dia por um mês inteiro. Consegui vencer meu medo, consegui liberdade para a rolinha ainda em vida, ainda bem... Consegui vê-la voando para bem longe, para onde é o seu lugar, junto com as outras rolinhas. Consegui sozinha.

Um comentário:

Natacha disse...

Parabens pela forcinha interior que foi capaz de encontrar.

Sei do que fala.

Sonhei contigo esta noite, florboleta. Que eu tinha ido ao Rio.
Depois te conto com detalhes, estou fula com meu teclado desconfigurado...rs

Beijos!
(Tenho uma proposta, depois falamos)