terça-feira, setembro 11, 2007

Água até o pescoço

Quando eu era pequena, de vez em quando íamos visitar a praia das conchinhas, porque uma tia da minha mãe tinha casa perto da praia das conchinhas e lá não tinha areia; eram só conchinhas (machucava um pouco o pé). E eu lembro que a água era bem mansinha, sem ondas, quase como uma lagoa e a água era cristalina e dava pra ver o fundo da praia e era um lugar bem bonito, meio mágico.
Lembro também que os adultos iam para o fundo, onde não dava pé pras crianças, nem pra mim, mas eu queria acompanhar o grupo e participar das conversas, então ficava bem na pontinha dos dedos e com o pescoço todo esticado pra fora d'água pra conseguir ficar por perto.
Essa visão me veio no meio de uma sensação, na semana em que estava questionando se eu tinha mais ambição do que talento, e eu percebi que em muitos aspectos da minha vida eu andava assim: pescoço todo esticado para cima, na pontinha dos pés, cabeça esticada para fora d'água para mostrar "olha como eu também também posso, como eu posso participar, olha como eu faço parte do grupo".
E, muitas vezes eu não entendo, não participo, não consigo corresponder porque não faço parte do grupo! Mas mesmo assim estava ali, fazendo um esforço danado só para mostrar que eu podia.
Ninguém teve a idéia de chegar mais pra beirinha pra eu poder continuar no grupo. Não lembro nem das pessoas notarem quão desconfortável eu estava; seria incrível se alguém tivesse notado. Era só olhar. Sinto falta deste olhar sobre mim, esse olhar de cuidado, de preocupação real com as minhas dificuldades natas, as que existem mesmo; não as que são inventadas pelas pessoas que querem se preocupar porque gostam de estar preocupadas e se enganam que preocupar-se é participar, é cuidar, é dar atenção.
Eu não quero andar na vida na ponta dos pés para dizer que eu alcanço aquele lugar que é mais alto do que eu, nem quero passar a vida com o pescoço esticado para poder respirar num lugar que obviamente não é o meu. Nem quero ter que depender de pessoas para ficar confortável, nem quero estar perto de pessoas que não me notem.
Se o meu tamanho cabe na beirinha da água é na beirinha da água que vou ficar, porque não quero passar a vida com água até o pescoço só para mostrar que eu posso.
Quero encontrar com outras pessoas do mesmo tamanho que o meu e brincar com elas.

2 comentários:

Anônimo disse...

nossa...me indentifiquei 100% com seu post!
Seria um crime isso?querer ser notado?querer ser aceito?
para uns sim.

Anônimo disse...

oi xuxu! sempre fico com vontade de entrar no seu blog, mas nunca entro de fato. bem, hoje entrei! e to meio sem tempo, entao só li o ultimo texto mesmo! e adorei! e acho que todo mundo se sente assim um pouco na pontinha dos pés, com o pescoço esticado... eu mesma.. to assim faz tempo... e nem tenho tantas perspectivas de mudança... haha triste.
oh well
um beijo, querida!