[The Gossip - Eyes Open]
Tenho vivido umas experiências interessantes, porém um pouco dolorosas, já que o material de pesquisa sou eu mesma. Eu me coloco à prova, eu sou a isca; eu mesma me coloco no anzol para os peixes e corro os riscos. Nem sempre isso é proposital; muitas vezes, estou apenas "sendo". Tem uma coisa que observo de comum nessas situações: o estresse emocional que acontece dentro das pessoas quando elas observam uma mudança brusca em você. E elas reagem profundamente, às vezes quase partindo para a agressão física, e muitas agridem verbalmente, pela frustração das expectativas que elas mesmas construíram e tinham sobre você.
Eu entendo que moldamos as pessoas que conhecemos e todas as coisas do mundo, numa tentativa de torná-lo um lugar mais seguro. Essas são as prisões que construímos para nós: tentar moldar as pessoas, tentar moldar a nós mesmos e também prever as situações, por ideologias, modos de vida, hábitos, e etc, achando que diminuímos a carga de surpresas da vida. Colocamos em nós mesmos uma enorme carga negativa por tentar prever o que as pessoas e as situações podem nos trazer, mesmo sabendo que essas expectativas vão ser, quase sempre, frustradas, quebradas. Não cansamos; precisamos estabelecer parâmetros e limites. Precisamos criar um cercadinho para nós.
Eu realmente não esperava chegar num churrasco de aniversário e ter causado tanta comoção só por estar comendo um pedacinho de carne e umas rodelinhas de salsichão. Assim, na vida de tantos outros isso é uma coisa tão corriqueira. Mas na minha, acontecem comoções. Algumas pessoas não se conformam que eu possa estar comendo carne, já que anos antes defendia a proteção dos animais. Pois bem, continuo ao lado dos animais, mas já não acho uma ofensa a eles que eu os coma, pelo contrário, acho que eles estão sendo honrados. Muita gente que eu conheço não consegue lidar com essa mudança de paradigma e realmente se bagunça. Até quase te agride.
Estou cansada desse olhar cristalizador, que não admite mudanças, e sei que ainda é só o começo para uma pessoa que almeja a vida pública. Ainda não sei lidar com isso. Eu também tenho dificuldades de lidar com as minhas próprias frustrações, mas eu admito que as pessoas mudem de idéia e procuro não julgá-las por isso. Eu não acho que seja um problema que as pessoas experimentem, que elas saiam do casulo e sejam ousadas. Acho perfeitamente natural qualquer experiência que amplie nosso circuito de visão, geralmente tão fechado e limitado pelas coisas em que acreditamos, pelas coisas que fomos obrigados a acreditar, e por tudo aquilo que queremos ser. Sair um pouco do próprio mundinho e tentar entender como as outras pessoas vivem, dentro dos seus próprios universos, é uma coisa boa. Mas acho que eu sou um caso isolado. E acho que esse tipo de comportamento não tem muita vez no mundo social e segmentado em que vivemos, que PRECISA dos rótulos. As pessoas que procuram mais e querem mais devem ser alvos fáceis, especialmente quando pretendem compartilhar as experiências e informações. Ainda estou em construção com relação a essa idéia (e tantas outras). Mas não vejo nenhuma confusão nisso. Está tudo muito claro: eu sou uma pessoa contraditória, e acho isso muito natural.