segunda-feira, abril 27, 2009

Um nível abaixo da superfície

Eu sou um inferno. Pouquíssimos sabem como eu deixo pouco para a imaginação, como não largo um osso quando mordo. Como abro todas as portas de armário e trago todos os esqueletos à tona, tanto os meus quanto os seus, como faço isso para que seja uma relação sincera, real, verdadeira. Fico obcecada, até enjoar. Não, não é daquela história da qual você se envergonha que vamos falar. Falaremos das suas emoções, dos motivos pelos quais você se envergonha, seu anseios e medos, qual a origem disso tudo e possibilidades para o futuro. E eu vou mostrar os meus antes, e que você tenha peito para, com calma e paciência, ouvi-los, senti-los, percebê-los e amá-los. E vou exigir que você me mostre os seus em troca. Sonho um dia encontrar quem deseje exatamente isso, exatamente quem sou, quem estou, por debaixo desses panos de pele e osso, alguém que deseje quem eu sou em alma. Até para mim, às vezes, parece difícil perceber um ponto onde tudo se acaba e eu possa começar a me dar o devido valor: o discurso. Mas esse ponto existe. Eu só preciso encontrá-lo expressando o que sinto, e deixar sair tudo até o ponto em que ele vem. Existe um ponto no qual me calo e entrego tudo à existência; existe um ponto onde as palavras não são mais necessárias e o silêncio compreende tudo. Só chego nesse ponto, falando. E só me salvo da loucura escrevendo. Então eu sou um inferno. As demandas que eu faria para você, em troca da nossa relação, de todo o amor que eu dou (embora eu também não saiba definir o que é esse amor -- se é amor ou posse, se é amor ou egoísmo, se é amor ou infantilidade minha), que é um grande amor, mas que exige simplesmente tudo em troca. Eu sou um inferno. Pouquíssimos sabem o inferno que é se relacionar comigo. Poucos, mas escolhidos. Às vezes bem, às vezes mal. Eu me esqueço, diariamente, do tamanho que eu tenho, porque dentro de mim, ainda sou um bebezinho.

sábado, abril 25, 2009

Moeda de troca

Você ousaria dizer aquilo que realmente quer em voz alta? Se fosse uma única coisa, aquilo que você mais quer em vida, diria isso para alguém, sem temer que virasse moeda de troca?

terça-feira, abril 21, 2009

Lentes de contato netunianas, impregnadas de plutão

Eles se amaram e tudo deu certo desde o início. Era algo especial, porque os dois se entendiam muito bem. Ela nunca tinha encontrado antes alguém que a tivesse em conta por seus dons próprios, e não estamos falando dos bonitos... Mas daquela mania que nunca a deixava de acompanhar de analisar as atitudes, suas e dos outros, e reações também, diante das situações da vida. Uma necessidade vital de se psico-analisar, obsessiva e compulsivamente. Então, ele gostava disso, e entendia. Se aproveitava das dicas também, claro, embora fossem doloridas.
Mas é basicamente isso. E tem a parte dos beijos, dos toques, dos olhares... Que também eram suficientemente boas, beirando a perfeição. Perfeição só haveria quando ele estivesse entregue tanto quanto ela, estivesse totalmente despejado dentro da tacinha "relação". A sacralidade da vida, e fonte de todos os pecados. Aí ela começou a exigir provas do amor dele por ela, buscando a integração dele entre atitudes e palavras. Qualquer coisa que ela percebesse como verdadeiro e genuíno, mas tudo o que via era o medo dele. Era tudo o que vinha à tona. O medo de se comprometer virava uma mina contra a relação (mina que explode na sua cara). Ele dizia que acreditava em várias coisas, mas não em "eu te amo", enquanto ela esperava que ele percebesse que, na verdade, ele havia desacreditado no "eu te amo", mas que ele também tinha direito a isso, se visse que realmente queria amar. Só os loucos amam; quanta dor, quanta preocupação, quanto desgaste. Qualquer pessoa em sã consciência permanece no seu ponto isolado de vista, dentro da própria cabeça, dentro do próprio corpo. Só os loucos ousam tomar o que não é deles, invadir outros espaços, conhecer o novo, procurar saber, morder da maçã da árvore, etc. Que ele a amasse, claro, mas que soubesse dizer isso olhando em seus olhos também. Que ele amasse a si mesmo antes de tudo, para saber que ela era tão boa quanto ele, e não melhor, e que ele era merecedor desse amor por ter esperado tanto tempo (e vidas) por isso.

Destaque

E u e n c o n t r e i você, e você n ã o e s t a v a l á .

O cérebro

Se você ficasse preso dentro da caixa craniana enquanto o ser vivo que é, não inventaria mil e uma realidades só para ter a possibilidade de se aventurar em algo novo? Não acredite em tudo o que a sua cabeça pensa, não faça tudo o que a sua cabeça manda. A sua mente, por vezes, engana você. Precisamos vCor do textoer o mundo fora do nosso cérebro, fora das nossas conexões neurais, ver além dos nossos limites; olhos para isso nós temos. O cérebro precisa pensar além de si mesmo, para transcendermos a condição humana (e racional) de solidão.

domingo, abril 19, 2009

Além de mim -- (imagem: Aya Kato)


Esse post só funciona para quem estiver dentro da pista de dança comigo, no escuro, ouvindo o mesmo remix de Behind the Wheel que eu ouvi. Não sei por que gosto tanto dessa música -- madrugada de sábado e eu na rua. Senti que precisava me forçar a sair porque a vontade existia, embora uma boa parte de mim achava que eu não devesse. Eu queria me divertir, mas sentia medo dos meus próprios desejos, do meu corpo me enganando, e eu sabia exatamente aonde estava indo: templo de todas as perdições; minhas ao menos. Sentia aquele frio na barriga de quando se sai e se sabe que algo fantástico vai acontecer. Era uma certeza, por isso, senti medo. Eu me arrumei, sem muito cuidado, mas com esmero. Quero ficar tão bonita quanto posso, embora não a ponto de me sentir desconfortável. Tenho procurado o meio termo desses elementos; estar confortável é mais importante que tudo, em muitos níveis.


E a festa estava rolando, e eu encontrei com vários amigos lá dentro da boate, e isso foi surpresa, e não precisei pagar por nenhum drinque, e todos estavam me elogiando, e eu estava feliz, e a música estava boa, e as pessoas eram bonitas, e todos estavam de bom humor e eu queria dançar muito. E eu dancei muito. Deixei as pessoas confortáveis onde estavam e fiquei na pista, sozinha. Algumas pessoas vieram tentar me fazer companhia, mas eu queria mesmo era ficar sozinha ali e senti um alívio quando isso aconteceu. Fiquei dançando sem parar, porque a música estava me levando e eu adoro quando isso acontece. E estava concentrada em mim, mas eu não era mais eu, eu era só música quando, de repente, fui para um lugar estranho. Dentro de mim, o que esperava que fosse o acontecimento fantástico acabou como uma descoberta de estrela. Mas o que eu vi me encheu de raiva.


Queria não perceber você no meio de mim, pensar e desejar que você estivesse junto comigo; queria sentir a música me penetrando, e não você se metendo no meio dos meus pensamentos, sentimentos, roubando os meus desejos, sendo alvo deles. Queria ter ficado com várias pessoas ali e não percebido a sua falta, nem a minha monogamia, a minha devoção, o meu amor. Queria ter beijado várias bocas, e não ter ficado esperando pela sua todos esses dias. Queria sair e também não lembrar que você existe, que é o que você me diz. Que raiva ser livre dentro da minha própria prisão, porque por amor a mim, eu estava sendo fiel a você. Senti raiva. No meio da pista de dança, agora estou sob o holofote porque eu danço e eu sou o centro de mim mesma e de todas aquelas pessoas que estavam ali. E aconteceu assim porque, no meu vazio, era onde entrava a música e fazia com que eu me movesse, como uma marionete movida a som, preenchida no vazio. E a música não tem limites, ela simplesmente encontra o seu lugar. E eu encontrei a mim, e encontrei a você também, só que você não estava lá. E enquanto eu via outros casais namorando deliciosamente, eu voltei para casa sozinha, e mais uma vez, dormi sozinha.

quarta-feira, abril 15, 2009

Posso apresentar-contornar-circundar os meus medos?

É uma vergonha, eu sei e também acho, que eu esteja no último ano da faculdade e, até hoje, não tenha pego um livro na biblioteca... E não é qualquer uma biblioteca, é uma senhora enorme, viajada e muito culta, mas cheia de burocracias. E foi com essa vergonha que cheguei lá, acanhada, sem saber por onde ir, em que corredor passar primeiro. É preciso passar a carteirinha em um dos guichês, pegar uma chave para o armário onde se é obrigado a guardar os seus pertences (menos a carteirinha, porque vamos precisar dela em outras etapas), achar o armário, e depois você olha num computador o título que procura, vê que exemplar está disponível, passa a carteirinha novamente, e... Falta uma senha. Saio eu do computador, vou para outra fila, cadastro uma senha e volto, para conseguir finalizar o meu pedido. É que na minha vida nada passa impune, e mesmo que eu saiba das minhas vergonhas, isso não impede que outros presenciem minhas incapacidades e apontem seus dedos. Por isso, encontrei um conhecido que até já terminou a graduação e começou o mestrado, e que ficou rindo de mim, me recriminando, achando um absurdo eu nunca ter pego um livro lá. Também, não basta só que as coisas aconteçam comigo; eu preciso contá-las aos outros, mostrar os meus processos ridículos, porque acho que eu não tenho um sentido de auto-preservação muito aguçado, ou tenho um de auto-destruição aguçado demais.

A questão é: eu tenho muitos medos, e os meus medos me limitam, por exemplo, a pegar um exemplar de livro nessa tal biblioteca que é tão boa, que chega a dar medo. Demorei cinco anos pra tomar coragem e ir lá, passar ridículo. Tudo bem, passado o trauma, senti que precisaria escrever sobre isso e sobre muito mais. O livro que eu peguei eu nem quero ler: A Ilíada. Muita gente pode achar o máximo, mas eu estou no meio do meu Clarice Lispector "Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres" (definitivamente, "Uma aprendizagem"... !!!), e os cantos da saga de Homero não me atraem neste momento. Mas, passei por isso, e também passei por outros momentos bem piores, como o meu primeiro namorado, que resolveu me comer durante dois meses e ir morar na Inglaterra e, quando voltou, começou a namorar a minha melhor amiga, que era uma amiga de infância (coisa que parece que eu não vou esquecer nunca, embora eu tenha feito de tudo para isto) e outra coisa que também não vou esquecer foi outro namorado que me levou para os Estados Unidos, e um belo dia, no meio do meu dia de trabalho, me ligou para anunciar que estaria voltando para o Brasil naquele mesmo dia, só que à noite. E como essas histórias eu tenho várias outras, que não vêm ao caso agora pra não causar um halloween antecipado. Na medida em que for conquistando leitores, eu vou espalhando essas pérolas minhas.

Então perdoem-me os invejosos se algum dia eu for feliz no amor e tiver uma relação bem sucedida, mas como vocês puderam perceber, ela vai ter sido (gostaram: vai-ter-sido) raladinha. Tá? E o mundo tem bastante gente e espaço pra cada um conquistar a sua própria, e tudo mais que os fizerem felizes. Mas permitam-se, em primeiro lugar. Mesmo a fazer papel de ridículos (na concepção de ridículo de cada um, of course). Mas acho que a primeira conquista é a de si mesmo. Sabe? E isso leva uma vida inteira. Então... Amem-se, por mais que doa.

segunda-feira, abril 13, 2009

-- Reclama mais? Por favor.

Hoje, quando eu acordei, fui até o banheiro e ainda meio sonolenta, abri o armário. Fiquei escovando os dentes mais perto da pia, e quando levantei a cabeça não lembrava de ter aberto, e me assustei com aquela imagem sem reflexo de interior de armário do banheiro. Armário aberto, e cadê eu?

Esse 'cadê eu' me seguiu o dia inteiro. Procurei dentro do meu estômago; não tinha nada lá, só dor. Nem fome eu tinha. Na hora do meu almoço, que já era quase hora do lanche, eu devorei meus pensamentos entre as garfadas suculentas. Devorava a mim mesma, uma garfada de comida, uma garfada de mim, tentando encher o vazio que ecoava em sinos lentos e doloridos, fazendo um grande silêncio oco.

Tá todo mundo assim: velho, ranzinza, de mau-humor, cheio de problema, mal amado, mal dormido, mal passado. Todo mundo tem que trocar a bomba d'água, tirar o mofo do armário, resolver entre encanamento de gás ou butijão e tomar as devidas providências, tirar raio-x da boca ou da coluna, fazer os exames, mudar de setor no trabalho. Ninguém ganha na megasena. Ninguém tira a sorte grande no amor e ensina aos outros como fazer. Eu não tenho nenhum amigo big-brother. Todo mundo pesado. Os metais pesados que vêm na água estão fazendo uma grande diferença na nossa evolução, colocando nós tudo pra baixo.

Ói que maravilha. Ainda ando roubando as idéias do meu irmão e colocando em trabalhos acadêmicos, por falta de criticavidade. Sem fôlego, sem vontade. Mas pelo menos eu não tenho televisão, o que já é um grande alívio. Posso ter o ócio que FOR; ele é meu, mais meu, muito meu. Nou teevee pra eu ficar mais burra ainda. burrainda. burrinda. burrnda. burnda. já fizeram isso em batmacumba, hein? Olha só, que repetitividade da vida me atingindo. Ô, deixa eu acertar um poco!!

Ainda assim, alguns poucos (bons) exemplos transpassam o meu caminho, e eu vejo como a bondade das pessoas é infinita (assim: eu tenho noção que a maldade também, mas a bondade das pessoas tem cruzado mais o meu caminho, apesar do meu mau-humor) e ainda existe e está ativa. Tantas coisas ruins, mas continuam oferecendo para carregar a minha mochila no metrô lotado, e se eu durmo, me acordam para perguntar se eu vou saltar na Estácio (risos). Mas essas coisinhas, pequenos atos tão calorosos e totalmente grátis tiram um pouquinho do peso, e eu vim para casa um pouco mais leve depois disso. E o metrô é ótimo para essas coisinhas especiais acontecerem, porque é uma situação extrema pegar o trem na hora do rush e é quase desumano também. Mas as pessoas sobrevivem e ainda conseguem ser solidárias umas com as outras, e quando eu vejo isso, eu fico feliz pelo mundo e me sinto mais aliviada.

theseaweed


mommy made me into a little seed. i never watched myself grow. i have the power to explode. i haven't met my strenghth yet. they tell me i am brave, they tell me that i can, i just don't believe it. i fit anywhere, i'm so small. i'm so light that i flow. but i have the power to explode. i just haven't met my strenghth yet. i feel unattached, unreachable. i could fit anywhere. i guess i never looked myself in other mirrors than the floating surfaces of the sea. sometimes, i am the water.

domingo, abril 12, 2009

The untold tale of the monkey and the rooster

There were two friends: a monkey and a rooster. Wherever the rooster would go, the monkey would follow. The monkey loved the bravery in the rooster. The monkey felt like it was ok to be curious around its fellow, so it followed. Should the rooster explore the territory, the monkey would watch. The rooster was righteous, the monkey, tricky. The rooster was righteous, the monkey had many skills. Then, it would go right after, checking wherever the rooster's beak would point at. The rooster is never the best of the animals, but it was right for keeping the monkey some company. The monkey was not the best of the animals, but he would carry the rooster on its back, since it had many more usable hands and tails than the rooster, and the rooster appreciated it. They were a funny pair to watch, but it worked. The monkey could become an ashtray or an attraction in some circus, the rooster could become dinner. So, they would save each other skin, because they did not represent a real threat to each other. And they were so brave together, until one day, accidentally, the rooster picked the monkey in the eye, while looking for a worm. "Couldn't you realize this was no hole?", asked the monkey. "I'm sorry, dear fellow", said the rooster. "It was so shinny, it was looking at me". And the monkey bit off the rooster's head. And that was not the end of the story, because the rooster, now a ghost, runned away in its body, leaving the head behind. And this is how the first shooting start came up in China, crossing the sky with blood.

The Wild

My wild has been tamed. I am a tamed beast, a domesticated monkey... So very polite.

sábado, abril 11, 2009

Ontem


Escrever sobre o amanhã três dias atrás, e escrever sobre o ontem, hoje. Essa ordem natural das coisas, que é uma ordem imprevista e bagunçada, que não respeita a ordem em que as exigências externas acontecem, podem acontecer a qualquer um. Esteja esperto: para reconhecer as dádivas que chegam sem que você esteja preparado. Esteja atento; às vezes a vida acontece só depois da morte. Às vezes o branco acontece só depois do preto, depois que confrontados no cinza, pudessem se perceber e se separar. Às vezes o arco-íris acontece antes da chuva e o orgasmo, antes do sexo. Às vezes o seu olhar chega antes dos olhos, e os seus pensamentos, antes das palavras. E eu entendo. E, muitas vezes, não entendo e só vejo as coisas passando de um lado para o outro, numa forma meio curva porque na Terra dizem não existir retas, voando como estrelas cadentes, nessa ordem cósmica que não segue a razão. Muitas vezes, o entendimento só vem bem depois. Às vezes os filhos vêm antes que possamos nos preparar; às vezes o amor acontece depois de trancarmos nossos corações sem esperança na gaiola do desespero seco, sozinho e triste. Mas que sempre os seus beijos cheguem antes da boca, para que eu não fique à mercê dos dentes, certa de que irão me morder. E que mesmo que seus beijos nunca cheguem, que eu possa saber que um dia serei beijada novamente, e tenha sempre a certeza de que as coisas não acontecem numa ordem em que eu possa compreender, para que, ontem, hoje e sempre eu possa ser surpreendida.

sexta-feira, abril 10, 2009

Hojeam

Antes de destruir as minhas forças por completo, deixe-me vivenciar o samba que há em minhas veias. Índios, negros e mulatos, com brancos, pretos e mestiços. Todos amarelos e até que deixe vir os meio verdes... Assim, meio vermelhos de dançar, meio roxos de tentar e de não conseguir (nunca), vamos pegar o primeiro ônibus que vai da Lapa para a Tijuca e... E o que? E nadaa.

Hoje eu gostei de um bigodinho na rua, mas porque fiquei pensando no seu. Na verdade, esse sujeito é a cara do cara personagem do livro que estou traduzindo, então me fascinei. Como pôde ele ter pulado das páginas para a minha cabeça, e da minha cabeça para o mundo?! Como pode haver uma pessoa igual ao Andrew Imhof, cílios longos, cabelos bagunçados, pêlos castanhos?! Amorzinho platônico da personagem principal do livro, estou vendo demais, estou vendo que entro demais nas histórias que ando lendo, estou vendo eu mergulhando na voz da personagem e perdendo a minha própria. É por isso que não vejo novelas, e é por isso que não assisto a filmes. Todos entram em mim, entrando em mim para nunca mais sair. E não saem.

É por isso que eu sou uma péssima amiga. Sou boa assim, à distância. Na redoma. Na jaulinha. Me dêem comida. Mas cuidado com os dedos. Eu já gostei mais de anéis. Podem ficar com eles.

Opa Camarade! Esqueci de contar... Que já não canto, muito menos encanto. Se eu quiser passar invísivel, não tem playboy da Lapa que puxe a minha saia! Só não posso sorrir. Se passa qualquer bêbeda acham que você está alegre e querem conversar. Não pode passar qualquer boba alegre, que eles acham que está bêbada e querem puxar a saia. É foda. Não tem saída para os homens ruins do mundo. Que todos eles sejam engolidos.

Le-Olam-Amém. Saravá. Axé, Oxum.

Atchim.

Tenho mais histórias pra contar? Só aquela velha, da Chapeuzinho vermelho e daquele bicho pulguento. Mas hojeam, eu olhei as bananas de uma forma meio diferente. Como nunca tinha olhado antes. Senti medo. De mim mesma. Medo dos raiozinhos da Lua para mim naquele dia de dois duas noites atrás. Zzz zzZZZzZZzzzz

quinta-feira, abril 09, 2009

AMANhãn?

Amanhã, você pode perceber que se envolveu numa relação de co-dependência, e terminar tudo comigo, com medo. Amanhã, meu pai ou minha avó podem morrer, e me deixarem sozinha. Amanhã eu posso ser mandada embora, porque minha chefe finalmente vai perceber que engano ter me contratado. Amanhã eu posso perder a voz por horror total e nunca mais conseguir cantar. Amanhã eu posso estar tão mal de saúde que não vou conseguir nem passar da porta para cumprir com as obrigações que tanto me chamam. Amanhã eu posso não ter mais nenhum amigo. Amanhã uma inundação pode invadir a minha casa, acabando com tudo o que eu tenho, ou um incêndio, ou um roubo, ou a minha conta bancária pode ser invadida por hackers, ou posso não conseguir levantar por desistência de viver. Ou tudo isso pode acontecer ao mesmo tempo, porque nada na vida é previsível e, quando um mal acontece, geralmente todos vêm juntos. Sem comida, sem dinheiro, sem família, sem namorado, sem emprego, sem carinho, sem sol e sem lua, sem norte, e sem rumo. Amanhã, tudo pode acontecer. Mas amanhã, please, só amanhã. Me deixa hoje aqui só com medo. Viver com medo das incertezas, melhor do que viver na certeza das perdas? I'm scared. And scared to say it out loud. -does writing it make me a little brave- R?

terça-feira, abril 07, 2009

Presa numa questão de liberdade

Posso tudo: não sei o que fazer. O espaço é meu (o quarto, o mundo), o corpo é meu (veículo), as vontades são minhas (mas quais são elas?). Preciso trabalhar um pouco, preciso me concentrar. Congelo. Nada posso fazer. Não sei por onde começar. Nada faço. Tento me deitar. Fecho as cortinas. Tiro a roupa. Gozo um pouco. Nada satisfaz. Sento pelada para tocar violão: eu posso. Penso em ir tomar banho, eu posso não ir almoçar antes. Preciso ir comprar água, tenho sede. Penso em jejuar. Para ser livre, preciso tomar decisões! Se você tudo pode fazer, nada faz. Se nada pode, você luta para poder, que é a causa dos rebeldes. Vou continuar me debatendo, que é a luta contra si mesmo, daquele que é livre e não sabe contra aquele que não é livre, sabe e gosta disso (porque é mais fácil), daquele que pensa que liberdade é falta de organização contra aquele que não pode usar o seu tempo livre porque se organiza sem parar, daquele que abre a porta e convida a primeira a entrar, a tomar uma água e a chupar o seu órgão - daquele que age como um animal-, contra aquele que tem seus instintos totalmente dominados pela sua parte Homem. Daquele que tem a alma numa jaula porque se soltar, destrói tudo ao redor, contra aquele que fica com feridas na pele, loucuras na mente e infelicidades na vida porque não se solta nunca. Se você tudo pode fazer, nada faz. Se nada pode, você luta para poder. Essa é a causa dos rebeldes. A liberdade congela; quem tudo pode não sabe por onde começar, a ponto que aquele que nada pode sabe exatamente o que faria. Prisões para todos sermos livres então.
... você gosta?

segunda-feira, abril 06, 2009

Toalha molhada

O impulso da escrita é na hora que se pega, é na hora ou se perde, e deixa um rastro, como uma gota que escorre depois do banho pelo corpo, deixa uma marca, deixa a sua presença ali. Tirar o excesso da água com as mãos antes de se enxugar, meu pai me ensinou, me ensinou a tirar o excesso para a tolha não ficar ensopada. E eu detesto toalha molhada, mesmo hoje, depois de grande, mesmo depois de ter revisto milhões de conceitos aprendidos desde criança, depois do banho, se enxugar com aquela coisa felpuda, gelada e úmida, às vezes no frio, com aquele molhado que parece não cumprir com o seu dever, ainda me incomoda. E eu não gosto de pessoas e objetos que não cumprem com o seu dever. Quer dizer, qual é o papel da toalha, senão o de simplesmente enxugar?

Nem todas as toalhas secam a tempo, nem todas as toalhas novas enxugam bem, nem todas as coisas felpudas são gostosas (tipo lodo no fundo do lago), nem todo mundo que mora na favela tem vocação para ser pobre e as pessoas que pegam conduções lotadas não nasceram todas para isso. Está/amos cumprindo com o seu/nosso dever?

O mundo é permeado de questões estúpidas assim, tão pequenas que são tão óbvias, e que de tão óbvias são invisíveis, que nos impedem de ver as questões maiores, que de tão próximas não enxergamos, e lançamos mão de soluções muito mais complexas, dispendiosas em energia e dinheiro, investimos tanto tempo em coisas tão fenomenais, mas nas pequenas coisas, nos detalhes, nas pequenas organizações, quase não perdemos tempo. Tipo: gastar dinheiro com médicos e milhões de coisas que nos fazem acreditar que são boas para nós, quando poderíamos simplesmente saber as coisas que são certas para nós.
E eu não me sinto limpa se não me enxugo com uma tolha seca, e não me sinto confortável pisando em lodo, e continuo com nervosinho na nuca se grudar muita poeira na sola do meu pé e também penso mentalmente numa senha eletrônica sempre errada no último algarismo, para se a pessoa ao lado estiver lendo a minha mente, não saber a minha senha. E não consigo fazer nada, não consigo me manifestar em brados e causar a mesma indignação nas pessoas a minha volta quando anunciam no metrô que a passagem vai aumentar de novo, e vai atrapalhar todo o meu orçamento, que já estava apertado.

E será que alguém pode ser vangloriado por ter nascido bonito? E será que podemos dizer que estamos em plena Era do desenvolvimento da comunicação? E será que o Lula acredita que ele seja realmente "o cara", e que tanto a Rainha da Inglaterra quanto o presidente Barak O. sejam super "gente boa", ao invés de perceber que todos esses líderes querem um pedaço do Brasil?

Não é você, senhor presidente, que está sentado naquela cadeira: SOMOS NÓS. E nós estamos cumpridos com os nossos deveres. Você é apenas uma toalha molhada (e em cima da cama!). - mais uma coisa felpuda que não é legal. Você é ilegal.

E mais um pedaço meu vai sendo levado embora pelas corporações quando todas as contas aumentam e eu preciso gastar o meu precioso tempo trabalhando ao invés de fazer as coisas que eu deveria estar fazendo para a minha própria sanidade, como ir gastar a minha agressividade movimentando as massas e causando tumultos contra essas corporações abusivas (Light, CEG, etc, etc, etc).