segunda-feira, abril 06, 2009

Toalha molhada

O impulso da escrita é na hora que se pega, é na hora ou se perde, e deixa um rastro, como uma gota que escorre depois do banho pelo corpo, deixa uma marca, deixa a sua presença ali. Tirar o excesso da água com as mãos antes de se enxugar, meu pai me ensinou, me ensinou a tirar o excesso para a tolha não ficar ensopada. E eu detesto toalha molhada, mesmo hoje, depois de grande, mesmo depois de ter revisto milhões de conceitos aprendidos desde criança, depois do banho, se enxugar com aquela coisa felpuda, gelada e úmida, às vezes no frio, com aquele molhado que parece não cumprir com o seu dever, ainda me incomoda. E eu não gosto de pessoas e objetos que não cumprem com o seu dever. Quer dizer, qual é o papel da toalha, senão o de simplesmente enxugar?

Nem todas as toalhas secam a tempo, nem todas as toalhas novas enxugam bem, nem todas as coisas felpudas são gostosas (tipo lodo no fundo do lago), nem todo mundo que mora na favela tem vocação para ser pobre e as pessoas que pegam conduções lotadas não nasceram todas para isso. Está/amos cumprindo com o seu/nosso dever?

O mundo é permeado de questões estúpidas assim, tão pequenas que são tão óbvias, e que de tão óbvias são invisíveis, que nos impedem de ver as questões maiores, que de tão próximas não enxergamos, e lançamos mão de soluções muito mais complexas, dispendiosas em energia e dinheiro, investimos tanto tempo em coisas tão fenomenais, mas nas pequenas coisas, nos detalhes, nas pequenas organizações, quase não perdemos tempo. Tipo: gastar dinheiro com médicos e milhões de coisas que nos fazem acreditar que são boas para nós, quando poderíamos simplesmente saber as coisas que são certas para nós.
E eu não me sinto limpa se não me enxugo com uma tolha seca, e não me sinto confortável pisando em lodo, e continuo com nervosinho na nuca se grudar muita poeira na sola do meu pé e também penso mentalmente numa senha eletrônica sempre errada no último algarismo, para se a pessoa ao lado estiver lendo a minha mente, não saber a minha senha. E não consigo fazer nada, não consigo me manifestar em brados e causar a mesma indignação nas pessoas a minha volta quando anunciam no metrô que a passagem vai aumentar de novo, e vai atrapalhar todo o meu orçamento, que já estava apertado.

E será que alguém pode ser vangloriado por ter nascido bonito? E será que podemos dizer que estamos em plena Era do desenvolvimento da comunicação? E será que o Lula acredita que ele seja realmente "o cara", e que tanto a Rainha da Inglaterra quanto o presidente Barak O. sejam super "gente boa", ao invés de perceber que todos esses líderes querem um pedaço do Brasil?

Não é você, senhor presidente, que está sentado naquela cadeira: SOMOS NÓS. E nós estamos cumpridos com os nossos deveres. Você é apenas uma toalha molhada (e em cima da cama!). - mais uma coisa felpuda que não é legal. Você é ilegal.

E mais um pedaço meu vai sendo levado embora pelas corporações quando todas as contas aumentam e eu preciso gastar o meu precioso tempo trabalhando ao invés de fazer as coisas que eu deveria estar fazendo para a minha própria sanidade, como ir gastar a minha agressividade movimentando as massas e causando tumultos contra essas corporações abusivas (Light, CEG, etc, etc, etc).

Nenhum comentário: