domingo, abril 19, 2009

Além de mim -- (imagem: Aya Kato)


Esse post só funciona para quem estiver dentro da pista de dança comigo, no escuro, ouvindo o mesmo remix de Behind the Wheel que eu ouvi. Não sei por que gosto tanto dessa música -- madrugada de sábado e eu na rua. Senti que precisava me forçar a sair porque a vontade existia, embora uma boa parte de mim achava que eu não devesse. Eu queria me divertir, mas sentia medo dos meus próprios desejos, do meu corpo me enganando, e eu sabia exatamente aonde estava indo: templo de todas as perdições; minhas ao menos. Sentia aquele frio na barriga de quando se sai e se sabe que algo fantástico vai acontecer. Era uma certeza, por isso, senti medo. Eu me arrumei, sem muito cuidado, mas com esmero. Quero ficar tão bonita quanto posso, embora não a ponto de me sentir desconfortável. Tenho procurado o meio termo desses elementos; estar confortável é mais importante que tudo, em muitos níveis.


E a festa estava rolando, e eu encontrei com vários amigos lá dentro da boate, e isso foi surpresa, e não precisei pagar por nenhum drinque, e todos estavam me elogiando, e eu estava feliz, e a música estava boa, e as pessoas eram bonitas, e todos estavam de bom humor e eu queria dançar muito. E eu dancei muito. Deixei as pessoas confortáveis onde estavam e fiquei na pista, sozinha. Algumas pessoas vieram tentar me fazer companhia, mas eu queria mesmo era ficar sozinha ali e senti um alívio quando isso aconteceu. Fiquei dançando sem parar, porque a música estava me levando e eu adoro quando isso acontece. E estava concentrada em mim, mas eu não era mais eu, eu era só música quando, de repente, fui para um lugar estranho. Dentro de mim, o que esperava que fosse o acontecimento fantástico acabou como uma descoberta de estrela. Mas o que eu vi me encheu de raiva.


Queria não perceber você no meio de mim, pensar e desejar que você estivesse junto comigo; queria sentir a música me penetrando, e não você se metendo no meio dos meus pensamentos, sentimentos, roubando os meus desejos, sendo alvo deles. Queria ter ficado com várias pessoas ali e não percebido a sua falta, nem a minha monogamia, a minha devoção, o meu amor. Queria ter beijado várias bocas, e não ter ficado esperando pela sua todos esses dias. Queria sair e também não lembrar que você existe, que é o que você me diz. Que raiva ser livre dentro da minha própria prisão, porque por amor a mim, eu estava sendo fiel a você. Senti raiva. No meio da pista de dança, agora estou sob o holofote porque eu danço e eu sou o centro de mim mesma e de todas aquelas pessoas que estavam ali. E aconteceu assim porque, no meu vazio, era onde entrava a música e fazia com que eu me movesse, como uma marionete movida a som, preenchida no vazio. E a música não tem limites, ela simplesmente encontra o seu lugar. E eu encontrei a mim, e encontrei a você também, só que você não estava lá. E enquanto eu via outros casais namorando deliciosamente, eu voltei para casa sozinha, e mais uma vez, dormi sozinha.

Um comentário:

Fernanda disse...

Oi!
Acho que te vi no sabado...vc estava na fosfobox?