É uma vergonha, eu sei e também acho, que eu esteja no último ano da faculdade e, até hoje, não tenha pego um livro na biblioteca... E não é qualquer uma biblioteca, é uma senhora enorme, viajada e muito culta, mas cheia de burocracias. E foi com essa vergonha que cheguei lá, acanhada, sem saber por onde ir, em que corredor passar primeiro. É preciso passar a carteirinha em um dos guichês, pegar uma chave para o armário onde se é obrigado a guardar os seus pertences (menos a carteirinha, porque vamos precisar dela em outras etapas), achar o armário, e depois você olha num computador o título que procura, vê que exemplar está disponível, passa a carteirinha novamente, e... Falta uma senha. Saio eu do computador, vou para outra fila, cadastro uma senha e volto, para conseguir finalizar o meu pedido. É que na minha vida nada passa impune, e mesmo que eu saiba das minhas vergonhas, isso não impede que outros presenciem minhas incapacidades e apontem seus dedos. Por isso, encontrei um conhecido que até já terminou a graduação e começou o mestrado, e que ficou rindo de mim, me recriminando, achando um absurdo eu nunca ter pego um livro lá. Também, não basta só que as coisas aconteçam comigo; eu preciso contá-las aos outros, mostrar os meus processos ridículos, porque acho que eu não tenho um sentido de auto-preservação muito aguçado, ou tenho um de auto-destruição aguçado demais.
A questão é: eu tenho muitos medos, e os meus medos me limitam, por exemplo, a pegar um exemplar de livro nessa tal biblioteca que é tão boa, que chega a dar medo. Demorei cinco anos pra tomar coragem e ir lá, passar ridículo. Tudo bem, passado o trauma, senti que precisaria escrever sobre isso e sobre muito mais. O livro que eu peguei eu nem quero ler: A Ilíada. Muita gente pode achar o máximo, mas eu estou no meio do meu Clarice Lispector "Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres" (definitivamente, "Uma aprendizagem"... !!!), e os cantos da saga de Homero não me atraem neste momento. Mas, passei por isso, e também passei por outros momentos bem piores, como o meu primeiro namorado, que resolveu me comer durante dois meses e ir morar na Inglaterra e, quando voltou, começou a namorar a minha melhor amiga, que era uma amiga de infância (coisa que parece que eu não vou esquecer nunca, embora eu tenha feito de tudo para isto) e outra coisa que também não vou esquecer foi outro namorado que me levou para os Estados Unidos, e um belo dia, no meio do meu dia de trabalho, me ligou para anunciar que estaria voltando para o Brasil naquele mesmo dia, só que à noite. E como essas histórias eu tenho várias outras, que não vêm ao caso agora pra não causar um halloween antecipado. Na medida em que for conquistando leitores, eu vou espalhando essas pérolas minhas.
Então perdoem-me os invejosos se algum dia eu for feliz no amor e tiver uma relação bem sucedida, mas como vocês puderam perceber, ela vai ter sido (gostaram: vai-ter-sido) raladinha. Tá? E o mundo tem bastante gente e espaço pra cada um conquistar a sua própria, e tudo mais que os fizerem felizes. Mas permitam-se, em primeiro lugar. Mesmo a fazer papel de ridículos (na concepção de ridículo de cada um, of course). Mas acho que a primeira conquista é a de si mesmo. Sabe? E isso leva uma vida inteira. Então... Amem-se, por mais que doa.
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