Hoje, quando eu acordei, fui até o banheiro e ainda meio sonolenta, abri o armário. Fiquei escovando os dentes mais perto da pia, e quando levantei a cabeça não lembrava de ter aberto, e me assustei com aquela imagem sem reflexo de interior de armário do banheiro. Armário aberto, e cadê eu?
Esse 'cadê eu' me seguiu o dia inteiro. Procurei dentro do meu estômago; não tinha nada lá, só dor. Nem fome eu tinha. Na hora do meu almoço, que já era quase hora do lanche, eu devorei meus pensamentos entre as garfadas suculentas. Devorava a mim mesma, uma garfada de comida, uma garfada de mim, tentando encher o vazio que ecoava em sinos lentos e doloridos, fazendo um grande silêncio oco.
Tá todo mundo assim: velho, ranzinza, de mau-humor, cheio de problema, mal amado, mal dormido, mal passado. Todo mundo tem que trocar a bomba d'água, tirar o mofo do armário, resolver entre encanamento de gás ou butijão e tomar as devidas providências, tirar raio-x da boca ou da coluna, fazer os exames, mudar de setor no trabalho. Ninguém ganha na megasena. Ninguém tira a sorte grande no amor e ensina aos outros como fazer. Eu não tenho nenhum amigo big-brother. Todo mundo pesado. Os metais pesados que vêm na água estão fazendo uma grande diferença na nossa evolução, colocando nós tudo pra baixo.
Ói que maravilha. Ainda ando roubando as idéias do meu irmão e colocando em trabalhos acadêmicos, por falta de criticavidade. Sem fôlego, sem vontade. Mas pelo menos eu não tenho televisão, o que já é um grande alívio. Posso ter o ócio que FOR; ele é meu, mais meu, muito meu. Nou teevee pra eu ficar mais burra ainda. burrainda. burrinda. burrnda. burnda. já fizeram isso em batmacumba, hein? Olha só, que repetitividade da vida me atingindo. Ô, deixa eu acertar um poco!!
Ainda assim, alguns poucos (bons) exemplos transpassam o meu caminho, e eu vejo como a bondade das pessoas é infinita (assim: eu tenho noção que a maldade também, mas a bondade das pessoas tem cruzado mais o meu caminho, apesar do meu mau-humor) e ainda existe e está ativa. Tantas coisas ruins, mas continuam oferecendo para carregar a minha mochila no metrô lotado, e se eu durmo, me acordam para perguntar se eu vou saltar na Estácio (risos). Mas essas coisinhas, pequenos atos tão calorosos e totalmente grátis tiram um pouquinho do peso, e eu vim para casa um pouco mais leve depois disso. E o metrô é ótimo para essas coisinhas especiais acontecerem, porque é uma situação extrema pegar o trem na hora do rush e é quase desumano também. Mas as pessoas sobrevivem e ainda conseguem ser solidárias umas com as outras, e quando eu vejo isso, eu fico feliz pelo mundo e me sinto mais aliviada.
Um comentário:
fantástico!é exactamente assim que eu me sinto!
bjs, continua com esses posts gostosos :)
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