terça-feira, abril 07, 2009

Presa numa questão de liberdade

Posso tudo: não sei o que fazer. O espaço é meu (o quarto, o mundo), o corpo é meu (veículo), as vontades são minhas (mas quais são elas?). Preciso trabalhar um pouco, preciso me concentrar. Congelo. Nada posso fazer. Não sei por onde começar. Nada faço. Tento me deitar. Fecho as cortinas. Tiro a roupa. Gozo um pouco. Nada satisfaz. Sento pelada para tocar violão: eu posso. Penso em ir tomar banho, eu posso não ir almoçar antes. Preciso ir comprar água, tenho sede. Penso em jejuar. Para ser livre, preciso tomar decisões! Se você tudo pode fazer, nada faz. Se nada pode, você luta para poder, que é a causa dos rebeldes. Vou continuar me debatendo, que é a luta contra si mesmo, daquele que é livre e não sabe contra aquele que não é livre, sabe e gosta disso (porque é mais fácil), daquele que pensa que liberdade é falta de organização contra aquele que não pode usar o seu tempo livre porque se organiza sem parar, daquele que abre a porta e convida a primeira a entrar, a tomar uma água e a chupar o seu órgão - daquele que age como um animal-, contra aquele que tem seus instintos totalmente dominados pela sua parte Homem. Daquele que tem a alma numa jaula porque se soltar, destrói tudo ao redor, contra aquele que fica com feridas na pele, loucuras na mente e infelicidades na vida porque não se solta nunca. Se você tudo pode fazer, nada faz. Se nada pode, você luta para poder. Essa é a causa dos rebeldes. A liberdade congela; quem tudo pode não sabe por onde começar, a ponto que aquele que nada pode sabe exatamente o que faria. Prisões para todos sermos livres então.

2 comentários:

d.ID.e disse...

é. conheço bem a sensação. em geral estou imbuído de uma sensação de "dever fazer" e faço tudo aquilo que acho que devo.
não sei como gastar o dinheiro pelo qual tanto trabalhei e me queixo de tanto trabalhar e não ter tempo livre. quando tenho tempo livre minha garganta se dói e daí eu reclamo que não posso cantar. se eu não canto nem me divirto, então porque não trabalhar? viajar então... que realidade longínqua. quanto pedaços eu teria que reunir para poder dizer que sou EU que estou indo e não uma porção de fragmentos? às vezes parece que só meus olhos querem ir... eu mesmo quero me enroscar nos braços de qualquer coisa que me ame. minha cama. meu vazio. quanta ternura. liberdade para viver um estupor catatônico - será esse meu mito individual?

RuiVinha disse...

bem...na verdade é dificil responder...quantas vezes queremos e nao podemos...quantas vezes podemos o que nao queremos e quantas vezes queremos o que podemos...grrr mas que inercia é esta que me faz resistir a todos os estímulos, movimentos...quando podendo, nao quero resistir??será medo?