quinta-feira, julho 09, 2009

O dilema de I I

-- Eu quero. Você também quer?
-- Eu quero.
-- Então vamos.
-- Vamos.
E deram um com a testa no outro porque, para cada um deles, o "ir" era em uma direção. Infelizmente, eram sentidos opostos.
-- Ei, por que você está indo para lá?
-- Como assim, é para onde devo ir.
-- Ué, mas não íamos juntos?
-- Sim! E por que você não vem comigo?
-- Porque é naquela direção que devemos ir.
-- Devemos? Eu não devo nada. Vou na direção que eu quiser.
-- Mas não queria vir comigo? Então o que importa a direção? Estar comigo não é o suficiente?
-- Se eu for com você, esquecendo de para onde estava indo, não estarei esquecendo de mim também, para ir com você? Não quero me tornar você.
-- Nem eu quero que você se torne eu, nem pretendo me tornar você, mas... Vamos juntos?
-- Vamos.
-- Para onde?
-- Não sei, você decide agora.
-- Ah, como assim? Vamos conversar. Me explique por que você antes queria ir para lá, que eu digo por que acho que devemos fazer exatamente o contrário.
-- Bom, mas se você já sabe da sua verdade, antes de eu dizer a minha, do que adianta conversarmos? Não vamos sair de lugar nenhum!
-- É, mas já estamos parados aqui, pelo menos, nos conhecemos um pouco melhor. Achei que já estava acertado a direção que deveríamos seguir. Acho que o que vale mais é o amor.
-- Você, por amor, abandonaria a sua direção para ir na minha?
-- Talvez.
-- Talvez o quê?
-- Se você me apresentasse argumentos válidos. Hum... Mas se os argumentos fossem mais fracos que as suas atitudes... Acho que entraria em conflito e não conseguiria mais confiar em você.
-- Bom, eu já conheço uma pessoa que foi naquela direção em que eu estava indo.
-- Conhece alguém? Que alguém? Quem é essa pessoa?
-- Ué, uma pessoa! Qualquer pessoa! Mas eu conheço.
-- O que quer dizer com isso? É alguém do seu passado?
-- Ué, CLARO! Se não está aqui agora e eu conheço, só pode ser do passado...
-- Não se faça de desentendido! Sabe muito bem o que quero dizer. Você não foi na minha direção comigo, mas ia na mesma direção da pessoa que você conheceu no passado. Que ótimo! Parabéns. E de estresse agora, já não consigo nem mais andar. Acho que você só pensa que me ama.
-- Eu não acredito em amor. Só acredito em andar.
E assim, permaneceram discutindo, se amando profundamente, ambos batendo testa com testa; um queria seguir pela mente, o outro pelo coração. Ficaram assim até que todas as noites e todos os dias haviam se passado, o sol havia secado a água dos corpos, os urubus comido o que sobrara de suas carcaças e, agora, só restava pó. Ficaram juntos para sempre, parados no mesmo ponto. Até que passou uma brisa ligeira e separou as poeirinhas cósmicas. Uma poeirinha um passarinho comeu, a outra, um lagarto. E, mais a frente, foram defecados no solo, de onde nasceram florezinhas...

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