Hoje recebi uma mensagem via celular de uma pessoa que, há mais ou menos um mês, para defender um ponto de vista específico, beijou o meu ex-namorado na minha frente. Essa pessoa queria me mostrar que eu não tinha o amor, o respeito nem a fidelidade desse "ex" (estávamos ainda no processo de término -- eu estava). Bom... A mensagem foi em um tom tão casual que eu quase me deixei levar. A dor que senti no dia do tal beijo foi devido à afronta, à traição do meu momento lúdico, me roubando o prazer da noite e o substituindo por desamor, desrespeito e deslealdade. Mas, devido ao tom desapegado e frouxo da mensagem, quase coloquei de lado tudo aquilo (o beijo em si foi ridículo, um duelo de espadas -- por uma donzela!), e quase as deixei entrar de novo em minha vida. O tom foi tão casual, como se nada tivesse acontecido, que quase me convenceu. Quase-me-convenceu. A não ser pela suspeita imediata que me gerou.
Então, a razão diz: todos são dignos de erros e erros são humanos. Até eu estou sujeita a erros. Mas eu me permito? Eu me permito errar assim? Eu me permito magoar as pessoas que eu chamo de amigas dessa forma? Eu me permito me atrair e ficar com os namorados e maridos das minhas amigas? Eu me permito sujar o espaço que as pessoas me concederam em honra e confiança, das suas casas e corações?
Quando chamo uma pessoa de amiga, quando essa pessoa tem acesso aos recônditos do meu ser, sabe onde me escondo, onde me retiro, o que sinto, o que penso, o que faço... Eu espero que ela reconheça o valor desse espaço, a honra que é para ela estar presente nisso, fazendo parte da minha vida e espero que cuide desse bem. Em troca, ela tem a minha lealdade e o meu amor. (...) E, por milhares de vezes, as pessoas entraram com sapatos imundos de lama no chão que eu acabara de limpar, cuspiram, comeram, beberam e se entornaram no chão sem a menor oferta de ajuda para colocar as coisas de volta no lugar. Saíram sem o menor pudor para a próxima festa e para o próximo banquete, sem nem ao menos ligar para agradecer o tempo em que ficaram nesse espaço. Foram pessoas que eu deixei entrar.
Essa "punição" de deletar as pessoas que me cortaram (e quem cortou quem primeiro -- eu sou cortada apenas uma vez, é sempre um corte no ventre, é sempre esse golpe baixo e sujo que expõe as minhas tripas em público. só que é UMA VEZ para nunca mais) é de fato uma punição de quem? Acho que é uma punição de mim mesma por ter errado, por não ter previsto o imprevisto, por estar na hora certa e no lugar certo para o momento errado acontecer, por ter tido essas experiências e não outras, que fossem boas de fato.
Acho que talvez existam pesos e medidas diferentes: se alguém me corta o braço, ele cicatriza em duas semanas. O perdão vem mais rápido. Se alguém me expõe à visão das minhas próprias tripas, além de dermes e músculos, em um mês não estarei pronta para sarar. E o perdão não vem tão simples assim.
E isso é ficar apegada às sensações ruins? E isso é não perdoar? Ou ainda não passou o tempo necessário para eu me concentrar em outras coisas (coisas mais importantes, novas alegrias)?
As novas alegrias ainda não apareceram por aqui, porque a cicatriz está só a meio caminho andado e eu levo muito tempo para me recuperar dos baques então, que forças tenho eu para ir ao mundo? Que forças tenho eu? -- De ter as tripas expostas por uns MERDAS! Se sou tão facilmente abalável por esses malditos que amei, que forças tenho?
É esse o perdão que não me dou. Não é aos outros que preciso perdoar, é a mim.
Eu convidei o vampiro para entrar. Deixei que ele traçasse os passos; ele se deitou comigo na minha cama, beijou a minha boca naquela mesma noite por iniciativa minha e me deixou com a porra de uma qualquer-Verônica, um livro de poesias-manual-de-instrução-extraviado (que só chegou depois do namoro) e RUIM e a memória desse beijo escroto. E onde é que isso fica, atravessado em mim?
Se esse é o tipo de gente que me cerca, que tipo de gente eu sou?
Mas se eu não me importasse comigo, se não me gostasse, se me permitisse voltar a falar com essas pessoas não estaria embarcando nas mesmas ondas superficiais e descuidadas em que elas flutuam? E agora que sei diferenciar joio de trigo, não é adequado que afaste os dois lados? Inclusive, não é esperado que eu faça isso?
Ficar sozinha e em silêncio é uma prova de amor a mim, respeitando o meu tempo de cicatrização? Ou é uma punição por eu ter caído na mesma história de sempre e ter me envolvido com pessoas sem a menor cautela, pessoas que eu não sabia bem quem eram. Pessoas que achei que tivessem honra e que não tinham (...)?
Um tempo para pensar. Quanto tempo levar.
Mas essas pessoas que foram não voltam mais, porque eu não vou deixar.
E a mim não terão jamais. Acho que esse é o pior castigo que posso dar.
E quanto sofro com isso...
Um comentário:
Um bom exemplo de uma pessoa que pôs sua vaidade acima dos que a cercam (amigos ou colegas, não importa). "Passo por cima de seu sentimento, mas provo meu fundamento; perco meu amigo, não a piada". Às vezes, elas se denunciam no cotidiano de suas ações. Infelizmente, algumas nos surpreendem, traindo a nós furtivamente. Todos estamos sujeitos a sofrermos um "agrado" desses vez por outra. E quando nos causa tamanho sofrimento, tendemos a agigantar o processo, fugindo para o esconderijo confortante da prevenção. Mas aí vem a pergunta: onde identificarei aquela alma especial, que encanta meus sentidos, por simplesmente existir, já que, por existir, brilha intensamente, se ela se escondeu no mundo da prevenção, porque foi agredida pelos BABACAS que volta e meia aparecem pela vida?
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