quarta-feira, janeiro 23, 2008

Quero dizer a deus

quero dizer a deus desculpas
agradeço o que mastigo e visto, mesmo que me desgrace
que pelo meio do meu corpo caminha deus
que pelo meio do meu corpo também anda o meio das minhas pernas
e eu acho que o prazer não mancha tanto quanto a dor e eu quero aproveitar
esse corpo antes das cinzas, antes do sangue...
quero dizer adeus a culpas
que na loucura há cura
desgraço o que mastigo e visto, mesmo que me agradeça
por escolher e sempre ter que escolher
t o d o d i a e s c o l h e r
(que não é permitido vegetar a quem não é vegetal
e nem é permitido atacar por quem não é animal)
o trapo com que me visto, a desgraça que mastigo, a culpa que me pesa
os passos dados pelas pernas que me carregam

a deus, todas as culpas. adeus às desculpas. a mim, leveza. é assim que quis deus.
é assim q ue quero eu.

então tá
ficamos combinados assim.

"O fim do axé no Brasil"

Ivete Sangalo e Claudinha Leite foram cantar deprimidas e não conseguiram tirar os pés do chão.
O BOPE proibiu o uso do pó para as celebridades. Acabou a alegria contagiante da música popular brasileira.

domingo, janeiro 20, 2008

Em um ano



Acabei de ver um comercial sobre aproveitar o nosso tempo de vida ao máximo. Correr, correr para fazer o que queremos fazer. Camundongos, eles disseram, apenas vivem um ano. E me perguntaram o que eu faria por mim mesma nesse tempo, então fiquei pensando...

Deveria fazer tudo por mim mesma em um ano? Tudo o que sempre desejei fazer? Correr para alcançar? Passar a planejar a minha vida pelo dia da minha morte, como se não restasse tempo? Ansiosa por terminar todas as minhas vontades e opções, antes que seja tarde ou que eu tenha saciado completamente minha vontade de viver? Ou meus desejos? Ou antes que se esgote a minha saúde?

(. . .)

Sem pensar. Viver sem pensar nos movimentos. Ir saltar de pára-quedas; xingar um policial corrupto, jogar ovos na blitz, sem pensar no depois. Ligar para as pessoas que deixaram marcas ruins e perdoá-las pelos seus feitos ou deixar um grande pote de cocô na porta delas, sem pensar no depois. Fazer uma viagem pelo mundo sem rumo programado nem dinheiro no bolso. Sentar com minha mãe e realmente explicar para ela quem sou eu e quem é ela. Fazer coisas loucas e sem nexo no meio da rua e rir da reação das pessoas. Falar tudo o que eu penso para todo mundo, sem me importar com refluxos. Sentar e cantar em público, sem medo de errar nem de chamar a atenção.

(. . .)

Em quantas coisas eu consigo pensar e quantas coisas eu conseguiria fazer em um ano que fossem iguais a “aproveitar a minha vida ao máximo”? Coisas que talvez eu escolhesse não fazer, caso não fosse a ameaça de o tempo estar acabando?

Eu gostaria de ter uma filha. E de me casar, no sentido matrimonial mas não tradicional da palavra. E gostaria de morar numa casa que fosse minha e bem decorada, com um jardim bonito, tranqüilo e perfumado. E de construir um futuro digno e bonito, em paz, respeitando e sendo respeitada. Coisas que não são feitas rapidamente em um ano. E não são para serem feitas mesmo. E quero ter tempo de aproveitar todas elas.

Esse pique de aproveitar a vida ao máximo deixa as pessoas neuróticas. Pois eu sou do contra, e digo: não aproveite sua vida intensamente ao máximo. Leve o maior tempo possível fazendo cada tarefa. Faça a menor quantidade de tarefas possíveis. Durma a maior parte de horas do seu dia. Faça apenas aquilo que lhe der prazer. Coma sempre o que quiser. E se demore. Demore no banho, gaste água. Não corra, não corra. O tempo não está acabando. O tempo é infinito.

domingo, janeiro 13, 2008

*HOJE* encontrei meu ócio criativo: a tradução de mim mesma.

A) O ócio criativo:
Ócio criativo deve ser o nome do meu sagrado anjo guardião. Hoje encontrei ele. Os Querubins ficaram agitados no céu, fizeram eu me mexer. Que bom, depois de um final de semana amarguinho...
Mas aí hoje, bam! Bateu em mim o ócio. Uma alternativa produtiva contra a explosão emocional, sabe? É, fico feliz no final das contas. Para não "matar mais gente"*. Tipo, excluí-las do meu quadradinho, já que são pessoas queridas. (*Retorno de Saturno é muito foda. O quadradinho é real e corta fora mesmo tudo o que não é essencial além de tudo aquilo que não está fluindo no momento presente.)
Graças a uma conversa com um amigo, induzida pelos queridos Querubs que queriam que eu tivesse esse encontro comigo hoje, tive a idéia de cantar em portuglês, e compus "Espaço". E é linda essa música... Emocionante. Tudo emocionante. Hoje foi uma aventura só.
B) A tradução de mim mesma:
Vocês vão achar que eu sou louca. Mas eu componho assim... Em inglês. É totalmente natural, sempre foi dessa forma e todo mundo sempre reclamou. A minha emoção se expressa em inglês, então as letras são todas em inglês e as melodias são para letras em inglês (o que está jogando a Tradução estudada na faculdade para um outro nível).
Então, para escrever as letras em português, eu tive que traduzir a mim mesma. A mensagem foi recebida numa língua e depois decodificada e adaptada para outra, para me fazer entender aqui nesta terra. AFINAL o Brasil está precisando muito mais de mim do que o resto do mundo. Acho que aqui meu trabalho tem muito mais propósito, porque é uma linguagem diferente a que eu proponho das mensagens sonoras que estão soltas e rábicas por aí.

Achei que isso foi o pulo do gato.
E acho que consegui fazer um bom trabalho, dentro das possibilidades da língua e das minhas.
A Natacha me ensinou a ser mais leve com as palavras e o Duca me inspirou a saltar.
Me arrisquei. Veremos se perdura. Tenho faixas bilingües! Olha só! Que chique.
Tenho chance de ganhar o dobro de amor, fãs e dinheiro. Iuhu pra mim.
Hoje é o dia. Se meu final de semana tivesse sido alegrinho e fofo, talvez eu não tivesse nunca tido essas idéias...

sábado, janeiro 12, 2008

A substituta da noiva

Estavam todos apressados com a cerimônia, mas não sabia exatamente com o quê se preocupavam, já que estava tudo pronto. A família perambulava de um lado para o outro, certificando-se de que os convidados estavam presentes e bem arranjados, de que o fotógrafo estava a postos e de que o bufê estaria servindo as bebidas assim que acabasse a cerimônia.
Enquanto isso, eu caminhava de um lado para o outro. Fui até o jardim; era um fim de tarde agradável, numa casa interessante feita toda de pedras e com um deck que dava para uma piscina pequena, porém muito aconchegante, e nas paredes de pedras cresciam flores coloridas. Eu já estava pronta, me divertindo com aquele longo e rodado vestido branco, com aplicações em prata e luvas brancas de cetim, observando tudo à distância. Estava sentindo o perfume das flores quando meu querido veio até mim; não o noivo, mas um dos padrinhos, por quem eu estava apaixonada. E nos apertamos um contra o outro, nos inflamando em um beijo ardente. Como conhecíamos várias pessoas da festa e eu estava trabalhando, não queríamos chamar muita atenção. Afinal, eu estava prestes a representar o papel da noiva em um casamento e ele era um dos padrinhos. Seria muito estranho se as pessoas nos vissem juntos. Mas a sensação de estarmos nos escondendo era muito excitante.

Era sim totalmente natural ter sido paga para substituir a noiva que não poderia estar presente no próprio casamento devido ao trabalho dela. Era uma profissão até comum naqueles dias.
Eu estava um pouco ansiosa, pois apesar de ser uma gig como qualquer outra, era a minha primeira vez de substituta da noiva. E como eu nunca havia me casado antes, eu estava nervosa. Tínhamos ensaiado, mas de qualquer forma era apenas uma encenação, e eu tentava não pensar na hora do beijo. Tinha que ser natural, afinal ficaria eternizado nas fotos. Era um casamento, mais tradicional impossível.
No entanto a ansiedade me trazia uma sede enorme, o que sorrateiramente me levava até os pró-secos geladinhos que suavam no balcão da cozinha e que estavam logo ali, tão perto da minha boca, mas toda vez que eu me aproximava era interrompida pela mãe da noiva original e não podia beber, porque ela ficava me seguindo, não deixando eu aproveitar nem uma gotinha antes da festa. Aparentemente, o destino daquela bebida era mais importante que a vontade da noiva do casamento que ela mesma havia organizado; fiquei pensando se não tratava da mesma forma a própria filha. Me senti uma mera contratada, mesmo que para o papel principal do casamento. Depois pensei se não tinha sido esse o real motivo da ausência da noiva. A mãe.
O grande terror de ser paga para fazer qualquer trabalho é ter o prazer interrompido em nome do contrato.
Duas casas depois daquela havia um anfiteatro chiquérrimo no qual aconteceria também um casamento. Daí, depois da cerimônia que tinha sido paga para estar presente, corri até lá para espiar. Era uma super-produção: meia luz, convidados sentavam-se na platéia e orquestra, noivos, padrinhos e padre ficavam no palco. A decoração era feita com voal em dourado pendurados que rebaixavam o teto, e tudo de muito bom gosto, inclusive os arranjos de flores. Como eu estava vestida de noiva, não podia ficar à vista, caso contrário poderia roubar a cena dos participantes reais. E eu não queria isso, queria apenas poder observar uma linda cerimônia de verdade, tão rara naqueles dias.
Acordei com a sensação do vestido branco, naquelas cenas agoniadas de vestido esvoaçantem e mulher correndo com a maquiagem borrada. Tudo muito lindo.

o cercadinho de carne

(Eu vim de "todas as minhas relações profundas estão virando farinha". E também da segunda metade do "Under the Pink". Reparei que fiquei escrevendo no diário até acabar o cd.)
... nem eu caibo dentro do meu cercadinho. Nem eu caibo direito dentro de mim mesma. Sei que não sou a única; vejo as pessoas só cabendo dentro delas mesmas. Vejo que todas as pessoas possuem corpos onde apenas cabe uma SÓ pessoa. O cercadinho de carne; a solitária realidade do planeta Terra. A realidade da nossa escolha de encarnar; o preço que pagamos talvez. Só podemos nos reconectar inteiramente (e talvez nem isso) com a fonte original de luz, mas não a outro ser humano. Engraçado como vírus, vermes e bactérias acham lugar dentro de mim, mas não outro da minha espécie.
Sinto uma sede avassaladora neste - exato- momento.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Toc-toc

Sempre tive uma mania horrível de achar que sempre tinha alguma coisa grudada na minha bunda. E não podia me sentar que, ao levantar, achava que tinha alguma coisa atrás que fosse fazer eu me sentir ridícula ao perceber que todo mundo estava percebendo, menos eu.
Daí isso passou. Porque agora eu sempre olho. Cada costura dos sovacos, cada pedacinho que geralmente não olhamos para saber se existem manchas, pêlos, fiapos, etc. Antes eu perguntava aos amigos, de cinco em cinco minutos. Quem lembra, fica quieto. Eu sei que várias pessoas têm essa sensação, mas quase ninguém fala. Por aqui funciona assim; todo mundo com medo de tudo, né?
Tá. Daí hoje eu saio na rua e se eu me arrumei muito rápido eu fico achando que saí faltando alguma parte, tipo, saí sem calça, saca? E mesmo estando de jeans e tênis eu fico olhando uns dois minutos, tocando meu corpo pra sentir, não só ver, se estou mesmo vestida como acho que estou.
E quando eu tiro algo da bolsa no meio da rua, fico olhando algumas vezes para me certificar de que eu coloquei mesmo o treco dentro da bolsa, que não caiu pelo chão nem nada do gênero. E são coisas que eu tenho me controlado para NÃO fazer, porque é muita falta de confiança em si mesmo, saca? Ter ACABADO de guardar uma parada com todo cuidado e achar que não está lá onde colocou.
É muita falta de várias coisas. Mas não disso que vocês estão pensando.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

PermeabilidadeS

Uma célula invadindo a outra é um pouquinho de universo, da órbita de uma estrela ou planeta invadindo o outro. Uma pessoa que invade a outra com uma falta de respeito; um marimbondo que invade uma casa no campo. Um ano que invade o outro. Como é possível acordar em 2008 ainda com gostinho de 2007 na boca? Acordou com aquele gosto azedo e com os dentes muito sensíveis por causa bebedeira frenética da noite anterior e do sono sem ter feito a higiene bucal adequada e agora pagava por suas escolhas. Levantou-se e foi esfregar a barba na frente do espelho, agora um ano mais velho. "Quero determinar bem meus espaços este ano", pensou. "Nada de invasões. Não quero avançar nem ser invadido." Logo precisou agarrar o livro que quis começar a ler anos antes e que só agora tinha sentido vontade. Outra vontade. Sentou-se no vaso e entendeu tudo: como começar um ano todo novo se ainda estava cagando o ano anterior??

quarta-feira, janeiro 02, 2008

mais música e menos guerra
















Sem saber qual era o planeta regente de 2008, escolhi passar a virada justamente com a cor do dito cujo... Vermelho, para o planeta Marte.

Mas apesar da cor forte, era um vestido com florezinhas coloridas na barra e a calcinha era cor-de-rosa.

Além de ser regente das guerrilhas, Marte também rege o tempo da música. É ele quem marca os compassos. Então é isso o que estou querendo de 2008: uma vida marcada por compassos criativos e melódicos.
My own beat to make a life worth living.







Plenitude


A gente precisa de mais contato com a natureza, de sair para admirar a beleza do mundo.
E vai existir vida enquanto soubermos louvar as paisagens com suspiros e votos de eternidade.
Daí o mundo continuará existindo com todas as suas belezas. As belezas precisam de suspiros e de admiração. Enquanto tivermos olhos sensíveis para observar, elas continuarão para sempre.

Eu senti isso olhando a Baía de Guanabara... Cruzando na barca, de um lado para o outro, como aquele lugar é belo. E mesmo apesar de tantos maus-tratos, continua lá, firme, forte e ainda com vida! E vai continuar, enquanto passarmos por lá dizendo como é linda.

Acho que de todas as bandeiras que eu já tive, essa é a mais agradável de defender. Sim, de fato, é mesmo. Porque não requer nenhum esforço, é algo completamente natural proteger a natureza por admirar as suas belezas.