domingo, janeiro 20, 2008

Em um ano



Acabei de ver um comercial sobre aproveitar o nosso tempo de vida ao máximo. Correr, correr para fazer o que queremos fazer. Camundongos, eles disseram, apenas vivem um ano. E me perguntaram o que eu faria por mim mesma nesse tempo, então fiquei pensando...

Deveria fazer tudo por mim mesma em um ano? Tudo o que sempre desejei fazer? Correr para alcançar? Passar a planejar a minha vida pelo dia da minha morte, como se não restasse tempo? Ansiosa por terminar todas as minhas vontades e opções, antes que seja tarde ou que eu tenha saciado completamente minha vontade de viver? Ou meus desejos? Ou antes que se esgote a minha saúde?

(. . .)

Sem pensar. Viver sem pensar nos movimentos. Ir saltar de pára-quedas; xingar um policial corrupto, jogar ovos na blitz, sem pensar no depois. Ligar para as pessoas que deixaram marcas ruins e perdoá-las pelos seus feitos ou deixar um grande pote de cocô na porta delas, sem pensar no depois. Fazer uma viagem pelo mundo sem rumo programado nem dinheiro no bolso. Sentar com minha mãe e realmente explicar para ela quem sou eu e quem é ela. Fazer coisas loucas e sem nexo no meio da rua e rir da reação das pessoas. Falar tudo o que eu penso para todo mundo, sem me importar com refluxos. Sentar e cantar em público, sem medo de errar nem de chamar a atenção.

(. . .)

Em quantas coisas eu consigo pensar e quantas coisas eu conseguiria fazer em um ano que fossem iguais a “aproveitar a minha vida ao máximo”? Coisas que talvez eu escolhesse não fazer, caso não fosse a ameaça de o tempo estar acabando?

Eu gostaria de ter uma filha. E de me casar, no sentido matrimonial mas não tradicional da palavra. E gostaria de morar numa casa que fosse minha e bem decorada, com um jardim bonito, tranqüilo e perfumado. E de construir um futuro digno e bonito, em paz, respeitando e sendo respeitada. Coisas que não são feitas rapidamente em um ano. E não são para serem feitas mesmo. E quero ter tempo de aproveitar todas elas.

Esse pique de aproveitar a vida ao máximo deixa as pessoas neuróticas. Pois eu sou do contra, e digo: não aproveite sua vida intensamente ao máximo. Leve o maior tempo possível fazendo cada tarefa. Faça a menor quantidade de tarefas possíveis. Durma a maior parte de horas do seu dia. Faça apenas aquilo que lhe der prazer. Coma sempre o que quiser. E se demore. Demore no banho, gaste água. Não corra, não corra. O tempo não está acabando. O tempo é infinito.

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