sábado, março 22, 2008

M'esqueço

Eu me esqueço que não desejo pisões e pontapés, que não desejo ser despedaçada entre rodas nem atirada aos cães da miséria e da discórdia. Eu me esqueço que a substância é o amor. Eu me esqueço de sentir, porque estou ocupada fluindo no senso-comum, e eu me esqueço de me amar. Eu começo a demandar amor das pessoas, mas elas não produzem amor. Ninguém produz amor; a substância vem da fonte, não há amor dentro de nós que seja gerado sozinho. Eu me esqueço. Me esqueço de fazer apenas carinhos e de entender que se existem espinhos, de saber que não são para os meus dedos. Me esqueço, porque as coisas que me lembram são tão diferentes de tudo o que eu já tive como verdadeiro... E o que é real? Aquilo que nos repetem t o d o s o s d i a s ou aquilo que sabemos de dentro da alma mas que nos é tão raro? Eu me esqueço e não sei como lembrar. São apenas palavras os sentimentos se não são sentidos. E palavras carecem de sensação. Palavras são cascas ocas, vazias, impregnadas por nós de algum significado. As palavras estão soltas por aí como górgonas, satirizando nossas mentes perturbadas.

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