terça-feira, setembro 15, 2009

Furacão-serpente

Luneta penetrada do céu em movimento reto, ângulo de cento e oitenta graus do alto para mim, o olho do furacão: não sinto nada. Mas o peso pungente dessa reta que eu tento equilibrar em uma das mãos às vezes corta como se fosse o dente de uma serpente. E a loucura que sinto é como se o veneno estivesse se espalhando pelo corpo. Tiro tudo da vida dos sonhos e eu realmente preferia continuar dormindo... Por mais pesado e intenso que fosse o sonho, acordar com hora marcada é um processo muito mais cruel. Estava sonhando com beijos e abraços, e serpentes venenosas. A serpente rastejava atrás de mim; ela era um verde intenso e tinha olhos amarelos. Em um determinado momento eu parei de correr, e pensei: "Está bem. Vou deixar você me morder só um pouquinho". E então ela rasgou a minha canela com as suas presas, mas eu a peguei pela cabeça, e disse: "Está bem. Agora já chega". E saí cambaleando, e a visão foi ficando turva. E eu fui cuidada por um xamã, que era alguém que já conheci e que também usava veneno de serpente para viver e ter visões. Mas os beijos e abraços eram em outro; alguém proibido, alguém secreto. A serpente percorreu o sonho inteiro e eu não fui a única com mordida de cobra, mas não lembro dos outros. Nos sonhos somos nós o centro sempre; na vida, às vezes deixamos as pessoas que nos cercam tomarem de nós o papel principal. Então hoje acordei com a cabeça rodando. Não estou mais no olho do furacão e, no entanto, continuo sem sentir nada. Vejo as coisas girando a minha volta ou seria eu que estou girando? Vou deixar que os ventos me levam e me depositem em algum lugar. . . Pois hoje não consigo pensar; respirar já é suficiente.

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