sábado, setembro 05, 2009

A sua Valentina negra

Vou tatuar corações negros sobre a pele, como se fossem sinais de nascença, um para cada amor encontrado e perdido. O meu vício, detenha-se um pouco nisso, não é amar: é sofrer. Então que o meu júbilo encontra o limite máximo quando a dor perfura a pele, trazendo o sangue à tona, deixando marcas. "Amar é morrer", as pessoas se chocam com essa verdade quando procuram ler o que há escrito no meu pé. "Ai! Não, amar é viver"... Elas dizem. Mas parece que dói nelas também. Como adoramos dar voltas no circuito do amor! Viver, morrer, morrer, viver! Como dói, como odiamos essa dor, como ela nos alimenta, como procuramos fugir dela quando a temos e como a procuramos mais que tudo quando está longe. Verdade. Esse é o destino que os nossos deuses deram para nós. A nossa unidade complexa que distingue-se circulando pelo corpo e alma, pelo claro e escuro, pelo sim e pelo não, pela vida e pela morte. Temos um pé de cada lado, não é?! Quem entende as minhas palavras está vivo. Muito vivo, mesmo que dolorido, mesmo que próximo da morte. Aliás, quem está próximo da morte está muito vivo. Muito vivo. E eu estou quase! (...) Posso ser a sua Valentina negra, aquela que se encontra perto de você, embaixo da sua cama, mas que logo surge, face junto a face, quando você se deita, quando está quase adormecendo? Aquela que lhe vê quando você está saindo do corpo para ir visitar o reino dos sonhos? Posso ser a sua Valentina negra? Aquela que vive na profundidade do seu coração que bate, surdo, no seu peito, e que não lhe deixa pregar os olhos? Eu o acalmarei, mesmo sabendo que, ao mesmo tempo, eu sou a causa de toda insônia, alisarei os seus cabelos, farei carinhos até que se acalme, até que se entregue, até que me ame, gastarei as palmas da mão lhe alisando, lhe darei amor até que sangre. Deixa? E foi quando, de repente, quando a mamãe doutora passarinho estava me dando de comer Nietzsche mastigado, que descia como se fosse o alimento mais puro do universo, com todo aquele amor e cuidados, que recebi um cartãozinho com a resposta mais singela. "... e morrer é necessário"! De uma amiga; "para o seu pé, para a tatuagem do seu pé"! E então, ela me calou em sorrisos e eu morri de amor e de alegria. Por todos os segundos infinitos contidos naquele breve momento, amém. Pois, se amar é morrer e morrer é necessário, amar também o é.

Um comentário:

Inara Vechina disse...

"amar é morrer". eu sempre tive consciência dessa verdade. sempre achei que amar só é possível com a morte do ego,com a entrega total, esse é o verdadeiro amor.O resto que temos pela vida são vislumbres desse Amor supremo.acho que são poucos o que são capazes dessa "morte"; são poucos os que se entregam a essa energia amorosa do Universo.