quinta-feira, outubro 01, 2009

23:34, bêbada no metrô.

"Gostaria de escrever agora e não sei se deveria. Os rabiscos que fiz todos quando cheguei não entendi: letra miúda demais, rabiscada demais. Adoro homens que fazem o melhor com o que têm. Chamou a minha atenção um desses. Ele entrou no vagão na Estácio, indo para a zona norte. Usava sapatos pretos de solado grosso que pareciam confortáveis e quentes, uma calça cinza da Predial e uma camisa de algodão do Flamengo. Mesmo que a moda tenha mandado lembranças, esse homem, de boné, tinha um estilo próprio. Não sei como, mas ele transformou todos esses itens em algo menor, menos importante, do que a força de caráter que emanava dele. Ele, no conjunto, era perfeito em si. Adorei a sua altura, a sua cor de pele, as veias que saltavam naqueles braços, e os braços... Costas largas, braços fortes, quase sem pêlos, mãos fortes, dedos fortes, veias, braços. Deliciosamente preocupado no metrô. Ele carregava uma escada de alumínio. Ficou no carro quando eu saltei. Ele viu que eu estava olhando e olhou de volta. Uma delícia perdida. Imaginei ele me segurando com aquelas mãos, aqueles braços. Imaginei se eu teria reconhecido um homem de verdade: seguro de si, dono de si, confiante, silencioso e aguardando poder dar o amor que tinha, porque seria a única coisa que poderia dar e, por isso, ele seria abundante. Sonhos, pensamentos... Enquanto isso, eu parecia uma maloqueira de capuz rosa choque, ouvindo música alta no meu mp3 player. Será que alguém me viu? Imaginando delícias com um desconhecido. Eternizado momentos pela escrita."

2 comentários:

Inara Vechina disse...

Ui!
Eu visualizei o desconhecido.....e quantos desses perdemos todos os dias não é? E ainda bem que perdemos , senão seria um problemão tantas delícias e tantos desconhecidos.hehe

Lívia Estrella disse...

Ahhhh, o desejo! hehehe