segunda-feira, outubro 12, 2009

STAR
Ele disse que star em sua companhia era mais do que suficiente, poder admirá-la e respirá-la, que de poder tocá-la por star tão próximo era o seu único desejo. Porém, por baixo da pele, ele vestia outra intenção: enjaular o seu coração através da própria força, pelo laço da persistência. Ele tentou, desde o primeiro dia, poções encantadas, palavras mágicas e até a nobreza de um coração, embora, sem sucesso, a cada investida, retornava cabisbaixo para casa, não fosse a pele dela tão escorregadia. Desde o primeiro dia, ela não o enganara... O seu coração não estava em jogo, e não estava à venda. O seu coração não seria conquistado em uma aposta. O seu coração não seria conquistado de forma alguma; caso ela o quisesse, aquele seria entregue. Mas ele a conjurou; ao sair de sua casa às 01:18 da manhã, depois de se imaginar passando a noite com ela, teve que ligar para os amigos que dormiam, amigos com um filho pequeno, da casa em que estava ficando. Ao deixá-lo aproveitar a sua companhia, como ele havia dito ser de sua vontade, teria sido o mesmo que tê-lo iludido? Mil voltas dá o coração de uma mulher e, por culpa, perdemos o nosso lugar no paraíso. Pois veja bem: o lugar no paraíso é garantido à mulher que conhece o próprio lugar e não se deixa enveredar por manipulações pequenas. Culpa é o veneno verdadeiro que a serpente lança ao nosso sangue, é a culpa que faz com que nos entreguemos às mãos erradas, às bocas erradas, às vidas erradas. Por culpa podemos nos rebaixar ao mísero infortúnio de viver sob as solas dos sapatos e sob as rodas das carruagens, infelizes. Rats. No entanto, mesmo correndo o risco de tê-lo visto pela última vez (e sabia que esse risco era grande, já que viajava a cada instante de forma mais veloz, e não via alma capaz de se transformar em luz para segui-la), mesmo correndo o risco de quebrar um coração tão querido para si, ela manteve-se firme em sua decisão (correta, em seu coração - apesar de igualmente dolorosa). Ela não o havia usado como objeto de prazer, como também era da vontade dele. Ela também não o havia beijado, como era da vontade dele. Ela havia permanecido firme, honesta e pura diante do seu propósito de não mais servir vontades, pois era mestre de si e tinha uma única Vontade, dada pelo seu poder gnóstico: a de tornar-se Deus.

Um comentário:

Anônimo disse...

"firme, honesta e pura", é tudo o que importa, e que todo o universo se dobre ao meu redor ;)
Andei ouvindo Tori Amos nesses dias, heh