quinta-feira, outubro 22, 2009

Um pai nosso, uma ave maria e um ato de contrição.

Eu me lembro de estar deitada na cama, aos treze anos, rezando -- e era sempre um pai nosso, uma ave maria e um ato de contrição (eram as únicas que eu sabia de cor; o ato de contrição é uma das coisas mais absurdas que já li na vida), pedindo poder. Eu acho isso engraçado. Pode ter sido o início da minha longa conversa com Plutão, aos treze anos, na cama, quebrando paradigmas, o primeiro cheiro de Plutão. Eu certamente não sabia o que estava fazendo, mas não era um pedido racional, e sim instintivo. Era um pedido de encontrar a minha própria natureza. E encontrei.
E sim, nos meus momentos de ira eu já invoquei todos os demônios mais poderosos do universo porque eram justamente os meus, e pedi que varressem a vida de todos aqueles que me cercavam, todos aqueles que me faziam sofrer; esqueci de me excluir da lista. Sabe, temos que ser bem específicos nos pedidos que fazemos, mas isso não faz com que os reconheçamos quando eles chegam, essa é a ironia. Eu já caí em vários buracos que eu mesma cavei, sem me lembrar deles.
Existem histórias trágicas; as minhas são apenas exageradas. Uma tentativa, talvez, de me tornar mais importante do que eu realmente sou. Gostaria que se um dia houvesse legiões de pessoas chamando o meu nome fosse pelos motivos certos, e que não fosse tanta gente assim. Sei que preciso trabalhar com grupos e, no entanto, gostaria de ter sabido cativar melhor todos ao meu redor e que eles ficassem mais contentes comigo, na minha presença, do que na saudade de mim. Mas essa distância é algo que me aproximou de algo importante e que é só meu... E que não sei nomear.
Ainda esse mês percebi que, de fato, não quero encontrar nada do que eu procuro, porque a minha onda é esperar, querer e sonhar, e que é isso o que me deixa viva, pulsante, e não as coisas em si. As coisas em si são meros objetos. Eu percebi que, muitas vezes que encontro com um pedacinho de sonho eu o mastigo, sinto o gosto e, ao invés de engolir, eu cuspo ele fora. Levantei uma das mãos para louvar a Deus e os homens racionais aproveitaram para martelar um prego. Levantei a outra para pedir ajuda, e fiquei com as duas mãos presas em uma cruz. E será que eu sou a vítima? Posso ter eu mesma me pendurado ao contrário. Eu crio e mato o meu universo. Somos vítimas de nós mesmos. E é assim que acontecem todos os acidentes: num piscar de olhos. Milésimos de segundos. Acidentes que não são necessariamente físicos, mas frutos das nossas escolhas. Mas estamos a salvo pelo amor-fati. : )

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