A proposta do universo para quando eu nasci foi exatamente essa: um caos organizado, planejado. Ser moderada em todas as coisas, inclusive na moderação. Ser o preto, o branco, o cinza e todas as cores de todas as escalas no intermédio. Ser a mulher que seduz o homem casado e a que é traída. Ser o macho e a fêmea, ser o homem de família e o general, ser os enamorados. Ser os dois pilares do templo, as duas crianças gêmeas que vigiam e protegem a constante cópula que se dá dentro de mim para que o meu seja um universo criativo, ser o fogo e a água, ser prazer e dor, ser criação e castração.
Queria não sofrer algumas interferências, como por exemplo, fazer uma guerra para conquistar a paz. Matar para poder viver. Mas acontece. I need to learn to let it go. E preciso aprender a perdoar os derrapes.
Não ser extremista, sabe? Não comer vaca todos os dias, mas também não virar vegan. Não beber coca-cola sempre, mas também não parar de beber coca, café. Bebe-se coca e café de um lado e fuma-se maconha e come-se chocolate do outro. O que quero dizer... Acelera-se o organismo e pisamos no freio, caminhamos por trombadas. As pessoas trepam para sair da depressão, mas isso não funciona para mim. O prazer do sexo me confunde nos planos de interações afetivas e esvazia minha alma, pois na relação não há troca, só há um dar e receber separadamente. O que resta depois do gozo é que me dá prazer como resultado do sexo e, quase sempre, o resultado é zero.
Para fora de mim é o caos. Dentro de mim existe um compartimento onde coloco cada detalhezinho interpretado e sentido. Por isso a exposição de mim é algo completamente diferente do que eu sinto dentro, que é essa completa resposabilidade sobre mim mesma e sobre os meus. O entendimento sobre causas e consequências e a constante pesquisa em observação sobre os mesmos.
Meu sono não acontece, eu não durmo. São todas as coisas ao mesmo tempo querendo acontecer. Mesmo dormindo, eu quero continuar em movimento. Preciso lembrar que é uma coisa de cada vez. Eu só poderia caminhar com os dois pés juntos se fosse coelho ou sapo.