quarta-feira, julho 11, 2007

De férias da Culpa

Queria dar menos importância a ela e escrevê-la com letra minúscula. Mas essa dona possui parte de mim, embora eu esteja desfazendo os seus mecanismos de controle. Somos todos marionetes nas mãos da culpa, mas eu já consegui libertar vários fios que me tinham amarrada e tenho pedaços livres, que se movimentam espontânea e deliberadamente.
É claro que os membros ficam meio bobos pois já tinham perdido a noção de si mesmos, já que estavam acostumados a se mexer conforme a música e conforme as vontades contidas da Culpa. Agora ando trocando as pernas, com braços espalhafatosos e muito invasores do espaço alheio, querendo acariciar a tudo e a todos ao mesmo tempo, querendo tomar para si um espaço que lhe foi tomado há tempos atrás. Dedos ficam irrequietos, mãos querem apertar, dentes querem morder e pernas querem entrelaçar-se a outras, enquanto pés resolvem pular, dando saltos para frente ao invés de passos. Tudo muito divertido. Tropeços e soluços de alegria, embriagada pela diversão, que substitui toda minha necessidade por romance. Tudo subindo, indo para cima, meu corpo é um balão de ar quente indo atrás do vento.
Estou me acostumando a ser dona do meu corpo e dos meus movimentos, internos e externos.
Culpa faz doer quando se tem prazer. Culpa puxa o freio de mão quando sua velocidade aumenta um pouco. Culpa traz receios que minam os presentes futuros da vida por uma falta de crença no merecimento de que coisas boas e somente coisas boas podem nos acontecer. Culpa coloca peso extra quando o movimento natural é retirar o peso morto. Culpa nos traz questionamentos pesados quando o momento é deixar fluir. Culpa nos tira do eixo natural e nos faz ser estranhos, com movimentos fragmentados.
Mas as cordinhas estão sendo cortadas, aos poucos, para que meu pouso no solo seja gentil e aos poucos possa tocar com meus dedos no chão, sem ter que despencar das alturas do prazer. Revirando os olhos eu estou com o meu dia-a-dia. Mesmo errando estou me abraçando e desejando tudo de melhor para mim, em todos os momentos. Estou comigo e não abro, sabe? Essa sensação de que me tenho e de que estarei sempre aqui por mim mesma é um tesouro que descobri quando ousei vislumbrar além do que havia por trás da encenação proposta pela Culpa.

Um comentário:

Natacha disse...

Valeu, Alex.

Ela tava me tomando agorinha mesmo.
Você sou eu, o meu eu que me lembra daquilo que eu quase esqueço.


Isso foi um texto de "auto-ajuda" para mim - e eu não estou menosprezando-o não, já que geralmente eu não curto auto-ajuda.

Eu gostei mesmo. Tem uma mensagem bem profunda. Fruto de divagações intermináveis.

Beijo menina. Múltiplos. rs