Algumas pessoas não têm o menor problema com quem são nem de ir atrás do que querem, mal sabem que para outras isso pode ser o maior tormento. Quando se é sensível ao psicológico alheio, todos os processos internos são complexos e deveriam ser tratados com uma delicadeza que eu não tenho ao mostrar às pessoas os seus avessos; seria como pedir que elas olhassem a si mesmas com apenas um dos olhos, enfim...
(- Ih, lá vem ela com aqueles ensinamentos loucos, entoados naquele tom professoral, querendo ensinar a todo mundo sobre as coisas que ela mesma não sabe... Sabe, cara, você sabe sobre o que está falando??
- Não, às vezes não sei sobre o que falo, mas cara... Quem é que tem o absoluto domínio sobre as situações? Me dá um tempo hoje, então, que não quero escutar o que você tem a dizer sobre a minha forma de compreender o mundo.)
*Fela Kuti berrando, tambores fazendo mexer o chacra básico.*
(- Me diz, professora, por que me sinto tão mal se não fiz nada de errado??)
Não é fácil para mim sair por aí borboleta nem gata, expondo esses meus lados animais. Ontem eu era as duas.
Parada junto à piscina, escutando a conversa dos outros, percebi a pilastra na qual apoiava meu corpo e senti um enorme prazer gelado, daí movimentei minha cabeça, de forma a acariciar o lado do rosto até o pescoço e braço e percebi, logo em seguida, não ser aquele um movimento de gente. Era movimento de gato. Rapidamente me recompus para que ninguém percebesse a transformação, mas sempre existem olhos e ouvidos por perto, alguém deve ter percebido a estranheza insólita. Foi uma noite muito estranha, fora de encaixe.
Encenei o corte do meu cordão umbilical e tenho fotos! Meu cordão umbilical feito de cachecol de lã violeta. Doeu. Estava contorcida no chão. Aí me transformei em borboleta.
* * *
Neste momento, o pouco de vida que me resta enquanto borboleta está sendo gasto por observadores que prenderam minhas asas a uma moldura e penduraram na sala deles, tentando digerir as minhas cores. Enquanto isso, estou observando seus enormes olhos, me observando. Também dói uma dor vazia. Acho que estou me esvaziando de vida.
Não é alegre nem divertido ser uma borboleta quanto parece ser bonito. Vivemos pouco, somos cobiçadas, mas não nos querem vivas. Somos emolduradas ou morremos, mas sempre anônimas. Existe um ciclo de vida que se perpetua, a borboleta sofre uma metamorfose. Não é só a perda da pele como acontece com as cobras. É um processo muito maior no qual o organismo muda e, de um ser que se arrasta, passamos a ser voadores, polinizadores.
* * *
Já que não é legal ser borboleta, não quero mais sê-la. Terei poder de alterar esta natureza?
* * *
Me sinto mal, professora, porque ontem, enquanto voava linda pelas notas das músicas na sala, embriagada pelo néctar das plantas e ervas, olhos de caçadores me cobiçavam. E senti o peso do desejo de homens confusos e covardes querendo prender minhas asas às suas molduras! Sinto-me mal por não poder voar livre, longe de olhos e ouvidos. Hoje acho que não posso ser, livremente, fora de julgamentos e enquadramentos sem que isso me traga prejuízos. Não quero me tornar a donzela perdida de ninguém, menos ainda o quadro de borboleta morta, pendurada na parede. Mas sinto que me expondo dessa forma, é exatamente isso o que acontece, quando sou borboleta vestida no corpo de gente. Não me comportei como gente, as consequências também serão desumanas.
* * *
Como posso me perdoar por ter sido tão livre onde não podia?
Não sou a louquinha das pessoas. Desfazer a imagem que emolduraram, também não posso. Eu estava apenas borboleta.
É um trabalho para Hércules não se desrespeitar, conseguir o perdão de mim mesma. Era borboleta, devia ter escondido minhas asas para ninguém suspeitar a respeito. Ainda estaria livre.
(- Ih, lá vem ela com aqueles ensinamentos loucos, entoados naquele tom professoral, querendo ensinar a todo mundo sobre as coisas que ela mesma não sabe... Sabe, cara, você sabe sobre o que está falando??
- Não, às vezes não sei sobre o que falo, mas cara... Quem é que tem o absoluto domínio sobre as situações? Me dá um tempo hoje, então, que não quero escutar o que você tem a dizer sobre a minha forma de compreender o mundo.)
*Fela Kuti berrando, tambores fazendo mexer o chacra básico.*
(- Me diz, professora, por que me sinto tão mal se não fiz nada de errado??)
Não é fácil para mim sair por aí borboleta nem gata, expondo esses meus lados animais. Ontem eu era as duas.
Parada junto à piscina, escutando a conversa dos outros, percebi a pilastra na qual apoiava meu corpo e senti um enorme prazer gelado, daí movimentei minha cabeça, de forma a acariciar o lado do rosto até o pescoço e braço e percebi, logo em seguida, não ser aquele um movimento de gente. Era movimento de gato. Rapidamente me recompus para que ninguém percebesse a transformação, mas sempre existem olhos e ouvidos por perto, alguém deve ter percebido a estranheza insólita. Foi uma noite muito estranha, fora de encaixe.
Encenei o corte do meu cordão umbilical e tenho fotos! Meu cordão umbilical feito de cachecol de lã violeta. Doeu. Estava contorcida no chão. Aí me transformei em borboleta.
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Neste momento, o pouco de vida que me resta enquanto borboleta está sendo gasto por observadores que prenderam minhas asas a uma moldura e penduraram na sala deles, tentando digerir as minhas cores. Enquanto isso, estou observando seus enormes olhos, me observando. Também dói uma dor vazia. Acho que estou me esvaziando de vida.
Não é alegre nem divertido ser uma borboleta quanto parece ser bonito. Vivemos pouco, somos cobiçadas, mas não nos querem vivas. Somos emolduradas ou morremos, mas sempre anônimas. Existe um ciclo de vida que se perpetua, a borboleta sofre uma metamorfose. Não é só a perda da pele como acontece com as cobras. É um processo muito maior no qual o organismo muda e, de um ser que se arrasta, passamos a ser voadores, polinizadores.
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Já que não é legal ser borboleta, não quero mais sê-la. Terei poder de alterar esta natureza?
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Me sinto mal, professora, porque ontem, enquanto voava linda pelas notas das músicas na sala, embriagada pelo néctar das plantas e ervas, olhos de caçadores me cobiçavam. E senti o peso do desejo de homens confusos e covardes querendo prender minhas asas às suas molduras! Sinto-me mal por não poder voar livre, longe de olhos e ouvidos. Hoje acho que não posso ser, livremente, fora de julgamentos e enquadramentos sem que isso me traga prejuízos. Não quero me tornar a donzela perdida de ninguém, menos ainda o quadro de borboleta morta, pendurada na parede. Mas sinto que me expondo dessa forma, é exatamente isso o que acontece, quando sou borboleta vestida no corpo de gente. Não me comportei como gente, as consequências também serão desumanas.
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Como posso me perdoar por ter sido tão livre onde não podia?
Não sou a louquinha das pessoas. Desfazer a imagem que emolduraram, também não posso. Eu estava apenas borboleta.
É um trabalho para Hércules não se desrespeitar, conseguir o perdão de mim mesma. Era borboleta, devia ter escondido minhas asas para ninguém suspeitar a respeito. Ainda estaria livre.
Um comentário:
Alex, você é uma borboleta de mata virgem.
Nenhum homem-caçador pode te alcançar.
Relaxa, beija o céu que tudo passa.
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