quinta-feira, julho 19, 2007

De pijamas

à vontade, confortável de pantufas, esquentando meus pés sobre o gelo frio penso no esgoto brasileiro. não são apenas milhões de células e secreções de mais de cento e oitenta milhões de brasileiros, são também seu sangues, gozos, cabelos e pêlos, dos mais diversos. tudo isso misturado em papel e milhões de secreções e excrementos. além disso, se já pensamos ser nojento o esgoto de pessoas saudáveis, imagina que a este soma-se também o esgoto das pessoas doentes, com sangue contaminado, verminoses, torturas estomacais, pedaços de membros sim, por que não, além de milhões de outras coisas que, pensando bem, melhor não pensar.

as botas que usam para trabalhar no esgoto devem ser descartáveis, né? usou, queimou. porque quem ousaria vesti-las mais de uma vez? aliás, quem trabalha com lixo e esgoto precisa de uma parcela de prestígio na sociedade. It's a must. É você quem limpa nossas merdas? Nosso mais sincero muitíssimo obrigado.

Tem gente que leva pra casa o almoço da semana dos caminhões de lixo do que sobra no mercado. Existem pessoas recicladoras das coisas de todos os tipos. Pessoas que transmutam o que não é tão bom em coisas apropriadamente boas. Para essas pessoas, abaixo minha cabeça e tiro meu chapéu, pois não sei como faria o mesmo. mas é porque não é minha função e é a delas.
respeito. espero que me respeitem também.

minha função tem mais a ver com um certo pioneirismo em algumas coisas... eu sou mesmo boa em trazer o novo às pessoas, mesmo que esse novo seja muito, muito velho. talvez eu seja recicladora de filosofias também. talvez seja eu a brisa do novo século que vem sacudir de forma agradável a uns os cabelos do corpo, mas desagradável a outros, pois já num final de tarde de meia estação, posso ser muito fria. mas sensibilizo, para o bem ou para o mal, o estar das pessoas.
cada um tem sua função. acho isso tão bonito.

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