domingo, novembro 19, 2006

Cor de concreto

Noite passada eu fui jantar com meu pai, na casa dele. E depois eu vim para casa. E, agora de manhã, acordei do sonho mais estranho. Sempre quando eu acordo de um sonho assim, eu estou mexida por dentro. É ainda mais intenso do que quando eu assisto a um filme forte e impactante psicologicamente, e eu entro dentro da história, no sonho, eu estou vendo a história acontecer porque eu participo dela.
E a história da noite passada é a seguinte: estávamos todos reunidos em um sítio bem bonito, no interior de algum lugar, numa casa alugada para um casamento. Passada a cerimônia, passada a festa, as pessoas já hospedadas, se preparando para ir embora ou ir dormir, a casa começou a pender. Estruturas rangindo, rachando e começando a se deslocar. Mas quase ninguém percebeu, só as pessoas que estavam nos cômodos onde isso estava acontecendo.
Eu lembro que meu pai e eu estávamos sentados no píer, e ele estava me explicando sobre como a Torre de Pisa tinha caído e como havia sido terrível a notícia desta tragédia. Ela havia perdido o ângulo de equilíbrio e cedido à gravidade. Eu via a cena acontecendo, enquanto ele descrevia.
Então, o guindaste antiquíssimo que estava à nossa frente ao mar, preso à uma igreja inundada pela água (acho que ela servia mais como sinaleiro que qualquer outra coisa, mas era em forma de igreja), se soltou e afundou. E depois a igreja também começou a afundar, porque a estrutura não aguentou.
E depois, a casa onde estávamos. Entramos para ajudar a evacuar o local. E o desespero das pessoas precisa ser contornado para que se consiga tirar todo mundo... E as pessoas se preocupam, em primeiro lugar, com outras pessoas, parentes, amigos, mas também se prendem a coisas materiais... Conseguimos esvaziar a casa. Vestida com minha capa de herói, o medo não tem vez. A prioridade é escapar bem. Por isso, eu consigo passar por essas situações, raciocinando sobre o agora e o próximo passo. E consigo me sair bem das situações de perigo. Mas depois... Eu não sei como, porque desmonto como as tais estruturas. Ficamos observando, do lado de fora, para que lado a casa tombaria, e ficamos esperando tombar, todos juntos, num desespero em conjunto. Acordei antes da casa de fato cair.
Você nunca deve ter tentando escapar de uma casa onde as estruturas estão prestes a desabar. Mas se você estivesse na sua casa e isso estivesse acontecendo, o que você salvaria?
Sabendo que não se sabe em que minuto ou segundo as estruturas iriam ceder de vez, o que você arriscaria a sua vida para salvar, se é que existe algo que valha tanto...
Eu acordei com esta pergunta: "o que você salvaria?"
Só abracei a Estrela e comecei a chorar.

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