segunda-feira, novembro 20, 2006

Eu, musa de ninguém

Meu primeiro namorado eu não digo quem é. Eu sei quem ele é; o mundo saberá também. Ao menos em parte. Hoje, nossa história é uma caixa de chocolates e nós comemos enquanto bebemos vinho e assistimos televisão. É ao mesmo tempo um vício e um porre e uma programação repetida e engraçada. Mas docinha e divertida. É simples e bobo assim. Mas antes era tão sério! Eu acho que aprendi muito com o passado. E com as coisas que tive que lidar, o que tive que aprender a perdoar. Aprender a crescer da dor, enfrentá-la nos olhos. Eu sou uma pessoa de verdade hoje em dia graças a essas experiências que eu tenho armazenadas. Ele veio como plutão na minha vida. Golpe baixo. Me arrastando para os reinos infernais. Eu solitária. Eu donzela ainda. Mas eu ainda não conhecia astrologia nem mitologia. Eu ainda acreditava em "forever and ever". Eu não sabia que era apenas um momento projetado.

Ele foi um grande passo, para dentro de mim, para cima e para baixo. Eu conheci todos os cantos escuros de mim mesma e, por consequência, todos os iluminados também, pelo o que aconteceu entre a gente. Mas hoje, somos risada no canto da boca do palhaço.

Ele é uma lembrança muito forte, de uma época muito boa. Eu queria que ele tivesse visto em mim a alma desnuda, fora dos palcos. Ainda hoje acho que ele enxerga a personagem.

É o que eu espero do meu cara. O meu cara do futuro, que ainda não me conheceu. Que enxergue a minha alma. Quando ele me vir, verá só a mim. Olhos nos olhos. Verá meu coração.

Mas meu primeiro namorado é uma graça. Eu passaria horas conversando com ele. Horas rindo. Nós gostamos das mesmas coisas. Conhecemos as mesmas coisas. Rimos das mesmas coisas. Conhecemos as mesmas pessoas. Vivemos as mesmas fantasias alucinantes. Moramos no mesmo mundo encantado. Ele ainda é meu vizinho astral. Ele é uma parte de mim que eu não sou. Ele tem um talento fácil de fazer coisas maravilhosas sem nenhum esforço. Faz eu me sentir patética. Ele é um perfeccionista nato para a arte. O que tem de divino na sua arte, tem de defeito nele. Ele é um filhote de cachorro e eu sou um filhote de gato. Nossas brincadeiras são irresistivelmente atraentes. Ele gosta das minhas unhas afiadas, eu gosto das suas bochechas babonas. Ele gosta do meu miado fino e eu gosto do seu latido tosco. Ele sofre porque acha bonito... Ele é quase mágico. Eu sou mágica. Mas, ninguém deverá saber porque é segredo. Quem tem medo de compartilhar não pode brilhar. Não pode namorar quem brilha. Tem que procurar seu brilho. Mas eu não estou falando nem dele nem de mim agora.
Eu tenho vários amigos talentosíssimos, que fazem as coisas muito mais facilmente do que eu... Eu tenho talento, mas não tenho cimento. Eles têm tijolos. Será que vão construir uma casinha com milhões de janelas e me dar uma janelinha? Ou será que eu caio no esquecimento?
Será que é só pra eu ficar mesmo olhando? Eu quero comer desse pavÊ.
Uma coisa que eu queria ser capaz de absorver dele: essa capacidade de conseguir tudo mais fácil que os outros.
Ele é quase mágico. Eu já disse.
Pra você não ficar tristinho. Tá?
:)

Um comentário:

Anônimo disse...

foi meio mágico ter lido isso agora.
meu ex e eu é uma coisa idem.