segunda-feira, abril 30, 2007

Calçadas

O meu ponto de vista sobre as calçadas é sempre vertical, como é também o ponto de vista de todas as pessoas que passeiam. Privilegiado é aquele que, com muita coragem ou nenhuma outra opção, adquire um ponto de vista horizontal sobre o local que serve como plataforma impulsionadora dos pés. Portanto, a minha visão sobre calçadas é uma experiência matemática e cartesiana, valendo noventa graus. Se nos deitássemos aonde ficamos em pé, todo nosso mundo seria visto de uma forma diferente. Olharíamos solas, tipos e tamanhos de sapatos ao invés de rostos e corpos. Nossos valores seriam diferentes, como “não é o tamanho do pé que importa, mas sim o equilíbrio que ele proporciona”. E assim por diante.
Criaturas que rastejam têm um ponto de vista diferente sobre as calçadas do que nós, seres com patas. Para elas, a calçada serve como alicerce do corpo. Deve ser fantástico rastejar. Quis ser réptil por um breve momento. Mas e a experiência do chiclete grudado no concreto, e da poeira que foi por dias molhada e seca, grudada ao chão, e das pegadas invisíveis, das bactérias, do papelzinho rasgado, e do aleijado que pede dinheiro sentado no skate? Que pontos de vista teriam todos eles sobre as calçadas?
Pois tentando imaginar uma realidade diferente, experimentei deitar-me sobre o chão do boxe, enquanto deixava a água ligada. Aproveitei meu banho como há anos não fazia. Parei de me preocupar com o tempo, a água corrente e o gás ligado para deixar a água correr pelo meu corpo. Meu boxe é alongado, por isso posso esticar as pernas, e me coloquei com pés para o chuveiro, cabeça para o ralo. Vocês não sabem, mas como o banheiro é lugar de limpeza, é tudo muito limpo. Então, abandonem o leve mal estar, porque os banheiros são lugares positivos.
Com o rosto encostado no chão, observava a água correr. Com o rosto para frente, observava a água escorrer pelo buraco. Curiosidade sobre o ralo: deu vontade de enfiar o dedo, mas fiquei com nojo. Tive muito medo do ralo e de tudo o que está ali que eu não sei. Comparei o ralo ao meu umbigo. O chão do boxe era uma grande barriga com um umbigo bem parecido com o meu, só que enquanto eu procuro expelir coisas do meu umbigo, o ralo estava colocando tudo para dentro. Será que também entram coisas pelo meu umbigo? Emoções, espíritos? Tive medo de tudo o que está no meu umbigo que eu não sei. O medo foi enorme.
Alguém chegou pela porta de casa. Ouvi o barulho, parei de cantar. Fiquei imóvel, com a água correndo. Por vários minutos, fui um corpo suicida, imaginando os cortes no pulso e o sangue escorrendo com a água. Pelo ralo se vai uma parte de mim, tão preciosa quanto qualquer outra. Células do meu corpo se vão para tornar o esgoto um lugar mais sagrado. Veio uma pergunta à minha cabeça... Qual o ponto de vista de um corpo morto sobre uma calçada? E o sangue que nela fica empoçado? E da vela que derrete sob o sol do meio dia? Não tenho as respostas. A água escorre levando meus pensamentos, mas me traz de volta a mim. Que bom que sou um corpo vivo e que posso escolher a posição em que quero estar na vida.

sexta-feira, abril 27, 2007

Minhas histórias de beijo

Caracas... Hoje eu vim pra casa embalada numa viagem ótima no ônibus, em êxtase quase, sorrindo, esvaecendo. Rutilante. Toda misturada, mas completamente imersa no prazer das memórias. Lembrei do meu primeiro beijo, do quanto eu era afim do garoto e daquela tensãozinha entre nós... Lembrei da tarde que passamos juntos no clube militar... Mas a parte fofa dessa lembrança é a sensação de quando se é muito jovem e se está descobrindo as coisas pela primeira vez. Você quer que algo aconteça, você quer loucamente sofrer um agarramento seguido por um beijo, mas você não consegue se articular, não consegue se mexer! Eu lembro do quanto eu queria ficar perto dele, dos nossos encontros escondidos na biblioteca do colégio e do quanto foi um desastre total nosso primeiro beijo no estacionamento do colégio militar... Foi meu primeiro beijo! Depois, lembrei do meu segundo beijo que quase me tirou o fôlego, porque foi absolutamente perfeito! E foi num momento delicioso, porque eu era completamente apaixonada pelo menino (que, imagina, era baterista de uma banda cover de Iron Maiden!). Eu tinha 14 anos... Isso foi antes de eu saber que Iron Maiden é o som que inicia a galera de 15 anos no metal. Eu achava um som pesado! Ele dormia ouvindo Iron, e eu achava loucura e nós ficamos no sofá da casa... Ele deitado no meu colo, eu fazendo carinho no cabelo dele... De repente ele vira e me beija. -Aí eu soube o que era um beijo. E eu voltei aos meus 14 anos, à minha paixão daquela época, a tudo o que fazia para estar perto dele. Ao gosto daquele beijo, lábios, saliva, língua, noite, sofá, Iron Maiden. Mas na verdade, tocava Heaven, daquele cara canadense... Qual é o nome dele?
Eu gostava muito daquele menino, e sofri muito por ele também, porque eu gostei dele por mais de um ano. O jeito como me olhava, como falava comigo, aquela boca, aquele olhar, aquele jeito do escorpião deixar você completamente paralisada, hipnotizada, pronta para o veneno... Sabem meninas? Era incrível. Era alguém perfeito para os meus 14 anos, sabem o que quero dizer? Mas o que eu mais queria, naquela época, era ficar com ele... E eu consegui, algumas vezes. Tenho minhas lembranças de glória! Tudo mudou depois que eu comecei a ter banda e descobri que ele falava pras pessoas que tinha me namorado. Hunf! Homens... Muito mentiroso, mas me senti importante.
Lembro também de uma outra vez, no colégio militar (é gente, eu estudei lá! não tenho muito orgulho disso, mas até uma certa idade minha vida foi uma série de desconfortos e inadequações), umas pessoas da minha turma e eu tínhamos um clubinho escondido no porão de uma casa abandonada que tinha lá dentro, aonde eles armazenavam carteiras velhas e quebradas e eu era com-ple-ta-men-te apaixonada por esse menino... Na verdade, eu gostei dele durante 3 séries seguidas e acho que uma das minhas frustrações em vida é nunca ter ficado com ele naquela época!
Teve uma manhã, no recreio, que ficamos absolutamente sozinhos dentro do nosso clubinho, porque cada um dos outros tinha saído para arrumar uma coisa e nós nos olhamos, minhas pernas tremiam... Nos olhamos nos olhos, ele com as mãos nos bolsos, eu estátua. Na minha cabeça até hoje, aquele era o momento para ter sido o meu primeiro beijo. Mas eu estava estática e ele também não teve coragem... Aquela vontade enorme que rolou, que por não ter acontecido, ficou armazenada lá, junto com os restos de madeira velha e carteiras quebradas, naquele momento não realizado. Antigamente eu me culpava por não ter agarrado ele, porque era minha vontade. Mas eu ainda não tinha me libertado de várias amarras. Naquela época, ele ainda era o menino da história. rs Eu devia ter uns 12 anos...
É, vim traçando uma história linear dos meus primeiros beijos. E foi lindo, tá?
I know, I know... I'm a sweetheart. Just try not to spread the word.

terça-feira, abril 24, 2007

Uma questão de prática

Eu nunca cheguei a terminar nada na vida que fosse uma questão puramente prática; nunca até a fase de perfeição no automatismo, pelo menos. Aprender a dirigir foi uma questão de prática; aprender a cantar foi uma questão de prática para esquecer a técnica. Aprender a tocar violão é uma questão puramente prática, que só depende de mim e do violão. E é assustador o medo do fracasso, porque só depende de mim.
Se eu digo que quero alçar vôos, é preciso acreditar que eu posso. E eu só posso fazer as coisas nas quais eu realmente acredito. Mas duas coisas são necessárias para que alguma coisa aconteça: acreditar e fazer acontecer. Muita gente apenas sonha, que é o acreditar sem fazer. Eu entendo essas pessoas; as coisas que a gente sonha são mesmo mais bonitas e funcionam exatamente como a gente imagina. Eu mesma sou fantástica, perto das pessoas, por cinco minutos. Depois disso, fico melhor nos sonhos delas. E eu sou perfeita para caber no sonho das pessoas! Eu visto sonho todos os dias antes de sair de casa. Eu inspiro sonhos, eu me alimento de sonhos. Eu sou um sonho no meu sonho do sonho das pessoas. E eu sempre acreditei em muitas coisas, mas agora estou fazendo o meu pouquinho para que as coisas funcionem. Fornecendo ao universo um pouquinho da minha lã da possibilidade, para que o universo, em troca, me forneça o suéter do sonho colorido pronto. Pronto para vestir e me aquecer.
Eu digo que sou feita de sonho porque faço muita falta às pessoas quando estou longe; mas é gostoso o que elas sentem quando pensam no sonho que construíram de mim, e então eu permaneço longe. Mas assim elas também mantêm longe a sua felicidade. Sonham com ela, sentem o gostinho longínquo do sucesso e deixam ela lá paradinha na estante dos sonhos encadeados, porque estando lá todo mundo sabe onde encontrá-la. A minha felicidade, no entanto, tem pernas compriiiiidas e vive mudando de lugar. Adora que eu a procure em vários lugares diferentes, em várias ocasiões diferentes. A minha felicidade é muito sapeca! Ela gosta de pular de um lugar para o outro, mas prefere saltitar.
Então, já que tudo é uma questão de prática, se eu repetir todos os dias que eu me amo muito e que tudo vai dar certo, então é isso o que acontece. Porque é uma questão de falta de prática as pessoas não se amarem. Elas não acham que podem. Elas acham que precisam de um outro. Mas é só falta de prática. Assim também é o meu desconforto com relação ao meu corpo; não é uma auto-estima pequena, é uma questão de alma grande. Minha alma não praticou como se adequar a este corpo antes de eu encarnar, e então eu preciso fazer isto agora.
É o que estou fazendo. Juntando os grãos do sonho com os da possibilidade, no meu passinho de formiga, dia após dia. Longe na memória das pessoas, mas perto de mim e dos meus momentâneos lapsos de sanidade. Muitíssimo perto dos meus sonhos. Eu posso até não conseguir cuspir na Lua, mas eu vou chegar mais perto que todo mundo que tenta, só porque eu tento todo dia.

quarta-feira, abril 18, 2007

A poética do cu

Estou fazendo uma oficina de poesia na faculdade da qual me arrependo um pouco. Entrei por curiosidade e porque o professor é o máximo, mas os alunos nem um pouco. Fico extremamente irritada com a apatia da turma: ninguém se comove, ninguém compartilha, ninguém nada!

Então, todas as poesias que escrevo têm o intuito de causar alguma reação. Até agora, foram tentativas frustradas. Quero que alguém tenha um ataque epilético e me diga que odeia tudo o que eu escrevo. Escrevi uma poesia que tinha um cu estrelado no fim e ninguém disse nada... Outro dia, coloquei em palavras um bacanal fantasioso entre a filha do diabo com transexuais e travestis, mas ninguém falou nada... Ninguém teve a humildade de dizer: "Nossa, que mal gosto!" Vou ter que pegar mais pesado? Todo mundo escreve poesia sobre as coisas bonitinhas, ainda não vi ninguém escrevendo sobre as coisas horrorosas! Não sei porque também essa minha mania pelas coisas horrorosas das pessoas e porque elas me parecem tão belas, tão atrativas. Eu detesto a poesia dessas pessoas apáticas. E detesto ficar com essa vontade de levantar no meio da aula e estapear cada uma delas na cara. Não me entenda errado; eu amo borboletas assim como os buracos negros da alma. Mas aquelas pessoas... Me irritam.

Outro dia escrevi no braço: "eu tenho alma". Podem achar o que quiserem, a verdade é esta mesma. Eu tenho alma! É só um recado para os amigos desalmados.

Ainda escreverei sobre a maior perversão que eles já ouviram. Não tipo Marquês de Sade, porque isso já foi muito bem feito. Deve chegar com atraso, mas chegará!
VINGANÇA!
CÓLERA! FÚRIA!

Me deixem com o meu chocolate

Eu não serei chocólatra até o fim da vida. Eu não sou chocólatra agora. Eu estou. Porque veja bem, meu bem, comer um pedaço de chocolate à noite equivale a ter um namorado durante o dia.
E eu estava alucinando com pesos & medidas, por querer me cuidar por não ter namorado, mas aí me lembrei: "Amiga, você não tem namorado! Pode se entupir de chocolate!" -E fiquei feliz da vida por ter me libertado desse peso; agora posso me alastrar no sofá aqui de casa, vendo Desperate Housewives, acompanhada da minha caixinha de trufas recheadas com castanhas-do-pará. A dieta do chocolate está fazendo a minha alma ficar muito mais leve. A Curves dá conta do corpo depois. Pelo menos estou suando fazendo ginástica...
Pode babar, os meus vizinhos também babam ao longe, com os seus binóculos escondidos atrás das suas janelas secretas porque meu irmão, que também adora Desperate Housewives, cisma em deixar as persianas abertas. Eu sempre acho que tem alguém olhando, filmando, etc. Se aqui fosse América do norte, com certeza teria um psicopata obcecado pelas noites de quarta-feira da minha casa! Mas aqui é Brasil. Todo mundo vê a casa de todo mundo e todo mundo sabe da vida de todo mundo. Aí, fica mais difícil proliferarem pedófilos, psicopatas e serial killers, o que acontece direto em Wysteria Lane porque ninguém sabe da vida de ninguém e todo mundo se esconde em suas casas de subúrbio americano. Até que enfim achei um uso produtivo para a fofocada brasileira!
Voltando ao ponto, eu tive essa lucidez momentânea e senti uma libertação de alma ao perceber que não preciso abrir mão de todos os prazeres da vida. Se estou sem namorado, vou ter que abrir mão do meu chocolate?? Me dá um tempo. Por enquanto, me deixem com o meu chocolate. Eu prometo não me controlar nadinha.

segunda-feira, abril 16, 2007

Um dos rapazes

Felizmente, este final de semana foi rock and roll. De sexta a domingo foram acordes distorcidos, de forma que posso dizer que hoje foi uma segunda-feira feliz. A serotonina ainda não descompensou, ainda sinto o fuzz dos shows. E música alimenta a alma, faz crescer o espírito, faz abrir os olhos do grande eu, olhando feliz sobre os grandes detalhes do pequeno eu. Meus detalhes, minha vida, minha paz... Quando eu vou a um show legal, me sinto "one of the boys", porque mesmo eu sendo mulherzinha como as mulheres deles, estou do lado de lá do palco e não do lado de cá. É engraçado isso, porque fico preocupada com as saídas de som, graves a agudos que sobram e giram, se o som está equilibrado, etc. Isso já foi mais forte, quando eu ia a shows e observava cada detalhe da performance. Hoje já consigo sair e me divertir mais solta, pular e gritar, não só ficar olhando com os braços cruzados. E porque hoje consigo dançar na música, acho que ficou também mais verdadeiro.
Mas sempre quando vou a shows de amigos, fico nesta encruzilhada... Aonde me colocar? Suas namoradas e esposas estão do lado de cá dos fãs, enquanto eles se preocupam com o palco. Eu estou do lado de cá das mulheres, mas vendo o show de cima do palco. Eu gosto de olhar a mágica que acontece com o público, a reação das pessoas, etc. E além de ter toda essa dinâmica, preciso lidar com a questão das mulheres... "Quem é essa mina nova que apareceu no pedaço?", o que entendo, porque apesar de ser "um dos caras", também sou uma das minas. :D
-Na verdade eu não deveria me preocupar com isso. É o ataque da lua em virgem tentando controlar tudo.- Algumas mulheres não sabem que o nosso poder é quinhentas vezes mais forte quando são poderes unidos. E quando as mulheres sabem disso, não há com o que se preocupar, porque ocorre tudo zen.
Ir a shows é uma das coisas que mais gosto de fazer por lazer. E o que eu mais gosto de fazer em vida... Bom, isso ainda não foi completamente realizado, mas será.
E se será! Tem uma torcida esperando, sabe? Não só neste mundo, mas em todos os outros. Já me disseram isso. Pessoas deste mundo e pessoas deste mundo me mandando recados de pessoas de outros mundos, dizendo que todos esperam pela minha voz.
Anyway, tem uma coisa que não muda: I feel like one of the boyz.
E ontem, no show do Detonautas (que aliás é excelente ao vivo- som pesado e consistente), ficou ecoando na minha cabeça uma frase que um outro amigo meu músico me disse (que eu A-MEI, por sinal). Ele disse: "-Alexandra, você é a mina mais rock and roll que eu conheço."
hehehe Adorei.

sábado, abril 14, 2007

Os Sedutores

É um clã, uma seita para homens adoradores de Narciso. Eles não sabem o que fazem, por isso usam dos feitiços do cinto de Afrodite, distorcidos. Encantam para esconder suas inseguranças. Confundem para não se perceberem confusos. São bebês com medo de nunca serem amados. Por isso, conquistam, conquistam, conquistam. São o lado negro das mulheres fálicas.
Os Sedutores passam sem serem percebidos, mas passam mais de uma vez, até que você os note. Neste momento, em que a sua atenção é capturada por um segundo, é onde ocorre a apreensão de uma parte sua. Ali você caiu na teia. Quando sofrendo os efeitos dos feitiços de um sedutor, as mulheres apresentam alguns sintomas: ficam obcecadas pelo objeto, querem ficar perto deles a todo custo, querem chamar sua atenção. Mas eles não dão, porque precisam se alimentar dessa energia. Depois, deixam você se aproximar de uma forma estranha e, ao ficar perto, você se sente insegura, confusa. Depois eles se afastam novamente. Não é paixão o que você sente, não é amor e não é satisfatório. Mas algo existe de prazer nesse ciclo vicioso. Eles mexem com a sua fantasia e levam você a acreditar em algo que queira. Não se engane; você está sob o feitiço de um Sedutor. E ele quer que você se sinta assim, pois não sabe manejar troca. O foco precisa ser nele. Ele absorve o que você dá com o maior prazer, assim você sente que ele quer absorver mais, embora não seja com você o prazer dele. É de você que ele se alimenta, como uma tarântula.
Homens sedutores não sabem o que querem. Estão sempre meio desligados. Vivem com várias mulheres, mas sempre sozinhos. E não estão esperando uma proposta, mas sim uma vítima.
Possuem uma teia de artimanhas clichês e bobas, porém infalíveis.
Quando a sua auto-estima ficar abalada e você desconfiar de si mesma, esteja atenta! Você está envolvida com um Sedutor. Esteja atenta aos seus passos e, se puder, volte devagar caminhando em direção a si mesma. Sem grandes alardes.
Os Sedutores não são conquistáveis por quem eles conquistam.

The hard-rockers

what do they worry about? a life outside a trail, no worries but to wake up and play. what do they do? play the guitar for a famous rock and roll band. it's all so cool, all so lame. all so empty of meaning if you have no purpose in life other than to make your money. still they stand up and rock the crowd. a little piece of dream for the audience. is it all they got to give? is it all they have to give? is that a job of importance to be conceived as very important people?

any fool can learn how to play the guitar, that is what i worry about. it is and it is not a big deal. cause music can be superficial as well as divine. and what should they do with that gift other than to use it wisely? use it wisely?

quinta-feira, abril 12, 2007

Contra-fluxo

Estou no repuxo, no contra-fluxo. Sempre soube que era forte, mas nunca que precisaria enfrentar, sozinha, multidões. Não é teimosia nem rebeldia. Eu não estou errada só porque vou no sentido contrário, e foi duro aprender isso. Todos fazem questão de lhe dizer que você está errada, mas não se deixe enganar! Confie nos instintos, eles sempre falam a verdade. E não siga a multidão. Ela é cega e não sabe a quem seguir.
É tanto assim o poder que se encontra em minhas mãos? Adoro a força e a aspereza, elas são minhas aliadas.

Ofender pessoas platônicas com palavras é fácil; tudo acontece no plano mental. Mas quero me ver proferindo as mesmas palavras ao vivo! Todas as pessoas são planos mal feitos e, em alguns pontos, desconstruídos. Não se exaspere ao perceber, em meio a tanta coragem, um quê de covardia. É normal.

Aqui estou eu, achando que escrevo para o nada, achando que minhas palavras ecoam no vazio e que nenhuma cólera poderá ser gerada em mais ninguém, apenas expurgada de mim. Trato as palavras com mais carinho que trato as pessoas. Talvez porque goste mais das palavras do que das pessoas, e tenha daquelas mais cumplicidade. Filha de Zeus, nascida da cabeça dele, tenho o vêio forte da palavra. "Usar para um bem produtivo." Aqui estou eu, criando, mas às vezes, me esvaziando. Nesse esvaziamento ocorre o perigo para as pessoas que me cercam. Certamente se encontram nas entrelinhas.

O dom do chicote na língua; você não vai me ver, você vai escutar de mim. Calmamente, quando a hora for propícia e os ventos me soprarem o que querem que eu escreva. Eles cochicham em meus ouvidos a melodia alfabética que está de acordo com o meu coração.

Adoro a força e a aspereza, elas são minhas aliadas. Mas espero um dia conseguir fazer brotar amor e justiça das minhas palavras. Que elas sirvam como uma brisa úmida e quente nos ouvidos de quem amo.

quinta-feira, abril 05, 2007

Exibicionismo para voyeurs explícitos

Caros amigos voyeurs,

Finjo que desconheço a sua presença. Eu finjo que desconheço, e você finge que não me lê. Que não me vê. Acendo as luzes. Preparo-me para o ato. Uma a uma, retiro de mim as palavras que às vezes vêm em ondas e, às vezes, me faltam. Elas me assaltam e, com o ímpeto, eu páro de susto. Mas tudo isso acontece bem devagar.
Com bastante saliva, vou colando-as lado a lado. E no êxtase da fusão da tinta com o papel, vou me sentindo mais inteira. As palavras vão se mesclando, quase independentes do movimento peristáltico das minhas entranhas e do movimento circular de meus quadris. Elas agora me invadem, me penetram, trabalham em mim com os dedos, gozam de mim e vão embora.
Eu finjo que minhas palavras não lhe dão vontade de dormir, e então, você acende um cigarro. E tão desconhecido como vem, se vai. Fico nua, à espera da presença concreta da inspiração que promete me tomar, mas que rouba de mim tudo aquilo que tenho dentro e me deixa sem sono.
Enquanto isso, eu deixo vocês assistirem aos estupros das minhas vontades, invasões dos meus sentimentos, minhas relações sexuais com o mundo e com as palavras e eu finjo que é quase sem querer que esqueço as cortinas abertas, enquanto vocês fingem que não gostam do que vêem.

Receita para a felicidade


Receita para a felicidade:

primeiro em branco,
depois, em céu estrelado!

Ainda bem que me falta AR


O nome do signo é frio como os ventos do norte: Libra. Mesmo assim, ele conseguiu fazer um trabalho de polimento tão perspicaz que o brilho foi capaz de encobrir a frieza. O brilho que atrai para a estrela que brilha na ponta da faca é o mesmo que cega quem pula tentando agarrar a estrela. Não há nada lá, exceto a ponta da faca. O brilho vinha de algum foco de luz. O foco de luz é externo, e sempre esteve fora. Mas foi em busca desse holofote que ele foi atrás, assim como muitos, esperando se tornar importante. Para metade das pessoas para quem mostrei o diamante, perceberam que era apenas uma pedra com um brilho vazio. No entanto, eu continuei a acreditar que valia muito, e que era reflexo de quem segurava a faca. (Sempre acreditei que quem segura a faca tem algum poder...) Mas o valor que eu dou a algo que eu enxergo é tão importante quanto eu mesma. Aliás, eu só vejo valor nas coisas que eu enxergo quando elas refletem a minha importância. Minto; a minha importância se reflete em tudo no que vejo valor. Ver valor numa pedra fria que vale dinheiro inglês é ver o meu valor, refletido no mundo em que sou obrigada a viver. No entanto, a pedra não me vê. A pedra é simplesmente o brilho vazio na ponta da faca. O valor que eu vi era reflexo do meu bem estar e do meu querer bem. Mais de uma vez, pulei direto na faca. Uma cicatriz extensa me faz hoje dar um passo atrás para ver de onde vem a luz. Surpresa minha ao perceber, no reflexo da faca, que vinha de mim!
Essa pessoa (eu ia dizer homem, mas ele está longe de ser um) sempre foi acolhida pelo meu coração, mas nunca me trouxe nada de bom. Do contrário, esteve sempre fazendo escolhas que me colocavam em segundo plano, terceiro, quarto... Último plano. Ele é alguém que me exclui da sua vida porque a namorada tem medo de mim. Medo de si mesma, medo de todo mundo. A relação deles é uma coleção de chantagens emocionais numa troca de experiências fortíssimas, porém horríveis. Mas é, como toda relação, uma troca de interesses. Um dia, ela foi o diamante bonito que ele viu e quis intensamente polir. Hoje, o diamante de tanto brilhar, perdeu a beleza. Bonita era a pedra bruta e o sonho de tê-la polida. Hoje ela é polida e triste, parada na estante, esperando ser escolhida novamente em primeiro lugar. Conto porque conheço a história. O polimento sempre foi do interesse dele; nunca do objeto. E as pessoas que se deixaram ser tocadas por ele, viraram pedras na estante. Sempre o mesmo corte, sempre o mesmo formato, sempre o mesmo polimento. Sempre o mesmo fim: a mesma estante.
Sua crítica é ferrenha como a de quem não vê a quem de fato estamos criticando ao criticar alguém; aposto que ele ainda diz para ela: “Você não é tão bonita quanto da primeira vez em que a vi.” E aposto que ela sofre, triste, mas continua impecavelmente linda, para não decepcionar a sua coleção de pedras fantástica.
Junto da estante dele, no seu quarto de troféus escondidos, está a coleção de pedras. Elas são a forma dos sentimentos dele, cristalizados, da idealização de pessoas que prometeram ser lindas, mas que no final do dia, acabaram sendo apenas pessoas. Ele não tem interesse em pessoas, ele sempre colecionou pedras! Enquanto coleção, elas são perfeitas. Lindas figuras no seu álbum de fotos da vida, são lindas as suas memórias tristes, são lindos os seus sonhos despedaçados. E é dessa melancolia que ele tira energia para continuar polindo.
Fui eu quem apontou o libra. Mas por causa do anel com a pedra bonita em sua mão, ele não pode me dar crédito por isso. Eu participei do processo, mas por causa da moça bonita que usa a outra metade da pedra no dedo, eu não posso continuar participando. Tudo sempre vem apresentado numa linda coleção de desculpas que não refletem em nada o meu valor.
Faltando o AR a mim, sobra uma gama de sentimentos. Assim não racionalizo, sinto. De sobra, a sensibilidade não me deixa transformar em pedras as pessoas ao meu redor. Então, mandarei um recado para essa pessoa, com todo o meu apreço:
Querido libriano,
Espero que você ganhe muitas libras com o seu sucesso! Mas não quero migalhas, então obrigada pela lembrança do nome na lista na porta do show; para ver da platéia junto com as outras pessoas do mundo, prefiro ficar em casa acompanhando pela televisão, me sentindo nada especial em sua vida. O meu coração tem o orgulho de quem sabe o próprio valor, e eu não aceito menos do que valho, de alguém que tem muito a dar, e que não dá por escolha. O meu brilho não leva conflitos às pessoas, leva amor e eu sei o meu valor. Por isso, aqueça os jovens com o holofote que brilha acima da sua cabeça, porque eu não aceito barganhas. Para me aquecer, só com o calor que vem do peito. Mas você ainda não alcançou este calor, porque ainda não sentiu falta dele. Não se preocupe, você não sentirá minha falta também. Pelo caminho, muitas pessoas o farão se lembrar de mim, mas nenhuma delas será eu. Beijinhos, sucesso! Até o dia da sua grande descoberta, quando você retornará e saberá que eu tenho razão, pois em nada uma balança apresenta equilíbrio a não ser igualando os pesos que coloca nos dois pratos.