quinta-feira, abril 05, 2007

Exibicionismo para voyeurs explícitos

Caros amigos voyeurs,

Finjo que desconheço a sua presença. Eu finjo que desconheço, e você finge que não me lê. Que não me vê. Acendo as luzes. Preparo-me para o ato. Uma a uma, retiro de mim as palavras que às vezes vêm em ondas e, às vezes, me faltam. Elas me assaltam e, com o ímpeto, eu páro de susto. Mas tudo isso acontece bem devagar.
Com bastante saliva, vou colando-as lado a lado. E no êxtase da fusão da tinta com o papel, vou me sentindo mais inteira. As palavras vão se mesclando, quase independentes do movimento peristáltico das minhas entranhas e do movimento circular de meus quadris. Elas agora me invadem, me penetram, trabalham em mim com os dedos, gozam de mim e vão embora.
Eu finjo que minhas palavras não lhe dão vontade de dormir, e então, você acende um cigarro. E tão desconhecido como vem, se vai. Fico nua, à espera da presença concreta da inspiração que promete me tomar, mas que rouba de mim tudo aquilo que tenho dentro e me deixa sem sono.
Enquanto isso, eu deixo vocês assistirem aos estupros das minhas vontades, invasões dos meus sentimentos, minhas relações sexuais com o mundo e com as palavras e eu finjo que é quase sem querer que esqueço as cortinas abertas, enquanto vocês fingem que não gostam do que vêem.

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