Eu nunca cheguei a terminar nada na vida que fosse uma questão puramente prática; nunca até a fase de perfeição no automatismo, pelo menos. Aprender a dirigir foi uma questão de prática; aprender a cantar foi uma questão de prática para esquecer a técnica. Aprender a tocar violão é uma questão puramente prática, que só depende de mim e do violão. E é assustador o medo do fracasso, porque só depende de mim.
Se eu digo que quero alçar vôos, é preciso acreditar que eu posso. E eu só posso fazer as coisas nas quais eu realmente acredito. Mas duas coisas são necessárias para que alguma coisa aconteça: acreditar e fazer acontecer. Muita gente apenas sonha, que é o acreditar sem fazer. Eu entendo essas pessoas; as coisas que a gente sonha são mesmo mais bonitas e funcionam exatamente como a gente imagina. Eu mesma sou fantástica, perto das pessoas, por cinco minutos. Depois disso, fico melhor nos sonhos delas. E eu sou perfeita para caber no sonho das pessoas! Eu visto sonho todos os dias antes de sair de casa. Eu inspiro sonhos, eu me alimento de sonhos. Eu sou um sonho no meu sonho do sonho das pessoas. E eu sempre acreditei em muitas coisas, mas agora estou fazendo o meu pouquinho para que as coisas funcionem. Fornecendo ao universo um pouquinho da minha lã da possibilidade, para que o universo, em troca, me forneça o suéter do sonho colorido pronto. Pronto para vestir e me aquecer.
Eu digo que sou feita de sonho porque faço muita falta às pessoas quando estou longe; mas é gostoso o que elas sentem quando pensam no sonho que construíram de mim, e então eu permaneço longe. Mas assim elas também mantêm longe a sua felicidade. Sonham com ela, sentem o gostinho longínquo do sucesso e deixam ela lá paradinha na estante dos sonhos encadeados, porque estando lá todo mundo sabe onde encontrá-la. A minha felicidade, no entanto, tem pernas compriiiiidas e vive mudando de lugar. Adora que eu a procure em vários lugares diferentes, em várias ocasiões diferentes. A minha felicidade é muito sapeca! Ela gosta de pular de um lugar para o outro, mas prefere saltitar.
Então, já que tudo é uma questão de prática, se eu repetir todos os dias que eu me amo muito e que tudo vai dar certo, então é isso o que acontece. Porque é uma questão de falta de prática as pessoas não se amarem. Elas não acham que podem. Elas acham que precisam de um outro. Mas é só falta de prática. Assim também é o meu desconforto com relação ao meu corpo; não é uma auto-estima pequena, é uma questão de alma grande. Minha alma não praticou como se adequar a este corpo antes de eu encarnar, e então eu preciso fazer isto agora.
É o que estou fazendo. Juntando os grãos do sonho com os da possibilidade, no meu passinho de formiga, dia após dia. Longe na memória das pessoas, mas perto de mim e dos meus momentâneos lapsos de sanidade. Muitíssimo perto dos meus sonhos. Eu posso até não conseguir cuspir na Lua, mas eu vou chegar mais perto que todo mundo que tenta, só porque eu tento todo dia.
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